Capítulo 25 - Eco

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Passamos o restante das horas em um silêncio interrompido apenas pelo som de nossas botas sobre as folhas e o farfalhar ocasional das asas de Navi. Quer dizer, até eu decidir falar.

– Eu... não te disse antes – digo devagar, enquanto subimos as encostas. Se Link responder atravessado... Bem, ele tem motivos para fazê-lo dessa vez – Mas cê pode chamar aquelas vozes de novo e tentar descobrir de onde elas vêm. Isso nos pouparia muito tempo de caminhada.

Um longo tempo passa, suficientemente extenso para que eu acredite que o rapaz está me ignorando, até que responde:

– Pensei que tivesse o controle delas.

– Perdi depois que as coloquei pra dormir – respondo, resignada.

– Que ótimo – bufa.

– Eu não tô dizendo que você pode trazê-las de volta? – retruco, dando de ombros – Não custa tentar.

– E ficar maluco que nem você ouvindo essas vozes?

Procuro assumir uma expressão neutra, ciente de que brigar não nos levará a lugar nenhum; ainda mais agora, depois de uma tarde inteira andando por túneis espaçados e desembocando em seções da floresta exatamente iguais. Andar em círculos é, para mim, tão claustrofóbico quanto estar em um lugar repleto de gente, uma vez que, em nenhuma das situações, há uma resposta clara de como sair. Sem contar que estamos perdendo tempo.

– A gente não tem muita escolha, Herói do Tempo – pronuncio as últimas palavras como se fosse um insulto – É pegar ou largar.

– E desde quando essa escolha é sua? – ele me encara.

Não é possível que tudo precise ser assim o tempo todo.

Bem, não é como se ele fosse o único culpado.

 – Desde quando Impa disse que eu devia resolver essa coisa toda contigo –  respondo, determinada a controlar minha irritação – Continuar desse jeito não vai nos ajudar em nada, cê sabe.

Link suspira, sabendo que não há muito a ser feito, e fecha os olhos tentativamente, a testa franzida em uma expressão de puro ceticismo.   

– Isso é perigoso? – Navi pergunta.

– Não sei – admito, e no fundo gostaria que fosse. Ele merece que seja – Eu apenas recebi a mensagem da primeira vez, mas ela sempre foi pro Link. Se ele controlar o alcance, talvez a gente possa ouvir também.

– Fiquem quietas – ele responde com aflição – Ai, droga. Estou ouvindo alguma coisa!

– O quê? – exclamo, sem saber muito bem como agir, temendo que percamos nossa melhor chance por puro descuido. Respiro fundo e tento ser paciente – Isso é importante, Link. Você precisa dizer o que tá escutando.

Vincos se formam em sua testa.

– Não consigo ouvir direito – coloca as mãos nas têmporas, como se isso adiantasse.

– Cecília, o que tá acontecendo?!

– Agora não, Navi – mordo os lábios e viro-me em direção a Link, tentando decidir o que fazer – Tenta ouvir mais! A gente não vai conseguir nada se você não sair da superfície!

Os segundos correm e não há nada que sinalize algum sinal de progresso além do suor viscoso escorrendo até suas sobrancelhas contraídas em medo e pavor, por seu rosto sujo e tenso.

É muito fácil falar daquilo que não se conhece, não é mesmo, Link?

– Porcaria – ele geme, o corpo espasmódico como se recebesse um choque elétrico. Talvez realmente esteja – Acho que estou chegando lá. Quer dizer, estou ouvindo... sim...! É um coro de novo, mas...

A Garota que Nunca ExistiuOnde as histórias ganham vida. Descobre agora