Além do mais, teria pizza de graça.
Um dia antes, minha mãe me buscou na escola e fomos para a galeria perto do centro escolher o presente, resultado de dias e dias pedindo para que passasse mais tempo comigo. Ela concordou, mas não sem antes expôr seus termos:
-A gente não vai dar nenhum brinquedo dessa vez, que o dinheiro tá curto .
Assenti, resignada, seguindo minha mãe pelas lojinhas em busca de uma lembrança especial. Andar por atacados de 1,99 era algo chato, entediante; a contragosto, eu me pegava pensando nos presentes mais bonitos que as outras crianças trariam. Mas minha mãe me conhecia muito bem e logo me levou até uma loja de presentes finos, daquelas cheias de caixinhas feitas de porcelana e enfeites de plástico "made in China" que, de tão bonitos, até dava para esquecer que eram pirateados. Percorri o lugar bem devagar, deixando que a curiosidade consumisse meus olhos. Nada, contudo, parecia combinar com o jeito de Alice - fosse qual fosse.
Até que algo brilhante me chamou a atenção.
Escondido em uma prateleira mais distante, havia uma minúscula joiazinha prateada: um colar junto de um medalhão, encrustado de pedrinhas de strass coloridas que formavam o delicado desenho de uma borboleta. O que mais me chamou a atenção fora o conteúdo de dentro: no lugar de um espaço para colocar uma ou duas fotos, havia um espelhinho. Por algum motivo, aquilo tinha me fascinado além do que eu julgava possível, levando-me a indagar se Alice se sentiria daquela mesma forma.
Quando a indagação se transformou em desejo e o desejo em necessidade, decidi que aquele seria meu presente.
- Mãe, achei!
- Espero que não seja caro, senão a gente não leva - insistiu - Traga o que você escolheu até aqui.
Apertando o passo, levei o colar até o caixa.
-Esse pingentinho tá vinte reais - respondeu.
Minha mãe franziu a testa.
-Tem desconto pra quem paga em dinheiro?
- É um presente pra minha amiga - apressei-me em responder.
Os olhos do atendente passaram para minha mãe.
-Vai querer embalagem pra presente, então?
-Paga por fora ou já tá incluso no preço?
- Faço tudo por quinze reais - respondeu, por fim, apanhando do balcão uma minúscula caixinha rosa acolchoada, colocando o colar com cuidado e amarrando-a com uma fita vermelha de cetim e guardando-a numa sacola de presentes tão pequena quanto.
Voltamos para casa com minha mãe reclamando dos preços das coisas enquanto eu a ignorava. Aquilo já não tinha mais importância: eu daria algo diferente e especial a Alice, e era a única coisa que realmente importava.
O dia da festa chegara, afinal. Mamãe esperava na porta do apartamento enquanto eu me despedia de Edgar e papai.
- Lembra do que eu disse - falou, abraçando-me - Vai ficar tudo bem, apenas seja você mesma.
Entrei no carro com minha mãe, peguei o presente e fomos à pizzaria em relativo silêncio. Eu esperava que ela não dissesse nada além do necessário, este era seu jeito. Mas tomei um susto quando, de repente, ouvi sua voz.
-Seu pai me contou que você anda preocupada com a festa.
- É - respondi, relutante - Um pouquinho.
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A Garota que Nunca Existiu
FanfictionEm um esquecido subúrbio na zona norte do Rio de Janeiro, Alice, uma fã fervorosa da franquia The Legend of Zelda, desaparece sem deixar rastros. Embora esteja ciente de que vive em uma cidade em que casos como este não passam de páginas de jornais...
Capítulo 15 - Juramento
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