Capítulo 4 - The Wall

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"Mas era apenas fantasia
O muro era muito alto, como você pode ver
Não importa o quanto tentasse, ele não conseguia se libertar
E os vermes comeram seu cérebro"

Pink Floyd - Hey You

Relâmpagos e trovoadas se sucedem a todo momento na janela, junto às gotas de chuva que ricocheteiam na superfície de vidro, barulhentas como pedregulhos. Diante da conclusão arremessada diante de mim, meu peito aperta junto ao tremor num misto de expectativa e terror.

Alice fugiu para uma locadora abandonada.

Thalia tamborila os dedos pelo tampo de madeira da mesa, esperando pacientemente que eu absorva as informações. O silêncio, no entanto, torna o clima ainda mais opressivo.

Apanho o copo d'água e tomo um gole, indagando a todo momento se devo rir histericamente de tudo aquilo como se acabasse de ouvir uma piada insana, ou sucumbir à vontade oculta fugir da negação e acreditar. Tenho medo de perguntar, de falar qualquer coisa, o que me obrigaria a fazer algo a respeito, ceder à necessidade de escolha. Quando o caso finalmente recebe uma luz, já não tenho certeza se realmente quero saber a verdade. Minhas opções encurtam e fogem do controle cada vez mais rápido.

Pode ser pior do que pensei.

– Como você acha que ela entrou? – ouço-me perguntar. A sede por respostas é mais forte que o medo, afinal.

Thalia ergue uma sobrancelha.

– Você sabe muito bem como.

Embora eu deteste admitir, ela está certa.

– Usando um grampo qualquer – suspiro, lembrando-me de que, anos atrás, ensinei Alice a abrir qualquer fechadura ou cadeado usando grampos de cabelo, algo que chega a ser irônico, na verdade – E depois?

– Aquele sótão da loja não é tão difícil assim de abrir como pensam. A maioria nunca chegou perto por causa de boatos toscos – seus dedos trêmulos brincam com uma mecha – Além do mais, a Game Mania fica numa área pouco movimentada.

Os nós de meus dedos se contraem.

– O que você acha que aconteceu lá?

A expressão de Thalia se fecha.

– Não faço a mínima ideia.

Frente à perspectiva de finalmente me livrar do estado passivo no qual vivi nestes últimos meses, bato na superfície da mesa com os punhos fechados.

– A gente tem que ir pra lá.

– Esperava que você dissesse isso mais cedo ou mais tarde. Eu não faria essa loucura toda sozinha, temos mesmo que ir lá – responde – Mas quando a gente vai? E como vamos fazer isso sem chamar a atenção?

Minha determinação esmaece tão rápido quanto apareceu.

– Eu não sei – confesso, e assim que me acalmo, percebo a necessidade de resolver a situação de maneira realista – Precisamos de um plano. Começa contando tudo o que você sabe sobre a loja, tudo mesmo.

Thalia assente.

– A loja tem duas entradas, sendo que a de trás é a mais fácil de invadir; a parte da frente é uma grade com dois cadeados enferrujados no portão da frente e uma porta daquelas de enrolar, só que emperrada.

– Como você sabe de tudo isso?

Ela exibe um pequeno sorriso, como que orgulhosa de si mesma.

A Garota que Nunca ExistiuOnde as histórias ganham vida. Descobre agora