Capítulo Cinquenta e Três - Parte Um

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Durante o resto do dia, Samuel não conseguiu pensar em outra coisa a não ser na conversa estranha que teve com Toni enquanto bebiam café. Estava experimentando um misto de sensações novas e ao mesmo tempo já familiares. Tinha um frio esquisito na barriga quando pensava no que estava por vir à noite, chegava a tremer de nervoso. Ao mesmo tempo sentia o coração aquecido quando lembrava que agora eram "namorados". Agora que parava para pensar parecia um pouco idiota ter feito aquela pergunta sobre o relacionamento dos dois, afinal Toni tinha razão, estava de fato morando juntos. Tudo foi acontecendo meio sem querer, mas acabaram assim, dividindo a mesma cama.

O fato era que estava feliz, mas indiscutivelmente nervoso. Por pura curiosidade resolveu pesquisar na internet sobre relacionamentos gay. Encontrou uma infinidade de sites. Mas não estava interessado em matéria pornográfica. Ficava constrangido vendo as propagandas de sexo explícito que brotavam no meio da tela do notebook. Ficava aflito com o coração batendo a mil, tentando fechar as propagandas que eram persistentes. Imaginava o que pensariam se alguém o flagrasse vendo essas coisas, ou pior, o que Toni pensaria se o flagrasse vendo essas coisas. Só de pensar nessa possibilidade já lhe dava até uma agonia. Principalmente porque não conseguia sumir com as propagandas, era só mudar de site que lá estavam ela.

— Samuelzinho, a tia Mag está perguntando se você come mingau de abóbora. Eu acho uma delícia! Ela disse que vai fazer para você. Bem que ela podia fazer de banana também! Eu adoro mingau de banana... — Ícaro foi falando e falando, entrou no quarto, se jogou na cama.

Samuel queria chorar de tanta vergonha, clicava no X freneticamente tentando fechar a propaganda.

— O que você está vendo?

Ícaro se inclinou para o lado e viu a janela pequena que mostrava um gif de um cara fazendo sexo oral em outro cara maior do que ele, outra janela mais embaixo com um homem barbado dando um beijo grego em outro.

— Essas propagandas são uma merda! Eu tenho vontade de mandar um e-mail para os administradores desses sites, xingando muito. Para quê colocar essa tonelada de porcaria em cada link. Sabe o que você faz? Tira a permissão do navegador de abrir janelas ou abas automaticamente. Aí sempre vai aparecer o aviso de que o site quer abrir uma, só recusar rapidinho e pronto.

Samuel estava atordoado. Ícaro falava numa velocidade sobrenatural. Mas o que mais deixou Samuel aliviado é que o garoto não o recriminou ou mesmo brincou com o fato de estar olhando esse tipo de site.

— O que?

— Assim — dizendo isso puxou o notebook para si e foi mexendo nas configurações, com muita agilidade.

— Pronto. Agora deixa eu ver o que você estava olhando. Você não se importa não é? Tanto faz né? De qualquer jeito eu vou olhar — concluiu sorrindo.

Mas de repente sua voz sumiu e o garoto arregalou os olhos para tela e depois para Samuel e de volta para tela, muito dramático. Então levantou da cama muito surpreso e deu pulinhos de alegria, completamente eufórico e precisou cobrir a boca com a mão para conter os gritos fininhos.

— Está falando sério? Mas como assim vocês nunca fizeram nada?! Gente! Que desperdício! Um sapão daqueles dormindo ao meu lado... eu já tinha atacado! Aí meu Deus se o César me escuta dizendo isso ele até me bate! — se assustou de repente.

O garoto correu até a porta, mas antes de fechar ouviu aquele grito.

— ÍCARO! FALOU COM ELE MENINO? QUE DEMORA É ESSA CRIATURA! ERA SÓ PARA FAZER UMA PERGUNTA! — bradou Magnólia de algum lugar lá fora.

— ELE DISSE QUE NUNCA PROVOU! — mentiu e rapidamente fechou a porta.

Samuel queria morrer ali mesmo, quando percebeu o duplo sentido da resposta do garoto.

UnilateralWhere stories live. Discover now