Capítulo 86

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Flórida, Dezembro de 2003.

Véspera de Natal, lá estava Micael, Jorge, Antônia e seu irmão Marcel, todos reunidos, parecia até sonho.

- O quê será que meus meninos vão ganhar? - Antônia apareceu na sala se enfiando no meio do sofá onde estava Marcel e Micael.

- Vou ganhar uma bicicleta - Micael escondeu os braços, seu cabelinho de índio era tão fofo.

- Será que você vai ganhar uma bicicleta?

- Vou sim, meu pai disse que eu vou.

- Micael, você já está grande pra andar de bicicleta - Marcel riu.

- E precisa ter idade pra andar de bicicleta, Marcel? - Jorge andou até eles cruzando os braços.

- Na minha terra precisa - todos riram - mãe, estou com fome.

- Ainda não deu meia- noite, acalme seu estomago.

- Marcel é esfomeado, Marcel é esfomeado - Micael saiu do sofá fazendo sua dancinha, mostrou a língua para o irmão.

- Mãe, pare ele.

- Micael e Marcel, nada de começarem agora - pausou - hoje é um dia especial, a véspera.

- Não acredito mais em papai noel, então não é especial.

- Claro que é, meu filho - Antônia encarou o menino - andem todos, vamos a mesa.

Faltavam uma hora para o inicio do Natal, os filhos de Antônia eufóricos pra saberem seus presentes, tão reunidos assim, ninguém imaginaria.

Micael decidiu cochilar um pouco enquanto a hora não tinha chego, Antônia voltou a cozinha verificando as comidas antes de por a mesa, Marcel decidiu jogar cartas com o pai, tudo em perfeita harmonia.

- Querido - Micael sentiu algo tocar seu braço - querido.

- Hum? - ainda estava com sono.

- Feliz Natal, vamos abrir o seu presente - Antônia acordou de vez o filho que coçava os olhos espantando o sono, botou as mãos na cabeça ao ver o pai entregar uma caixa enorme a ele.

Sim, era a tão esperada bicicleta.

- Obrigado, pai - deu um abraço em Jorge que sorriu após ver o filho abrir feliz - obrigado, mãe.

- Não precisa agradecer, você merece - Antônia sorriu - este é seu, Marcel.

Entregou a outra caixa ao filho que abriu vendo a prancha de surf, todos sorriram.

- Vocês são demais, obrigado pelo presente.

- De nada, meu amor - Antônia beijou a cabeça do filho.

A noite foi assim, abriram presentes, riram, sorriram, choraram, comeram e por último descansaram.

Marcel saiu de fininho enquanto o pai e a mãe foram dormir, já tinha se passado das quatro da manhã, Micael esperou o irmão deitado em sua cama, não dividiam quartos mas Marcel sempre ia conversar com o mesmo antes de dormir, falar sobre garotas no caso.

Estava demorando demais, o moreno foi certificar que estava tudo certo indo até o banheiro, a luz estava acesa e aparentemente Marcel poderia estar lá, abriu com tudo vendo o irmão na pior fase de todas.

Cheio de carreira entre as narinas, que fase.

- Não acredito - entrou no banheiro - por quê faz isso?

- Tome conta da sua vida.

- Em casa? Marcel!

- Pode ser em qualquer lugar, eles estão dormindo - coçou o nariz - não é pra contar a ninguém, certo?

- Não acredito nisso, estou cansado de te acobertar.

- Cansado? moleque, você só faz isso.

- Eu não sou um moleque.

- Ah não? me mostre então.

- Não vou te mostrar nada - pausou - quando vai parar? isso vai matar você, que merda.

- Não vai me matar, quem vai me matar são vocês, a mamãe também.

- A mamãe te ama mais que tudo, e olha o quê está fazendo - encarou o irmão - está na nóia dentro do banheiro, no Natal.

- Micael, vaza.

- Não, quero que me prometa...

- Não vou te prometer nada, cuide da sua vida que eu fodo a minha do jeito que eu quiser.

- Você precisa de ajuda.

- Ajuda? eu preciso que vocês parem de me carregar o tempo todo, eu já cresci.

- Mas continua com mentalidade de uma criança.

- Você é criança.

- EU NÃO SOU CRIANÇA - gritou.

- PARA DE GRITAR, QUE PORRA, MOLEQUE DOS INFERNOS.

- O quê está acontecendo? - Antônia apareceu no banheiro, fechou o hobby branco franzindo a testa.

- Marcel está cheirando mãe, de novo - Micael cruzou os braços engolindo seco.

- SEU MERDINHA, EU TE MATO - o bolo de briga começou.

Marcel foi pra cima de Micael batendo em seu rosto, o moreno tentou esquivar mas sem sucesso, estava apanhando feio do irmão, partiu pra chutes e mordidas que deu certo na primeira tentativa, Antônia queria desmaiar mas acordou do transe quando Jorge entrou no banheiro, o cômodo tinha ficado pequeno para os quatro.

- JÁ CHEGA, JÁ CHEGA - gritou - QUEM VAI ME DIZER O QUÊ ESTAVA ACONTECENDO AQUI?

- Já disse - Micael recebeu uma cotovelada do irmão mas Jorge interrompeu.

- PAREM, EU PRECISO SER ASSIM SEMPRE? - gritou novamente.

- Por favor, Marcel - Antônia tinha lágrimas nos olhos - diga que não estava fazendo isso de novo.

- É verdade, Marcel? - os pais encaram o menino que não sabia onde enfiar a cara.

- Marcel - Antônia deu a palavra novamente - eu não acredito.

Voltou a chorar com desprezo, Jorge abaixou a cabeça respirando fundo, Marcel era um caso sério, secou suas lágrimas de nervosismo encarando o filho.

- Vai embora, agora.

- Você vai ser covarde assim, meu pai?

- Se você acha que tem o direito de encher o rabo com essas merdas - pegou forte no braço do filho - SAIA DA MINHA CASA, SEU VICIADO DE MERDA.

- JORGE, PARA - Antônia gritou.

- PAI, PARA POR FAVOR - Micael começou a gritar.

- SAIA DA MINHA CASA, AGORA - levou Marcel até a porta jogando o menino na frente da casa - SE VOCÊ VOLTAR EU VOU FAZER PIOR.

- MARCEL, MEU FILHO.

- ANTÔNIA, CHEGA - gritou para a mulher - ESSE DELINQUÊNTE, NÃO VAI TER UM FUTURO, NÃO CHEIRANDO DESSE JEITO.

- EU AINDA TE MATO, SEU VELHO ESTÚPIDO.

- PARA, MARCEL - Micael foi até o irmão - pai, a culpa foi toda minha.

- Micael, volte pra dentro, agora.

- Mas pai...

- MICAEL, VOLTE PRA DENTRO, AGORA - gritou - e você, não se atreva a voltar.

Micael passou pra dentro junto com Antônia que agora chorava mais ainda, Jorge com os nervos a flor da pele tentou se acalmar após largar o filho fora de casa, no frio que estava fazendo, em plena data importante, aquela era a família Borges, destruída por um vício.

Feliz Natal.



BranquinhaWhere stories live. Discover now