Capítulo Vinte e Dois

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— Como assim ele desapareceu? — foi tudo que conseguiu perguntar, ainda sem acreditar na notícia.

Gonçalo bebeu o café, sem desfazer a seriedade no seu rosto. Magnólia percebeu que os dois tinham que conversar e os deixou com a desculpa de ver Lucas. Mas era evidente que ia cobrar explicações do filho depois.

— Devia ter chegado em casa hoje por volta do meio dia. Pelo que o investigador me passou eles conversaram brevemente por telefone antes do Samuel Franco sumir. Tentou dissuadí-lo de pegar a estrada à noite, mas foi inútil. Mesmo não sendo oficial ainda ele já está procurando pistas, descobriu que o Samuel usou o cartão de crédito numa loja de conveniência num posto ainda aqui na cidade e também numa farmácia. Se virar um caso de desaparecimento mesmo com certeza vai pedir as imagens das câmeras de segurança. Esse pessoal da federal costuma ser rápido. O músico não é acostumado a viajar de carro assim e o investigador me garantiu que tem outros motivos para essa preocupação.

— Como assim?

Gonçalo suspirou pesado, tentando libertar-se da tensão súbita enquanto decidia se era possível se aprofundar mais no assunto.

— Parece que houve um evento traumático com o rapaz esses dias e ele tem problemas com os nervos ou coisa assim. Até comprou tranquilizantes no meio da tarde de ontem. Não entrou em detalhes e não me interessa e nem é correto que eu fale sobre o cara pra você. Vou ser bem claro Antônio, se esse homem não aparecer eu vou ter que passar todas as informações para a família dele, incluindo a briga de vocês na praça e o teor dessa desavença. Vocês não foram necessariamente discretos. Se eu não falar vou estar obstruindo uma investigação. Pode ter certeza que o investigador vai puxar o caso para ele.

Gonçalo bebeu outro gole do café, muito pensativo e tenso.

— Afinal de contas você tem alguma coisa a ver com o sumiço desse sujeito?

— Não fala merda Gonçalo.

Gonçalo falou mais algumas coisas menos importantes que não prestou a mínima atenção. Quando finalmente o policial foi embora Toni estava desnorteado. Tantas coisas passavam pela sua cabeça, muitas teorias se formando sobre o que teria acontecido com Samuel.

Não devia ter descontado sua raiva nele. Era evidente que Samuel não estava bem, desde que foi obrigado a entrar na sua antiga casa fugindo do Barata, ele estava estranho. Por vezes acordou a noite e percebeu a agitação do músico na cama ao lado, mas seu orgulho o impediu de fazer qualquer coisa. Mesmo quando flagrou chorando agoniado, como fazia quando era adolescente, ainda assim foi orgulhoso e não o socorreu naquele momento.

César já havia comentado a respeito, ele também percebeu algo de preocupante no comportamento do músico, como eles mal se conheciam então devia ser algo bem evidente.

Ainda estava confuso sobre como devia se sentir sobre Samuel e a suposta inocência dele no caos da sua vida, mas agora que alguma coisa ruim podia ter acontecido percebia que nunca desejou mal de verdade a ele.

Aquela foi uma longa noite, não conseguiu dormir nem duas horas inteiras. Samuel dominava completamente seus pensamentos ao ponto de passar horas segurando aquela jaqueta marrom impregnada com o perfume dele.

***

Horas antes...

A picape vermelha seguia pela estrada asfaltada rapidamente.

Já era quase cinco horas da manhã e seus olhos estavam ardendo e suas pálpebras pareciam pesar toneladas, fora aquela moleza esquisita que estava tomando seu corpo. Talvez não devesse ter tomado aquela dose extra de tranquilizante quando teve aquela crise ansiosa no começo da viagem.

UnilateralWhere stories live. Discover now