Capítulo Trinta e Cinco

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O fim do ano era terrível, todo mundo ficava mais estressado e correndo com os prazos de entrega. A obra em que estava trabalhando naquele mês devia ter ficado pronta em outubro, mas a chuva atrapalhou tudo, junto com a burocracia, os donos do que seria uma clínica veterinária era extremamente problemáticos. Eram pomposos metidos e arrogantes.

A pressão era tanta que só o que motivava a equipe era à vontade de se livrar logo daquele serviço. Quando faltava uma semana para terminar o serviço estavam trabalhando noite adentro, com hora extra remunerada obviamente, mas era exaustivo. Paravam já perto da meia noite e retornavam ao canteiro de obra as sete da manhã.

Por causa das últimas palavras de Otávio, que lhe alertou sobre a sua raiva desmedida, Toni estava se policiando nessa época mais difícil, em que andava com a cabeça quente e os nervos à flor da pele. Estava se controlando bem. Foi assim até o mestre de obras, se chamava Getúlio, fazer aquilo.

Toni encheu o carrinho de mão com a massa de cimento, foi empurrando na força bruta até o outro lado do prédio, onde dois colegas trabalhavam no piso do estacionamento. Parou o carrinho perto dos dois e se endireitou com uma dor absurda nas costas.

— Aí cambada!

— Pow valeu cara!... Tu tá legal aí? — perguntou Cabeça, vendo a expressão dolorida do outro.

A resistência física de Toni era famosa na firma, todo mundo sabia do ajudante de obra que não se rendia a qualquer dor ou se impressionava com qualquer acidente. Ver o rapaz assim, era no mínimo curioso.

— Tô, eu que fui levantar um saco de cimento ali e acho que peguei de mal jeito... Deu um estalo no meio da minha coluna e agora tá doendo para caralho!

Toni explicou e foi colocando as mãos nos joelhos, suado e ofegante pelo esforço físico.

— Vai devagar aí cara, não vai se render por causa de serviço que num vale a pena não — recomendou o outro.

— Cabeça vem aqui... Isso aqui é besteira, eu só não tô conseguindo estalar. Vira de costa aí! Tu aguenta o meu peso?

— Sei lá cara! Tu pesa quanto?

— Uns oitenta e cinco ou noventa, por aí.

Cabeça ficou de costas e estendeu os braços para trás.

— Tá pronto? — convidou o homem.

Toni encostou suas costas na do colega de trabalho e entrelaçou seus braços nos dele. Ainda respirou fundo para se preparar para a dor.

— Vai!

Cabeça contraiu os braços, puxando os de Toni para si mesmo, fazendo o moreno abrir muito os braços.

— Lá vai! Guenta aí! — avisou ainda.

Cabeça se dobrou para frente lentamente, tirando os pés do Toni do chão a medida que o corpo do moreno era forçado para trás, acompanhando a inclinação que o outro fazia.

Toni sentiu seus músculos doloridos arderem, a dor no meio da coluna ficou insuportável por um momento mas tudo que fez foi apertar os lábios. Houve um estalo alto, foi como levar uma porrada no meio das costas, até lhe faltou ar. Cabeça o soltou calmamente. Toni precisou se apoiar nos joelhos e respirar fundo.

— E aí? Passou?

— Tá melhor... Valeu aí...

— Mas o que é que está acontecendo aqui?! Isso não é hora para brincadeira não seus moleques! Se não estão interessados em trabalhar é só passar no escritório e pegar as contas!

UnilateralOù les histoires vivent. Découvrez maintenant