Lauren POV
- Lauren? Tá tudo bem? – Ouvi Natalie perguntar, se aproximando. Eu provavelmente estava a cara da morte, do cansaço, da falta de vontade de viver, mas preferi vir para a faculdade do que ficar em casa. Apesar de ter dormido no sofá e quase ter perdido a hora, consegui chegar para o segundo tempo.
- Não. – Fui sincera e ela se sentou ao meu lado no banco.
- É alguma coisa com aquela menina? – Assenti, querendo morrer somente de pensar nela.
Não sabia o que sentir em relação ao que vi hoje de madrugada. Eu me sentia péssima de saber que, de certa forma e completamente involuntária, a culpa havia sido minha. Talvez eu pudesse ter evitado tudo se não tivesse contado a ela sobre as vontades loucas de minha mãe, mas acho que seria uma coisa que eu nunca descobriria. Também estava me sentindo um lixo em forma de pessoa por não conseguir fazer nada para ajudá-la, o que teria acontecido se Sinu não estivesse lá era algo que eu nunca queria descobrir.
- Vocês brigaram? – Natalie tornou a perguntar e eu pensei na resposta.
- Eu não sei.
- Como você não sabe se brigou com ela? – Ela parecia confusa. Não estava muito diferente de mim.
- Não sei, Nat. Simplesmente não sei. – Suspirei. – Ela meio que surtou hoje de madrugada, sabe? Eu não soube como reagir e acabei sendo uma imbecil, eu não fiz nada para ajudá-la e isso me deixou péssima.
- Lauren, você não é imbecil, só não está acostumada a lidar com esse tipo de situação. – Dei de ombros.
- Talvez seja. Não sei.
- Mas porque ela "surtou"?
- Eu não sei. Ela entrou no meu quarto dizendo que teve um pesadelo sobre eu ir embora e eu respondi que não iria e puf, ela estava chorando e gritando. – Falei revendo a cena em minha cabeça.
- É complicado, eu nem sei o que dizer. – Soltei o ar devagar e encarei o chão.
- Talvez... – Falei mais para mim mesma do que para ela. – Eu apenas não seja boa o suficiente. – Meus olhos arderam, mas eu tinha que considerar essa possibilidade.
- Ei, ei, parou. Lauren, não diz isso. – Natalie fez uma pequena pausa e depois continuou falando. – Olha, eu não conheço a Camila e não posso dizer que entendo muito bem como funciona a relação de vocês duas, mas eu e qualquer pessoa do mundo consegue ver o jeito apaixonado como seus olhos brilham quando você fala dela. Pelo que eu entendi, Camila surtou não por sua causa e sim por causa do pesadelo e talvez pelo trauma que isso deixou nela, algo assim. Não pense que você não é boa o suficiente, nunca pense isso.
- Ei. – Zoey apareceu sorrindo. – Lauren, achei que não viesse hoje. – Acenei sem muita vontade. – Aconteceu alguma coisa?
- Nada demais. Minha próxima aula já vai começar, eu tenho que ir. – Me despedi das duas e entrei no enorme prédio. Não gostava de falar sobre Camila com Zoey, ela ficava me encarando com aquele olhar acusador.
Narrador POV
Camila não foi à escola. Acordou tarde demais depois de dormir por algumas horas e não é como se sentisse mal por isso. Se tinha um lugar que Camila odiava, era a porcaria da sua escola e todas as pessoas que estudavam nela. Lauren não estava em casa e Camila supôs que ela tinha ido para a faculdade.
Não sabia o que iria dizer quando a visse, talvez não houvesse nada para dizer. Ela não queria ter "assustado" Lauren, nem queria que Lauren achasse que ela era uma louca descontrolada. Camila ainda não entendia direito o motivo do que aconteceu pela madrugada, talvez ela tivesse associado o medo que tinha de perdê-la com o fato de que isso só se dava porque ela gostava muito de Lauren e que isso era tudo culpa da mesma.
De certa forma, até que era. Camila nunca teria prestado atenção em Lauren se ela não fosse tão gentil e simpática, logo, isso não implicaria em exatamente nenhum sentimento como os que a menina tinha agora. Mas claro que Lauren não fez isso de propósito e apenas foi ela mesma, o que resultou no relacionamento quase inevitável entre as duas.
Camila estava bebendo água na cozinha quando escutou a porta da frente bater com força. Lauren havia chego e não parecia lá com um humor muito bom, ela não costumava bater a porta daquela forma. Mas paciência, né? Camila teria que encarar.
Bebeu o resto da água e largou o copo na pia, indo até a sala. Lá encontrou Lauren sentada no sofá, com os cotovelos apoiados nos joelhos e seus dedos massageavam suas têmporas. Seus olhos estavam fechados e ela parecia a ponto de explodir. Camila engoliu em seco e deu a volta no sofá, ficando atrás de Lauren, que nem mesmo reparou naquilo. Levou as mãos hesitantes para frente, mordendo o lábio inferior e alcançando os ombros dela, onde começou uma massagem lenta.
- Mas que porra é...
- Não briga. – Camila pediu e Lauren parou de falar.
- Camila? – Perguntou se dando conta da presença da menina e relaxando no sofá. A mais nova nada respondeu e puxou a jaqueta da mulher de leve. Lauren se ajeitou e deixou que Camila puxasse a peça para fora de seu corpo, voltando a massagear seus ombros. – Porque isso agora?
- Você parece estressada... Dia ruim? – Indagou baixo.
- Sim. Quer dizer, mais ou menos. Como você tá?
- Eu to bem. – Então as duas ficaram em silêncio, Lauren aproveitou para apreciar os movimentos suaves que as mãos de Camila faziam, relaxando seus músculos tensos.
Camila não sabia dizer se era um silêncio reconfortante ou constrangedor. Talvez fosse porque nenhuma delas sabia direito o que dizer, mas sabiam que tinham que dizer algo. Não é como se uma situação tão delicada pudesse passar em branco daquela forma.
- Eu acho que... A gente precisa conversar. – A voz de Camila cortou o silêncio e Lauren concordou com a cabeça. Não sabia muito o que dizer e talvez achou que teria uma ideia quando Camila falasse algo. A menina tornou a dar a volta no sofá e se sentou ao lado de Lauren, que encarou as próprias mãos, esperando que Camila se pronunciasse. – Me desculpa por hoje de madrugada... Eu não sei o que me deu, é... De vez em quanto eu tenho isso.
- Não precisa se desculpar. – Lauren disse, sem pensar duas vezes e levantou o olhar para Camila. – Entendo você, mas não queria ter sido uma imbecil.
- Você não foi imbecil, Lolo. – Lauren negou com a cabeça.
- Claro que fui, Camila. Eu só fiquei parada lá, olhando. Foi estúpido da minha parte. – Camila umedeceu os lábios.
- Não. – Camila procurou algo de inteligente para dizer e lembrou do que sua mãe havia lhe dito hoje de manhã. Talvez ela pudesse parafrasear o argumento dela. – Você só não tá acostumada com isso. Era normal que tivesse ficado assustada, eu entendo.
- Queria ter feito alguma coisa. – Camila se esticou e beijou longamente a bochecha de Lauren.
- Você já faz tanta coisa... Esquece isso, eu to bem agora. – Lauren assentiu e acariciou o rosto da menina. – Me dá um abraço? – Lauren prontamente atendeu o pedido de Camila e envolveu o corpo pequeno com seus braços, ficando tão perto dela quanto era possível.
Camila fechou os olhos e inspirou, sorrindo em seguida. Quando se afastaram, Lauren segurou o rosto de Camila e suavemente pôs seus lábios sobre os dela. Iniciou movimentos suaves, sem usar a língua e desprovida de qualquer tipo de pressa, apenas concentrada no que fazia com a menina. Tomou seu lábio inferior gentilmente e puxou para si, contornando os lábios de Camila com a sua língua e em seguida dando início a um beijo de verdade.
Camila fechou os dedos nos cabelos da nuca de Lauren, tornando o beijo mais intenso e urgente a medida que seu corpo desejava mais a mulher que tirava as mãos do seu rosto e apertava a sua cintura com as duas mãos, dando-lhe mais vontade de subir em cima dela. Descontou toda essa vontade – ou pelo menos parte dela – no beijo, algo que deixou Lauren visivelmente atordoada e tão concentrada em se controlar que nem estava prestando atenção direito no que fazia.
Lauren jurou que fosse ter um ataque cardíaco quando Camila passou uma das pernas pelas suas e sentou sobre seu quadril, não dando-lhe chance e nem vontade de interromper. A mais velha tirou as mãos da cintura da menina e apertou os dedos no sofá, impedindo-as de irem onde elas queriam e apertar certas coisas que não pareciam próprias para que ela fizesse naquele momento. Um reboliço começava a se formar debaixo do seu ventre e Lauren rezava mentalmente, pedindo forças para quem quer que seja a entidade que ajude no auto controle sexual das pessoas – se é que ela existe. Ela sabia que precisava parar, mas não queria fazer aquilo porque era bom como o inferno.
Camila queria Lauren e não queria saber mais de coisa alguma fora desta bolha que abrigava elas duas. Queria beijá-la e ficar o mais perto possível dela e o que mais lhe desse na telha. Não estava com vergonha – se quer havia pensado em algo do tipo enquanto realizava as ações anteriores. Mas começava a ficar calor naquela sala e ela sentia falta das mãos de Lauren tocando-a. Não entendia porque ela havia as afastado, mas preferia acreditar que os motivos se resumiam em ficar apoiada para que as duas não acabassem caindo uma por cima da outra. Isso porque a menina não reparou que, na verdade, Lauren estava encostada no braço do sofá e não precisava de apoio.
- Princesa... – Lauren tentou falar em um breve momento que seus lábios se descolaram, mas Camila não lhe deu chance. Fez um movimento com o quadril, algo casual, apenas para se ajeitar sobre Lauren que fez a mulher afundar os dedos no sofá, se perguntando a hora que iria furar o estofado. Lauren precisava de um banho gelado. Um banho muito gelado. – Olha, eu... – Lauren tentou falar de novo e Camila, novamente, não permitiu. – Não acho que... – Tentou desgrudar seus lábios, mas a mais nova continuava voltando para não desgrudá-los. – O que estamos fazendo seja...
- Que se dane. – Camila sussurrou antes de voltar a beijá-la com mais avidez.
Talvez Sinu tivesse razão e Lauren fosse uma banana mesmo. Tinha uma menina sentada sobre o seu quadril, ambas praticamente estavam pegando fogo, a maioria das partes do corpo de Camila estavam totalmente acessíveis para que ela tocasse ou mesmo retirasse algumas peças e, mesmo assim, ela estava fazendo o possível para não fazer nenhuma dessas coisas listadas. Só não tinha parado ainda porque os momentos um pouco mais "quentes" eram bastante raros e ela queria aproveitar um pouco, mesmo que isso a levasse ao limite de tudo.
Graças a Deus, o celular de Lauren tocou. Elas se separaram assustadas e Lauren pegou o aparelho no bolso, acalmando um pouco sua respiração antes de ver o nome de sua mãe no visor. Camila saiu de cima dela ainda processando que diabo achou que estava fazendo enquanto Lauren se levantava para atender a ligação, já puta por antecedência.
Observou a mulher andar de um lado para o outro enquanto parecia que iria arrancar os cabelos e aparentemente contestava algo em voz baixa, quase como se Camila não tivesse que ouvir. Mas era sobre ela, logo, Lauren teria que contar. Depois de exatos cinco minutos em toda essa agonia de não saber o que estava acontecendo, Lauren enfiou o celular no bolso e voltou para se sentar ao lado da menina, a expressão séria.
- O que foi? – Lauren olhou para Camila, a boca contraída em uma linha reta e os olhos preocupados. A menina não sabia dizer o que havia deixado Lauren daquele jeito, mas não podiam ser muitas coisas. O medo de que possivelmente Lauren fosse voltar para San Miguel tomou conta de Camila, mas quando a outra finalmente abriu a boca para falar, Camila não soube dizer se estava feliz ou em pânico.
- Minha família quer conhecer você.