CAPÍTULO 49

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Espero que estejam preparados para surtar hehehhehe 😏

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Já passava da meia-noite.
Em breve o relógio moveria mais alguns ponteiros e seria uma hora da manhã.
Eu havia vindo para o meu quarto a duas horas atrás, e até agora estava acordada. A recepção não demorou muito, os hospedes estavam cansados demais pela longa viagem para ficarem conversando até de madrugada, como geralmente acontece quando temos visitas tão ilustres, e uma comemoração tão importante pela frente.
Embora eu já tendo feito todo o possível para dormir – li, toquei piano, escutei música, abri as janelas para que o vento entrasse, assisti TV– nada resolvia minha insônia repentina. Naquele momento, percebi que eu simplesmente não conseguiria dormir tão rápido.
Talvez eu deva culpar os acontecimentos recentes pela falta de sono, afinal, era fato que percorriam em minha mente com mais frequência do que eu gostaria de admitir; sem contar o meu ultimo momento com Felix, que agora era repassado vividamente sem parar pela minha consciência.
Não apenas pelos batimentos acelerado, mas também por suas palavras que me atingiram de uma forma que eu não esperava.
As memórias...
Elas ainda me assombram.
Eu juro que tentei fazer o que eu ele sugeriu. Tentei transforma-las em algo bom. Contudo, qualquer recordação que eu tenho do meu pai, faz com que meus olhos se encham de lágrimas, me fazem sentir solitária, fria, como se meu coração estivesse congelando. E isso dói, dói muito mais do que eu poderia descrever.
Levantando-me de supetão, cansada de instigar tais pensamentos, decido que, já que não consigo dormir, farei algo ao invés de ficar aqui, remoendo pensamentos infelizes.
Ando de um lado para o outro pelo quarto, o qual tinha como única iluminação no momento, a lua resplandecente. Procuro alguma distração, mas nada vinha em minha mente. Estava inquieta e minhas mãos suavam.
Impaciente, coloco o meu robe e saio do quarto, não conseguiria ficar parada por muito mais tempo ali, estava me sentindo sufocada.
Adentro os corredores que agora, continham pouca iluminação, somente algumas velas ali e outras aqui mantinham o caminho claro.
Supus que uma caminhada pelo castelo me ajudasse.
Ando sem rumo pelos passadiços, seguindo por aquelas passagens tão familiares que ligavam cômodos conhecidos.
Em certo ponto, foi necessário que eu parasse ao perceber onde eu estava. Talvez meu subconsciente me trouxe até aqui sem que eu nem percebesse, já que quando sai, fui sem destino algum, mas acabei chegando cá.
A minha frente, uma majestosa biblioteca se encontrava, grandiosa e cheia de conhecimento e lembranças.
Abro lentamente aquelas portas gigantes, cuidadosa para que não fizesse muito barulho. Estava um breu, por isso pego algumas das velas que haviam no corredor para alumbrar o local.
Caminho até as diferentes galerias, cada seção dividida com precisão. O lugar já me era tão conhecido, que não tive dificuldade alguma em localizar a prateleira que desejava.
-Contos... mitos... – Vou lendo em alta voz pelas prateleiras que tem seus setores gravados em dourado na madeira velha. – Fantasia..., não,... contos de fadas, isso. – Sussurro ao encontrar a divisão procurada.
Já mencionei quando eu e meu pai ficávamos o dia inteiro aqui quando eu era mais novo. Líamos seu livro preferido, que passou a ser o meu durante toda a infância, "Os Três Mosqueteiros". Foi também quando decidi que seria uma guerreira. E quando criei as melhores reminiscências ao seu lado.
Procurei pela estante por pouco tempo aquele livro em específico que tanto me remetia à infância, e que tanto desejava ler agora. Finalmente o encontro.
Sento-me no chão gelado ao lado das velas que clareavam o ambiente e me permitiam ler.
Folheando o livro, lembro-me de tudo.
Algumas lágrimas solitárias acabam escapando, opto por não as repreender, deixando que escorram sem qualquer censura de minha parte. Às vezes, era preciso deixa-las fluir, as vezes era essa reprimenda que não me deixava seguir em frente.
-Olá? Tem alguém aqui...? – Uma voz masculina ressoa pela biblioteca fazendo com que eu me levante de súbito, assustada por quem quer que seja.
Mantenho-me em silencio, esperando que a pessoa se aproxime e eu possa ataca-la.
-Olá...? – A voz diz mais próxima. – É sério, quem está aí? – O garoto questiona mais uma vez, agora ainda mais perto.
Sustentei-me em estado de alerta, preparada caso precisasse atacar o sujeito.
Quando a pessoa virou o corredor, arfo pelo susto, mas quando vejo que parou a minha frente, sigo para ataca-lo.
-Grace...? Grace! Sou eu, sou eu! – O garoto fala e eu paro onde estou. – É o Samuel! – Diz mais uma vez e eu suspiro.
-Por Deus, Samuel! – Falo ofegante colocando a mão no cenho, levemente irritada pela situação. – Não me assuste assim novamente! Eu quase te ataquei, poderia tê-lo matado. – Aponto o perigo da situação.
Talvez eu esteja assustada com tudo, parando para pensar não tem muito o porquê de eu ter agido dessa forma, afinal, eu tenho poderes místicos, moro em um castelo protegido como nenhum outro e... e mesmo assim isso não tinha sido o suficiente para proteger meu pai e minha irmã, mesmo assim ele foi morto e ela sequestrada. É, talvez tenha feito sentido eu reagir assim.
-Ok, desculpe, eu não sabia que alguém no meio da noite também estaria aqui e ficaria tão assustada apenas com a minha voz. – Ele ironiza. – Além disso, o que está fazendo aqui? – Questiona.
-O que você está fazendo aqui? – Rebato.
-Estava sem sono, pensei que ler ajudaria, já vim aqui varias vezes na semana. – Explica – E dessa vez, quando cheguei, parecia ter mais alguém, eu escutei... você estava chorando? – Pergunta franzindo o cenho. Aparentava estar sinceramente preocupado com o que poderia estar acontecendo comigo.
-Talvez. – Respondo.
-Por quê? – Ele pergunta.
-Meu pai. – Respondo lembrando-me que ele esteva junto comigo quando recebi a noticia de sua morte e não adiantaria mentir ou inventar qualquer outra desculpa besta por eu estar como estou. – Sinto falta dele. – Sorrio minimamente para não demonstrar estar tão magoada quanto estava.
-Você gosta de "Os Três Mosqueteiros"? – Ele fala desviando o olhar para o livro em minha mão.
-Meu pai gostava. Ele sempre lia para mim, e eu acabei gostando.
-Eu também gostava. Quero dizer, gosto.
-Legal. – Falo um pouco sem reação e envergonhada por ele ter me visto chorando, de novo. – Samuel, acho que eu já vou. – Digo sem graça.
-Posso te acompanhar? – Diz atencioso e eu assinto, permitindo sua companhia. Entendo o porquê de ter sugerido, qualquer homem bem-educado teria feito mesmo.
Ficamos um tempo em silencio caminhando pelos corredores rumo ao meu quarto quando...
-Você está bem? – Samuel me pergunta parando no meio do caminho. – Quer dizer, eu não quero ser invasivo nem nada do tipo, mas você estava chorando e-.
-Estou bem sim, são só as lembranças que as vezes me fazem ficar assim. – Respondo com um meio sorriso, desejando que o assunto não se prolongue.
-Entendo. – Diz cabisbaixo. – Sei como isso é péssimo, e também sei que não tem muita coisa que eu possa fazer pra te ajudar, e nós não somos tão próximos, mas Grace, você é uma amiga incrível e é péssimo ver amigos desse jeito, se precisar de qualquer coisa é só me chamar, está bem? – Ele se dispõem e sorriu dócil para ele.
Desde a ilha, Samuel foi uma pessoa agradabilíssima comigo. Salvou minha vida, foi gentil, agiu com nobreza em mais de um momento, além de que se dispôs a ajudar-me sem nenhuma pretensão, foi, de fato, muito afável sua atitude.
Lembro-me que ainda guardo a lâmina que o mesmo havia me dado assim que nos conhecemos na competição.
Acho que seremos ótimos amigos daqui para frente.
-Obrigada. – Lhe dou um abraço sincero, querendo que ele saiba o quão feliz eu estava por suas palavras reconfortantes e seu apoio inesperado.
De repente, alguém pigarreia algo próximo a nós. Eu e Samuel nos assustamos com a aparição impremeditável da pessoa ainda não reconhecida por nós.
Me desfazendo do abraço de Samuel viro-me para o sujeito misterioso. Ao encontrar aqueles par de olhos azuis tão familiares e que sempre me trazem tanta seguridade. Sua feição não é muito boa e eu fico boquiaberta com sua presença súbita.
-Felix? – Questiono confusa e um tanto atônita por vê-lo ali.
-O que está acontecendo? – Ele pergunta em um tom que é uma mistura de confusão e... raiva?
-Nada. Ele estava me acompanhando até o corredor. – Respondo ao perceber que ele se refere ao que Samuel e eu estávamos fazendo ali, sozinhos, no meio da noite. – Boa noite, Samuel. – Digo abruptamente, tentando me despedir o mais rápido possível do garoto, ou melhor, dispensar-lo antes que algo acontecesse.
-Boa noite Grace, e... boa noite, Felix. – Ele fala intercalando o olhar entre Felix e eu, notando o clima estranho que havia se instaurado; logo, após um singelo aceno, seguiu seu rumo até seu quarto.
Quando ele some entre os corredores, ficamos somente eu e Felix. Não sei o que dizer a ele, porque sei o que Felix deve estar pensando, e também não sei o que Felix falará, por isso, apenas aguardo, é melhor que ele fale primeiro, e então eu diga o que realmente aconteceu, sei que compreenderá toda a situação quando eu lhe contar o momento como um todo.
-Poderia me explicar o que estava fazendo aqui, esse horário e com ele? – Felix me pergunta em tom indecifrável.
-Eu já falei, nada. – Respondo serena, não querendo discutir.
- "Nada" também pode ser muita coisa, sabia? – Replica cínico.
-Eu não estava conseguindo dormir, então fui ler algo na biblioteca, o encontrei lá, depois Samuel apenas se dispôs a me acompanhar, satisfeito? Há algum problema nisso? – Questiono incrédula, porém mansa, ainda não entendo o porquê de ele estar agindo dessa forma comigo.
-Sim.
-Qual?
-Vocês dois estarem juntos a esse horário da noite, sem a presença de mais alguém. – Responde.
-Por favor Felix, não está assim tão tarde e nós somos amigos. Ele ficou preocupado por eu estar sozinha, não que algo fosse acontecer, mas o ponto é: qualquer um faria isso. – Argumento ainda paciente. – Não vai me dizer que você está com ciúmes do Samuel?
-Não é ciúmes, Grace, eu só estava me preocupando com você.
-Samuel também estava se preocupando comigo. – Aponto e ele ri nasalmente, negando com a cabeça o que eu havia acabado de falar. – Olha eu não estou defendendo ele ou qualquer coisa do tipo, eu só não entendo por que você está tão irritado comigo. – Falo ríspida.
Samuel não tem interesse algum em mim. Ele mesmo me chamou de amiga há alguns segundos. É patético esse drama que Felix está fazendo. Eu nunca faria algo do tipo a ele, afinal, eu-.
-Eu acho sim que você está com ciúmes. – Falo interrompendo meus pensamento e sorrindo de canto ao ver toda a sua irritação, e talvez, só talvez, incitando mais ainda sua raiva.
Isso o irrita ainda mais, eu gosto disso...
-Grace, Samuel é insignificante para mim. – Diz em tom arrogante. Um tom que eu não escutava desde que nos conhecemos, quando ainda brigávamos e realmente nos odiávamos.
-Eu tô começando a achar que te odiei de novo.
-E eu vou fingir que não escutei isso. - O sorriso cínico.
-Quer saber? Eu não te devo nenhuma explicação, não faz sentido algum estarmos brigando. – Retruco.
-Pelo que eu saiba estamos noivos.
-Agora vai usar isso como desculpa? – Rio incrédula com sua infantilidade. – Você sempre soube que isso. – Aponto para nós dois. – Era pura política. – Algo em seu olhar muda, aquele nervoso em excesso parece ter se esvaído.
Talvez eu tenha pegado muito pesado...
Droga.
-Além do mais, o que você estava fazendo aqui, a esse horário? – Indago querendo preencher aquele silencio abominável que havia se instaurado, me abominando da mesma forma.
-Estava com dor de cabeça e fui pegar um remédio. – Explica como se fosse algo obvio demais para eu ainda não ter percebido.
-Não poderia pedir para alguém pegar para você? – Pergunto.
-Não gosto de ter que acordar os funcionários somente para pegar algo que eu mesmo posso pegar, principalmente quando todos deveriam estar dormindo. – Explicou petulante, referindo-se exatamente ao episódio.
-Entendo. – Disse indiferente a ele. – Agora, se me der licença... – Sorrio indiferente, passando por ele para seguir até o meu quarto, aquilo tudo já me deixou nervosa de mais, ainda mais que eu poderia dizer algo que no futuro, eu me sentisse arrependida, como eu já fiz, por isso, não continuaria aquela briga sem sentido.
-Por favor, Grace. – Ele me parou, segurando delicadamente o meu braço e forçando-me a olha-lo diretamente.
Detesto contatos visuais.
-Não faça mais isso. – Pede, dessa vez mais calmo.
-Felix, eu não fiz nada. – Falo deixando minha postura se esvair por poucos segundos, para então retoma-la. – Não entendi, não entendo, seu comportamento e achei ridículo, principalmente por não ter confiado em mim. – Falo claramente indignada com ele. – Mas essa foi a sua decisão.
Não sei o que tínhamos, mas tínhamos algo, e eu não sou uma pessoa desse tipo, não brinco com as pessoas. Felix insinuou sentir algo por mim, e eu também, não fingirei que isso não significou, e continua significando, algo para mim o tratando como mais um.
-Grace, eu não queria-. – Ele tenta voltar atrás.
-Não se preocupe, está tudo bem. – O corto seca. – Boa noite, Felix. – Completo já me soltando e seguindo para o meu quarto.
Droga. Droga. Droga.
Detesto discutir com as pessoas, especialmente se essa pessoa for alguém como Felix. Estou brava comigo mesma por ter dito o que disse, mas ao mesmo tempo, satisfeita, afinal, me entristeceu a sua falta de confiança em mim.
O escuto suspirando pesadamente, seus passos ecoados pelo chão de mármore enquanto vai ficando cada vez mais e mais distante à medida que nos afastamos um do outro.
Será que ele tem noção da ridicularidade do que falou para mim?
Imaginei que, ao ouvir minha história, acreditaria em mim, mas não, preferiu tirar suas próprias conclusões sobre algo que não aconteceu e jamais aconteceria, sem contar o fato de que ele não viu e não sabia o contexto da situação.
Me abomino por ter deixado isso acontecer, e me abomino mais ainda por ter deixado aquela briga patética decorrer por tanto tempo. Poderia simplesmente ter sugerido que conversássemos no dia seguinte, nós dois estaríamos mais calmos e teríamos sido muito mais civilizados, mas não, a emoção falou mais alto que a razão e eu retruquei igual uma criança insolente. Sei que estava certa, pelo menos a meu ver, eu estava. Não havia motivos para eu estar tão irritada comigo mesma, contudo, o problema era: eu já havia dito que não faria coisas do tipo, e o que aconteceu? Fiz exatamente o que tinha prometido não fazer. Fui tão infantil.
É constrangedor o fato de que eu não soube lidar com uma situação simples como essa.
Entro no quarto bruscamente, nervosa pelo o que acabou de acontecer.
-Como ele não vê isso? – Começo a falar em voz alta, comigo mesma agora, já no quarto. – Eu nunca teria algo com Samuel. – Assegurei para mim mesma. – Como ele pode não confiar em mim? Como ele pode pensar que eu ficaria com outra pessoa? Talvez ele ache que eu estou brincando com os sentimentos alheios? Será que ele não percebeu que eu-. – Tampo minha boca imediatamente ao constatar o que quase acabou de sair da minha boca.
Eu quase havia dito – e pensado – a mesma coisa anteriormente, mas tão rápido quanto se passou na minha mente, eu me esqueci, deixando de lado tal possibilidade absurda, mas agora, volto a pensa nela...
Ah não, não, não, não!
O que eu quase acabei de falar?
Será que...
Não! Não pode ser.
Não... eu...? Será?
Me encaro no espelho pensando repetidas vezes sobre o que acabou de se passar em minha mente.
-Eu... eu estou... apaixonada por Felix...? – Começo pausadamente, as palavras saindo pela minha boca sem que percebesse, a confusão estampada em meu rosto, o sentido do que acabei de dizer ainda não muito claro para mim.
Me encaro mais uma vez pelo espelho, finalmente entendendo o que está acontecendo.
Talvez... isso não fosse algo ruim, certo?
Oh céus...
-Eu estou apaixonada por Felix. – Afirmo assustada.
Meu deus...
Eu estou mesmo apaixonada por Felix Schulz...




Eu estou mesmo apaixonada por Felix Schulz

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