Capítulo 11 - Predadora

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Sozinha na sala de treinamento, abro o embrulho deixado por Nabooru.
Encontro uma sacola repleta de rupees, pedras multicoloridas que funcionam como moeda corrente no reino, bem como um mapa. Há também roupas sóbrias e práticas, sem muitos adornos: calças de baixo em cota de malha, para movimentos ágeis; um vestido vinho paisano simples até a altura dos joelhos (semelhante a uma túnica), de mangas compridas, capaz de camuflar minha presença em meio à multidão; luvas vazadas, excelentes para o manuseio de arco e flecha; botas de couro grosseiro, para longas caminhadas; por fim, um longo manto com capuz, com o qual poderei me esconder com facilidade.

O que mais me agrada, no entanto, são as armas: um longo e belo arco, talhado da melhor madeira advinda da floresta Kokiri; um estojo de pano espaçoso o suficiente para o arco e a aljava, facilmente ocultado pelo manto; um conjunto de quatro adagas pontiagudas, que ficarão escondidas em lugares estratégicos nos braços e nas pernas, para rápido acesso; e, finalmente, uma aljava repleta de flechas utilizadas apenas pelas guerreiras Gerudo mais experientes.

Detenho-me por mais tempo nestas, admirando seus engenhosos mecanismos de ativação, gatilhos para pequenos feitiços, como o fogo que utilizei para destruir os vermes do deserto, até mesmo névoa, para saídas rápidas. De todas, são as mais simples que chamam-me a atenção: as flechas envenenadas. Diferentemente das demais, não possuem gatilho, tampouco mecanismos complexos. A genialidade reside nos detalhes, como o pequeno sulco alojado na ponta da lâmina que, ao acertar o alvo, libera um líquido incolor letal, razão pela qual estas flechas são conhecidas como Ofídias. São perfeitas para ataques furtivos e traiçoeiros. Perfeitas para uma morte lenta e dolorosa.

Perfeitas para mim.

Retiro as vestes Gerudo que usei ao longo da semana, vestindo as roupas contidas no embrulho e montando o equipamento cuidadosamente. Testo a corda do arco algumas vezes, retirando uma flecha simples e atirando em direção ao alvo no centro da sala antes de sair. 

Levanto o capuz e dirijo-me até o pavilhão superior da fortaleza para receber quaisquer ordens superioras que ainda sejam necessárias. As soldadas encaram-me respeitosamente, mas não presto atenção. Faço questão de encarar os prisioneiros das celas pelas quais passo, dentre eles um grupo de carpinteiros recentemente capturados por uma razão qualquer. Cada um deles esboça a mesma expressão de profundo pavor quando encontra o meu olhar. Rio para mim mesma, sabendo que logo não mais precisarei me contentar com alguns meros olhares roubados, quando a recompensa que me espera é muito maior.

Chego ao último andar, abrindo a pesada porta que leva a uma cela que conheço muito bem. Ou melhor, que Cecília conhece.

Para bruxas com mais de 400 anos de vida, vocês têm um senso de humor bastante irônico – falo entredentes.

Somos velhas, minha jovem. É tudo o que nos resta – retruca a mais velha, a feiticeira de fogo.

As Twinrova estão sentadas em tronos de pedra materializados na antiga masmorra de Cecília, prestes a me ofertar a bênção final, seja ela qual for, antes que eu parta em missão.

Tudo o que aconteceu nesta sala culminou para seu nascimento, Helena, não se esqueça disso – complementa a mais nova, a feiticeira de gelo – Venha cá para que possamos vê-la melhor.

E tire este capuz ridículo – resmunga Koume – Não é de nós que você tem que se esconder.

Resignada, faço o que pedem, aproximando-me dos tronos. As velhas gêmeas espicham os pescoços, expressões enigmáticas espelhadas em seus semblantes.

A Garota que Nunca ExistiuOnde as histórias ganham vida. Descobre agora