Narrador POV
- Acho que se a gente ficar mais tempo aqui, vamos acabar igual duas uva passas. – Lauren falou rindo e Camila concordou, fazendo que sim com a cabeça.
- Compartilhamos do mesmo pensamento. – Camila falou rindo, também percebendo que a água começara a esfriar. – Você... – Olhou hesitante para Lauren, que escondeu o rosto entre as mãos e fechou os olhos.
- Não to olhando, juro. – Camila, então, saiu da banheira e se secou rapidamente, vestindo o pijama rosa e saindo do banheiro em seguida para dar privacidade a Lauren.
Atravessou o corredor e girava a maçaneta da porta de seu quarto, quando uma voz a fez parar.
- Tava bom o banho, Camila? – Era Sinu, parada no alto da escada, de braços cruzados e expressão séria.
- Mãe? – Perguntou assustada, girando abruptamente sobre os calcanhares. – A-achei que já tivesse ido dormir.
- Se você não estivesse com muito fogo nessa sua perseguida, – Camila corou violentamente. Como iria explicar para a mãe que ela e Lauren não fizeram nada? – veria que eu estava no meu quarto, vendo televisão. E que vi muito bem quando Lauren entrou no banheiro e, cinco minutos depois, você entrou. – A essa altura, Camila se perguntava se tinha uma mãe ou uma agente do FBI em casa.
- M-mãe, e-eu... – Parecia que hoje era um dia bom para Camila gaguejar sem parar.
- Lauren! – Sinu saudou animada quando a mulher saiu do banheiro, vendo a cara de pânico de Camila e a expressão extremamente sarcástica de Sinu. – Venha se juntar a nós. – Ela levantou uma sobrancelha. Não estava entendendo porra nenhuma e continuou sem entender nada quando Sinu envolveu os ombros de Lauren com um braço e sorriu. – Estava tendo uma agradável conversa com Camila sobre como foi o banho de vocês, mas aparentemente o gato comeu a língua dela. – Lauren engoliu em seco.
- Mas... Foi só um banho. – Sinu revirou os olhos.
- Ah, Lauren, não seja tímida. Compartilhe os detalhes. – Camila queria cavar um buraco no chão e se esconder lá dentro, enquanto Lauren cruzou os braços e encarou Sinu, séria.
- Que detalhes, tia? Foi um banho, a água estava quente, o sabonete tinha cheiro de morango... – Deu de ombros. O queixo de Sinu caiu.
- Vocês não fizeram nada? – Sinu não estava querendo acreditar naquilo e Lauren revirou os olhos, assentindo.
- Deveríamos ter feito alguma coisa?
- Não. – Sinu respondeu e se virou para Camila. – Vocês ficaram nuas uma na frente da outra e nada aconteceu? Lauren é mais banana do que eu pensei! – Ela explodiu em risadas e Camila negou com a cabeça.
- Ei, eu não sou banana! – Lauren se defendeu. – Eu só estava...
- Ah, faça-me o favor você também, Camila! – Sinu negou com a cabeça, fingindo indignação. – Na sua idade eu já... Enfim, deixe para lá. Boa noite, meninas. – Sinu entrou em seu quarto e Lauren e Camila se encararam.
- Boa noite, princesa. – Lauren disse dando um beijo na testa de Camila.
- Boa noite, amor. – Elas se beijaram brevemente e logo em seguida foram para seus quartos.
Lauren não conseguiu dormir, ficou acordada encarando o teto escuro e pensando no que ela iria fazer a partir de agora. Ela estava mais do que certa e convicta de que não iria deixar Camila, isso não estava em cogitação. As horas foram se arrastando e lá estava ela, rolando de um lado para o outro na cama, se revezando entre pegar o celular para ver se ficava com sono ou fechar os olhos e praticamente obrigar o sono a vir e levá-la para alguma dimensão onde ela ficasse, apenas por algumas horas, dispersa do que estava acontecendo.
Lá pelas três horas da manhã, alguém bateu na porta do seu quarto. Lauren estranhou, Camila e Sinu deveriam – pelo menos teoricamente – estar dormindo, então quem poderia ser? Bom, supondo que nenhum ladrão tarado invadiu a casa e queria estuprar Lauren e depois matá-la, só podia ser uma das duas. Isso se não fosse uma assombração.
- Entra. – Falou depois de refletir todas essas coisas e chegar a conclusão de que um estuprador simplesmente abria a porta e uma assombração já estaria puxando o seu pé ou possuindo-a.
- Lolo. – Camila falou na porta, com uma voz chorosa.
- O que foi, meu amor? – Lauren perguntou preocupada.
- Eu tive um pesadelo horrível. – Disse, ainda na porta. Lauren sorriu. Camila parecia uma criança, ali, parada na porta, com aquele pijama rosa de estampa de bichinhos e carinha de sono. Não sabia se era possível se apaixonar ainda mais por ela, mas lá estava Lauren, sentindo um cutucão confortável no peito.
- Vem aqui. – Ela chamou e Camila fechou a porta, indo até a cama, na penumbra, mas sabendo exatamente onde estava. Engatinhou até estar do lado da mulher e depois se deitou. – O que você sonhou? – Lauren quis saber, afagando os cabelos da menina.
- Que você ia embora. – Camila falou com um suspiro triste e Lauren quis socar a própria cara por ter dito a ela que seus pais queriam que ela voltasse para casa.
- Amor, eu já não te disse que não vou? – Camila negou com a cabeça e empurrou Lauren pelos ombros, sentando na cama e começando a chorar desesperadamente.
- Não é suficiente, porque eu continuo com medo! – Camila não sabia direito o que estava fazendo, só sabia que queria chorar. – Me diz por quê!
- Porque o que? – Lauren se sentou na frente de Camila, completamente confusa e querendo acalmar a menina de alguma forma, sem saber como.
- Por que... Porque você, porque eu? Porque você tinha que ser tão legal? Porque não foi como as outras pessoas e me ignorou, me chamou de retardada ou qualquer coisa assim? – A menina começava a perder o controle e bloqueava qualquer tentativa de Lauren se aproximar. – Porque tinha que fazer eu me apaixonar por você? Por quê? – Camila estava quase gritando, Lauren achava que nunca ouvira a menina falar em um tom tão alto.
- Amor, calma...
- Lauren, por quê? – Dessa vez, Camila realmente estava gritando.
- Princesa, olha, não grita, calma...
- Minha vida estava tão normal sem você aqui! Porque tinha que chegar e bagunçar tudo? – Gritava cada vez mais alto e Lauren já estava quase caindo da cama, observando Camila chorar e bater na própria cabeça com as mãos abertas, como se aquilo fosse melhorar ou salvar alguma coisa.
- Camila, se acalma. – Lauren tentou se aproximar e acabou sendo empurrada de novo, desesperada por fazer Camila parar de machucar a si mesma.
- Não encosta em mim! – Camila gritou a plenos pulmões e Lauren mentiria se dissesse que não estava apavorada com a situação.
- O que tá acontecendo aqui? – Sinu abriu a porta do quarto, despertada pelos gritos de Camila e ascendendo a luz. Lauren ficou cega por alguns segundos, mas distinguiu Sinu vindo até Camila. – Lauren, o que tá acontecendo?
- Eu não sei. Ela entrou aqui quase agora dizendo que teve um pesadelo e depois... – Sinu assentiu, olhando para Camila como se já tivesse visto a mesma coisa trezentas milhões de vezes. Lauren não, e estava apavorada.
- Tá, tá, já entendi. Sai daqui. – Sinu falou, segurando os pulsos de Camila, antes que ela acabasse se machucando de verdade.
- Que? – Era quase impossível ouvir Sinu com o choro alto de Camila, que parecia martelar na cabeça de Laurencomo se gritasse para ela fazer alguma coisa.
- Sai daqui, Lauren. Ela tá surtando por sua causa, não percebeu? – Ela só conseguia alternar o olhar entre Sinu, que segurava os pulsos da menina, e Camila, que chorava alto e murmurava coisas desconexas, perplexa e sem ação.
- Mas eu não fiz nada.
- Eu sei, Lauren. Sai logo. – Quando percebeu que não havia nada que ela pudesse fazer, acabou por sair do quarto.
Camila POV
Segurei o copo de água em minhas mãos trêmulas, levando-o até minha boca e sorvendo alguns goles da água gelada. Minha mãe estava parada em minha frente, sua expressão cansada, eu me sentia mal e me culpava por isso. Daqui a pouco seria dia e ela teria que ir trabalhar sem ter dormido quase nada. Tudo culpa minha.
- Se sente melhor agora? – Assenti devolvendo-lhe o copo, meus batimentos cardíacos ainda tinham que se normalizar.
- Sim. – Respondi baixo, minha voz era apenas um fio.
- Já passou tanto tempo desde a última vez. – Minha mãe comentou, parecia desapontada por isso. Provavelmente ela achou que eu nunca mais iria surtar desse jeito, dado o longo espaço de tempo desde quando fiz isso.
- É. – Falei encarando o chão e pensando em como isso tudo havia acontecido. Em um momento Eu estava contando a Lauren sobre o meu pesadelo e, no momento seguinte, todas aquelas sensações ruins de perda e tristeza tomaram conta de mim e começaram a falar por mim, eu só tinha consciência de chorar e querer que aquilo acabasse logo. Nunca sabia explicar quando essas coisas aconteciam, elas simplesmente aconteciam.
Droga, Lauren.
Eu não queria que ela me visse daquele jeito, eu não queria fazer aquelas coisas com ela. MAS QUE DROGA! Isso não era para ter acontecido, eu não deveria nunca ter deixado perder o controle a esse ponto. Será que Lauren estava brava comigo? O que ela estava achando de mim nesse momento?
- Lauren... – Falei e não precisei dizer mais nada para minha mãe entender o que eu queria.
- Ela tá lá embaixo, na sala. Tá muito preocupada, acha que a culpa é dela.
- Não. – Disse me levantando e indo até a porta.
- Camila, não acha melhor dar um tempo a ela? – Minha mãe perguntou quando minha mão já girava a maçaneta. – Lauren não tá acostumada com isso, deixa ela sozinha um pouco. Porque não vai para o seu quarto e dorme? Você precisa descansar.
- Você acha? – Perguntei receosa.
- Sim, acho. Mais tarde vocês conversam, acho que vai ser melhor assim. – Assenti e saí do quarto de Lauren e fui para o meu, deitando na cama em seguida.
Suspirei e encarei o teto, o dia já estava clareando e o meu sono, eventualmente, estava voltando. Não entendia porque comigo. Talvez era essa a pergunta que eu quisesse fazer a Lauren, a final. Não era sobre nós duas e sim sobre mim. Porque comigo?
Mas claro que eu não tinha resposta. E ela muito menos.