Não tentamos adentrar a caverna de gelo de novo sem antes viajar até Kakariko para comprar roupas de frio. Ouço Link resmungar consigo mesmo, amaldiçoando o fato de não termos uma canção de Sheik que nos teletransporte de volta à cidade desta vez, da mesma forma que fazemos nos Templos.
Não temos muita opção senão retornar do jeito antigo.
Nenhum de nós comenta a respeito da noite da véspera.
Retornamos dois dias depois. A despeito de meu temor inicial em pular novamente pelas plataformas, consigo ultrapassar o gelo escorregadio sem dificuldade sob a luz fina da manhã.
– O rastro já deve ter desaparecido depois de todo esse tempo – murmuro entredentes, apertando o casaco marrom contra o peito.
– Mas ainda lembramos do caminho – Link responde – Não precisamos nos preocupar com isso de novo, pelo menos por enquanto.
– Mas e quanto a... lá dentro? E se já tivermos perdido a pista de quem ou do quê tava lá?
O jovem dá de ombros.
– Damos um jeito.
E esta é uma das coisas que ainda não consigo deixar de detestar completamente em Link: essa mania de ser imprevisível, de encontrar brechas em planos cuidadosos, de deixar questões importantes em aberto para que sejam descobertas mais tarde.
Engulo as palavras entaladas na garganta e sigo em frente.
Quando finalmente adentramos a caverna de gelo, quebro alguns cristais congelados bloqueando a passagem a golpes com os punhos da adaga, e quase tenho de levar uma mão ao rosto e fechar os olhos. A luz reflete através do branco absurdo e cegante do local e ilumina cada recanto da caverna.
Acostumados à iluminação, tentamos encontrar o caminho evanescido do rastro. Tomo cuidado para não escorregar na superfície quase transparente. Algumas criaturas atacam e defendemos, até que descobrimos o quanto estamos perdidos, após horas de caminhada infrutífera por caminhos bifurcados, câmaras e mais câmaras extensas.
Então, quase que por acidente, uma das paredes maciças de gelo pega fogo depois que Navi esbarra em um ponto iluminado. Superados o susto e a surpresa, descobrimos de onde vem a iluminação.
Uma espécie de substância mágica, um fogo branco, está escondido em tochas alojadas pelas paredes da caverna. O brilho é tão forte que se confunde com o branco da própria superfície, mas conseguimos localizá-lo, com algum esforço, e descobrimos que é capaz de desintegrar algumas das paredes que nos levaram a becos sem saída. Com cuidado, Link armazena o fogo em seu candeeiro sempre que encontra novas tochas, usando-o para queimar as entradas antes escondidas de nós.
– Não teria como funcionar em todas as paredes, ou a caverna já teria desmoronado – pondero – Não... só funciona com lugares específicos. Mas qual é a diferença...?
Seguimos nessa tentativa e erro por mais algumas horas, com Link apalpando as paredes antes que as chamas frias reduzam rocha sólida a cinzas, em busca de algum diferencial; e Navi e eu oferecendo cobertura, alvejando com minhas flechas os monstros do local.
Meu peito ainda bate acelerado após acertar a última estátua de gelo que nos ataca.
– Venham aqui, rápido! – Link chama, algum tempo depois – Acho que descobri um padrão.
– Sou toda ouvidos.
– Todas as paredes que conseguimos queimar têm uma cor mais escura que as demais... principalmente nessas extremidades – ele aponta para os cantos da parede – Quase não dá pra perceber.
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A Garota que Nunca Existiu
FanfictionEm um esquecido subúrbio na zona norte do Rio de Janeiro, Alice, uma fã fervorosa da franquia The Legend of Zelda, desaparece sem deixar rastros. Embora esteja ciente de que vive em uma cidade em que casos como este não passam de páginas de jornais...