CAP-52

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Alay e Pablo estavam brigando, novamente. Ambos começaram na sala de estar. Só que era impossível que os dois estivessem no mesmo espaço, sem brigar. Ela tentava falar com ele, mas não conseguia. Assim, a discursão começou.

Alay: Pablo, cala essa boca, por favor? - Ele riu, e ela revirou os olhos - AH, você é insuportável, francamente.

Pablo: Por isso casou-se comigo? - Perguntou, debochado, olhando-a.

Alay: NÃO! - Ele riu da raiva dela, que se levantou, bruscamente.

Pablo: O que você está tentando fazer? - Debochou de novo olhando Alay, que parecia estar se controlando por alguma coisa.

Alay: Estou tentando dizer que eu estou grávida. - Pra Pablo, foi como uma bela bolacha na cara. O sorriso dele se fechou, e o de Alay se abriu, triunfante. - Era isso que eu estava tentando falar, mas você não deixou. - Sorriu, calma.

Pablo observou Alay, atônito. Um filho. Um novo filho. O anterior nunca chegou a nascer. Só a idéia de um novo filho era absurda.

Pablo: Seu único problema, - Começou, levantando-se - É se essa criança tiver os cabelos da cor de ferrugem, de bronze, como se você preferir chamar. - Alay parou de sorrir, encarando-o. Agora os dois estavam sérios.

Alay: É a minha maior esperança, atualmente. - Assumiu, sem conseguir se conter - Que tenha os olhos da cor de whisky, e os cabelos cor de bronze. Pelo menos não será um ser desprezível, tal como você. - Concluiu, fria.

Pablo calculou o que tinha ouvido em um segundo. Porém, ela já não estava lá. Seu ódio era tão grande, que tinha vontade de ir atrás dela e enforca-la com suas próprias mãos. Ele sempre desconfiou, mas ouvir da boca dela era pior. Porém, não a seguiu, não gritou, nem foi atrás do irmão. Eles pagariam. De um jeito categoricamente pior.

Os meses seguintes foram calmos, e turbulentos ao mesmo tempo. As brigas eram, já haviam se tornado normais. Alay estava com 5 meses, e sua barriga estava linda. Ela não usava mais espartilhos, pela barriga. Agora só um tipo de top, feito pra as grávidas daquela época, e a calcinha short, normal. Adorava aquilo, era bastante confortável. Rafael a mimava de todos os jeitos. Ela sentia o filho vivo, dentro de si, e isso vinha lhe devolvendo a vontade de viver.

Rafael: Não quer mais uma? - Insistiu, oferecendo uma pêra pra ela, no corredor. Ele sabia que ela não queria, mas gostava de torrar a paciência dela.

Alay: Não. - Respondeu, com bico, enquanto andava. Não queria rir. Mas a vontade estava arrasadora.

Rafael: Nem um pedacinho? - Ele estendeu a pêra pra ela.

Alay: Rafael, não! - Ela riu, e ele sorriu, satisfeito.

Rafael: Tudo bem. - Ele mordeu a pêra, calmo.

Alay: Vou tomar banho pra me aprontar pro jantar. - Avisou, ao parar na porta de seu quarto. Rafael engasgou.

Rafael: Jantar? Você acabou de comer 6 pêras, e ainda pensa em jantar? - Brincou, se fazendo de indignado. Alay arregalou os olhos e deu um tapinha nele, que riu.

Alay: Quer saber? Tchau pra você. - Disse, rindo, e entrou no quarto.

Alay tomou um banho de banheira, quentinho, e bem demorado. Saiu tranquilamente da banheira, e foi pro quarto. Lá apanhou suas roupas e voltou pro banheiro. Vestiu o short, e o top. Mas antes de pôr o vestido parou na frente do espelho, pra olhar sua barriga. Fazia isso diariamente, nos últimos 5 meses. Ela deixou a cabeça cair pro lado, como uma criança curiosa, e sorriu. Tocou a barriga carinhosamente. Aquilo era tão novo. Sua barriga era durinha, mais dura que o normal. Ela conseguia sentir o bebê, pulsante, dentro de si. Quisera tanto esse filho. Enquanto o acariciava, ela se lembrou do passado. Quanta felicidade essa criança teria causado se tivesse chegado antes de Lorena. Mas a morena veio antes. Ela se assustou ao ver no espelho dois olhos verdes atrás de si, na porta do banheiro, acompanhando seus movimentos atentamente.

Alay: O que você está fazendo? - Perguntou, virando-se no susto, e cobrindo a barriga com a toalha.

Pablo: Nada. - Respondeu. Parecia perturbado, alterado. Alay o reconhecera quando o viu. Não era o demônio. Era o seu Pablo. Mas isso não mudava nada. - Posso?

Alay avaliou por um momento, e depois olhou pro lavatório sugestivamente.

Pablo revirou os olhos, mas obedeceu. Ela observou ele lavar as mãos cuidadosamente. Estava com uma calça social, normal, preta. Deixara o terno em algum lugar, estava apenas com a camisa branca e o colete preto por cima. Ele secou as mãos e virou-se pra ela, erguendo as mesmas. Alay assentiu, e, hesitante, tirou a toalha branca de cima da barriga. Pablo se aproximou dela e, atentamente, tocou-lhe a barriga de leve. Ela estremeceu com o toque da mão quente dele em sua pele. Ele não estava olhando-a, e sim a sua barriga. Tinha algo estranho no olhar dele, enquanto tocava o bebê. Alay franziu a sobrancelha. Algo estava...mexendo. Pablo também sentiu. Ele sorriu de canto, meio fascinado com aquilo. O bebê se mexeu ao toque dele. Era tão diferente. Ele já havia tocado Alay dezenas de vezes, mas era completamente diferente. Passaram minutos assim, os três ali, parados no meio do banheiro.

Alay: Você... você está bem? - Perguntou, rompendo o silêncio.

Pablo: Estou. - Respondeu, saindo do transe em que se encontrava - Obrigado. - Agradeceu, meio estranho, e se afastou dela.

Alay assentiu, olhou ele uma ultima vez e saiu do banheiro. Pablo virou-se pro enorme espelho que havia ali. Que diabo de sentimento era aquele? Porque gostara tanto quando a criança reagiu ao seu toque? Nem ele sabia responder.

Rafael: Carta pra você. - Anunciou, na manhã seguinte. Alay estava sentada, tricotando um sapatinho.
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Alay franziu a sobrancelha, confusa. Não costumava receber cartas. Ela pegou o envelope, e olhou o remetente. Sorriu Guilherme .

Alay: Larra! - Ela ouviu a ruiva gritar do andar de cima, respondendo - CARTA DO GUILHERME! - Anunciou, sorridente.

A RuivA logo apareceu, saltitante. Ambas sentiam falta do irmão. Larra se sentou na poltrona perto da que Rafael estava, e Alay começou a ler.

Querida Lay.

Escrevo pra dar-lhe uma noticia não tão boa. Ana pegou febre tifóide há alguns meses. Eu não avisei antes, porque não queria preocupar vocês. Porém, ela não resistiu. Morreu antes de ontem, e o enterro foi ontem de tarde. Eu queria ter escrito antes, mas não tive condições. Ela era minha vida. Já escrevi, avisando papai do que aconteceu. Vou tentar largar o trabalho pra passar uns dias com vocês. Como você está com Pablo? E Larra? Na ultima carta ela disse que o bebê tinha nascido, como ele está?

Esperando que esteja bem,
Guilherme.

Alay: Tem uma foto aqui. - Disse, ainda pasma pela noticia. Ela olhou o verso da foto. Era a caligrafia de Guilherme. ("Sei que você não deve se lembrar dela, passaram-se muitos anos

Alay passou a foto pra irmã, e a tristeza em seus olhos era maior que aparente. Guilherme amava Ana mais que a própria vida. Queria estar com o irmão, abraça-lo, consola-lo. Enquanto Larra observava, Alay pensou nisso. Como a vida era injusta. Corações quebrados estavam por toda parte.

Original SinWhere stories live. Discover now