Capítulo 24 - The boy with the thorn in his side (Parte 2)

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"O garoto eternamente atormentado
Por trás do ódio jaz
Um desejo homicida
Por amor"

The Smiths – The boy with the thorn in his side

Assassino

Parricida

Traidor

Que teu sangue se misture àquele derramado por tuas mãos

Morra

Morra!

As vozes nos perseguem. Não importa para onde eu vá, o coro interrupto de maldições não me abandona, e com ele, os efeitos colaterais de meu poder. Com as mãos pressionadas contra a boca e uma enxaqueca lancinante, amparo-me a uma encosta e luto o quanto posso para manter a cabeça no lugar. Mesmo com os olhos úmidos e a visão turva, vejo quando Link aperta os ouvidos e se agacha ao fim da encosta, sucumbindo lentamente ao caos daquelas vozes enquanto sussurra negações e chama por Saria de novo e de novo.

Não resta outra escolha a Navi senão observar apreensiva toda a situação, sem poder fazer nada.

Preciso ser forte.

Parricida

Homicida

Desonrado

Impostor

Mentiroso

Que teu sangue seja o alimento da terra por ti abandonada!

Morra!

Preciso manter o controle.

Preciso manter a calma.

Preciso...

Coloco tudo para fora, as mãos firmemente fincadas na parede de terra batida, mas tudo o que sinto é pânico e pavor. O coro de crianças martela dolorosamente em minha cabeça e, em um momento de desespero, tateio minhas vestes à procura do frasco de Poção Vermelha que tomei noite passada. Não posso, sob hipótese alguma, tomá-la em um espaço de tempo tão curto – segundo Impa, as consequências seriam imprevisíveis. Estou brincando com a sorte, mas não tenho outra escolha.

Não... eu tenho, sim.

Claro que tenho.

Uma respiração irregular escapa por meus lábios entreabertos pingando saliva e bile, a cabeça ainda baixa, enquanto observo o medalhão prateado pendendo em meu pescoço como uma possibilidade irresistível, tentadora e, ainda assim, medonha. Nunca desejei abri-lo com tanta intensidade quanto agora, por mais arriscado que seja – neste momento, sou insanamente capaz de qualquer coisa que retire de mim esta agonia, esta dor insuportável que nunca parece ir embora de vez.

Seguro o colar entre minhas mãos sujas de terra junto ao frasco da poção, os gritos e murmúrios de meus acompanhantes desaparecendo em um eco abafado. Seguro com tanta força que a borboleta de strass deixa uma marca na palma da minha mão. Por tudo o que é mais sagrado, só quero que essa droga de dor vá embora.

Por favor... por favor...

Por favor...

Por favor... resista...

Resista. Resista. Resista.

Uma de minhas mãos trêmulas ainda segura firmemente a pequena garrafa de vidro quando a outra larga o pingente, novamente amparando-me contra a terra suja, um último ato de sanidade em meio ao desespero que me consome. Mas não sei se posso fazer mais que isso.

A Garota que Nunca ExistiuOnde as histórias ganham vida. Descobre agora