Capítulo 14 - Espelhos distantes

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Yuki Kajiura (Noir OST) - Silent Pain

Não, por tudo o que é mais sagrado, de novo não!

Uma descarga de pânico e adrenalina corre pelas veias no momento em que meu olhar recai sobre o medalhão. Meu primeiro impulso é fugir para longe dali o mais rápido possível. Minhas mãos tremem, a pressão cai, como se meu corpo emitisse um grito silencioso.

Tudo menos esta lembrança.

– Pelo amor de Deus, tira essa coisa de perto de mim! – minha voz falha, soando como um soluço incontido.

Quase não percebo a expressão confusa de Link, um mosaico de raiva e indignação. Quase posso pressentir os pensamentos que correm descontrolados em sua cabeça – devem ser muito semelhantes aos meus neste momento.

– Espera... Quer dizer que você sabia o tempo inteiro da conexão entre Cecília e Alice e não me disse nada? Nunca disse que havia mais de uma daquela... daquela aberração?! – ele levanta a voz em direção à Impa, a irritação aumentando em ondas perigosamente gradativas – Se Cecília estiver ligada a esse colar...

– E está – interrompe Impa.

– ... ela é muito mais destrutiva do que eu pensei.

Uma parte de mim sabe que deveria prestar atenção ao desenrolar dos fatos, mas é impossível. O colar continua no mesmo lugar.

– Droga, tirem isso de perto de mim! – grito novamente.

Em um movimento rápido, Impa retira a joia da mesa e esconde-o no bolso. 

Finco as unhas novamente no tampo da mesa, o que me deixa mais segura, mas não me acalma.

– O que foi isso? – sussurro.

– Impa, se essa garota for o que...

– Silêncio! – ordena a mulher – Se seguirmos o curso desgovernado de suas dúvidas, rapaz, não chegaremos a lugar algum – ela olha para mim, suavizando o semblante – Cecília, sei que meu pedido talvez não seja dos mais razoáveis, mas preciso que aceite o fato de que as respostas virão no momento certo – ela olha para o outro lado, seu olhar tão fulminante quanto uma das Ofídias de Helena – E Link, esta moça está perdida e confusa. Somos o único auxílio que ela tem neste momento, preciso que seja paciente.

Link contorce os punhos, socando a mesa. Minhas mãos estremecem.

– Não me venha com esse tipo de pedido porque você bem sabe que ele não é justo – grunhe, acrescentando com uma dose de sarcasmo: – Se quer tanto assim ajudar Cecília, conte a ela o que a amiga dela é.

Impa deixa escapar um suspiro resignado, embora jamais perca a compostura.

– Receio que Link tenha razão desta vez – responde, a voz calma e firme – Cecília, a essa altura já deve estar um tanto quanto evidente para você o curso dos fatos, certo?

Assinto devagar, perguntando-me se esta é sua forma instintiva de se esquivar de mais revelações difíceis. Recuso-me a dizer em voz alta, no entanto, forçando-a a me dar uma resposta direta.

– Alice é uma viajante interdimensional, um tipo que raramente aparece em nosso mundo, capaz de gerar interferências destrutivas e irreversíveis para o curso original dos acontecimentos – Seu olhar voltado para mim é causticante, e o ato de encará-la é uma provação muito mais desafiadora que ouvir suas palavras. – Entende o que isso implica, Cecília?

Claro que entendo. Antes eu permanecesse em ignorância.

– Eu também sou assim.

É sua vez de assentir, silenciosa.

A Garota que Nunca ExistiuOnde as histórias ganham vida. Descobre agora