Capítulo Quarenta e Nove

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Toni não disse nada de imediato, apenas viu Samuel enxugar as lágrimas, com mais força que o necessário.

— Eu sinto muito...

— Não precisa fingir que se importa — rebateu de forma ríspida.

— Como é que é?

— Você odiava a minha mãe Toni.

— Com motivo né! Eu não mudei de opinião só porque ela morreu. Para mim ela continua sendo uma vagabunda! Se eu disse que sinto muito é por tua causa. Porque eu sei o tanto que tu ama ela.

— Tanto faz. Pode xingar ela à vontade agora. Era uma vadia mesmo. Pena que eu demorei demais para ver isso.

Samuel estava estranho, mas Toni só percebeu que ele estava bêbado quando o homem levantou da mesa e quase não se firmou com a bengala. Por um instante até achou que ele ia cair.

O músico seguiu para a casa, Toni o seguiu de perto. A sala estava uma bagunça, parecia até que um furacão tinha passado ali. Copos e garrafas vazias pelo chão, roupas e papéis espalhados por todo o lado.

— Bebeu tudo isso?

— Talvez.

Samuel foi mancando com a ajuda da bengala através do lixo no chão, empurrando as garrafas quando passava. Toni o viu ir até geladeira e tirar outra latinha de cerveja.

— Vai embora Toni. Vai para casa cara. Vai procurar alguém que valha a pena — falou abrindo a cerveja, num tom frio e amargurado.

Toni simplesmente relevava as coisas que saiam da boca do músico porque ele não estava completamente lúcido.

— Acho que tu já bebeu demais para alguém que nunca faz isso. Já faz três dias.

Samuel sorriu minimamente e virou a latinha na boca, tomando metade em goles gulosos, olhando de esguelha para o moreno, como se o desafiasse a pará-lo. Toni nunca viu aquela ferocidade em Samuel, nunca viu o seu lado ruim antes, as vezes até duvidou que ele possuía um lado ruim.

— Sempre ouvi dizer que o álcool anestesia tudo. Eu ainda estou sentindo dor, então não bebi o suficiente. Se não gostou vai embora, aliás nem sei o que está fazendo aqui ainda — falou e foi enxugando a boca com a costa das mãos.

— Eu não vou a lugar nenhum — limitou a resposta a isso, porque sabia que não adiantava nada argumentar com bêbados.

— Eu não quero que me veja assim.

Toni viu os olhos se encherem de lágrimas. Seu coração se comprimiu em dor pelo sofrimento do homem que amava. O abraçou com carinho, surpreendendo o músico.

— Mesmo bêbado tu continua perfeito para mim. Tu não tá mais sozinho Samy... eu tô aqui.

Samuel se soltou dos seus braços, foi se afastando, meio atormentado pelas lembranças que se misturavam na sua mente já naturalmente confusa. Sempre que estava perto de Toni e ele lhe tratava com carinho e respeito lembrava das últimas palavras da ex-namorada quando romperam o relacionamento. Era uma tortura constante.

Jogou a bengala no chão e foi tirando a camisa azul que vestia, em seguida foi levantando a camiseta branca que tinha por baixo, seu movimentos eram lerdos e descoordenados, mas foi se livrando da roupa.

— O que tá fazendo? — questionou o moreno, vendo Samuel desabotoar as calças com dificuldades.

Por um instante Toni não soube o que fazer, nem imaginava o que Samuel pretendia. Viu Samuel abaixar as calça, mas por puro respeito abaixou a cabeça, sem saber o que exatamente estava acontecendo.

UnilateralWhere stories live. Discover now