Capítulo 9 - She's lost control again

2.8K 212 16
                                    

"Mas ela se expressou de muitas maneiras diferentes
Até que perdesse o controle de novo
E caminhou sobre o fio da navalha do desengano
E riu 'perdi o controle de novo'"

Joy Division - She's lost control

O efeito, que anteriormente durara algumas horas, toma um dia inteiro, mesmo após o fim da provação.

Não adianta questionar, sequer protestar. A partir do momento em que aceitei por livre e espontânea vontade a proposta de Kotake e Koume, estava sujeita a seus desejos mais do que nunca, ainda que mesmo em meio à perturbação, às enxaquecas e ao sofrimento pungente, não teria feito outra escolha. Seja qual for a tarefa designada a mim, ela me levará até Alice, e eu devo ter fé nisso.

Se me deixar fraquejar, mesmo que por um momento, será meu fim.

Não sou tola em acreditar que conseguirei o que quero com tanta facilidade. As Twinrova –uma espécie de nome de guerra para designar as bruxas enquanto uma única entidade – são criaturas capciosas e manipuladoras. O fato de utilizarem Alice, minha desaparecida melhor amiga, como moeda de troca, denuncia suas intenções, uma pista que eu não deveria deixar escapar. O quebra-cabeça, contudo, está incompleto; os dias passam, derretendo-se nas marcações grosseiras que deixo na parede, correndo em direção ao derradeiro momento em que estarei frente a frente com as respostas que procuro, nem que tenha de consegui-las com minhas mãos nuas, uma por uma, custe o que custar.

Observo a guerreira Gerudo oferecer-me a bebida alucinógena novamente. Já não é mais necessário ser imobilizada para cooperar, mas nem por isso minha raiva diminui. É ela que me mantém viva, afinal. Bebo o líquido em um gole só, fazendo questão de olhar fundo nos olhos da mulher, desafiando-a. Vejo um sorriso de escárnio brincar em seus lábios, mas dura apenas alguns segundos; ela sabe que não posso bancar a durona por muito tempo.

Não demora muito para que a bebida faça seu efeito, no fim das contas.

É quando minha mente deixa de ser minha.

Não importa quantas vezes eu beba, o efeito é tão doloroso e traumático como na primeira vez.

***

Quem é você?

Quem você é?

Sou.

Sou e nada mais.

Sou uma peregrina arriscando a vida nos desertos de sua consciência.

Eu sou você.

Eu não sou você.

Sinto sua raiva.

Sinto seu ódio.

Eles alimentam meu espírito, fortalecem minha mera existência.

Quem é você?

Não sou Cecília da Costa, embora seja.

Sou algo completamente diferente.

Uma fênix renascida das cinzas de sua consciência fragmentada.

Testemunhe meu nascimento, arqueje de dor enquanto corto os cordões umbilicais que me unem a você.

***

Descargas elétricas correm pelo corpo enquanto tento negar a dor, rastreando em mim mesma os últimos resquícios de veemência deixados pela minha mente desperta. A agonia é quase insuportável, embora eu repita que preciso aguentar.

A Garota que Nunca ExistiuOnde as histórias ganham vida. Descobre agora