CAP-33

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Os Deville permaneceram no baile pela madrugada a dentro, mas era tarde. Ster dormia no ombro largo de Rafael. Se despediram de todos, e foram embora. Perante o frio que fazia, Rafael aconchegou Ster nos braços, Larra se embaraçou com Benjamin, e Alay e Pablo foram abraçados. O clima estava bom, até que Larra fez um comentário sobre o vestido de Alay. Pablo endureceu ao lado dela, lembrando-se. Alay sorriu, fria. Ao chegarem em casa, cada um foi pros seus aposentos.

Pablo: Agora diga-me, em nome de Deus, que idéia idiota foi a de usar esse vestido? - Perguntou, raivoso, trancando a porta do quarto

Alay: Combinou com a ocasião. - Respondeu, indiferente, tirando a coleira que usava

Pablo: Combinou com a ocasião. - Repetiu, incrédulo, se aproximando dela - Eu proibi a entrada lá em cima. Como se não bastasse o que aconteceu, você voltou lá, pra buscar esse maldito vestido! - Rosnou, encarando-a

Alay: Não fui eu. Mandei um empregado ir lá e buscar. Aquele lugar me dá nojo. - Assumiu, encarando-o pelo espelho

Pablo: Quem? - Perguntou, atônito - Quem você mandou lá?

Alay: Conto o pecado, mas não conto o pecador. - Desafiou sorrindo, virando-se pra ele.

Pablo: Qual o seu problema? - Perguntou - Eu te enchi de vestidos! Mandaria fazer um a sua vontade! É pra me provocar, claro.

Alay: O meu problema? - Repetiu, fria - O meu problema é você, Pablo. O meu problema é o nosso casamento. O meu problema é a farsa que eu estou vivendo, presa a você. - Disse, dura.

Pablo: Nunca mais repita isso. - Ordenou, duro - Nosso casamento não é uma farsa. Você me ama. - Lembrou, com um sorriso brotando no rosto - É assim que funciona. - Alay revirou os olhos - E se temos problemas, a culpa é integralmente sua. - Ela ergueu as sobrancelhas, incrédula - Me diga, Alay. Que diabos você fez até hoje por nós dois? - Perguntou, duro.

Alay: O que eu fiz? - Perguntou, em voz alta - Eu fiz das tripas coração por nós dois! Eu tentei te agradar, mesmo contra a minha vontade! Eu tentei amar você, seu animal! - Gritou, jogando pra fora o que lhe matava por dentro. Pablo apenas a observava, irritado - E o que você fez? - Perguntou, dura - Se lembra, Pablo? - Um sorriso amargurado nasceu no rosto dela - Aqui, - Ela bateu com os pés no assoalho - Bem aqui, onde eu tô pisando. Você ainda se lembra? Você me torturou. - Acusou. Ela sentia um peso saindo do corpo ao dizer isso em voz alta. Junto com o peso que saia dela, seus olhos foram, curiosamente, humedecendo mais que o normal - Me machucou. Me feriu. Você me jogou a morte, Pablo! Se não fosse por Rafael, eu estaria morta agora, largada lá em cima! - Ela disse em voz alta - Pela adorada Lorena. - Disse, irônica, e viu a maxilar de Pablo se trancar

Pablo: Alay... - Advertiu

Alay: EU NÃO TIVE CULPA! - Gritou, enfurecida - EU NÃO PEDI PRA ME CASAR COM VOCÊ! EU NÃO MATEI ELA! - E então ela se sentia tão leve, que se achava novamente capaz de chorar. Seus olhos, inundados, confirmavam essa teoria. - E você, o que fez, Pablo? Você manteve um monumento a sua amante, comigo, sua esposa, aqui. Francamente. - Ela murmurou, cansada, e se voltou pra penteadeira de novo.

Pablo: Ótima maneira de expressar sua inocência! - Ironizou - Eu estive perto de cometer uma loucura, você tem noção disso? - Perguntou - Tem noção do quanto eu estive perto de tirar esse vestido de você a força, na frente de todos?

Alay: O vestido, é claro. - Ela balançou a cabeça negativamente. - Pois bem. - Virou as mãos pra trás, puxando o zíper do vestido com tudo. O vestido se afrouxou e ela o tirou, ficando apenas de roupa de baixo. - Está aqui, o seu maldito vestido! - Disse em voz alta, antes de jogar o vestido em Pablo. Ele se desviou, e o vestido bateu com tudo na parede, caindo no chão. - Vamos lá, Pablo! Bate em mim! - Pediu, com um sorriso sem expressão nascendo no rosto - Eu desobedeci você! Eu dei ordens pra que fossem lá em cima, eu sei o vestido! Me bate! Não é isso que você quer fazer?

Pablo: Sabe que não é verdade. - Murmurou, olhando-a - Sabe que eu não o faria.

Alay: Não faria? - Perguntou, incrédula - VOCÊ JÁ FEZ! - Gritou, exasperada - Quem faz uma vez, faz sempre. Eu estou esperando. - Ela ergueu o rosto - Ou melhor, - Ela o encarou - Me diga o que quer fazer. Você já me disse uma vez que eu lhe devo obediência. Diga o que está fazendo, meu marido, e eu vou te obedecer. - Ofereceu, irônica.

Pablo: EU TÔ TENTANDO PEDIR DESCULPAS! - Rugiu, cansado. Alay hesitou. Pablo se desculpando? - EU PERDI O CONTROLE! - Assumiu - Não foi, - Ele suspirou - Não foi por querer. Perdoe-me. - Pediu em voz baixa, olhando ela.

Eles se encararam por uns segundos. Aquilo era novo. Ele estava ali, se desculpando perante a ela. É, Alay não sabia o que dizer.

Alay: Não foi culpa minha. E-eu fui lá em cima, eu fui porque não tinha onde deixar as coisas mofadas. Não foi intencional. Eu não esperei você sair pra ir lá. Você não foi justo comigo. - Acusou, amargurada. - Eu não merecia aquilo. - Ela sentia um peso imenso saindo de suas costas ao dizer isso em voz alta. A medida que as palavras iam saindo, ela sentia seu olhar se inundar, mais e mais - Eu não pedi pra me casar com você. Eu não matei ela. - Disse, por ultimo, com a voz embargada.

Pablo observou Alay ali, de roupa de baixo, com o cabelo elegantemente penteado, e os olhos cheios d'agua, a ponto de transbordar, e descobriu que lhe machucava vê-la assim. Ele avançou até ela instintivamente. Queria protege-la. Queria poder ama-la.

Pablo: É claro que você não matou. - Tranquilizou em voz baixa, acariciando a maçã do rosto dela. Os dois se encararam por um momento. Haviam sentimentos ali. Raiva, ódio, ressentimento, arrependimento, dor. Mas havia outro. Amor, talvez. Nenhum dos dois sabia nomeá-lo. Pablo, por necessidade, encostou os lábios nos dela, afrouxando a mão. Pela primeira vez ele estava dando a ela a chance de rejeitá-lo. Mas ela não o fez. Se atirou a aquele beijo como se precisasse dele pra sobreviver, enquanto abraçava ele pelo pescoço.

Alay acordou no dia seguinte. Estava cansada, porém, realizada. Em sua memória, haviam flashes da noite anterior. Ela foi pra cama com Pablo. "Impossível", pensou, ainda de olhos fechados. Mas era tudo tão nítido. Nítido demais pra ser um sonho. Ainda podia sentir a boca dele, sedenta, sobre a sua. Os toques, tudo. Ela abriu os olhos, lentamente. Seu susto foi total. Ela estava... nua? Pior que isso, estava deitada sobre um peito. Ela ergueu o rosto, com a sobrancelha franzida, e o dono do peito ressonava ao seu lado. Pablo dormia tranquilamente. Alay ergueu o rosto devagar, para não acorda-lo, e mechas do seu cabelo caíram por seu rosto. A coroa que usava jazia longe, caída no chão. Ela olhou pra ele, que continuava a dormir. Havia... Deus do Céu, havia uma mordida no ombro dele! Alay arregalou o par de olhos azuis que possuía. Uma mordida, de um vermelho claro, lá estava. Ela ergueu a mão e tocou levemente a marca que sua boca deixou nele, perplexa. Se lembrava de ter mordido, mas não com tanta força. E ele não se queixou, como ela ia saber? Estava tão... tão... distraída, pra ser irônica. Ela olhou pro quarto, que tinha uma luz agradável. Ainda podia ouvir os gemidos, até mesmo os gritos dos dois. Seu olhar pousou em seu ombro. A marca evidente de um belo chupão habitava ali. Ela tocou a marca, examinando-a, quando uma voz lhe chamou.

Pablo: Desculpa se te marquei. - Pediu, olhando-a, sonolento. Alay se sobressaltou.

Alay: Eu não me importo. - Disse, sem querer assumir que se afeiçoara a marca, tão perfeitamente desenhada. - M-minhas roupas? - Perguntou, apontando pro cobertor branco que tapava os dois.

Pablo: Ali. - Disse, sorrindo, antes de apontar pra um trapo no chão. Ele havia rasgado a roupa de baixo dela.

Alay: Ah. - Ela examinou o bolo no chão com o olhar por um instante. Deu a roupa como perdida. As mãos dele haviam detonado tudo. Se despertou disso quando as mesmas mãos lhe acariciaram o ombro, sutilmente. - O que você está fazendo?

Pablo: Estou atendendo o seu pedido. - Alay procurou por sua memória. Não se lembrava de ter pedido nada. - Você me pediu, a meses atrás, pra tentarmos. - Alay encarou-o, lembrando-se. - Eu quero tentar.

Ela o encarou por um minuto. Aquele era o seu Pablo. Ficaria bonito pra cara dela, dizer que sim, facilitar as coisas, depois o demônio voltar, e tudo ficar perdido.

Alay: E se eu não quiser mais tentar?

Pablo: Bom, então continuaremos nesse chove-não-molha. - Admitiu, erguendo as sobrancelhas.

Original SinWhere stories live. Discover now