CAP-27

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Alay: Deus do Céu. - Murmurou, avançando pelo enorme cômodo. As paredes eram cobertas de fotos da mulher. Havia um manequim num canto, com um vestido vermelho vivo.

Alay foi até uma das diversas prateleiras que havia ali, se sentindo dentro de uma ópera de terror. Haviam arquivos e mais arquivos. Ela puxou um, delicadamente. Era uma carta, antiga. Ela desdobrou com cuidado. Reconheceu a letra de Pablo no papel desgastado.

Lorena,

Minha mãe tem criado problemas. Aliás, aqui tem sido problemas de manhã até a noite. Hoje a noiva de Rafael veio até aqui. Eles só vão se casar daqui a dois anos, porém, Rafael insistiu em vê-la, queria conhecer. Sinto sua falta. Penso em você a todo momento. Vou dar um jeito de escapar, e irei até você.
Eu te Amo.

Pablo.

Alay olhava a carta como se aquilo lhe causasse nojo. Dobrou-a de novo, com menos cuidado do que quando desdobrou, e pôs no lugar. Pegou outra. Dessa vez a caligrafia era feminina.

Pablo,

Está cada vez mais dificil escrever a você! Benjamin é um inutil, está começando a criar caso. Ele é a favor da Alay. Você precisa resolver isso, rápido. Eu estou cansada de ficar escondida. I miss U.
Da sempre sua,

Lorena.

Alay ficou com aquilo na cabeça durante todo o dia. Cuidou de Ster com a cabeça distante. A noite, estranhou aquela cama enorme. Nunca dormira ali sem Pablo ressonando ao seu lado. Tampouco dormiu muito. Passou a maior parte da noite olhando a chuva bater na janela. De manhã, acordou com os gritinhos de Ster, vindos do lado de fora. Se levantou de supetão, indo até a janela. Ster corria atrás de Seth pelo jardim da mansão.

Alay: Ster! - A menina não ouviu - Vai piorar. - Murmurou pra si mesma, pegando o hobbie.

Alay estava com uma camisola de seda longa, branca, e o hobbie era igual. Sabia que era errado sair assim, mas Suri ia piorar se continuasse no frio.

Alay: Ei, ei, ei! - Segurou a menina, que ia em disparada atrás do cavalo, que galopava na sua frente

Ster: Mas, Lay... - Começou a questionar

Alay: Sem "mas". Você tá doente, devia estar no seu quarto. Vai piorar, Ster. - Suri mordeu o lábio, como se pedisse desculpas. As duas começaram a caminhar até onde Seth tava.

Alay: Ster, você conheceu alguém chamado Lorena? - Perguntou, tentando passar despercebida

Ster: Conhecer não, mas esse nome me é familiar. - Ela tentou se lembrar, sem sucesso - Você conhece?

Alay: Eu não, mas o Pablo parece conhecer. - Disse, amargurada - Eu fui levar um vestido mofado pro sótão, e tem... tem uma foto dela lá. - Resumiu

Mas antes que Ster pudesse responder, Seth relinchou, ficando em pé nas duas patas traseiras. Do nada, uma voz surgiu, fria e cortante.

Pablo: Então você resolveu me desobedecer. - Disse, aparecendo na lateral de Alay e Ster. Alay empalideceu. Que diabo, ele não tava viajando?

Alay: A-Pablo. - Murmurou, recuando

Pablo: Não corra. - Advertiu, furioso.

Alay e Ster agiram juntas. As duas se viraram e dispararam correndo pra mansão. Ao chegar na escadaria, Alay pegou Ster pela cintura, erguendo-a do chão, e desatou a subir. Ao entrarem em casa, Alay olhou pra trás, e Pablo não estava mais lá. Seu peito doia de medo, de terror. Subiu correndo com Ster, e entrou em seu quarto, fechando a porta e se escorando nela. Só o que houve foi o silêncio.

Ster: O que foi? - Perguntou, ofegando.

Pablo: Eu disse que não adiantaria correr. - Advertiu, frio, encostado calmamente no guarda-roupas, como se estivesse lá o tempo todo.

Alay gritou de susto. Em seguida, puxou Ster e pôs pra fora do quarto.

Alay: Se tranque no seu quarto e só abra a porta pra mim. - Disse rapidamente, e fechou a porta do quarto, se virando pra Pablo. Ele estava transformado. Respirava como um touro irritado, seus olhos eram ódio puro, e Alay sabia que não podia fugir.

Pablo: Eu avisei a você, Alay. Faça tudo, menos ir até lá. PORQUE ME DESOBEDECEU? - Gritou, avançando pra ela, que recuou pra perto da cama

Alay: E-eu só fui levar... - Interrompida

Pablo: ESPEROU QUE EU VIAJASSE PRA IR ATÉ LÁ! - Disse, agora próximo dela

Alay: Tudo isso era pra eu não ver a sua namorada, Pablo? - Perguntou, se jogando a morte. - Teve um lado positivo, agora eu sei porque você me odeia.

Pablo: Eu não matei a minha mãe. - Começou, transtornado - Eu amava a Lorena. - Ele disse, e o tom em sua voz não era de amor, chegava a ser adoração.

Alay: ENTÃO VÁ E FIQUE COM O CADAVER DELA! ME DEIXE EM PAZ! - Gritou, tomada pelo ciúme.

E então um golpe furioso lhe atingiu o rosto, e ela caiu no chão. Sentiu o gosto do sangue na boca. Mas antes que pudesse reagir, algo lhe atingiu as costas. Uma fivela, um cinto talvez. Parecia estar cortando sua pele em tiras. Ela ouvia o grunhido de Pablo a cada golpe que recebia. Tinha experiência, gritar não adiantava nada. Então se entregou a dor, sem se queixar, apenas protegendo o rosto com os braços enquanto rezava pra o ódio de Pablo parar. Após algum tempo, começou a rezar pra que a morte chegasse logo. As lágrimas queimavam seus olhos, até que tudo escureceu, e não houve mais nada. Em meio a sua dor, Alay pensou ter ouvido a voz furiosa de Pablo, bem ao longe, dizer: "Você não queria, pois então, ficará aqui." E seu rosto se bateu no chão com força. Não sabia se era só o rosto, o resto de seu corpo já estava tomado pela dor, ela não podia distinguir. Perdeu a noção do tempo. Só sabia que estava deitada num chão frio, de barriga pra baixo, e que tinha dor. Dor demais. Quando conseguiu abrir os olhos, foi o retrato de Lorena, com o sorriso triunfal que viu. Ela não conseguia se levantar. Não conseguia gritar. As lágrimas desciam por seu rosto silenciosamente. Tinha sede, tinha fome, e tinha dor, acima de tudo dor. Ficou ali, imovel, olhando o rosto de Lorena, enquanto mais lágrimas queimavam seu rosto.

Original SinWhere stories live. Discover now