Capítulo Quarenta e Sete

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O apartamento era pequeno, caberia no andar térreo da casa do músico e ainda sobraria espaço. Mas apesar de ter estabilidade financeira Samuel nunca se apegou muito a ela. Obviamente o dinheiro facilitava muito a vida, mas nunca adquiriu a soberba da sua tia, que como o próprio Otávio descrevia, era extremamente elitista.

— ... Esse lugar lembra muito você!

Toni foi esvaziando os bolsos, e jogando as coisas na mesinha ao lado do sofá.

— Como assim? — questionou sem entender direito o comentário.

— As paredes são cinzas! — falou como se fosse algo óbvio.

Mesmo assim Toni não entendeu o que isso tinha de tão importante.

— E daí?

— E daí... que só você pintaria o apartamento todo de cinza. Com certeza é para manter um pouco escuro aqui dentro... acertei? — palpitou ainda olhando as paredes.

Toni sorriu de lado, um pouco surpreso por Samuel acertar logo de cara. Não lembrava de der comentado com ele sobre nenhum detalhe do apartamento, talvez Samuel o conhecesse mais do que parecia.

— É... mas como tu sabe disso?

Samuel sorriu um pouco.

— Você sempre foi assim, sempre gostou de dormir muito e sempre dizia que pintaria o seu quarto de preto para ficar bem escuro. Eu lembro que as vezes você faltava na escola, se escondia em baixo da cama quando a sua mãe ia te chamar, assim ela pensava que você já tinha saído de casa. Depois que ela ia embora, você voltava para cama e dormia a manhã inteira, só levantava quando estava na hora da saída na escola.

Toni passou a mão na nuca, meio encabulado com a situação. Nunca pensaria que Samuel lembrava dessas coisas.

— Lembra disso é?

— Claro.

— Mas isso faz tempo para porra, eu era um pirralho esquisitão.

— Nem era tanto. Talvez fosse um pouco preguiçoso, mas eu te achava bonitinho. Tinha aquelas bochechas redondinhas, que mostrava as covinhas quando você sorria...

Toni sentiu aquele sentimento bom no peito. Samuel falava as coisas tão naturalmente, sem intenção nenhuma de seduzi-lo e mesmo assim o fazia.

— Ainda não conheceu o quarto — sussurrou no ouvido e beijou o pescoço alheio.

O tour pelo apartamento levou cerca de vinte segundos.

— Não é muito grande, nem muito luxuoso mas é o bastante para mim — falou, já sentado na cama e vendo Samuel olhar o quarto.

— Você sabe que eu não ligo para essas coisas.

Toni tirou a camiseta, deixando o corpo meio exposto e imediatamente os olhos de Samuel se voltaram para a tatuagem que cobria parte do peitoral e subia pelo ombro. Tomava conta de um braço.

— Eu sei. Essa é uma das coisas que eu respeito em ti. Vem cá... anda vem cá... — convidou com um sorriso divertido mal contido nos lábios, mas um olhar completamente desejoso, até estendeu a mão para o músico.

Samuel ainda ficou parados alguns instantes, sem saber o que fazer, mesmo hesitante e com o seu nervosismo incomum já familiar surgindo segurou a mão do mais novo e foi até a cama, sentou ao lado do rapaz. Estava se sentindo tão deslocado e sem jeito que nem conseguia olhar para o rosto do outro.

— Samy, não faz essa cara. Eu não vou te morder nem nada... quer dizer, até posso, mas tu ia ter que querer também — falou de propósito, de forma provocativa.

UnilateralWhere stories live. Discover now