Capítulo Trinta e Um

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Samuel conferiu as horas no celular.

— Faltam dez minutos ainda, mas eu vou te liberar agora. Vai para casa. Estamos em época de provas então se esforce, você sabe que se sua média cair muito nas disciplinas obrigatórias as aulas de músicas serão pausadas.

Os dois foram se levantando do banco.

— Eu sei... Professor! Tem uma mulher ali na porta — anunciou enquanto pegava a mochila.

Se virou em tempo de ver sua tia Rosa parada na porta a espera da sua atenção. Estava linda, os cabelos ruivos meio grisalhos presos num coque elegante, o vestido social verde musgo assentava bem na silhueta magra.

Fazia seis meses que não a via.

— Tia! Quando a senhora voltou? — cumprimentou verdadeiramente surpreso.

A mulher veio lhe abraçar calorosamente e foi um pouco estranho. Samuel nem lembrava da última vez que havia abraçado alguém. Talvez tenha sido nas suas férias frustradas há uns quatro meses atrás.

— Oi meu filho! Estava morrendo de saudade de você! — Rosa o apertou nos braços para depois soltar e se prontificar em desenrolar as mangas da camisa social do músico que estavam encolhidas até os cotovelos.

— Eu também senti saudade. O que veio fazer aqui na escola?

— Eu cheguei de viagem umas oito horas e esperava uma recepção calorosa dos meus filhos, foi muito triste saber que nenhum dos dois estava lá para me receber. Só orientei os empregados e resolvi dar um pulinho aqui. Atrapalho?

Rosa ainda arrumava as mangas da camisa, abotoando os punhos até ficarem perfeitos.

— Não. Eu já acabei por hoje, o meu aluno até já foi embora. A senhora veio de que?

— De táxi. Mas agora você me leva. Eu trouxe presentes lindos para vocês! Ah meu filho eu comprei uma Yukata para você tão magnífica! Você vai ficar lindo vestido com uma roupa tradicional do Japão!

Samuel foi guardando suas coisas.

— Tia eu já disse para a senhora parar de ficar gastando seu dinheiro comigo.

Rosa pegou o paletó no encosto da cadeira e segurou aberto para que o homem vestisse.

— Bobagem meu filho, eu adoro mimar vocês. Ah... Eu trouxe um Salwar Kameez da índia tão lindo! Você vai ficar parecendo um príncipe!

Samuel sorriu da animação da tia enquanto vestia o paletó. Rosa veio para a sua frente e foi ajustando a gravata cor de vinho no pescoço do músico, com aquela mania de perfeição de sempre.

Sentiu tanta saudade da tia que ainda custava a acreditar que ela estava mesmo ali.

O trajeto para casa foi regado a uma conversa animada, Rosa compartilhou com o sobrinho as aventuras das suas férias super prolongadas e os países por onde passou.

Clara e as suas filhas chegaram da rua. As crianças pularam no colo da avó assim que a viram, muito animadas e tagarelando, ansiosas pelos presentes exóticos que a avó trazia das suas viagens. Foi uma bagunça de papéis de presente para todo lado, Clara corria, tentava acompanhar o ritmo das filhas.

Aquela foi uma tarde diferente, pela primeira vez em muito tempo Samuel tirou a tarde de folga dos seus projetos. Em algum momento acabou indo para o chão junto com as "sobrinhas" e brincou com elas de todas as coisas que as gêmeas de quatro anos eram capazes de inventar. Talvez esse tenha sido o momento de maior descontração que teve em dias, mas ao tempo foi um pouquinho melancólico, o fez pensar como seria seu filho se este tivesse nascido, se seria menino ou menina, se pareceria com a mãe assim como as gêmeas eram a cópia fiel de Clara.

UnilateralWhere stories live. Discover now