Capítulo Trinta e Sete - Parte Dois

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— Isso foi esquisito... Droga... Isso nem pareceu um beijo!

— Não achou que eu ia ser legal contigo né? Se liga idiota — falou ainda irritado.

Toni limpou a boca, compartilhando o mesmo nojo do outro. Foi estendendo a mão para César que entregou o celular sem esconder sua surpresa. Estava verdadeiramente impressionado, nunca viu Toni beijar outra pessoa.

— Olha até que tu é fotogênico — gracejou cheio de ironias.

Dedicou atenção ao celular, digitou alguma coisa e em seguida devolveu para César, que logicamente deu uma bisbilhotada para matar a curiosidade e acabou sorrindo.

— Tá feito.

Toni mal fechou a boca e o celular de Eduardo começou a tocar. O homem olhou incrédulo para a foto da ex-noiva que brilhava na tela.

— Oi... Eu vou... Sim... Tá bom. Tchau — concordou com alguma coisa, corando violentamente ao ouvir a voz da mulher e saber que ela viu a foto.

— Não fica feliz não. Isso não acabou ainda parceiro. Eu não quero minha afilhada sendo criada por um homofóbico filho da puta.

— Eu já disse que não sou mais assim — defendeu-se.

— Vamos ver. Hoje a noite, onze horas, Esteja na frente do Bar da rua Treze. Eu não tô brincando — avisou em tom de ameaça.

César se meteu no meio, alarmado.

— Espera aí. O que tu vai fazer no Lunáticos?

— Não começa... Até porque tu vai junto... Eu não me confio ficar perto desse bosta sem meter a porrada nele.

Toni apenas saiu andando, deixando para trás um Eduardo completamente conflituoso e agradecido, mas igualmente revoltado com o que acabava de acontecer. Com apenas uma mensagem Toni fez sua quase esposa cabeça dura e teimosa mudar de ideia sobre o futuro da família que firmavam. Se questionou até onde ia o poder do ex-rival.

Toni estava contente por Viviane, ela tinha deixado o ensino médio para trás e construído uma vida melhor, não seria ele a atrapalhar a felicidade alheia.

Ainda não podia perdoá-la. Estava magoado, não porque era Eduardo, podia ser qualquer um, o que doeu foi ela ter entregue seus segredos mais íntimos para outra pessoa. Mas como disse para o seu agora ex-rival, era um problema só dos dois e ninguém mais devia se envolver.

— Porque não liga logo para ela — sugeriu César adivinhando exatamente o que pensava.

— Porque não tô pronto ainda. Não te mete nisso — falou de forma que não admitia argumentos e saiu andando na frente, escondendo sua afetação.

Não havia mais clima para comprar nada, voltaram para casa. O tempo todo Toni permaneceu em silêncio, processando com calma o que tinha feito. Quando chegaram em casa Toni se isolou no quarto, muito inquieto, César respeitou seu espaço, sabendo que devia deixa-lo quieto. Quando estava bem perto das onze saíram rumo ao bar barra pesada que não frequentavam há tempos, Toni acendeu o primeiro cigarro. Era um sinal da sua ansiedade. Com o passar dos anos foi diminuindo o consumo e atualmente quase não fumava mais.

Eduardo já estava lá quando chegaram, o semblante mudado, estava muito mais descansado agora embora os lábios estivessem machucados das mordidas e o rosto apresentasse alguns hematomas escuros das pancadas que levou mais cedo. Toni nem lhe disse nada, apenas acenou para que o seguisse. Nem César ou Eduardo entenderam nada, mas como Toni não parecia estar de brincadeira obedeceram.

Dentro do bar foram direto para o balcão onde Toni cumprimentou o barman que já conhecia e César apresentou Eduardo. Começaram a beber sem nenhuma anormalidade, Toni começou uma conversa leviana com o barman gaúcho sobre a violência e política.

UnilateralWhere stories live. Discover now