Capítulo 97

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- Está cansado? - Sophia perguntou a Micael que tinha os olhos vidrados no filho. 

- Não - sorriu - você está? 

- Um pouco, não preguei o olho depois do parto - advertiu. 

- Pensei que iria morrer, senti uma dor horrenda lá no presídio. 

- Sério? que tipo de dor? - apoiou a cabeça nas mãos. 

- Uma dor abdominal, descia tudo, horrível. 

- Acho que alguém sentiu a dor do parto - riu leve. 

- Como? 

- Um marido de uma amiga da minha mãe sentiu a dor do parto dela.

- Isso pode acontecer? 

- Pode, eu inclusive não senti dor. 

- Não? - Micael estava chocado. 

- Senti no começo quando comecei a sangrar, mas depois fiquei calma. 

- Quem te trouxe até aqui? 

- Uma vizinha, não conhecia ela. 

- Nossa vizinha? onde está Saily? 

- Sim, a nossa vizinha - cerrou os olhos - Saily está viajando, foi pra segunda edição daquela rave que vocês foram. 

- Eu não sei o que eu faço com essa garota - Sophia riu. 

- Ela é jovem, precisa se distrair. 

- Nós também somos jovens. 

- E pais. 

- O quê tem de errado nisso? 

- Acho que nada - Micael se inclinou beijando Sophia mas automaticamente parou quando viu os olhos do filho serem abertos tentando conhecer o local. 

- Alguém acordou - sorriram bobos, estava adorando mimar Kevin. 

- Olha só - se admirou vendo o bebê remexer as mãozinhas - você é tão lindo, meu filho. 

Sophia levantou chamando a enfermeira, o motivo da pausa do sono de Kevin era fome, já estava aprendendo. Logo a mulher entrou no local, sorriu para os dois que mimavam o filho. 

- Vamos trocar a fralda dele, você quer aprender? 

- Eu quero - Micael levantou a mão fazendo as duas rirem. 

- Certo - abriu o pequeno cercadinho da encubadora sem ter tirado o menino de lá - com cuidado, esse bebê é muito bonzinho. 

Os dois aprenderam com calma enquanto a enfermeira lhe ensinava tudo, não demorou minutos pra que Kevin já estivesse com a fralda trocada, Sophia perguntou sobre a alimentação e a mesma disse que o leite na bombinha ainda dava mas precisava ser trocado depois, Micael não entendeu nada. 

A mulher saiu deixando o moreno encarar Sophia. 

- O quê foi? - colocou o cabelo atrás da orelha. 

- Não me diga que isso saiu do seu peito? 

- É, isso saiu do meu peito - riu leve vendo Micael com a bombinha nas mãos. 

- Uau - encarou a noiva - sabe, espero que Kevin mame apenas aqui. 

- Micael! 

- Eu estou muito feliz com essa novidade. 

- Você é um pervertido. 

- Sou louco por você - voltou a beijar a mesma, era saudade demais. 


Voltando a recepção, Antônia tinha o neto nos braços que não aguentou, acabou dormindo pelo silêncio e pelo cansaço de brincar com seu dinossauro. Jorge mexia no celular interessado nas notas de júri, o papel estava resolvido mas não custava nada recapitular a fiança de Micael junto com os documentos. 

- Ele conversou com você? - encarou o marido. 

- Falou poucas coisas, mas me agradeceu. 

- Ele te agradeceu? - perguntou surpresa. 

- Era o máximo que ele poderia fazer - pausou - ele não está falando com você? 

- Está sim, do jeito dele. 

- Você sabe que Micael é muito frio quando está triste, ou com raiva. 

- Eu já disse que não tenho culpa de nada, já pedi minhas desculpas. 

- Ele nunca vai esquecer - bloqueou o aparelho voltando a olhar a esposa - o quê vamos fazer com eles? 

- Nada, eles tem o próprio apartamento. 

- Eu digo o emprego, fiquei sabendo que Micael foi preso por tráfico de drogas. 

- Ele disse que não existe emprego pra ele aqui, em Seattle. 

- Existe sim, só ele que não quer. 

- Jorge, você sabe que Micael tem direito de uma grande parte do nosso dinheiro. 

- Quando nós morrermos. 

- Marcel e ele ganhavam quando eram menores. 

- Isso se chama mesada, estou cansado de acobertar Micael. 

- O quê está querendo dizer? 

- Estou querendo dizer quê ele precisa arranjar um emprego, o dinheiro ainda é nosso. 

- Então... 

- Não vou dar mesada a Micael, está grande demais pra isso. 

- Enquanto a conta dele no banco? 

- Vai ficar fechada até nós morrermos, Jon e ele podem esbaldar depois disso. 

- Não se esqueça do bebê, agora tem um filho pra criar. 

- Responsabilidade deles - pausou. 

- Não seja assim, Jorge. 

- Quer saber? faça o quê você quiser, quando Micael reclamar na justiça que não ganhou a herança dos pais você volta pra terra e explica o quê aconteceu. 

- Isso não vai acontecer porque temos dinheiro. 

- Uma hora acaba. 

- Você sabe que não. 

- Encerre essa conversa, ela está vindo. 

Viram Sophia caminhar até eles, tinha os braços cruzados se queixando do frio. 

- Gente, por quê vocês não vão embora? Jon precisa descansar. 

- Está nos mandando embora, querida? - Antônia sorriu. 

- Não, de modo algum - riu leve - estou dizendo que aqui está tudo sob controle, Kevin está reagindo muito bem, se alimentando bem. 

- E Micael? 

- Está vidrado nele, todo bobo - sorriram. 

- Bom, já que é assim - a mulher se levantou - vou indo, Jon precisa mesmo dormir, está todo torto nessa cadeira. 

- Voltamos amanhã, se você não se importar - Jorge disse calmo. 

- Tudo bem, fiquem tranquilos - Sophia abraçou a sogra. 

- Qualquer coisa me ligue, Micael a mesma coisa. 

- Pode ficar tranquila, aqui está tudo bem - sorriram mais uma vez - obrigada por tudo, não sei como agradecer. 

- Já disse que não precisa - arrumou Jon nos braços que dormia tranquilo - até mais, querida. 

- Até, um beijo - sorriu vendo os familiares saírem do hospital. 

A chuva não tinha dado uma trégua, Sophia precisava ser forte ali dentro, foi até sua bolsa pegando dez dólares pra comprar um café, na verdade dois, correu até a máquina se aquecendo pelo ar condicionado congelante do hospital, sorriu satisfeita ao pegar os dois copos voltando pra sala. 

Precisavam de energia, afinal ficar virado a noite toda não era algo fácil. 

BranquinhaOpowieści tętniące życiem. Odkryj je teraz