Capítulo Sessenta e Quatro

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Toni praticamente jogou o namorado para dentro do quarto e Samuel quase caiu, mas conseguiu se firmar com a bengala, ainda sentindo o braço latejando do apertão forte com o qual foi arrastado até ali. O moreno bateu a porta violentamente e trancou, quando se virou já foi colocando o dedo em riste no peito de Samuel.

— Tu não tinha esse direito! Não podia trazer essa vagabunda para dentro da minha casa!

Os olhos pretos faiscavam de tanta raiva, mas Samuel não se assustou como de costume, apenas massageou o braço dolorido, com certeza ficaria um belo hematoma ali. Nunca experimentou na própria pele antes, a força raivosa do namorado.

— Você não precisa gritar, estamos só nós dois aqui e eu posso te ouvir perfeitamente — começou, mais calmo do que deveria. Sua aparente tranquilidade só serviu para irritar ainda mais o outro.

— NÃO ENCHE O SACO, CACETE! ONDE TU TAVA COM A CABEÇA PARA CHAMAR ESSA PUTA AQUI?! Na verdade não precisa nem responder, porque eu até já imagino! Isso é algum tipo de vingança não é?

Dessa vez Samuel arqueou as sobrancelhas.

— Vingança?

— Não se faz de besta! Tá querendo dá o troco por causa do que rolou aqui com o César! Tá tentando me irritar! Só pode ser isso! Porque eu não consigo ver nenhum outro motivo para tu fazer uma leseira dessa! Mas Caralho Samy! NÃO ROLOU NADA AQUI! — Gritou bem alto a última parte porque parecia que seu namorado simplesmente não conseguia entender uma coisa tão simples e agora estava até o prejudicando por isso.

Imediatamente o semblante do músico mudou, deixando o ar tranquilo para voltar ao jeito nublado e comedido dos últimos dias. Mas Toni estava tão cego de ódio por ter visto Viviane ali, em meio aos seus amigos que nem deu tempo do mais velho rebater ou argumentar, muito menos justificar a presença da ex-amiga no seu almoço de aniversário.

— Vou falar bem devagar para ver se tu entende de uma vez por todas! EU NÃO TE TRAÍ! NÃO ROLOU NADA AQUI! Tu tá ouvindo Samuel? Sério mesmo! Tu tá entendendo que eu tô falando ou eu vou ter desenhar com cifras de música para tu poder entender um troço tão simples?! TU NÃO TINHA QUE TER ARQUITETADO UMA VINGANÇA BESTA DESSAS!

— Eu não sou o tipo de pessoa que se vinga, mas supondo que eu fosse... porque tentaria me vingar de forma tão infantil de uma coisa que você disse que não aconteceu? — questionou com calma forçada assim que o mais novo parou para respirar.

Toni arregalou os olhos por um segundo, percebendo o que havia dito. Ainda trocaram olhares intensos, cheios de significado.

— É só um jeito de falar! Não torra minha paciência! Tu sabe que eu nunca fui bom com as palavras – explicou rapidamente, dividido entre a raiva latente e o temor de ver Samuel abordando um assunto delicado que pairava entre os dois há dias, como um fantasma.

Samuel sorriu, mas foi um sorriso sem brilho nenhum, sem alegria ou satisfação, era um dos seus sorrisos educados. Toni odiou do fundo do coração ver aquilo.

— Entendo. Evidentemente eu percebi, que tinha um motivo forte para você se afastar da Viviane, afinal vocês são amigos de uma vida toda. Mas você não parecia disposto a falar então eu achei melhor não perguntar — sua breve explicação, cheia de educada frieza e amargor de ter seus sentimentos pisados pelo namorado de forma tão grotesca foi completamente interrompida pela voz estrondosa de Toni, que naquele momento estava odiando a capacidade de Samuel de ficar calmo.

— ELA TRAIU MINHA CONFIANÇA! SENTAVA NA MESA PARA COMER COM A GENTE, XINGAVA OS CARAS QUE EU SURRAVA PELA MADRUGADA MAS SAÍA DAQUI E IA DORMIR COM UM FILHO DA PUTA DE UM HOMOFÓBICO! ELA ME TRAIU! DO MESMO JEITO QUE TU ACABOU DE FAZER TRAZENDO ESSA MALDITA VAGABUNDA PARA CÁ NO DIA DO MEU ANIVERSÁRIO! UM BANDO DE TRAIDORES, É ISSO QUE CÊS TUDO SÃO! POR MUITO POUCO EU QUASE NÃO MATEI ESSA PUTA DA ÚLTIMA VEZ QUE A GENTE SE VIU! — por fim parou de gritar, ofegando, enraivecido e descontrolado, olhando para o mais velho como um bicho enjaulado e feroz.

UnilateralWhere stories live. Discover now