CAP-62

6K 507 33
                                    

Alay recebeu alta na manhã seguinte. Guilherme a levou pra casa do pai, enquanto ela não resolvia sua vida. Alay se sentia uma menina novamente. Heloise manteve seu quarto exatamente do jeito que ela deixou, há tempos atrás. Alay deixou que Dulce ficasse com Pablo, enquanto ela se recuperava. Era justo pra todos.

Heloise: Ah, menina, fiquei tão preocupada. - Lamentou-se, ajeitando Alay na cama.

Alay: Não foi nada, Heloise. - Tranquilizou a senhora - Ficou tudo bem, no final.

Heloise: Ainda assim. Uma cobra! - Ela suspirou.

Guilherme: O que acontece é que sempre mimaram a Lay demais, ai agora, até uma queda que ela toma, preocupa todo mundo. - Debochou, sorrindo ao se encostar na porta.

Alay: Cala a boca, Henrique. - Alfinetou. Ele odiava.

Heloise: Podem parar, os dois. - Reclamou, pondo a mão na cintura. Alay e Guilherme riram - Ainda vão me colocar louca. Ande, Guilherme, venha me ajudar a trazer as roupas que o Sr. Pablo mandou da menina, pra cima.

Guilherme: Porque eu? - Perguntou, enquanto Alay ria gostosamente.

Heloise: Porque eu estou mandando. E vamos logo. - Ela empurrou Guilherme pela porta, e os dois sumiram, ainda com Heloise reclamando.

Alay riu, se abraçando. Era tudo exatamente como quando era criança. Tudo bem, Larra não estava lá, mas ainda assim. Ela sorria, lembrando dos tempos em que corria de Guilherme pelo jardim da mansão, rindo alegremente. Era tão mais fácil. Não haviam problemas. Qualquer coisa, era só gritar, e alguém apareceria pra resolver. Seu sorriso se fechou quando sua atenção retornou ao quarto. Havia um homem parado na porta do quarto, observando-a duramente. Pedro. Alay parou de sorrir, e esperou. Com certeza o pai não fora ali para verificar se ela se sentia bem. Pedro entrou no quarto, parando em seu interior, e encarou a filha, que manteve o olhar do pai.

Pedro: Não sabe o quanto me envergonha, Alay. - Disse, com a voz inflexível.

Alay: Sinto-me completamente lisonjeada por isso. - Respondeu no mesmo tom de voz.

Pedro: Seattle toda falando de você. A mulher que abandonou um Deville. - Intitulou, frio.

Alay: Talvez devessem ter intitulado "A mulher que não aguentava mais sofrer". - Respondeu, dura.

Pedro: Você teve tudo, Alay. Desde pequena. Tudo. E eu lhe arrumei o melhor marido que pude. Um Deville. - Alay riu, sarcástica - E o que você faz? Não dá a ele o filho homem. - O sorriso de Alay se fechou. Uma coisa que não ia permitir era que Pedro envolvesse Dulce nisso. - E depois foge. Jogou meu nome na lama. - Acusou.

Alay: Não vou discutir com você. Fugi porque não aguentava mais ser humilhada, agredida. Sinto te decepcionar, papai, mas Pablo não foi a melhor escolha pra mim. - Pedro revirou os olhos - Você falhou.

Pedro : Falhei. Falhei ao criar você. Quando você nasceu, Alay, eu já tinha uma mulher. Eu já tinha Larra Vitória . Eu queria um homem, um irmão para Guilherme. Eu não quis você. Mas eu amava sua mãe, e você era a razão da vida dela. Eu errei ao permitir você aqui dentro. Errei ao não te colocar em um orfanato. - Disse, sem ter noção de como isso machucava a filha.

Alay: Pro diabo com os seus erros. Não te devo satisfações de minha vida. Saia daqui. - Rosnou, irritada.

Pedro: Sempre tempestiva. - Reprovou - Ainda não, Alay. Mandarei que seu marido venha lhe buscar. Pode muito bem se recuperar na presença dele. - Alay levou um choque ao ouvir isso. Ainda não tinha decidido voltar pra Pablo.

Alay: Ele não virá. - Disse, com um sorriso frio se abrindo no rosto. Pablo viria em um piscar de olhos, voando, porém, só se a própria Alay o chamasse.

Pedro: O que você quer fazer? Esfregar mais o nome da família na lama, Alay?

Alay ia responder, mas quando a voz ia sair, ela encontrou um par de olhos sorridentes, recém-chegados, atrás de Pedro. Um par de olhos cor de topázio.

Alay: Rafael. - Murmurou, sorrindo, ignorando o pai.

Rafael: Interrompo? - Perguntou, olhando secamente pra Pedro. Rafael ouvira a ultima frase.

Pedro: Não, é claro que não. - Respondeu, sorrindo, levemente descontraído - Bom, Alay. Vou deixa-la a sós com a sua visita. - Ele encarou a filha uma ultima vez, e saiu.

Alay: Odeio ele. - Comentou, sorrindo. Rafael riu e se aproximou da cama.

Rafael se aproximou, e se sentou ao lado dela. Em seguida, ergueu a mão forte e fechou-a em volta do pescoço da Morena, levemente. Alay ergueu a sobrancelha.

Rafael: Se atreva a desaparecer desse jeito novamente, e seu destino não será muito agradável. - Ameaçou, apertando um pouco o pescoço dela, mas sorria. Alay riu.

Alay: Por favor, não me mate. - Fingiu estar asfixiando. Rafael riu, e soltou o pescoço dela.

Rafael: Eu quase enlouqueci procurando você. - Comentou, segurando a mão dela.

Alay: Eu senti sua falta. - Comentou, sorrindo. A pele dela ainda se arrepiava sob o toque frio dele.

Alay conversou com Rafael por horas a fio. Os dois riam um do outro, do que fizeram enquanto o outro estava distante.

Alay: E Luciana? - Perguntou, por fim.

Rafael: Está bem. A barriga dela já está saliente. - Comentou, sorrindo de canto - Esse filho tem sido minha razão de viver, ultimamente. - Ele observou Alay por um instante - Você vai voltar pra ele? - Perguntou, olhando-a.

Alay: Eu não sei. Tenho medo e insegurança. Mas eu o amo, Rafael. - Rafael sorriu com a confissão dela - Eu o amo com cada fibra do meu coração. - Ela olhou pra as mãos, pensando nisso.

Rafael: Ele te ama, também. - Alay ergueu o rosto. Não esperava ouvir isso. Não de Rafael. - Ele sofreu muito, Lay. Não aprovo as atitudes dele, mas não vou ser hipócrita. Eu não sabia que ele era capaz de chorar. - Acrescentou, com um sorriso torto no rosto.

Alay: Eu soube disso. - Acrescentou, pensativa.

Rafael: Você precisava ter visto aquilo. É uma pena não poder ter gravado. - Alay riu de leve - Entretanto, segundo Théo, daqui a anos haverá algo que se chamará câmera digital, e ai poderemos gravar as coisas. - Alay fez uma careta, e Rafael riu.

Alay: Théo. - Disse, se lembrando do menino e suas tolices.

Rafael: Eu estava pensando em nós dois, outro dia. - Comentou, pensativo.

Alay: E...? - Ela sorriu com a recordação das inúmeras tardes no chalé.

Rafael: Se você não amasse ele, e se Luciana não fosse o meu ar, nós teríamos sido perfeitos, um pro outro. Fácil como respirar.

Alay: Talvez, quem sabe, se os nossos pais tivessem invertido os casais. Pablo estaria com Luciana, agora. E eu com você. E dezenas de filhinhos com os olhos da cor de wisky, correndo por aquela mansão. - Observou, sorrindo.

Rafael: Luciana e Pablo? - Alay assentiu, e ele riu - Não creio que tivesse dado certo. Você teria amado ele. Do mesmo jeito que ela seria minha, a partir do primeiro momento que eu a visse. Então, mais aduterio. - Ele fez uma careta, e Alay riu - Se Dulce fosse minha filha, eu teria tirado você dele. Não sei como, mas estaríamos longe.

Alay: Eu já pensei muito nisso. Seria absurdo. - Confessou, com uma careta. Rafael riu.

Rafael: Foi tudo fora do planejado. - Alay assentiu - Agora só nos resta esperar o nosso final feliz, Lay.

Alay: Eu não sei o que fazer. Eu não vejo o caminho do meu final feliz. - Assumiu, com a voz embargada.

Rafael: Seu coração vai te mostrar o caminho, minha Lay. Espere e verá. - Ele avançou pra ela, que fechou os olhos. Então sentiu os lábios frios dele tocarem-lhe a testa sutilmente, em um doce beijo de despedida. Seu coração vai te mostrar, Alay.

Original SinOù les histoires vivent. Découvrez maintenant