Capítulo Sessenta e Três

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Aplicar a pomada foi quase um ato de crueldade. Por mais "contido" que Samuel fosse não conseguiu esconder como estava dolorido. O constrangimento do músico era tanto que em nenhum momento encarou Toni nos olhos, assim que aquela breve tortura acabou o mais velho apenas ficou muito quieto, como se a vergonha o tivesse ferido mortalmente. O moreno se deitou ao seu lado, abraçou-o por trás, com todo cuidado do mundo questionou sobre a consulta.

Acabou descobrindo que César estava certo afinal, em tudo o que disse. Era uma dolorosa lesão no esfíncter interno, mas nada grave, cicatrizaria em algumas semanas desde que seguissem o tratamento direito e fizessem ajustes na alimentação. Talvez esta última fosse o maior obstáculo, porque Samuel simplesmente quase não comia direito.

Toni ficou um longo tempo velando seu sono, acariciando seu rosto, observando as olheiras e o ar abatido. Ainda se sentia culpado, mas agora que tudo estava resolvido e devidamente esclarecido aos poucos o medo de perder Samuel ia se aquietando no seu peito.

— Eu te amo... tanto... tanto meu amor... — falou tocando o rosto pálido, acariciando seus cabelos.

No dia seguinte César teve que ir buscar o carro na praça por determinação de Magnólia, que ainda não estava completamente satisfeita com os tapas que deu no enfermeiro.

Samuel amanheceu febril. O que não era esperado, mas perfeitamente compreensível. Havia conseguido um resfriado forte. A friagem da noite anterior foi o bastante para adoecê-lo já que tinha o sistema imunológico fraco devido sua falta de atenção com a alimentação. Quase não saiu da cama e Toni foi trabalhar por pura obrigação, tinha um prazo a cumprir. Magnólia se encarregou pessoalmente de cuidar do seu "filho" e da tagarela Luz, que ficou ao lado do músico o tempo todo.

O mais velho só saiu do quarto na hora do almoço, apenas para não fazer desfeita com Magnólia, por quem tinha tanto apreço, não gostava da ideia de dar trabalho a mulher, então foi sentar à mesa da cozinha, junto com as crianças, Ícaro e César. Estava dispensando fazer qualquer refeição na sala de jantar com os inquilinos. Não por orgulho, apenas não estava com a mente livre para sustentar as conversas amenas que certamente alguns gostavam de manter com ele.

Durante a refeição não houve realmente nada de extraordinário, Luz e Ícaro falavam pelos cotovelos, acabavam com a paciência de todo mundo. Lucas apenas revirava os olhos com as asneiras que os dois falavam e soltava um ou outro comentário sucinto e direto, César ainda estava sofrendo com olhares sérios por parte de Magnólia, por isso estava extremamente silencioso, como um menino de castigo, mal levantava a cabeça.

— Tá se sentindo bem querido? — questionou Magnólia de repente.

Samuel se ajeitou na cadeira.

— Sim tia, estou bem.

— Mas estou te achando tão caidinho, amor.

Samuel sorriu fraco, sentindo-se bem em ser cuidado.

— Estou bem, é só uma dor de cabeça...

— Ih! Relaxa Samuelzinho! Seja bem-vindo ao clube. A minha também estava doendo ontem. Isso é o peso dos galhos crescendo sabia? Com o tempo você acostuma e para de doer, depois te ensino um truquezinho na postura, sabe? Bem no jeito de ficar com a coluna retinha e a cabeça erguida, ajuda a equilibrar o peso extra da galhada de árvore que estamos ganhando – disparou Ícaro de repente e não mais que de repente assustando os adultos e fazendo Lucas erguer as sobrancelhas, pois das crianças foi o único que entendeu o que aquilo queria dizer.

— ÍCARO! Que diacho é isso menino?! — brigou Magnólia, imediatamente, assustando Luz.

— Estou falando a verdade! Eu ia devolver na mesma moeda, mas estava pensando e percebi que o Samuelzinho lindo do "core" não vai seguir meus passos não é queridinho? Ele não transaria comigo para dar o troco nesse dois brutamontes estúpidos e idiotas! Então fica a dica viu Samuelzinho... levanta a cabeça, com ou sem resfriado e quando andar por essa casa outra vez, vai "divando" meu amor.

UnilateralWhere stories live. Discover now