Skyler Payne P.O.V
— Quantos anos você disse? — uma segunda voz, dessa vez, bem familiar, ecoou atrás de mim.
— Eu disse pra vir sozinha! — o homem em minha frente elevou o tom de voz e retirou uma arma da parte de trás da calça, apontando-a para fora do meu campo de visão.
— Ela não sabia que eu estava a seguindo, Deckard — Malik afirmou calmamente.
Deckard? Deckard era John Peise?
Conforme o loiro saiu de minha frente, a voz feminina em minhas costas resmungou um "Vire-se", que por não ter muita opção, acabei obedecendo.
Zayn tinha uma expressão de desapontamento em seu rosto, poderia se dizer que até de tristeza, mas não era para mim que ele estava olhando.
A mulher passou o braço livre em frente aos meus ombros e apontou a arma para a minha cabeça. Mesmo assim decidi virar um pouco o rosto para entender a reação do moreno.
Era Josephine.
E se antes eu pensava que ela fazia da minha vida um inferno estando morta, aqui estava ela, fazendo da minha vida um inferno, viva.
Minhas mãos estavam levantadas em sinal de rendição, não que eu estivesse satisfeita em estar naquela posição, ainda mais que para uma das mulheres que eu mais desprezava.
— Agora dá para perceber ainda mais as semelhanças, não é? — Deckard riu — Você definitivamente tem um tipo.
— Ela já te deu o que você queria, deixe ela ir — Zayn permaneceu com as mãos abaixadas, mesmo sob a mira da arma de Deckard.
— Eu já disse, é ela quem eu quero. Na verdade, Jo já havia dito isso a meses atrás em um bilhetinho — o loiro deu de ombros.
26 de outubro de 2020.
— Não peguei apenas as fotos com o corpo — Liam abriu uma das gavetas da mesa e retirou um papel dobrado, que me entregou — Também encontrei isso.
Minhas mãos vacilaram por um segundo ao notar que a folha estava manchada de sangue e por isso acabei derrubando a mesma no chão.
Me abaixei e a peguei novamente. Ao desdobra-lá arregalei meus olhos e encarei meu irmão.
"Ela é a próxima"
Meu corpo se tencionou por completo com a memória do bilhete que Liam havia encontrado com o corpo de Niall.
— Foi você quem matou ele? — sussurrei para a mulher, era praticamente uma pergunta retórica, já estava óbvio que sim.
— Viu? Ela se lembra do nosso aviso — Deckard deu de ombros, ainda falando com Zayn — Eu não planejava ter que matar ninguém hoje, mas você tinha que aparecer — o loiro enfatizou o "tinha" ao inclinar o corpo para trás e abrir um sorriso presunçoso.
John Peise nunca existiu. A teoria que eu havia decidido manter para mim mesma por ter considerado muito absurda, era verdade.
O nome composto era um anagrama para "Josephine", era ela o tempo todo.
Mas qual era a ligação entre ela e Niall? E Deckard?
— Você não tem que matar ninguém — me remexi desconfortável com o braço fino que me segurava, meus saltos altos me deixavam um pouco mais alta do que Josephine, então conforme ela me segurava, eu estava desconfortavelmente inclinada para trás — Eu vou com vocês, mas ele fica.
— Eu não sou estúpido, gatinha — Deckard abaixou a arma que apontava para Zayn e se virou para mim.
— Você é — afirmei ao reunir toda a coragem em meu corpo para ignorar que tinha uma arma pressionada em minha têmpora — Me pediu para vir aqui sozinha, sabendo que eu estava na festa de ano novo do cassino com o meu irmão, que vai sentir minha falta e vai me procurar. Todos os nossos carros tem sistema de rastreamento e provavelmente ele já deve estar vindo até aqui, por que você foi estúpido o suficiente pra planejar toda essa merda, mas não pra pensar que seria melhor me sequestrar sem que me pedisse para vir até você em um dia nem um pouco cotidiano — e por culpa da adrenalina, decidi continuar falando — Essa desgraçada aqui está me apontando essa arma por pura intimidação, se vocês precisam de mim pra alguma coisa, é óbvio que precisam de mim viva — dei de ombros e abaixei minhas mãos.
Eu realmente esperava que Liam estivesse me procurando e não simplesmente concluído que eu havia ido para um quarto com alguém.
— Mas não precisamos dele — Josephine apontou a arma para Zayn.
A frase dela claramente o machucou, e eu me odiava por sentir pena dele.
— É, não precisamos — Deckard concordou.
Em segundos o som ensurdecedor da arma fez com que meus ouvidos fossem tomados pelo som de um apito constante. Ao mesmo tempo que Zayn caiu no chão, o céu foi iluminado por diversos fogos de artifício e antes que eu pudesse processar mais alguma informação, Deckard acertou minha cabeça com a arma que ainda tinha em mãos, fazendo com que tudo se escurecesse.
Harry Styles P.O.V
Já havia andando tantas vezes de um lado para o outro que não me surpreenderia por ter aberto um buraco no chão, em frente à cama em que Zayn estava desacordado.
Encontrá-lo quase morto em uma rua sem saída em Huntridge não era o que Liam e eu esperávamos enquanto procurávamos por Skyler.
— Não há mesmo nenhuma previsão para ele acordar? — ouvi Liam questionar a médica que adentrou o quarto ao lado dele.
— Senhor Payne, novamente, a bala entrou pelo tórax e ricocheteou até o abdômen, um centímetro a mais e teria o acertado no coração — a mulher explicou em um leve tom de irritação — Ele está estabilizado e assim que acordar poderá andar em alguns dias, é tudo o que eu tenho a te dizer no momento. Posso ajudá-lo com alguma outra coisa?
— Não.
Após pegar o prontuário no suporte atrás da porta, ela saiu do cômodo.
— Ele é a única pessoa que pode nos dizer o que aconteceu com a Skyler — o Payne mais velho comentou.
— Eu sei — bufei enquanto sentia meu celular vibrar mais uma vez em meu bolso.
— Nenhuma notícia dela ainda? — Louis adentrou o quarto sem bater na porta.
— Parece que temos alguma? — resmunguei.
Minha vontade era de acertar um soco em Zayn mesmo que ele tivesse passado por uma cirurgia de quase dezesseis horas.
Não fazia ideia do que tinha acontecido para ele ter acabado em uma cama de hospital com um tiro no peito, mas sabia que era culpa dele Skyler ter desaparecido.
— Eu estou tão preocupado quanto você, Styles — Louis reclamou — Não sei se preciso te lembrar, mas sou eu quem a conhece a anos.
— Vai se foder, Tomlinson — elevei o tom de voz ao me aproximar dele — Você conhecer a Skyler a um dia a mais do que eu, ou a vida inteira, não muda porra nenhuma do quanto eu também me importo com ela.
— Chega! — Liam se posicionou entre nós, abrindo os braços para criar espaço entre Louis e eu — Todos estamos preocupados com a minha irmã e todos nos importamos com ela, vocês brigarem agora não vai ajudar em merda nenhuma, tanto quanto, não vai mudar nada também.
Me afastei, indo até a varanda do quarto, onde me pus a fitar a vista de Vegas para disfarçar que havia levado uma bronca tal como uma criança, e mais uma vez, meu celular voltava a vibrar.
— Por Deus, Yaser, é Ano Novo! — esbravejei ao atender a ligação — Pare de me ligar, eu já disse que a viagem para Londres está agendada — e antes que o homem pudesse dizer mais alguma coisa, encerrei a ligação — Inferno.
— Londres? — Liam se aproximou, franzindo o cenho.
— Zayn tem a maior parte da Achmed Enterprises, mas a sede de Londres é comandada pelo pai — expliquei ao apertar a ponte de meu nariz, respirando fundo — Yaser está causando todo o tipo de problemas que consegue para estressar Zayn, e ao mesmo tempo, obriga-lo a ir ver a família na Europa.
— A quantos anos ele não os vê?
— Desde quando fugiu de casa para viver com o avô — respondi ao pegar um chiclete e oferecer outro para Liam, que aceitou — A viagem para Londres foi agendada depois de Yaser ter nos infernizado por quase dois meses, mas agora é impossível que ele vá para algum lugar — apontei com a cabeça para onde estava a cama em que Zayn permanecia desacordado.
— Dizer a ele que o filho levou um tiro não é opção — Payne concluiu — É, eu não queria estar no seu lugar.
— Sendo sincero, eu também não queria estar no seu — respondi ao soltar um riso sem humor.
— Skyler estava estranha ontem — comentou — Na verdade, já se fazem alguns dias. Quebrou um dos vidros da varanda dela e me contou uma história completamente sem sentido para explicar como aconteceu, jogou um dos quadros favoritos do quarto dela no lixo, e ontem durante a festa ela me cumprimentou com um abraço — Liam parecia estar pensando em voz alta, não conversando comigo — Ela nunca abraça, muito menos em público.
— Não tem nada no celular dela?
— Não, só uma ligação de um número bloqueado — Payne suspirou.
Skyler Payne P.O.V
Quando acordei, sentia que minha cabeça estava prestes a explodir.
Eu estava em um quarto que poderia ser encontrado em qualquer mansão de Vegas e tudo parecia comum, exceto pelo fato de que eu estava presa à cabeceira da cama por um dos pulsos, e um par de olhos verdes me encarava com tédio.
— Deckard, ela acordou — Josephine afirmou ao sair do quarto.
— Eu não queria ter te batido — o loiro afirmou ao adentrar o cômodo e se sentar na cama — Você ficou muito bonita Skyler, mais do que pensei que ficaria — ele sorriu — Zayn é o culpado desse hematoma no seu rosto, não eu.
Zayn.
Josephine havia atirado nele, e a culpa era toda minha.
— Onde ele está? — com essa pergunta, percebi o quanto minha boca estava seca, as palavras mal possuíram som.
— Morto — Deckard deu de ombros — Se esqueceu de que nos fez lembrar que só precisávamos de você, viva?
Engoli em seco e não o respondi. Não tinha o que ser dito.
— Eu não queria ter o sangue de ninguém nas minhas mãos — ele começou a falar conforme acariciava minha coxa, ato que logo interrompi com minha única mão livre — Mas não seria a primeira vez.
— O quê você quer comigo?
— Calma — Deckard sorriu maliciosamente — Vou te contar todo o plano, afinal agora você é oficialmente parte dele.