Capítulo 15 - Juramento

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Além do mais, teria pizza de graça.

Um dia antes, minha mãe me buscou na escola e fomos para a galeria perto do centro escolher o presente, resultado de dias e dias pedindo para que passasse mais tempo comigo. Ela concordou, mas não sem antes expôr seus termos:

-A gente não vai dar nenhum brinquedo dessa vez, que o dinheiro tá curto .

Assenti, resignada, seguindo minha mãe pelas lojinhas em busca de uma lembrança especial. Andar por atacados de 1,99 era algo chato, entediante; a contragosto, eu me pegava pensando nos presentes mais bonitos que as outras crianças trariam. Mas minha mãe me conhecia muito bem e logo me levou até uma loja de presentes finos, daquelas cheias de caixinhas feitas de porcelana e enfeites de plástico "made in China" que, de tão bonitos, até dava para esquecer que eram pirateados. Percorri o lugar bem devagar, deixando que a curiosidade consumisse meus olhos. Nada, contudo, parecia combinar com o jeito de Alice - fosse qual fosse.

Até que algo brilhante me chamou a atenção.

Escondido em uma prateleira mais distante, havia uma minúscula joiazinha prateada: um colar junto de um medalhão, encrustado de pedrinhas de strass coloridas que formavam o delicado desenho de uma borboleta. O que mais me chamou a atenção fora o conteúdo de dentro: no lugar de um espaço para colocar uma ou duas fotos, havia um espelhinho. Por algum motivo, aquilo tinha me fascinado além do que eu julgava possível, levando-me a indagar se Alice se sentiria daquela mesma forma.

Quando a indagação se transformou em desejo e o desejo em necessidade, decidi que aquele seria meu presente.

- Mãe, achei!

- Espero que não seja caro, senão a gente não leva - insistiu - Traga o que você escolheu até aqui.

Apertando o passo, levei o colar até o caixa.

-Esse pingentinho tá vinte reais - respondeu.

Minha mãe franziu a testa.

-Tem desconto pra quem paga em dinheiro?

- É um presente pra minha amiga - apressei-me em responder.

Os olhos do atendente passaram para minha mãe.

-Vai querer embalagem pra presente, então?

-Paga por fora ou já tá incluso no preço?

- Faço tudo por quinze reais - respondeu, por fim, apanhando do balcão uma minúscula caixinha rosa acolchoada, colocando o colar com cuidado e amarrando-a com uma fita vermelha de cetim e guardando-a numa sacola de presentes tão pequena quanto.

Voltamos para casa com minha mãe reclamando dos preços das coisas enquanto eu a ignorava. Aquilo já não tinha mais importância: eu daria algo diferente e especial a Alice, e era a única coisa que realmente importava.

O dia da festa chegara, afinal. Mamãe esperava na porta do apartamento enquanto eu me despedia de Edgar e papai.

- Lembra do que eu disse - falou, abraçando-me - Vai ficar tudo bem, apenas seja você mesma.

Entrei no carro com minha mãe, peguei o presente e fomos à pizzaria em relativo silêncio. Eu esperava que ela não dissesse nada além do necessário, este era seu jeito. Mas tomei um susto quando, de repente, ouvi sua voz.

-Seu pai me contou que você anda preocupada com a festa.

- É - respondi, relutante - Um pouquinho.

A Garota que Nunca ExistiuOnde as histórias ganham vida. Descobre agora