Narrador POV
Camila passou pelo corredor da clínica como um animal passa indo para o abatedouro. Ela tinha seu caderno de desenhos embaixo do braço e entrou na sala, querendo tapar os ouvidos com os mais pequenos ruídos que eram emitidos. Geralmente ela não ficava mais tão nervosa para essas sessões, principalmente em um dia como hoje, onde tudo o que ela tinha que fazer era sentar em um canto e ficar desenhando até dar a hora de ir embora enquanto até as piores pessoas pareciam mais normais e interagiam uns com os outros.
Mas hoje não era um dia completamente normal, hoje era o dia do baile. E isso fazia com que ela tivesse o dobro de preocupação, o dobro de medo e o dobro de pressão em cima de seus ombros. Se ela tivesse que lidar com um médico naquela sexta feira, provavelmente iria preferir limpar a estátua da liberdade com uma escovinha de dente.
Provavelmente.
Sentou-se em um canto, sua mãe do lado, Lauren do outro, como costumava ser. Lauren cumprimentou Hailee e Dinah, já que parecia que Normani e a irmãzinha de Hailee estavam na sala sendo torturadas por algum médico. Camila se arrepiou com o pensamento e voltou para o seu caderno, concentrada em terminar o desenho que ela havia começado hoje de manhã, na aula de física.
Suspirou começando a fazer algumas curvas para dar forma ao moinho que ela queria desenhar. Não sabia porque esse desenho em específico, só lembrava que havia visto em algum livro de história e resolveu desenhá-lo, colocando uma casinha muito velha atrás e alguns pássaros sobrevoando o local. Seria um dia nublado e Camila utilizou ao máximo os recursos que ela tinha para fazer um sombreado que indicasse tal, já que ela detestava colorir seus desenhos. E nem era dizer que era preguiça, sombreado dá tanto trabalho quanto colorir, já que ele tem de ser aplicado perfeitamente para que o desenho fique com a sensação de profundidade e proporção exata, sem parecer muito "seco" ou vazio.
Para ela, cor era algo que deveria ser imaginado, se ela colocasse cores no desenho, ele perdia completamente a graça. Ainda que ela desenhasse a bandeira dos EUA e as cores fossem indiscutíveis, ela não colocaria cor. Isso tudo porque ela achava que esse tipo de coisa ia do ponto de vista de quem via e não deveria ser imposta por quem desenhou. Exemplo, você está andando com sua amiga na rua, as duas avistam um pássaro amarelo sobrevoando o local, você diz que ele é uma ave muito bonita e ela acaba discordando. Não existe um certo ou um errado, não existe um padrão para gostos e opiniões e por isso Camila não pintava seus desenhos, mesmo que soubesse que ela desenhava praticamente para si mesma, já que não mostrava a quase ninguém. Porque, na vida, as pessoas são responsáveis por colocar as cores no que veem e só elas podem mudar o próprio ponto de vista.
Não cabia a Camila decidir esse tipo de coisa.
Depois de quase uma hora curvada sobre as próprias pernas, onde o caderno estava apoiado, Camila se sentia cansada e com dor nas costas, então se apoiou no encosto da cadeira e fechou os olhos, ignorando quase que inconscientemente tudo o que acontecia a sua volta.
Dinah voltava com Normani de dentro de uma daquelas salas daquele corredor maldito; a irmãzinha de Hailee brincava sozinha com suas duas Barbies; o menino autista estava sentado em um canto jogando sudoku em uma dessas revistinhas; uma outra adolescente se balançava no outro canto da sala, conversando com a mãe; Camila tinha os olhos fechados, o caderno de desenhos no colo e não fazia a mínima ideia de que estava suando frio pelo esforço de se manter alheia a tudo aquilo.
Lauren olhou para a amada algumas vezes, para se certificar de que estava tudo bem. Ela parecia nervosa, mas sob controle. De vez em quando ela fazia algum comentário com Dinah, mas nada que fosse capaz de gerar uma conversa duradoura nem nada do tipo. A energia daquele lugar em si era pesada, densa, palpável. Todas as pessoas presentes ali estavam nervosas por algum motivo, apreensivas, se segurando para não dar um ataque, desejando estar em outro lugar. E até mesmo os familiares das pessoas estavam nervosos, se sentiam impotentes, queria fazer algo a mais e não podiam. Isso criava uma atmosfera na qual todos se sentiam desconfortáveis por ali de alguma forma.
Camila tirou o peso dos ombros quando a enfermeira anunciou que quem quisesse já podia sair, e imediatamente ela pegou o seu caderno e se levantou, indo na direção da saída e sendo seguida por Lauren e sua mãe. Ela suava muito frio e seu coração batia rápido, ela engolia o choro e a vontade de sair correndo, como se tivesse amarrado a suas pernas. Um passo lento de cada vez, um atrás do outro, passos curtos, andando como se ela fosse uma pessoa tão normal quanto qualquer outra. Afinal de contas, era esse o ponto, não era?
- Mal posso acreditar que acabou. – Ela murmurou sozinha, quando entraram no carro. Nem Lauren nem sua mãe escutaram o seu comentário, mas ela não se importou. Talvez não fosse para ser escutado mesmo.
- Ei, vem cá. – Lauren chamou quando elas estavam no banco de trás e Camila se aproximou, sentindo Lauren pegar suavemente no seu queixo e secar seu rosto com um lencinho.
- Obrigada. – Sorriu sem mostrar os dentes para a namorada e encostou a cabeça no banco, fechando os olhos com força e engolindo o choro pela milésima vez. Pelo menos ela se sentia aliviada porque a clínica havia passado e ela não precisava mais se preocupar com esse tipo de coisa hoje. [...]
Camila tinha decidido que ela não iria chorar hoje e foi exatamente isso que ela – não – fez. Mas não foi por motivos ruins, pelo menos. Nada que viesse ao caso no momento, já que ela estava ocupada demais se encarando no espelho.
Nunca havia se visto tão arrumada assim em toda a sua vida e, de forma alguma, ela estava reclamando. Não era lá a sensação mais confortável do mundo estar com um vestido longo saltos, cabelo feito, maquiagem, colar, pulseiras, anéis, mas, de alguma forma, ela se sentia diferente o suficiente e não era no sentido ruim.
Camila usava um vestido rosa claro de alças, ele descia pela parte de cima do seu corpo apertado e a saia abria a partir do quadril, indo até os seus tornozelos. Não estava acostumada com salto alto, mas usava um salto branco hoje, que pelo tom claro e sutil combinava com o vestido. Sua mãe havia ajudado-lhe com a maquiagem, que estava um pouco mais carregada do que ela estava acostumada, para combinar com a ocasião, mas nem assim ela conseguia se sentir exatamente estranha. O colar que ela usava era de um pingente delicado que formava uma asinha de anjo e ele era prateado, com o cordão muito fino e o pingente bem pequeno e simples. Seus cabelos estavam partidos no meio com cachos nas pontas, caindo em cascata pelos seus ombros e costas. Depois de mais uma voltinha ela decidiu que estava pronta e, ainda que super receosa, ela saiu do quarto acompanhada por sua mãe.
Lauren estava sentada no sofá, de costas para ela, e se levantou imediatamente quando ouviu os passos nas escadas, dando um sorriso enorme depois de dar uma boa olhada na menina da cabeça aos pés. Camila, por outro lado estava babando tanto na mais velha que até esqueceu o nervosismo, imaginando como ela ia impedir que a escola toda visse Lauren daquela forma sem que ela tivesse um ataque cardíaco.
Ela estava simplesmente maravilhosa usando um vestido preto que ia até o meio das suas coxas e era bem apertado, deixando todas as suas curvas em evidência. Nos pés, ela usava um sapato fechado preto de salto e no pescoço ela tinha uma gargantilha preta com uma cruz de pingente. Seus cabelos estavam partidos de lado e caíam em ondas perfeitas pelos seus ombros, fazendo Camila babar ainda mais. Para completar, ela usava uma maquiagem forte, que destacava muito os seus olhos e deixava a boca o mais natural possível, deixando seu rosto ainda mais bonito – se é que aquilo era de alguma forma possível.
- Você está maravilhosa, princesa. – Lauren disse quando sua namorada terminou de descer as escadas e pegou em sua mão, fazendo-a dar uma voltinha.
- Você tá mais. – Camila disse meio baixo quando Lauren a abraçou e a maior riu.
Quando elas se separaram, dona Sinu estava parada bem ali, ao lado, segurando as chaves do seu carro.
- Então, meninas, eu pensei bem e é melhor vocês irem de carro. – Com relutância, ela estendeu a chave do carro para Lauren. – E é bom você cuidar dos meus dois bebês, se não eu quebro aquela moto na sua cabeça. – Lauren riu.
- Relaxa, tia, vai correr tudo bem. Obrigada, é bem melhor que ir de táxi.
- Eu sei disso. Se divirtam e juízo. Nada de fugir para um motel porque eu tenho rastreador desse carro aqui no celular e vou acabar sabendo. – Camila corou apertando o braço de Lauren, que agradeceu de novo antes de sair.
- Nervosa? – Lauren perguntou quando elas entraram no carro. Camila negou com a cabeça.
- Não muito. Só vou ficar se você dirigir esse carro do jeito que você dirige aquele troço. – Por "aquele troço", Camila queria dizer moto.
- Pode deixar, princesa. Vou fazer pior. – Lauren riu dando partida no carro.
- Idiota. – Camila falou, também rindo. – Eu não sabia que você dirigia carro.
- É, é que quando eu fui tirar a carteira de moto, eu tirei de carro junto porque de vez em quando eu pegava o do meu pai para impressiona as gatinhas. – Falou em um tom de brincadeira, mas Camila fechou a cara.
- Hm.
- Eu to brincando. – Lauren riu fazendo uma curva. – Não precisa ficar com ciúmes.
- Não to com ciúmes. – Murmurou ainda emburrada e Lauren beijou sua bochecha quando parou o carro no sinal.
Lauren foi fazendo pequenas brincadeiras para distrair Camila e quando ela menos percebeu, haviam parado o carro na frente da escola, que estaa completamente diferente e ornamentada para o baile de hoje. O coração da menor começou a bater mais rápido quando Lauren puxou o freio de mão e abriu a porta, indicando que ela iria ter que sair do carro e começar a andar na direção da escola em breve. Não sabia explicar direito o que sentia.
Era um misto de estar se sentindo normal por ter vindo ao baile com sua namorada ao mesmo tempo em que ela se sentia anormal e deslocada o suficiente para ter medo de estragar a noite ou de não conseguir suportar aquilo. Abriu a porta do carro, ainda perdida em pensamentos e desceu, sentindo que Lauren havia chego do seu lado 2 segundos depois para lhe auxiliar. Ela caminhou em passos inseguros na direção da escola, segurando o braço de Lauren com firmeza.
Elas entraram e passaram elo corredor, indo na direção do ginásio de esportes, onde acontecia o baile. De onde elas estavam, conseguiam ouvir a música dançante que emanava de lá de dentro e Camila precisou apertar os olhos, imaginando o quão alta ela não estaria.
- Ei, tudo bem? – Ela assentiu e sorriu para confirmar para Lauren que estava tudo bem, que beijou sua têmpora e continuou caminhando ao seu lado, de um jeito que fazia a menina se sentir segura ainda que ela soubesse que estava indo para um lugar onde poderia facilmente ter um surto.
Camila se encolheu quando elas chegaram na porta do ginásio de esportes e deu uma boa espiadela lá dentro, vendo que muitas pessoas estavam sentadas em suas mesas, outas estavam dançando e sentiu um conforto estranho ao perceber que todos os rostos ali eram conhecidos, embora ela não conhecesse nenhum verdadeiramente. As luzes do local eram um pouco arroxeadas, o dj estava em um palco improvisado e logo ela avistou suas, por assim dizer, "amigas", Hailee e Ally, sentadas em uma mesa, rindo de algo.
- Quero sentar com elas. – Murmurou perto do ouvido de Lauren, que assentiu e passou um braço pelos ombros da menina quando elas entraram.
Não foi nenhuma cena de filme, devo informar a você, leitor. Foi apenas uma cena comum onde mais um casal chegava ao baile. Não houve nenhum murmurinho baixo ou pessoas olhando chocadas a presença de Camila ali ou comentando o quanto ela estava bonita. Não houve um corredor aberto entre as pessoas para elas passarem, não houve ninguém se acotovelando para ver as duas, não houve a vadia da escola torcendo o nariz para Camila – ela nem sabia quem era a vadia da escola, se é que aqui tinha uma –, não houve nenhum sorrisinho convencido da parte de Lauren ou Camila se encolhendo tímida, mas sorrindo – até porque ela já tinha se encolhido o suficiente até elas chegarem ali, não houve nenhum cara mais bonito da escola vindo para chama-la para dançar e elogiando sua beleza – se tivesse, ele acabaria a noite com o nariz quebrado devido ao soco que Lauren iria lhe dar, uti provavelmente. Essas coisas estúpidas e clichê só existem nesses filmes para iludir as pessoas. Nada disso existe na vida real. E se alguma daquelas coisas tivesse acontecido, provavelmente Camila sairia correndo, então vamos tomar isso como um aspecto positivo da coisa.
Claro que algumas pessoas olharam, tanto por ser Camila – que claramente não era normal – quanto porque elas eram duas meninas. Mas ninguém parou o que estava fazendo somente para olhar elas, as pessoas tinham suas próprias vidas e suas próprias preocupações e objetivos naquele baile. Muitas pessoas estavam tentando ficar com quem gostam, outras estavam tentando arrastar o namorado(a) para alguma pós festa na mansão de alguma patricinha por ali, para que eles terminassem na cama, algumas estavam sozinhas esperando que alguém as viesse chamar para uma dança – ou esperando que alguém as chamasse. O fato é que não foi nada de outro mundo. Elas entraram, andaram até a mesa de Hailee e Ally e sentaram.
- Boa noite, meninas. – Lauren disse, se sentando e sorrindo, depois de garantir que Camila iria se acomodar na sua cadeira sem nenhum problema.
- Ei, vocês vieram! Não sabíamos que iriam vir! – Ally exclamou, feliz.
- Camila, você está linda. – Lauren fechou a cara para o elogio de Hailee e fechou mais ainda a cara quando Camila, mesmo que estivesse encarando seus dedos debaixo da mesa, riu e corou um pouco.
Lauren não fechou exatamente a cara porque Hailee a elogiou – afinal de contas, a menina estava mesmo deslumbrante e merecia, no mínimo, uns quatrocentos mil elogios, o problema foi a cara que ela fez quando Camila entrou no seu campo de vista. Ela não era estúpida, ela conhecia aquele tipo de expressão de outros carnavais. Ela mesma costumava sorrir para Camila daquele jeito quando elas estavam apenas se conhecendo – talvez ela sorrisse até hoje, só que com uma expressão que refletia que ela era um milhão de vezes mais otária pela menina agora do que era antes.
E isso explica com todas as letras porque todo esse interesse dela em ficar perto da menina sendo que ela nem falava com Hailee, e se dependesse de Lauren, não ia falar nunca. Não que Lauren estivesse a fim de atrapalhar a recuperação da Camila, ela somente achava que a primeira pessoa com a qual Camila ia falar podia não ser Hailee, dentre as sete bilhões de pessoas no mundo.
Uma conversa começou a ser desenvolvida e Camila desejou ter seu caderno de desenhos aqui, para dispersar. Ela também não havia trazido seu celular, o que piorava a sua situação em uns mil por cento. A música alta parecia que ia estourar os seus ouvidos e ela só queria que a conversa na mesa parasse – ainda que Hailee, Ally e Lauren não a incomodassem, no momento ela estava sensível a esse tipo de coisa, então não podia evitar querer que elas só calassem a boca, ainda que soubesse que era um pensamento extremamente rude de sua parte.
- Lo. – Falou muito baixo e com a música alta, Lauren eventualmente não escutou. Acabou por cutucar o braço dela.
- Oi, princesa. – Lauren disse se virando na direção dela e tirando uma mecha de cabelo do seu rosto.
- Me empresta seu celular? – Pediu baixinho e Lauren lhe entregou o aparelho. – Obrigada, meu amor.
Camila se encolheu e abriu qualquer joguinho que ela viu pela frente, desesperada por se distrair. Por sorte, Lauren tinha sudoku ali e apesar de não ser exatamente o que ela tinha em mente, ela gostava de números e acabou dispersando quando começou a jogar.
Em um determinado momento, Camila se encolheu e se aproximou de Lauren, ganhando um beijo na bochecha e abraço com um braço só, já que ela estava do lado da mais velha. Deitou a cabeça do seu ombro e continuou jogando, dando um sorriso quando Lauren começou a fazer cafuné na sua cabeça.
Um garoto alto chegou na mesa e perguntou se Ally queria dançar. Ela deu um sorriso bobo, tímido e aceitou, oferecendo a mão para o garoto leva-la para a pista de dança. Lauren observou a cena e acabou dando um sorriso de canto, dando um beijo no topo da cabeça da menina deitada em seu ombro em seguida.
Hailee ficou olhando Ally sair com Troy e deu uma breve olhada para o casal a sua frente, que ela nunca havia visto um beijo sequer, mas de alguma forma ela sabia que era um casal. O que era bastante estranho, pois Camila não parecia exatamente gostar de meninas ou até mesmo namorar. Não que suas limitações fossem a impedir, era só estranho ver as duas ali e de repente ela teve curiosidade em saber como aconteceu, em todos os momentos que culminaram para que elas estivessem necessariamente sentadas ali, naquelas cadeiras. Observou Lauren falar alguma coisa muito baixo, Camila assentir, dar um sorriso e beijar o canto da sua boca depois de murmurar alguma coisa. Elas combinavam, formavam um casal bonito. Até demais.
Ela olhou em volta e não viu ninguém que gostasse ou que quisesse estar conversando. Ally tinha ido dançar com aquele garoto, Camila era muda para o resto do mundo e Lauren provavelmente não iniciaria nenhum tipo de conversa com ela, se ela quisesse considerar os olhares feios e desconfiados que recebia da morena de tempos em tempos. Hailee também se daria olhares feios se namorasse Camila e percebesse que alguém estava olhando de jeitos diferentes para sua garota.
Mas ela não podia evitar de gostar de alguém, podia? Essas coisas são foda, elas não escolhem pessoa, data, horário e muito menos circunstância. Se levantou da mesa depois de pedir licença e pode jurar que Camila olhou para ela meio intrigada por dois segundos, como se estivesse se perguntando o que se passava na mente de Hailee. Ela também se perguntava a mesma coisa. Não tinha lugar para ir, então foi para o banheiro e se trancou em uma das cabines, esperando que o tempo passasse mais rápido.
Hailee Steinfeild estava sozinha naquela porra de baile e nunca se odiou tanto por sair de casa.
Por outro lado, talvez por um sarcasmo do universo, Camila Cabello se sentia maravilhosa quando Lauren Jauregui, sua namorada, se levantou e pegou na sua mão.
It's undeniable that we should be together
It's unbelievable how I used to say that I'd fall never
The basis is need to know
If you don't know just how I feel
Then let me show you now that I'm for real
If all things in time, time will reveal
(Yeah-ah...)
É inegável que devemos ficar juntos
É inacreditável como eu dizia que jamais me apaixonaria
Você precisa saber
Se já não sabe como me sinto
Então deixe-me mostrá-la agora que eu estou falando sério
Se todas as coisas, na hora certa, o tempo revelará
Sim...
- Me concede a honra desta dança? – Perguntou daquele jeito brincalhão que imitava uma formalidade.
- Claro. – Camila respondeu do mesmo jeito brincalhão e se levantou, sendo conduzida por Lauren para um cantinho, perto da pista de dança, onde não haviam muitas pessoas. Uma música lenta havia começado a tocar e por isso Lauren a chamou. – Eu não sei dançar, Lo. – Realizou quando Lauren passou os braços pela sua cintura e ela percebeu que não fazia ideia do que fazer.
One, you're like a dream come true
Two, just wanna be with you
Three, girl it's plain to see
That you're the only one for me
And four, repeat steps one through three
Five, make you fall in love with me
If ever I believe my work is done
Then I'll start back at one
(Yeah-ah...)
Um: você é como um sonho que se tornou realidade
Dois: só quero estar com você
Três: Garota, é evidente
Que você é a única para mim
E quatro: repita os passos de um a três
Cinco: e se apaixone por mim
Se algum dia eu achar que meu trabalho está terminado
Então voltarei para o primeiro passo
Sim...
- É muito simples. – Lauren começou a explicar. – Você só tem que pegar seus dois bracinhos e botar aqui. – Ela pegou os dois pulsos da menina e passou em volta do seu pescoço. – Ai eu ponho os meus bracinhos aqui, onde eles estavam. – Lauren passou os braços novamente pela cintura da menina. – Ai a gente mexe os pés pra lá e pra cá, devagar, no ritmo da música e faz cara de que sabe o que tá fazendo.
- Idiota. – Camila disse, rindo e Lauren beijou a ponta do seu nariz, ficando séria em seguida e olhando para um ponto fixo que estava muito além de Camila. – O que foi? – Camila perguntou dando um beijo no seu queixo para atrair sua atenção.
It's so incredible the way things work themselves out
And all emotional once you know what it's all about, hey
And undesirable for us to be apart
I never would've made it very far
'Cause you know you've got the keys to my heart
'Cause...
É tão incrível como as coisas acontecem sozinhas
É tudo emocionante quando você descobre do que se trata, ei
E é indesejável que nós fiquemos separados
Eu jamais teria ido muito longe
Porque você sabe que tem as chaves do meu coração
Porque...
- Nada demais, eu só... – Ela abaixou o olhar diretamente para o rosto da mais nova. – Eu não gosto daquela garota.
- Quem?
- A Hailee.
- Porque?
- Não gosto do jeito que ela olha pra você. – Camila deu um sorriso bobo.
- Você tá com ciúmes, Lo? – Lauren fechou a cara.
- Um pouco. – Camila lhe deu um selinho, rindo. Ela não tinha vergonha de beijar Lauren, não aqui.
- Não precisa ficar com ciúmes de mim. – Falou e Lauren continuou a olhando séria, com uma sobrancelha arqueada, esperando que ela concluísse a frase. – Eu sou sua e de mais ninguém. – Camila disse séria, olhando dentro aquela imensidão de verde e teve a certeza de que ela nunca tinha dito alguma verdade tão pura em toda a sua vida quanto a que ela havia acabado de dizer.
- Bom saber disso. – Lauren disse sorrindo se mostrar os dentes e se aproximou mais beijando lentamente a menina.
One, you're like a dream come true
Two, just wanna be with you
Three, girl it's plain to see
That you're the only one for me
And four, repeat steps one through three
Five, make you fall in love with me
If ever I believe my work is done
(Then I'll start back at one)
Um: você é como um sonho que se tornou realidade
Dois: só quero estar com você
Três: Garota, é evidente
Que você é a única para mim
E quatro: repita os passos de um a três
Cinco: e se apaixone por mim
Se algum dia eu achar que meu trabalho está terminado
(Então voltarei para o primeiro passo)
Do outro lado do salão, dançando com seu crush, Ally ficou chocada ao ver as duas se beijando. Provavelmente ela era um pouco lerda demais para perceber o que vinha acontecendo ali tão rápido quanto Hailee. Mas não era chocada de uma forma ruim, ela só achou curioso e bem diferente. Não que por não ser normal, Camila não merecesse namorar, ficar ou beijar alguém era só que... Era estranho. E não há um meio mais delicado e menos cruel de se pensar isso.
Ally não era a primeira nem seria a última pessoa do baile a pensar isso, mas, no fundo, a opinião dos outros era o que menos importava.
Camila acabou suspirando e deitando a cabeça no peito de Lauren, que encostou o queixo no topo de sua cabeça e continuou balançando suavemente no ritmo da música, como se tivesse feito isso a vida toda. As batidas do coração da mais velha eram ritmadas e lentas, como se ela nunca estivesse se sentido melhor e mais calma em toda a sua vida. Sua respiração era lenta e suave e Camila fechou os olhos e inspirou o cheiro de sua amada, mal percebendo que ia fazer uns dez minutos que ela havia esquecido que não havia só ela e Lauren naquele ginásio.
Say farewell to the dark of night
I see the coming of the sun
I feel like a little child, whose life has just begun
You came and breathed new life into this lonely heart of mine
You threw out the life line
Just in the nick of time
Diga adeus a escuridão da noite
Eu vejo o sol se aproximando
Sinto-me como uma criança cuja vida está começando
Você chegou e trouxe uma vida nova dentro deste meu coração solitário
Você me salvou
Na hora exata
Lauren apertou Camila mais um pouco e sorriu para e por nada específico. Ela estava feliz, em um momento agradável com a sua garota e naqueles segundos, pareciam que todas as preocupações e responsabilidades iam embora, o que parecia um alívio, deixando o cérebro mais leve e os pensamentos sem rumo. Em momentos, Lauren queria apenas dar pause e só dar play onde e quando ela quisesse, mas nem tudo na vida é como nós queremos. Muito menos as partes boas, que vão tão rápido quando aparecem.
- Lo. – Camila chamou em determinado momento e Lauren soltou um som nasal que indicava que ela podia falar. A menina levantou a cabeça e correu seus dedos pela nuca da mais velha, olhando bem em seus olhos antes de falar. – Obrigada. Essa é tipo a melhor noite da minha vida. – Lauren deu um sorriso lindo e deu-lhe um selinho.
One, you're like a dream come true
Two, just wanna be with you
Three, girl it's plain to see
That you're the only one for me
And four, repeat steps one through three
Five, make you fall in love with me
If ever I believe my work is done
Then I'll start back at one
Um: você é como um sonho que se tornou realidade
Dois: só quero estar com você
Três: Garota, é evidente
Que você é a única pra mim
E quatro: repita os passos de um a três
Cinco: e se apaixone por mim
Se algum dia eu achar que meu trabalho está terminado
Então voltarei para o primeiro passo
- Não precisa agradecer, to muito feliz de estar aqui contigo. – Camila abriu um sorriso gigante e ia falar, mas fechou a boca quando percebeu que Lauren ia falar mais alguma coisa. – Eu vim para LA esperando estudar e tudo mais, mas acabei encontrando o motivo da minha real felicidade: você. Eu nunca tinha percebido o quão não feliz eu era até que eu encontrei você e descobri o que é ser verdadeiramente feliz e não tenho palavras suficientes para agradecer o destino ou quem quer que tenha posto você no meu caminho por isso. Ver esse seu sorriso é a minha maior recompensa e a maior certeza de que eu faria tudo para não tirar ele daí, exatamente onde ele está. E eu não sei de muita coisa sobre o futuro nem nada disso, também não sou boa com promessas, mas você pode ter certeza que eu vou amar você a cada dia, porque enquanto o meu coração bater, saiba que ele bate por você.
Camila esqueceu-se complemente do que ela ia dizer e abraçou Lauren com toda a força, deixando as lágrimas escorrerem pelo seu rosto. Não eram lágrima de tristeza, então ela achava que não havia nada de errado em chorar, depois de ter dito que hoje ela não iria chorar.
- Ei, não chora. – Lauren murmurou beijando o topo da cabeça.
- Não to chorando de tristeza. To chorando porque eu amo você. – Lauren riu baixinho e acariciou seus cabelos até ela parar de chorar, depois elas foram para o banheiro e Camila limpou o rosto, um urso panda depois de tanto chorar toda maquiada. Lauren a ajudou e ela ficou no melhor estado possível, logo em seguida as duas saíram do banheiro.
O ginásio já estava começando a ficar vazio, todo o mundo indo para as suas pós festas ou para outros lugares com seus pares. As duas decidiram ir embora também, estavam cansadas e só queriam descansar um pouco. Camila acabou dormindo no banco do passageiro, dando a Lauren um pouco de trabalho para acordá-la para elas entrarem em casa.
Havia corrido tudo bem, afinal. Camila não estragou a noite, como tinha medo de fazer e Lauren estava orgulhosa dela. Naquela noite, elas entraram em casa com a certeza de que a vida poderia ser, sim, generosa com os amantes algumas vezes.