Capítulo Quatro

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Toni suspirou pela milésima vez naquela manhã. Não por que estivesse realmente cansado, nem fazia duas horas que estava trabalhando. Por alguma razão não conseguia tirar Samuel da sua cabeça. Não sabia como lidar com o fato de que sua paixão adolescente estava hospedado na sua casa, dormindo numa cama ao lado da sua. A simples presença dele abalava a muralha invisível que ergueu em volta das suas emoções, mesmo que não quisesse admitir, essa era a verdade.

Samuel ainda mexia com suas emoções. Só não sabia dizer se era uma maneira boa ou ruim. Evitou ao máximo interagir com ele, mas na noite anterior não teve como fugir quando Samuel o cercou nos fundos do quintal. Aquela proximidade, a voz, o perfume masculino suave, os olhos cor de mel quase amarelos, tão mais alegres agora do que antigamente.

Foi tudo tão bom que seu coração bateu dolorosamente no peito, agitado como nos velhos tempos, se sentiu sufocado pela presença dele.

— CUIDADO AÍ! — um berro aflito foi ouvido.

Toni mal teve tempo de olhar para cima antes de desviar do balde sujo de cimento que caiu acertando seu ombro, por poucos centímetros não atingia sua cabeça. Não evitando a colher de pedreiro que acertou seu braço fazendo um corte ardido que começou a derramar sangue imediatamente. Nunca foi escandaloso, apenas apertou os dentes e saiu da área de risco, antes que fosse atingido por qualquer outra coisa. Olhou rapidamente para o braço, apesar da dor não estava realmente incomodado com aquilo.

Dois dos seus colegas de trabalho chegaram até onde estava apressadamente, muito preocupados, eram cerca de dez homens, entre pedreiros e ajudantes. Ouviu algumas exclamações preocupadas, outras surpresas, um homem forte como ele puxou seu braço sem qualquer cerimônia.

Um rapaz mais magro veio correndo ofegante, mas parou ao ver o sangue que escorria do corte. Colocou as duas mãos na cabeça, aflito com o acidente que tinha causado.

— Porra! Desculpa cara! Sério mermo Toni! Cara, eu não te vi ali, bicho! Sério mermo! Desculpa...

Toni apenas passou a mão no rosto, olhou o machucado junto com o outro e fez uma careta de dor, mas na verdade não estava realmente preocupado com aquilo.

Desde que acordou aquela manhã estava se sentindo estranho, afetado pela presença do intruso no seu quarto.

Um dos rapazes bateu nas costas no mais magro de maneira amigável.

— Relaxa aí, Galego, foi só um acidente, acontece — afirmou sem demonstrar maior preocupação.

Galego era o mais novo da equipe, ainda tinha dezenove anos e esta era a primeira obra grande que trabalha. Seus colegas de equipe o receberam bem apesar das piadinhas constantes, sempre o auxiliando e ensinando o que precisava saber. Toni foi especialmente educado com ele, por que assim como o rapaz também iniciou nessa profissão muito novo, tinha dezesseis anos quando conseguiu ser ajudante numa obra.

— Calma Galeguinho, foi nada não moleque, Toni é duro na queda — falou outro, tranquilizando o rapaz.

Toni afastou as mãos do pedreiro experiente que ainda o segurava, nunca gostava de muita atenção sobre si.

— Tô legal, não foi nada.

— Não foi nada o que rapaz! Desde que tu chegou que tu num presta atenção em nada, tá fazendo a maior merda com os azulejo ali. Tá careca de saber que tem que usar a porra do equipamento de segurança! Quase acertou a tua cabeça! Cadê teu capacete rapaz?! Tá maluco irmão? Tem que ter cuidado quando tiver perto dos cavaletes! Aqui todo mundo tá ralando! Tá todo mundo doido para entregar logo essa porra pronta e tu inventa de ficar distraído agora?! Não sei o qual foi a treta que rolou entre tu e aquele teu macho lá e num interessa pra ninguém aqui. Todo mundo aqui tem problema mano, tem mulher, tem filho, tem namorada, gato, cachorro, papagaio e tem conta para pagar e os caralho todo!

UnilateralWhere stories live. Discover now