Yuki Kajiura (Noir OST) - Silent Pain
Não, por tudo o que é mais sagrado, de novo não!
Uma descarga de pânico e adrenalina corre pelas veias no momento em que meu olhar recai sobre o medalhão. Meu primeiro impulso é fugir para longe dali o mais rápido possível. Minhas mãos tremem, a pressão cai, como se meu corpo emitisse um grito silencioso.
Tudo menos esta lembrança.
– Pelo amor de Deus, tira essa coisa de perto de mim! – minha voz falha, soando como um soluço incontido.
Quase não percebo a expressão confusa de Link, um mosaico de raiva e indignação. Quase posso pressentir os pensamentos que correm descontrolados em sua cabeça – devem ser muito semelhantes aos meus neste momento.
– Espera... Quer dizer que você sabia o tempo inteiro da conexão entre Cecília e Alice e não me disse nada? Nunca disse que havia mais de uma daquela... daquela aberração?! – ele levanta a voz em direção à Impa, a irritação aumentando em ondas perigosamente gradativas – Se Cecília estiver ligada a esse colar...
– E está – interrompe Impa.
– ... ela é muito mais destrutiva do que eu pensei.
Uma parte de mim sabe que deveria prestar atenção ao desenrolar dos fatos, mas é impossível. O colar continua no mesmo lugar.
– Droga, tirem isso de perto de mim! – grito novamente.
Em um movimento rápido, Impa retira a joia da mesa e esconde-o no bolso.
Finco as unhas novamente no tampo da mesa, o que me deixa mais segura, mas não me acalma.
– O que foi isso? – sussurro.
– Impa, se essa garota for o que...
– Silêncio! – ordena a mulher – Se seguirmos o curso desgovernado de suas dúvidas, rapaz, não chegaremos a lugar algum – ela olha para mim, suavizando o semblante – Cecília, sei que meu pedido talvez não seja dos mais razoáveis, mas preciso que aceite o fato de que as respostas virão no momento certo – ela olha para o outro lado, seu olhar tão fulminante quanto uma das Ofídias de Helena – E Link, esta moça está perdida e confusa. Somos o único auxílio que ela tem neste momento, preciso que seja paciente.
Link contorce os punhos, socando a mesa. Minhas mãos estremecem.
– Não me venha com esse tipo de pedido porque você bem sabe que ele não é justo – grunhe, acrescentando com uma dose de sarcasmo: – Se quer tanto assim ajudar Cecília, conte a ela o que a amiga dela é.
Impa deixa escapar um suspiro resignado, embora jamais perca a compostura.
– Receio que Link tenha razão desta vez – responde, a voz calma e firme – Cecília, a essa altura já deve estar um tanto quanto evidente para você o curso dos fatos, certo?
Assinto devagar, perguntando-me se esta é sua forma instintiva de se esquivar de mais revelações difíceis. Recuso-me a dizer em voz alta, no entanto, forçando-a a me dar uma resposta direta.
– Alice é uma viajante interdimensional, um tipo que raramente aparece em nosso mundo, capaz de gerar interferências destrutivas e irreversíveis para o curso original dos acontecimentos – Seu olhar voltado para mim é causticante, e o ato de encará-la é uma provação muito mais desafiadora que ouvir suas palavras. – Entende o que isso implica, Cecília?
Claro que entendo. Antes eu permanecesse em ignorância.
– Eu também sou assim.
É sua vez de assentir, silenciosa.
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A Garota que Nunca Existiu
FanfictionEm um esquecido subúrbio na zona norte do Rio de Janeiro, Alice, uma fã fervorosa da franquia The Legend of Zelda, desaparece sem deixar rastros. Embora esteja ciente de que vive em uma cidade em que casos como este não passam de páginas de jornais...