Capítulo 42

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NARRADOR

A luz da lua dava um brilho especial aos olhos de Athena. Ela usava um vestido longo preto e uma capa com capuz da mesma cor para esconder seu cabelo e parte de seu rosto. Ela não estava nenhum pouco nervosa ou receosa com o fato de estar em frente a porta da casa de sua mãe, tudo o que Athena sentia era raiva. Raiva por tudo o que lhe foi escondido, raiva por ter sido enganada mais uma vez, raiva por estar descobrindo quem ela realmente é.

O som das batidas fortes ecoou pela casa e Athena pode ouvir passos apressados se aproximando da porta. Seus olhos continuaram baixos quando a porta foi aberta, as mãos estavam enfiadas nos bolsos laterais do capuz e a respiração estava lenta e pesada.

— Quem é você? — A voz de Ravena continuava do mesmo jeito desde a última vez que Athena a ouvira, ela ainda se lembrava, assim como se lembrava de cada traço no rosto daquela fêmea.

— Não se lembra de mim, mamãe? — Athena a encarou por debaixo dos cílios e a viu ofegar quando baixou o capuz — Não vai me convidar para entrar?

— Athena — Ravena disse em um suspiro, engolindo em seco — Eu pensei que…

— Que o quê? — A interrompeu — Nunca mais me veria depois de me entregar para aquele velho feiticeiro como pagamento da sua dívida?

— Isso… Isso foi necessário — Falou e Athena soltou uma risada seca olhando para os lados.

— Necessário? — Repetiu inclinando a cabeça em sua direção — Você claramente não sabe ser uma boa mãe.

— Por favor, vamos ter uma conversa civilizada — Ravena pediu lhe dando espaço para entrar — Entre…

Athena encarou a mãe por alguns segundos antes de passar por ela entrando na casa. Seus olhos dispararam pelo lugar observando cada detalhe, o cheiro de torta de morango impregnado no ar fez com que sua mente voltasse a séculos atrás a obrigando a se lembrar da época em que era feliz, em que ainda tinha a sua família.

— Vejo que vive muito bem — Murmurou gesticulando ainda de costas — Wilmot deu isso a você?

— Athena…

— Ah, não diga! Eu já sei a resposta — Ela lhe interrompeu novamente — Você sabe porque eu estou aqui?

— Tenho algumas suposições — Ravena respondeu se aproximando lentamente. Athena achou graça, era como se Ravena estivesse lidando com um animal selvagem.

— Encontrei isso há um tempo — Athena falou a olhando por cima do ombro e movimentou a mão fazendo com que seu livro aparecesse flutuando entre as sombras — Alguém me ajudou a traduzi-lo.

O rosto de Ravena perdeu um pouco de cor, Athena se virou para ela fazendo o livro desaparecer.

O silêncio desconfortável que se instalou na sala fez com que Ravena prendesse a respiração. Ela não estava com medo de Athena, jamais sentiria medo de sua filha e por mais que tivesse noção da criação que Athena teve ao lado de Wilmot, ela sabia que a mesma não a machucaria.

— Você não tem nada a dizer?

— Tudo o que eu fiz por você… Foi necessário — Ravena arrumou a postura — Eu estava desesperada.

— Desesperada? — Athena se aproximou chocada — Você estava desesperada o suficiente para entregar sua filha? Porque?! Me diga os motivos! — Exigiu cerrando os punhos — O que te deixou tão desesperada ao ponto de dar sua filha como se ela não significasse nada para você?

— Por favor, não grite — Ravena pediu erguendo as mãos fazendo com que a raiva de Athena crescesse — Eu não posso te explicar tudo o que aconteceu agora, Athena. Nós podemos nos encontrar, eu irei te contar tudo, mas agora não posso.

— Sim, você pode e você vai — Athena tirou o capuz tentando controlar a respiração — Eu tenho todo o direito de saber. Tenho o direito de saber o que você devia para ter me entregado, tenho o direito de saber o porquê eu não sou filha do meu pai!

— Athena, já chega! — Ravena falou se aproximando.

— Você é alguém horrível — Falou e apertou os olhos passando as mãos no cabelo — Você é uma mãe horrível. Você sempre fez de tudo para ter o que queria, tudo era sobre você!

— Nós não podemos conversar agora, você tem que sair!

— Não, não! Agora você vai me ouvir — Athena encarou Ravena que estava a um passo de distância — Eu acreditei por anos que você aparecia e me levaria de volta para casa, que você ajudaria Jasper a me tirar daquele lugar e que nós voltaríamos a ser uma família feliz — Os olhos de Ravena se encheram de lágrimas e Athena forçou um sorriso negando com a cabeça — Mas então… Depois que Wilmot matou o MEU PAI, eu percebi que você não viria, eu aceitei que você não se importava e naquele momento você morreu pra mim.

— Por favor…

Você morreu pra mim, Ravena! — Sussurrou encarando seus olhos — E eu me sinto uma idiota por ter pensado que por algum momento na minha vida, eu tive o seu amor.

— Eu amo você Athena — Ela falou e uma lágrima escorreu por sua bochecha.

— Não, você não me ama! — Athena explodiu e Ravena observou sombras surgirem como tentáculos sob os ombros de sua filha.

— Eu amo você, Athena — Repetiu tentando se aproximar e Athena se afastou.

— Não, não! Para de repetir isso! — Athena elevou a voz — Você me deixou. Eu precisava de você, eu precisava de uma mãe, eu precisava do seu amor e você… Você me entregou como se eu não fosse nada, me deu a alguém para que você pudesse ter sua vida perfeita.

Athena poderia ter desabado ali, ela sentiu um nó se formar em sua garganta e as pernas falharem, mas ela não daria a Ravena o gostinho de vê-la em um momento de fragilidade, Athena é orgulhosa demais para isso.

— Eu só quero saber o motivo — Ela murmurou encarando seus olhos e Ravena suspirou — Porque?

As duas estavam tão próximas mas ao mesmo tempo tão distantes.

Ravena sentiu vontade de se aproximar e abraçá-la, ter Athena em seus braços para que a mesma não escapasse novamente, para que Ravena pudesse ter sua filha de volta.

— Mamãe? — O sussurro baixo fez com que Athena ficasse estática, ela observou Ravena engolir em seco e passar por ela rapidamente — Mamãe, quem é ela?

Jasper, o que eu falei sobre não sair da cama? — Ravena se ajoelhou na frente do filho e tocou seu rosto.

Ela observou a cena e se perguntou se em algum momento Ravena já tinha a olhando daquele jeito, com tanto amor que era capaz de fazer seus olhos brilharem.

Jasper. Athena riu internamente indignada com a audácia que Ravena teve de colocar o nome de seu pai naquela criança.

— É que eu senti o cheiro de torta — O garoto que parecia ter por volta dos sete anos sussurrou apertando a mão da mãe e apontou discretamente para Athena — 'Mais quem é ela?

— Ah, ela… Ela é… — Ravena gaguejou e Athena abriu um sorrisinho infeliz.

Ninguém importante — Murmurou para o irmão antes de desaparecer deixando no ar uma pequena partícula de sua magia.

[✓]𝐂𝐨𝐫𝐭𝐞 𝐝𝐞 𝐅𝐥𝐨𝐫𝐞𝐬 𝐞𝐦 𝐂𝐡𝐚𝐦𝐚𝐬| ᶜᵃˢˢᶦᵃⁿOnde as histórias ganham vida. Descobre agora