CAP-24

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Os meses foram passando normalmente. O relacionamento de Alay voltou a ser o pior possível. Brigas todos os dias, por todos os motivos. Pablo se irritava por tudo. Ela não respondia, sabia seu lugar. Mas tinha vezes que passava dos limites, ela jogava tudo pro alto, e eles só faltavam sair na mão. Alay se magoava muito com isso, mas suas única esperança era o dia, nem que fosse só um, em que o seu Pablo estaria livre de novo.

Benjamin: Théo deu problemas novamente. - Disse, após abrir uma carta - Liz pede pra que ele passe um tempo aqui, enquanto as coisas se acalmam por lá.

Larra: Quem é Théo? - Perguntou, enquanto encostava a cabeça no ombro dele

Benjamin: Um primo. - Disse simplesmente envolvendo ela no braço, pousando a mão na barriga já saliente dela.

Pablo: Nem pensar. - Disse, erguendo os olhos

Rafael: Aquele garoto é um problema. - Disse interrompendo a conversa com Ster, que estava sentada em sua perna

Alay: O que ele tem? - Perguntou, confusa

Benjamin: Visões. - Ele ergueu as mãos, revirando os olhos - Pra mim ele tem é algum distúrbio. Diz coisas sem pé nem cabeça, titulando como futuro.

Benjamin: Não podemos ignorar a carta. Vamos, é nosso primo, não deve demorar.

Pablo: Eu não vou cruzar o oceano pra buscar aquele menino. - Avisou

Benjamin: Eu posso ir. - Deu os ombros

Larra: Quê? Ah, Ben, não! - Ela se apertou nele fazendo bico, ele riu, selando os lábios com os dela

Rafael: Eu posso ir. Aproveito pra ver a Luciana.

Alay sentiu um buraco no estomago. Rafael longe não era uma coisa que pudesse suportar agora. Mas foi assim que ficou acertado. Rafael iria daqui a dois dias. Dois dias que se passaram insuportavelmente rápido. Alay estava no chalé, sozinha. A melancolia se apossava dela cada vez mais.

Rafael: Sabia que te encontraria aqui. - Disse, fechando a porta

Alay: Eu vou sentir sua falta. - Disse olhando a lareira

Rafael: Eu também. Mas, ei, antes que você possa sentir, eu vou estar aqui. - Ele se postou atrás dela, alisando seus braços

Alay: Você é a única coisa que eu tenho, Rafael. O único que me anestesia tudo o que eu vivo aqui. - Ela disse, olhando o fogo lamber os pedaços de madeira na lareira - Não me tome por idiota, é só ruim pra me adaptar.

Rafael: Não acho que você seja idiota. Não demorarei, eu prometo. Deixarei meu coração aqui, como garantia. - Ele sorriu pra ela.

Alay sorriu involuntariamente. Era um dom que Rafael tinha: faze-la sorrir mesmo quando ela se sentia morrer. Ela se virou pra abraça-lo, mas terminou se batendo no braço dele. Quando ela o olhou, o rosto dos dois ficaram a centímetros. O topázio dos olhos dele era liquido, quente. Alay o olhou por um bom tempo. Rafael ergueu a mão, tocando a maçã do rosto dela com as costas da mão. Antes que pudesse pensar, Alay se lançou no pescoço dele, beijando-o. Rafael cambaleou com a surpresa, mas retribuiu o beijo. Alay foi levada por um choque ao sentir os lábios frios dele com os seus. Um tempinho depois, ela se separou dele, pronta pra se ajoelhar e pedir desculpas até a morte. Mas ele encarou ela de um jeito tão diferente, que ela perdeu o fio do pensamento. Então ele puxou ela pela cintura novamente, puxando-a pra um novo beijo, e nada mais fazia sentido ali.

Cada segundo parecia duas vidas enquanto Alay enlaçava os braços no pescoço de Rafael. Beijar ele era completamente diferente de Pablo. Pablo era quente. Rafael era frio como gelo. Mas de que diabos isso importava, agora que seu coração parecia que ia sair do corpo? Estar nos braços dele foi a maior plenitude que ela provou desde que descobriu que era a "prometida" do terceiro Deville. Pra Rafael era novo também. Que diabos ele estava sentindo por aquela mulher? Ela era sua cunhada, por Deus. Mas ele necessitava disso, agora ele sabia, ela era o seu chão.

Alay: E agora? - Perguntou confusa, quando o ar faltou e os dois se separaram, ofegantes. Ainda tinham a testa e os corpos juntos.

Rafael: Agora esse vai ser o seu segredo. O meu segredo. O nosso segredo. - Alay riu da conjugação que ele fez. Ele sorriu

Alay: Até quando? - Perguntou, perdida nos olhos dele

Rafael: Até... Pablo descobrir e queimar nós dois vivos. - Alay fez uma careta e ele riu.

Alay: Não demore. Por favor, Rafael, não demore a voltar pra mim. - Ela pediu, franzindo a sobrancelha. Não queria que ele fosse.

Rafael: Logo estarei aqui. De volta pra você. - Ele sorriu de canto - Ansiosamente, se ainda me quiser. - Ela riu. Ele inclinou-se novamente e a beijou. Medo. Felicidade. Paixão. Ansiedade. Remorso. Vários sentimentos se entrelaçavam ali, mas não importava. Depois ele foi embora, deixando Alay com seus pensamentos. Agora ela tinha uma perspectiva. Era desejada. Desejava.

Pablo: Onde você estava? - Perguntou quando ela entrou em casa, rumando a escada pro segundo andar

Alay: Andando a cavalo. - Respondeu sem dar atenção. Em parte era verdade. Agora que tinha Seth, era muito mais fácil ir e voltar do chalé.

Pablo: Rafael já foi. Estranho você não ter vindo se despedir dele. Pensei que fosse seu amigo. - Pressionou, desconfiado

Alay: E ele é. Eu o encontrei no caminho. Já me despedi. Com licença. - Ela deu as costas e subiu as escadas. Tinha um sorriso no rosto ao entrar no quarto. Pelo menos Pablo estava pagando pelo que lhe fazia. O rosto de Rafael estava aceso em sua memória, como um ultimo sopro de ar a quem estava se afogando.

Mas ela não morreria. Ela se apegaria a isso com tudo o que pudesse. Era sua salvação. Ela sorriu ao entrar no banheiro. Se sentia mais bonita. Não sabia se era o rosto corado, se era impressão sua, ou se a cor de seus cabelos estava mais viva. Ela riu de si mesma enquanto ia abrir a torneira pra encher a banheira. Parecia uma adolescente, pensou consigo mesma.

Os dias foram passando. O remorso invadiu Alay. Não por Pablo, que ele fosse pro diabo, mas por Luciana. Rafael estava com ela agora. Longe. Isso definitivamente não ajudava em nada.

Benjamin: Carta do Rafael. - Disse, remexendo as correspondências. Alay ergueu o rosto, olhando-o enquanto ele lia o papel - Disse que está tudo bem por lá, a viagem foi tranquila, todos estão bem. - Ele revistou o papel - Diz que está ansioso pra voltar, mais que o normal. - Ele franziu o cenho, lendo o papel. Alay empalideceu. Que diabos Rafael havia escrito ali? - Manda lembranças a Alay. E é só. - Ele passou a outras cartas.

"Fizera de propósito.", pensou Alay, reprimindo um sorriso. Era típico de Rafael provoca-la. O tempo de Alay era vago. Vago demais.

Ster: O que você tá fazendo? - Perguntou num dia de tarde, entrando na sala de estar. Larra tricotava uma touquinha branca pro bebê, e Alay bordava um pano

Alay: Hum? Ah, nada, só tava... - Ela arregalou os olhos. No tecido branco havia, bordado em vermelho, "Rafae". O ultimo L estava em andamento. - Só estava bordando. Não tinha nada pra fazer. - Sorriu, tirando o lenço que bordava da forma

Ster: Porque tá queimando? - Perguntou ao ver Alay jogar o lenço nas chamas da lareira

Alay: Não estava adequado. - Sorriu, voltando ao seu posto. Se pôs a bordar lenços, jogos de cama, tudo pro chalé. Pelo menos serviria de alguma coisa.

Original SinWhere stories live. Discover now