Capítulo Cinquenta e Quatro

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Samuel mal conseguiu dormir de tão ansioso que ficou. Sua ansiedade anormal, sempre representou um problema na sua vida, mas imaginou que estar preste a conhecer uma irmã mais nova que nem sabia que existia, era motivo o bastante para qualquer um ficar ansioso.

Não pretendia realmente acordar as cinco da manhã, mas estava acordado quando o dia começou a clarear e não viu motivo para continuar na cama. Então levantou, tomou banho e se preparou para a pequena viagem o melhor que pode.

Magnólia se despediu dos dois na porta, desejou boa sorte a Samuel e fez inúmeras recomendações a Toni sobre os cuidados na estrada. Saíram da pensão pontualmente as seis e meia da manhã.

Toni tinha uma direção agressiva, mas dessa vez estava calmo e não passava dos sessenta por hora, foram conversando calmamente, entre risos e pequenos toques quase imperceptíveis, que surgiam de forma natural, da necessidade de contato físico dos dois. Era um sutil aperto que Toni dava na coxa do namorado, ou a mão que Samuel pousava no ombro do mais novo com suavidade.

Estavam na metade da viagem quando pararam num posto de gasolina, num ponto a beira da estrada. O primeiro lugar com sinal de celular desde que deixaram a cidade. Toni ligou para mãe como ela havia pedido, Samuel colocou a órtese por cima da calça mesmo apenas para poder sair do carro e ir em direção a loja de conveniência.

Toni o olhou marcar levemente e atravessar as portas de vidro. Mas mais do que isso, reparou como a balconista ficou olhando para o seu namorado. Era um olhar curioso e insistente, indisfarçado, até deu uma esticada no pescoço para poder ver direito a órtese enquanto Samuel estava de costas, pegando alguma coisa na prateleira.

Toni acompanhou o músico apenas olhando através do vidro, escorado na picape. Teve vontade de furar os dois olhos daquela mulher estúpida. Conversava com a sua mãe sem nem prestar muita atenção a conversa.

Quando Samuel foi pagar os produtos a mulher de cabelos quebradiços e expressão tediosa, nem ao menos teve a decência de disfarçar. Toni estreitou os olhos em tempo de ver Samuel estalar os dedos na frente da mulher para chamar sua atenção. Aparentemente estava inabalável.

Quando o músico voltou apenas colocou a sacola no carro e Toni o puxou para um abraço, sem dizer nada, percebeu Samuel tenso apesar de seu rosto não demonstrar nada.

— É o joelho né? Eu vi o jeito que ela tava te olhando.

Samuel suspirou e relaxou contra o peito largo.

— É por isso que eu não saio muito de casa.

Toni segurou seu queixo e plantou um beijo delicado na sua boca. Samuel suspirou e prendeu a respiração, mas não recusou, embora sua face tenha ganhado tons de vermelho.

— Toni... Estão todos olhando para nós — falou baixinho.

— São um bando de invejosos! — rebateu, ainda olhando para a boca de lábios finos e rosadinhos.

— Do que exatamente você acha que essas pessoas tem inveja? Do meu joelho quebrado? Da bengala?

— Desse homem gostoso que tu é... Duas raparigas ali da lanchonete já tão secando a tua bunda. Provavelmente tão dizendo que é um desperdício tu ser gay, porque mulher adora dizer essas paradas. Vai, entra no carro! Sou muito possessivo com o que é meu — falou com um sorriso gaiato e de espaço para o músico entrar na picape.

Samuel ficou vermelho como um tomate maduro. Apesar de ter reencontrado Toni há cerca de um mês ainda não tinha se habituado a essa facilidade do moreno de dizer coisas libertinas a qualquer instante.

Toni entrou em seguida, Samuel mexeu na sacola e lhe ofereceu a garrafa de água mineral. O moreno bebeu observando os dedos ágeis do músico abrir um pacote de pastilhas de menta.

UnilateralWhere stories live. Discover now