CAPÍTULO 55

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Em menos de trinta minutos desde a minha coroação, todos foram levados ao Grande Salão, onde uma bela e fabulosa festa ocorria. Não consegui conversar com ninguém desde a cerimonia, mas, como tradição, teríamos um baile em homenagem a nova rainha, no caso, eu, onde eu poderia ver todos até me cansar.
Enquanto todos já haviam se direcionado até o próximo evento, eu permaneci na Sala do Rei.
-Vossa majestade, a senhorita já será encaminhada até o Grande Salão. – Uma mulher me avisa.
-Ah sim. – Concordo desnorteada.
Ela me chamou de vossa majestade...
Agora será assim que todos me chamarão, isso é... estranho, mas bom.
Aposto que ainda vai levar um bom tempo para que eu me acostume com os novos tratamentos que receberei daqui para frente dentro do palácio, e fora.
-Filha. – Minha Mãe se aproxima de mim e me viro, desprovida de qualquer hesitação a mais velha.
-Mãe. – A abraço sem aviso prévio.
-Ah, minha querida, você conseguiu.
-Eu... eu consegui. – Sorrio com sua observação, ainda atônita tentando processar tudo o que aconteceu na ultima hora.
-Eu estou tão orgulhosa de você, meu bem, tão orgulhosa... – Lagrimas se acumulam nos cantos dos olhos de minha mãe.
-Mãe. Sem choro, lembra?
-Ah, que se dane. – Ela falou ignorando todas as regras de decoro que sempre se esforçou tanto para seguir à risca deixando-me boquiaberta. – Já borrei a maquiagem mesmo, agora não fará diferença. – Diz tocando em suas pálpebras onde havia rímel borrado.
-Mas e agora? Como vai ser? O que eu tenho que fazer? – Pergunto perdida com as minhas novas funções, com a minha nova vida.
-Não se preocupe, estou aqui justamente para te ajudar, meu amor. – Suspiro em alivio. – Bom, eles estão apenas organizando o caminho para você, e as pessoas na festa. Quando entrar, será sua primeira recepção como rainha, entende? É meio que algo especial. – Ela explica e eu assinto. – Você poderá participar do baile como uma pessoa comum. Só quero que se divirta. Além disso, sei que a coroa é maravilhosa, eu inclusive fiquei pasma com seu deslumbre, mas se quiser poderá tirar.
-Contando que irei dançar, acho que seguirei seu conselho. —Falei a ela.
-Sendo assim, não prefere tirar a capa do vestido também? – Ela sugere. – É uma calda longa demais para dançar.
-Tem razão. – Concordo.
-Chamarei sua nova secretária.
-Espera, secretária?
-Sim. – Diz como se fosse obvio, o que, claramente, para mim não era. – Você terá vários secretários, mas ela será pessoal, será quem organizará seus horários, sua rotina, seus compromissos, e tomará conta para você das coisas mais fúteis, coisas que rainhas não tem tempo de se preocupar, entende?
-Mas e Marli? – Questiono preocupada com a substituição de uma pessoa tão especial como a senhora que cuidou de mim toda a vida.
-Marli continuará sendo sua dama. – Ela explica.
-E quem é a minha secretária? Tipo, eu não poderia escolher ou algo do tipo? – Pergunto a minha mãe.
-Pode, mas já fiz isso para você. Acredito que gostará da moça. – Ela me garante já dando as costas e seguindo até essa secretária.
Quando volta, uma moça baixinha de cabelos e olhos escuros e pele clara como a neve, a acompanha.
-Filha, esta é Tiffany, sua secretária. – Ela me apresenta a moça.
-Majestade. – Ela diz reverenciando.
-Bom Tiffany, por favor, cuide para que guardem em segurança a coroa de minha filha em seus aposentos, e a capa do vestido também. – Minha pede simpática a moça, oferecendo-lhe um sorriso acolhedor.
-Sim, senhora. – Ela diz reverenciando mais uma voz para minha mãe e depois para mim, pegando tudo o que minha havia pedido e, chamando dois servos para acompanha-la.
-Gostei dela. – Disse ao vê-la se retirar.
-Eu te conheço Grace Fernsby. – Minha mãe fala em meio a uma piscadela. – Seu pai estaria tão feliz. – Diz aderindo um semblante mais sério, segurando minhas mãos e sorrindo minimamente.
-Eu consegui sentir ele. – Disse a ela.
-Ele estava olhando este momento, eu tenho certeza. – Ela sorri abertamente. – Mas agora vamos, é hora de festejar!
Sua alegria me contagia e instantaneamente sorrio como ela.
Seguimos lado a lado pelos corredores enquanto outros cinco seguranças nos seguiam mais atrás.
-Será sempre assim? – Pergunto a mais velha me referindo aos brutamontes que protegiam a coroa.
-Só em eventos importantes, no dia a dia será mais tranquilo, não se preocupe. – Ela me assegura. Assinto com a cabeça voltando a caminhar ao seu lado em silencio.
Mais uma vez eu caminhava por aqueles corredores familiares, dessa vez contudo, tinha um porém, eu era a rainha, a governante de tudo isso.
Cara, eu acho que a minha ficha nunca vai cair de verdade...
Rio nasalmente com tal pensamento.
-Bom, agora a deixarei. Terá que seguir por conta própria. – Minha mãe avisa fazendo-me parar no meio do caminho.
-Por quê? – Indago-a apressadamente.
-Porque agora você é a rainha e essa será a sua entrada triunfal. – Me diz em tom repreensor.
-Está bem. – Dou de ombros sabendo que com a minha mãe não se pode discutir, acho que nem conseguiria.
-Boa sorte, filha, estarei junto dos outros. – Ela fala por fim, deixando um beijo em minha bochecha e seguindo por outra entrada até o Grande Salão.
Ok, agora eu precisarei seguir sozinha, e está tudo bem com isso, não há problema algum, afinal, não preciso da ajuda da minha mãe para chegar até lá, eu só preciso andar, só isso, simplesmente andar, é algo relativamente fácil.
Inalo e exalo o ar puro mais uma vez antes de tomar coragem para continuar caminhando em direção ao Grande Salão, local onde todos me aguardavam, onde eu seria anunciada como a rainha Grace Fernsby de Southcost.
Pelas janelas é visível que o por do sol se foi dando lugar a uma noite estrelada e bela, perfeita para a ocasião tão especial e única.
Chegando na porta do salão, dois servos situaram-se na entrada, um de cada lado da porta de grande cumprimento.
Posiciono-me em frente a porta, assim como havia feito na minha cerimonia de coroação.
Todos aguardavam apenas o meu comando para que a minha apresentação começasse.
O meu comando.
Arrumo minha postura uma ultima vez antes de dar a ordem aos servos.
As portas outra vez se abriram para mim, revelando uma enorme escada, onde, abaixo, havia uma multidão de pessoas que aguardavam para me felicitar e parabenizar. Pessoas que eu nunca havia visto agora me encaravam. Bom, agora eu liderava todos.
-Apresentamos agora, sua majestade, Grace Fernsby rainha de Southcost! – Um serviçal anuncia levando a massa de pessoas a aplausos e assobios.
Eram rostos familiares e desconhecidos. Servos, amigos, família, aliados... agora eu os governo. As ordens saem da minha boca, ninguém pode mandar em mim. É surreal perceber isso.
E mesma a tantos olhares, mesmo em meio a tanto informação visual e pessoas, eu procuro somente uma.
É algo estupido, e eu nem havia percebido ter feito até encontrar o que procurava.
Me sinto patética, mas é o que dizem, não é mesmo? E agora, eu podia comprovar, nos tornamos completos tolos quando estamos apaixonados.
Aquelas íris azuis que eu tanto amava dão de encontro com os meus olhos verdes esmeralda, arrepiando-me e confortando-me, alegrando-me e incendiando tudo dentro mim; novas sensações e emoções sendo despertadas, tudo isso ao mesmo tempo. Tudo por causa de um mero olhar.
O olhar dele.
Sorrio minimamente sabendo que ele também me observa. Felix, como já era de se esperar, sorri de canto arqueando uma das sobrancelhas; reviro os olhos esquecendo que outras pessoas possivelmente me observavam.
Encerrando aquele momento, desço as enormes escadarias feitas de mármore, dando-me de encontro com os outros monarcas, políticos, e pessoas de relevância.
-Parabéns, majestade. – Um senhor me diz e eu sorrio em agradecimento.
-A senhorita será uma ótima governante. – Outra pessoa fala.
-Parabéns!
-Cerimonia linda.
-Como seu vestido é belo!
Pessoas me cercam, elogiando-me, parabenizando-me ou querendo simplesmente conversar com sua nova governanta.
Dessa vez, não me irrito, não me sinto sob pressão ou desejo que todos sumam. Dessa vez, me disponho a agradecer todos, a cumprimenta-los e permanecer naquele meio sem tentar fugir.
Na verdade, sentia saudade do ambiente caótico que os bailes proporcionam. O ultimo que eu havia participado foi quando recebi a noticia sobre a arena, e bom, não consegui aproveita-lo como deveria.
Minha mãe tem razão, eu me torno rainha apenas uma vez, e desfrutarei deste momento o máximo que posso, para que daqui a dez anos eu consiga me lembrar do quão maravilhosa minha coroação foi e em como eu não me arrependo de cada mínimo detalhe.
Começo a caminhar pelo salão enquanto mais e mais pessoas se aproximavam para me dirigir a palavra. Se ficasse muito tempo parada ali, não conseguiria conversar com todos os seiscentos convidados.
Acabo encontrando, em determinado momento, Alexia e Ben, que estevam junto dos demais de seu reino.
-Alexia, olá. – Digo me aproximando deles.
-Grace! Quer dizer. – Pigarreia embaraçada. – Majestade. – Ela se corrige em meia a uma delicada reverencia.
-Não, não precisa disso, nos conhecemos a tempo suficiente para que você me chame apenas de Grace, vocês dois. – Me viro a Ben também que parece um tanto surpreso por eu ter o mencionado dessa forma na conversa.
Não sei, sempre me simpatizei por ele desde o momento que nos conhecemos, estranhamente sinto que ele é alguém confiável.
-Sendo assim, meus parabéns Grace, foi incrível sua cerimonia, estava tudo tão... fabuloso. – Ela diz extasiada.
-Obrigada, Alexia. – Rio levemente com sua animação.
-Boa sorte, Grace, parabéns por tudo isso. – Ben diz sem graça, não conseguindo se expressar direito.
-Obrigada, Ben. – Agradeço-o genuinamente, fazendo o sorrir tímido.
-Uma foto, majestade. – Um jornalista chama e eu me viro para o mesmo sendo logo cegada por aquele feixe de luz claríssima do flash. Acabo me afastando de Alexia e Ben com a enorme quantidade de jornalistas e repórteres que se agrupam próximos a mim.
-Majestade. – Outra pessoa me chama e outra foto.
-Tem algo a dizer em como se sente com este momento? – O jornalista anterior pergunta.
-Sinceramente, fantástica. – Respondo sorrindo genuinamente e ele aproveita para tirar outra foto.
-Vossa majestade poderia saldar exclusivamente todos que estão a assistindo neste momento? – Uma voz familiar me pergunta e ao me vira, de novo, vejo Lilian e Gregory com seus microfone sendo seguido por um cameraman.
-Lilian, Gregory. – Digo surpresa por vê-los. – Ah... claro que sim. – Respondo à pergunta anterior. – Boa noite a todos que assistiram minha coroação. – Falei sem saber direito o que deveria dizer ao certo.
-Mas que incrível! – A câmera agora foca em Gregory que continua o programa ao vivo.
Vendo aquilo, continuo a seguir pelo Grande Salão.
-Foi só se tornar rainha que se esqueceu dos velhos amigos. – Uma voz feminina ressoa atrás de mim.
Viro-me e pura alegria percorre meu peito.
-Daph! – A abraço fortemente, e que é retribuído com a mesma intensidade.
-Majestade. – Ela brinca. – Uau... – Suspira com um sorriso orgulhoso. – Você se tornou mesmo rainha, eu... eu nem sei o que dizer. – Ela diz apertando minhas mãos.
-E você chorou a cerimonia inteira. – A relembro com um sorriso maroto.
-Ah, calada, eu sou sensível ok? – Me repreende revirando os olhos.
-Acredite, eu percebi. – Assegurei-a sem conseguir deixar de rir.
-Grace. – Não tenho tempo nem de ver quem era quando sinto alguém me abraçando.
-Claire. – Digo ao reconhece-la e conseguir retribuir o abraço.
-Estou tão orgulhosa de você! – Disse sorridente a mim.
-E eu ainda não consigo acreditar. – Rio nasalmente.
-Nem eu. – Ela me acompanha.
-Nossa mais nova rainha. – Alicia aparece fazendo um reverencia exagerada.
-Mera súdita. – Digo em tom arrogante a olhando de cima a baixo.
-Parece que o poder subiu a cabeça, tão nova... – Fingiu compadecer-se com lagrimas falsas.
-Meu Deus Alicia. – Rio de seu teatro.
-Falando sério, parabéns Grace. – Ela me abraça apertado.
-Obrigada, Alicia. – Complemento depois que ela se desvencilha de mim. – Obrigada a todas vocês por estarem aqui comigo. – Falo honestamente feliz por ter elas como minhas melhores amigas.
-Você está sendo afável demais conosco, isso é suspeito. – Minha prima diz arqueando as sobrancelhas.
-Não posso ser carinhosa uma vez que vocês acham estranho? – Indago-as.
-É bem por aí. – Claire responde simplista.
-Irmãzinha! – Meu irmão aparece colocando as mãos nos meus ombros, me assustando e interrompendo minha conversa com as meninas.
-Irmãozinho. – Enfatizo o jeito que ele me chama. – Sabe, é maravilhoso quando alguém chega por trás me assustando.
-Ah, que bom que gostou então, cortesia especial para você. – Ele diz sorrindo descaradamente. – Só vim te parabenizar, minha cara.
-Bom, muito obrigada, já sei quem vai ser o primeiro a estrear os calabouços. – Digo a ele cinicamente.
-Aposto que são agradabilíssimos. – Pisca para mim e apenas bufo revirando os olhos com sua prepotência no tom de voz.
-Meninas...– Peter aproxima-se, ficando ao lado de Daphne. – E menino. – Olha para o meu irmão que sorri falsamente para o mesmo.
-Peter. – Sorrio para ele.
-Bom, só vim lhes dizer para tomarmos cuidado, a Grace está no poder e ninguém mais está seguro. – Ele diz como se ignorasse a minha presença e avisasse apenas meu irmão e as meninas. – Sugiro motim. – Propõe em tom sério, como se fosse uma situação real.
-Sabe Peter, você leu meus pensamento. – Alicia declara. – Sempre quis participar de um motim, meu irmão. – Sua gêmea o apoia.
-Como vocês são bobos. – Somente rio deles. Sei que não perderiam a oportunidade de implicar comigo.
-Vamos Grace, vamos planejar nossa própria revolução enquanto eles brincam de rebeldes. – Daphne se põe ao meu lado entrelaçando os nossos braços.
-Por Deus, olha onde essa conversa chegou. – Claire constata sem conseguir segurar a risada.
-Espera, espera. – Daph disse exasperada cortando nós seis no mesmo instante.
-O quê? – Alicia questiona franzindo o cenho, sem entender a situação como qualquer um de nós.
-Reparem na música. – Ela diz seriamente.
-O quê é que tem? – Meu irmão pergunta.
-Não entenderam? – Ela nos indaga, porém todos permanecem em silencio. – É a hora da dança! Foi aberto o momento das danças! – Diz extasiada.
-Ah meu Deus, é sério que era isso? – Henry questiona-a indignada.
-Acha pouco? – Ela rebate.
-Para o drama que você fez, sim, acho bem pouco na verdade. – Diz sincero com o seu jeito petulante que ama usar como nossos irmãos para irrita-los, bom, quero dizer, com todo mundo, é... Henry ama implicar com todos.
-Bom, eu não acho, por isso... – Ela se vira para o namorado. – Nós iremos dançar, certo? – Ela diz em tom afirmativo, não como pergunta.
-Eu não sou louco de discordar. – Ele fala sorrindo como se estivesse indo por livre e espontânea vontade.
-Ninguém é, meu amigo. – Falei dando um tapinha nas costas dele.
-Vamos? – Ela o chama mais uma vez.
-É claro, querida. – Ele diz lhe estendendo o braço para que a guiasse até o centro do salão.
Os dois, apaixonados como nunca, mesmo com Peter atestando que odeia dançar —o que obviamente é mentira –, seguem juntos até o centro, onde a orquestra volta a tocar músicas apropriadas para a dança de salão.
Os dois dançam graciosamente, seus passos são leves e fluidos. A conexão é evidente e o contato visual entre eles não é quebrado em nenhum momento.
-Eu só estou viva para ver esses dois se casarem. – Alicia diz e, eu, Claire e meu irmão desatamos a rir.
-Por que não vai dançar? – Claire sugere a ela.
-Olha, acho que tem razão. – Ela fala ponderando a ideia. – Quer saber? Irei, cansei de ficar parada nos bailes. – Diz tomando uma atitude. – Henry? – Ela se volta ao meu irmão que apenas franzo o cenho confuso.
-O quê? – Ele questiona, devagar demais para entender.
-Vamos dançar. – Ela afirma, mas assim que o garoto tenta abrir a boca, ela o interrompe: – Ah, e antes que diga qualquer coisa, lembre-se: não estou perguntando. – Se apressa a lhe explicar.
-Parece que eu não tenho liberdade de expressão ou opinião. – Fala melodramático.
-Quando sou eu quem está pedindo, não. – Fala simples com um sorriso "ingênuo" estampado em sua bela face.
-Que seja. – Diz dando ombros, fingindo indiferença. Era mais que claro que desde que ela lhe pediu a primeira vez para dançar, ele já teria — já tinha — aceitado. Ele pode ser um mistério para os outros, mas não para mim.
Os dois saem juntos por onde Daphne e Peter haviam ido, seguindo até os demais casais que também dançavam.
-E esses dois? – Claire disse sugestiva a mim.
-Um tempo antes de irmos para a ilha, meu irmão me falou que estava gostando de alguém, e queria me ajuda para saber como falar com ela. – Lhe conto e a mesma parece confusa pela minha revelação repentina. – Acho que agora eu sei quem é ela. – Completo.
-Então acha... – A morena cogita.
-É exatamente o que eu acho. – Afirmo antes que ela complete seu pensamento.
-E ela? Como acha que ela se sente?
-Ela eu ainda não sei. – Respondo com sinceridade. – Alicia dispensou todos os pretendentes que apareceram para ela, bom, pelo menos até hoje. – Digo imaginando que talvez isso possa mudar daqui para frente, relembrando-me da última conversa que havíamos tido quando ela nos contou sobre se arrepender de ter dispensado todos que já se interessaram por ela. – Mas ela é imprevisível. —Replico. — Não sei se algo poderia rolar entre eles. Henry é mais novo, e ela desde sempre o viu como um grande amigo, um dos seus melhores amigos, até mesmo como um irmão mais novo.
-Ouch, essa doeu em mim, irmão mais novo? – Indagou com pena.
-Pois é... – Disse franzindo os lábios.
-Bem, há a probabilidade de ela não ser a "ela" de quem seu irmão falou. – Claire considera.
-É... pode ser. E se Alicia não sente o mesmo, eu espero mesmo que não seja ela. – Repliquei a reflexão de Claire.
Conversávamos animadamente sobre os casais que agora dançavam em sintonia com os demais quando alguém pigarrei atrás de nós duas, fazendo com que ambas nos virássemos imediatamente.
-Atrapalho as moças? – Ele pergunta se aproximando de nós, mãos para trás e feição ilegível, não fazia ideia do que ele planejava.
-Claro que não. – Claire responde por nós duas, olhando-me de relance e sorrindo maliciosa.
-Acho que vossa majestade me deve uma dança. – Felix diz sorrindo ladino, virando-se para mim enquanto seus olhos brilhantes me enfeitiçavam com sucesso.
-Ah, não creio que poderei no momento. – Disse seriamente, forçando uma expressão de tristeza, e o mesmo franze o cenho curioso. – Seria indelicadeza da minha parte deixar minha amiga sozinha sem nem um acompanhante no meio de um baile onde eu sou a anfitriã. – Explico fingindo falar sério.
Era obvio que eu aceitaria, eu já havia aceitado.
-Não seja por isso, procurarei Samuel para que dancemos e eu não fique sozinha. – Fala reverenciando e se virando para ir até Samuel.
Não consegui falar mais nada, já que, antes que Claire caminhasse para longe, a mesma me deu um leve empurrão fazendo com que eu ficasse cara a cara com Felix, que agora já segurava minha mão.
-Sendo assim, eu aceito. – Afirmo a ele após alguns segundo, fazendo uma reverencia por etiqueta.
-Não era uma pergunta.
-Mas eu respondi do mesmo jeito. – Retruquei e ele somente rio nasalmente.
-Vamos? – Inquiriu, impaciente para discutir ou rebater minha fala.
-Vamos. – Assinto e ele me guiou até o centro com os demais.
Consigo enxergar, mesmo que de relance, Daphne com Peter e Alicia com Henry; Claire, porém, conversava com Samuel, aposto que tentava o convencer de dançar com ela, o que imagino ser uma tarefa difícil.
Felix, com sua mão segurando na minha, direciona-me a sua frente, fazendo com que fiquemos mais próximos o possível. Sua mão envolve minha cintura, e a minha vai até o seu ombro, enquanto a outra segura em sua mãe livre, iniciando assim mais uma das muitas danças que já dançamos, e que, eu pelo menos espero, dançaremos juntos.
-Como estão indo suas primeiras horas como rainha? – Ele pergunta próximo ao meu ouvido, arrepiando levemente tal área.
-Muito difíceis, não tem ideia. – Digo comprimindo os lábios, dramatizando a situação.
-Eu nem posso imaginar, majestade. – Replica como se acreditasse. – Já se acostumou com todos te chamando de "majestade"?
-Ainda não. É estranho. Fui chamada a vida inteira de "alteza" ou "senhorita" e agora nunca mais me chamarão assim, será apenas "majestade" – Lhe conto. – Isso vai acontecer com você em pouco tempo. – Percebo.
-Daqui alguns meses. – Ele completa. – Nem parece que isso, digo, nós dois nos tornando monarcas, está realmente acontecendo. – Diz pensativo e eu concordo. – O mundo não está preparado para ter pessoas como nós no comando. – Ele caçoa e acabamos rindo.
-Definitivamente não estão. — Concordo ainda sorrindo abertamente.
Creio que não conseguirei parar de sorrir durante essa noite.
-Eu ainda não aceitei o fato de que sou rainha. – Falo repentinamente. – Tipo, sou uma rainha de verdade, esse dia chegou. E eu achava que não tinha mais esperanças disso acontecer.
-Então concorda que foi desnecessário todo o ódio que você jogou em mim por ter "roubado" sua coroa? Sem contar os choques, é claro. – Ironiza os episódios e eu reviro os olhos.
-Não diria desnecessário.
-Eu diria. – Apressa-se a comentar.
-Você também era insuportável comigo, merecia receber de volta. – Argumento.
-Quer dizer que agora gosta de mim? – Fala cínico com falsa inocência.
-Um pouco, ainda estou considerando te mandar de volta para Hallstatt.
-Mas você não faria isso. – Diz enquanto se aproxima mais ainda de mim.
-Ah é? E como pode ter tanta certeza príncipe Felix? O senhor acha que me conhece por algum acaso? – Falo franzindo o cenho e demonstrando grande indignação. E mesmo que eu detestasse admitir, Felix me conhecia, mais do que eu esperava deixar alguém que eu conheço a tão pouco tempo conhecer, e isso as vezes me assustava, fazia-me perceber que próxima a ele eu poderia estar vulnerável.
-Primeiro, eu sei que te conheço. – Ele afirma convicto. – Achar é para quem não tem certeza. – Arqueio ambas as sobrancelhas como se duvidasse do que dizia embora soubesse ser verdade. – E segundo, estou sempre certo. – Concluía segundos antes de me girar em sincronia com os demais casais que seguiam a coreografia que nos é ensinada desde pequenos.
-E o que o senhor quer dizer com isso? – Questiono após giramos mais uma vez com a batida da música, e agora, estar mais uma vez cara a cara com ele.
-Lembra-se de quando nos vimos pela primeira vez este ano?
-Sim, foi em um baile, eu estava querendo te matar e você só me irritava cada vez mais, principalmente depois que me beijou sem a minha permissão. – Enfatizo a fala lembrando-me perfeitamente daqueles dias onde eu tanto conversei com Alicia e, especialmente, com Daphne sobre como eu o odiava.
As vezes pagamos com a própria língua coisas que dizemos, e eu posso atestar isso, eu paguei ao sentir exatamente o que eu jurei não sentir por este homem.
-Muito específico, querida. É do tipo que guarda rancor? – Ele indaga sarcástico e eu apenas reviro os olhos. – Mas sim, neste dia. Lembra-se do que eu te disse depois que nos beijamos? – Pergunta em tom de naturalidade e, surpreendentemente, não ruborizo ao citar o acontecimento.
-Na verdade, não, estava ocupada de mais planejando a sua morte. – Respondo sorrindo descaradamente e agora é ele quem revira os olhos. – O que você havia dito? – Pergunto sem de fato conseguir recordar.
-Falei que a faria gostar de mim. – Responde com um sorriso maroto. – E eu estava certo. Ou seja, Felix Schulz tinha razão, mais uma vez. – Afirma em tom orgulhoso.
-E como pode provar tal feito? – Questiono fazendo-me de desentendida.
-Porque eu consegui, e muito, como sabemos. – Fala e é inevitável não corar com a sua última fala.
-Não acredito que no meio disso tudo acontecendo, você se lembrou apenas disso. – Sorrio deixando que uma leve gargalhada escapar.
-Oh, não, não, meu amor, não me lembro disso. – Sorri olhando diretamente em meus olhos. –Recordo-me de outras coisas, como o ultimo baile que tivemos quando você caiu em uma fonte. – Ele me relembra.
-Até hoje eu não entendo como me desiquilibrei daquela forma. – Digo desacreditada ao me lembrar de como me meti naquela situação.
-Mas pelo menos havia sido uma noite... agradável?
-Somente quando havíamos ido até os jardins, porque antes estava sendo uma catástrofe, pelo menos para mim.
-Foi quando nos contaram sobre a competição. – Ele fala com ternura, seu tom se tornando ligeiramente mais sério do que o anterior, que soava descontraído e brincalhão.
Mesmo já tendo passado um bom tempo desde que tudo isso aconteceu – a competição, a ilha – ainda é um assunto pesado e delicado, e que eu tenho tentado fugir desde que chegamos. Foram dias difíceis para todos enquanto estivemos lá. Até hoje eu tenho lapsos de memórias das pessoas que matei, do sangue que foi derramado pelas minhas próprias mãos.
Por um instante, essa memórias me atingem e meu sorriso despenca. Porém, o momento está tão maravilhoso e é um dia tão importante que não será isso que arruinará a noite.
Não deixarei que coisas bobas tirem o meu sossego e minha paz. Lutei e me esforcei de mais para conseguir relaxar e ter tranquilidade para que as perca em um piscar de olhos por um medo tão idiota.
-Mas não vamos pensar sobre isso. – Ele diz repentinamente quebrando a minha corrente de pensamentos e trazendo-me de volta a realidade.
-Tem razão. – Afirmo e continuamos com a dança.
Nos minutos seguintes, um silêncio reinou entre nós dois, não era um silêncio estranho, no qual ambos ficávamos desconfortáveis sem ter o que falar um pro outro, não... foi diferente, foi agradável, não precisávamos dizer algo, a companhia um do outro parecia bastar. E, embora eu não goste de ambiente muito silenciosos, aquele me fez sentir imperturbável. Era aquele tipo de momento em que parece existir apenas você e aquela pessoa. Agora, dançando no meio daquele salão em meio a tantas pessoas, era de se esperar que eu me sentisse sufocado, ou pelo menos percebesse o grande número de convidados que havíamos, mas não, eu me sentia livre, com um vasto e amplo espaço em aberto para mim, um espaço onde eu poderia inovar, criar, viver... e essa sensação jamais seria apagada das nossas mentes e corações. Eu via em seus olhos que sentia o mesmo. Eu simplesmente sabia. Era algo incorrigível, onde eu tenho total e absoluta certeza. Não era necessário perguntas ou gestos. Só precisava dos olhos. Eles diziam tudo. Eles são as janelas da alma, não? Durante o restante da festa, conversei, dancei, posei para fotos, dei pequenas falas à mídia e, notoriamente, cumprimentei pessoas e mais pessoas.
O baile se estendia cada vez mais com as pessoas que não paravam de comemorar e festejar a chegada da nova rainha.
Vinho e as mais primorosas iguarias foram servidas para os nobres e pessoas de grande renome.
Tudo do bom e do melhor foi usado nesta noite, tornando-a assim, um dia memorável. Posso afirmar que, pelo menos em minha memória, este dia ficaria eternamente guardado.
-Mãe. – A chamei ao conseguir encontra-la no meio de todo aquele mar de pessoas.
-Ah, filha. – Fala virando-se sorridente. – Precisa de algo?
-Só queria saber até que horas a celebração irá.
-Já passou da meia-noite? – Assinto a sua pergunta. – Então se quiser, pode ir em bora. Observando como nossos convidados estão, a festa se prolongará até de madrugada, e bom, eu particularmente já estou cansada, penso seriamente em ir me deitar.
-Sendo assim, acho que me retirarei, não será desrespeitoso algo do tipo, certo? – Certifico-me com ela uma ultima vez.
-Querida, você é a rainha, se quisesse poderia acabar com essa festa bem agora, eles entenderão. Além de que, a festa se extendeu até de mais, é totalmente compreensivo que pessoas vão em bora, já vi outros se retirando.
-Hum..., certo, eu acho que já vou então, pelo o que eu soube com Reynold, amanhã meu trabalho começa com tudo. – Lhe conto.
-Nem um dia de folga depois da coroação? – Minha mãe questiona surpresa.
-Nem um dia sequer, as coisas estão indo a todo vapor como já deve ter percebido. – Falo em um meio sorriso, ansiosa e otimista com tudo o que virá pela frente.
-Boa noite, meu bem, durma bem. E lembre-se que se precisar de ajuda estarei aqui. – Ela lança uma piscadela depois de depositar um singelo beijo em minha bochecha.
-Boa noite, mãe. – Retribuo abraçando-a.
Depois da conversa com minha mãe, segui pelos corredores que agora haviam soldados, prontos para me escoltar de volta ao meu quarto.
Acabei não conseguindo me despedir dos meus amigos. Vi que meu irmão conversava sobre algo animadamente com os gêmeos Abhram, e se não os conhecesse, poderia afirmar que Alicia estava bêbada, ela sempre fica extasiada de mais quando está com sono e em meio a pessoas que gosta. Preferi não interferir e deixar que se divirtam, amanhã poderei conversar com eles.
Não vi onde Claire e Daphne estavam, nem mesmo Samuel eu pude encontrar. Ou estão perdidos pelo salão, ou já se retiraram como eu estou fazendo, das duas opções, uma.
Sendo seguida pelos meus guardas particulares, direciono-me pelos corredores apressadamente a caminho dos meus aposentos.
A noite de hoje foi mágica, e acho que não tem nada melhor que ainda possa acontecer para melhorará. Não mudaria nada do que fiz. Não me arrependo de nada. Hoje foi o dia perfeito. Fazia tanto tempo que eu não me sentia dessa forma...
-Grace! – Uma voz me chama do outro lado do corredor. – Grace! – A pessoa diz ofegante aproximando-se de mim, provavelmente veio com urgência e, possivelmente, correndo.
-Claire? – Indago pasma por sua aparição repentina. – O que faz aqui? Aconteceu algo? Você está bem? – Pergunto já imaginando o pior da situação.
-Não, não. Não se preocupe. – Ela me assegura rapidamente. – Eu tenho um recado para você. – Diz o que me faz olha-la no mesmo instante.
-Um recado?
-Sim, aqui. – Ela me entrega o pequeno pedaço de pergaminho cortado.
Abro o ansiosamente, excessivamente curiosa para saber de quem era e sobre o que era. Quem me mandaria algo do tipo a esta hora?
"Encontre-me onde tudo começou. – F"
O bilhete dizia.
"F"?
Felix...
Onde tudo começou?
-Felix quem te entregou, não? – Suponho, ainda olhando para o bilhete.
-Foi. – A morena respondeu.
-Aonde que ele quer me encontrar? – Pergunto.
-No bilhete diz. – Ela responde sorrindo travessa.
-Vamos Claire, é só dizer, isso tornaria tudo bem mais fácil. – Insisto a minha amiga.
-Ele me fez prometer que não diria nada, e não vou dizer, assim é mais legal. – Morde o lábio inferior contente pela própria proeza.
-Nem uma dica?
-Onde tudo começou... o que primeiro começou entre vocês? Qual foi a primeira coisa que sentiu por ele? – Ela me induz a pensar.
-Bom, primeiramente foi ódio, eu o queria matar, mas isso foi em um baile, e eu acho que não é para lá que eu devo ir.
-Grace... como eu posso falar? – Diz consigo mesma tentando me ajudar, mas não dedurar onde Felix estava. – Qual foi a primeira coisa boa que surgiu entre vocês?
-Amizade. – Respondo lembrando-me exatamente de quando senti compaixão por ele na noite em que soubemos sobre a ilha, depois vi quão infantil eu estava sendo. A partir daquele momento eu quis ser sua amiga.
-E onde foi? - Ela pergunta.
Forço-me a recordar na onde que isso aconteceu exatamente.
-Nos jardins. – Digo estalando os dedos ao conseguir relembrar.
-Então acho que já tem sua resposta. – Ela sorriu comprimindo os lábios.
-Obrigada Claire, irei até ele. – Assinto para a mesma enquanto começo a caminha pelo caminho oposto e que me levaria até os jardins, não ao meu quarto.
Não demorou cinco segundos para que eu percebesse um pequeno empecilho.
-Guardas. – Digo me virando e vendo os três soldados que continuavam a me seguir. – Vocês podem se retirar. – Os instruo.
-Mas majestade, fomos-.
-Senhores, isso é uma ordem. – Digo usando pela primeira vez o meu poder citado pela minha mãe há alguns minutos atrás.
-Como quiser, majestade. – Eles falam em uníssono, reverenciando e então voltando pelo caminho que havíamos feito.
Uau... eles realmente me obedeceram.
Gostei disso...
Agora sozinha, volto a seguir pelas passagens até os jardins.
A luz da Lua e das estrelas transpassavam as janelas e, mesmo que as velas estivessem acesas, tais astros iluminavam mais ainda o meu caminho, como se, quase que de forma celestial, me mostrassem a passagem, abrindo o caminho especialmente para mim.
Meu coração palpitava em agitação.
Eu definitivamente não esperava algo assim de Felix. Desde que dançamos, imaginei que eu não o veria mais nessa noite. Mas parece que eu estava errada, eu não tinha ideia de que isso pudesse acontecer. Muito menos que seria ainda nesta noite.
E eu imaginando que a noite não tinha como ficar melhor...
É normal minhas mãos suarem tanto? Eu estar tão nervosa e achar que irei vomitar a qualquer instante?
-Te achei! – Alguém grita aparecendo na minha frente assim que cruzei com uma pilastra, já adentrando a área dos jardins.
Com o susto, projeto minhas mãos a minha frente, pronta para eletrocutar a pessoa desconhecida que estava diante de mim.
-Relaxa, priminha. – Uma voz feminina ressoa passando os braços pelo meu ombro.
-Por Deus, Daphne! Qual é o seu problema?! E se eu tivesse te eletrocutado? – Falo incrédula e irritada com ela.
-Aí eu teria me defendido, fica tranquila. – Ela responde com um sorriso descontraído.
-O que 'tá fazendo aqui? – Pergunto ainda nervosa pelo susto que havia acabado de me dar.
-Um certo loiro apaixonado me pediu ajuda para fazer uma surpresa para outra loira apaixonada. – Ela responde.
-E deixa eu adivinhar, ele te deu um bilhete? – Sugiro prevendo seu próximo passo.
-Na verdade sim, aqui. – Ela me entrega outro pedaço de pergaminho igual Claire.
"Onde formamos nossa parceria – F"
Parceria?
-Alguma dica? – Pergunto a minha prima.
-Onde formaram uma parceria. – Responde comprimindo os lábios como se estivesse esperando que eu perguntasse aquilo, para que ela respondesse o que acabou de dizer.
-Nossa, como você é engraçada, vou te nomear meu bobo da corte. – Satirizo da mesma. — Fala uma dica vai. — Peço novamente.
-Pensei que você gostasse de enigmas, charadas e tudo mais.
-Eu gosto, só que eu estou sem paciência agora, sabe?
-Grace, pensa, que parceria formaram? – Indaga, me incitando a pensar.
-Quando fomos para arena. – Respondo. – Mas foi no escritório do meu pai... no caso, agora meu.
-Mas foram lá que vocês decidiram? – Ela questiona mais uma vez.
-Não... nos avisaram sobre isso no escritório, mas quando decidimos foi... – Olho para o horizonte tentando me lembrar. – Foi no lago. Sim! Isso! Foi no lago. Eu havia o chamado para conversarmos, você até me viu o abraçando.
-Finalmente! – Diz como se eu tivesse demorado um século para perceber. – Agora vai logo pro lago. – Me apressa, empurrando para andar.
-Obrigada, Daph. – Falo olhando-a de relance já caminhando até o local.
-Vai logo. – Retribui emburrando-me levemente e eu apenas reviro os olhos, deixando que uma leve risada saia.
Seguindo por aquele caminho familiar que era iluminado por tochas, não demora muito para que eu chegue até a pequena ponte de pedra onde eu já havia passado tantas e tantas vezes.
-Felix! – O chamo depois de ultrapassa-la.
Seguro meu vestido para tentar caminhar pela grama.
Teria sido mais fácil se eu tivesse trocado de sapatos e roupa.
Observo comigo mesma, mentalmente anotando de me lembrar de fazer isso se estiver em situação parecida novamente.
-Felix? – O chamo mais uma vez, procurando-o em meio àquela escuridão.
-Estou aqui. – Ele responde surgindo do breu que nos cercava.
Essa área não era tão iluminada pelo fato de que pouco vem aqui, principalmente se for a esse horário.
-O que foi tudo isso? – Pergunto tentando conter um sorriso ao pensar no que havia planejado.
-Não posso fazer algo diferente?
-Claro que pode, eu inclusive gostei, e muito. – Lhe asseguro dando alguns passos em sua direção. – Mas tem algum motivo em especial? – Pergunto novamente, curiosa com a probabilidade de haver um porque para a surpresa.
-Na verdade, não. Bom, sim, mas também não. – O olhei com curiosidade, esperando que explicasse melhor o que queria dizer. – Hoje foi a sua coroação, merecia terminar o dia com chave de ouro. Além de que eu conversei com meu pai.
-Conversou com ele? Sobre o quê? – Pergunto rapidamente.
-Sobre o novo acordo. – Meus olhos arregalam.
-E o que ele disse? – Questiono ansiosa.
-Não precisei nem tentar convencê-lo. Assim que contei sobre a sua proposta ele concordou, na verdade, a achou bastante promissora e interessante. Parece que ele quer se aposentar.
-Meu Deus, isso é maravilhoso. – Digo extasiada ao ver quem isso estava resolvido. – Eu tenho todos os papeis do acordo em meu escritório, só precisará assinar.
-Amanhã mesmo eu assino. – Ele dispõem.
-Então, meio que é esse o motivo por termos vindo até aqui. – Constato.
-Talvez. – Ele da de ombros, seu sorriso carismático se abrindo para mim, e que era claramente visível, mesmo que o lugar estivesse mal iluminado.
-Devo lhe parabenizar, foi bem engenhoso. – Digo a ele me referindo a como ele me trouxe até aqui.
-Tenho os meu métodos. – Se gaba com um sorriso de canto.
-E por que esse lugar? – Indago-o caminhando até o banco de pedras onde já havíamos no sentado uma outra vez.
-Porque eu sei que gosta dele.
-Como?
-Na ultima vez que estivemos aqui foi a pedido seu, então supus que tinha algum valor para você essa parte dos jardins.
-E tem. – Concordo com o seu pensamento.
-Sabe, na ultima vez que estivemos aqui, a situação era tão diferente. – Ele observa refletindo.
-É até estranho relembrar daquilo, não acha? – Ele assente ainda em pé a minha frente.
-Sabia que aquele dia que você conseguiu me convencer de participar da competição, enquanto você falava, eu queria muito te beijar? – Ele me diz com naturalmente em tom de normalidade fazendo com que meus olhos arregalassem.
Felizmente, o ambiente é escuro o suficiente para que não possa ver minhas bochechas que esquentaram assim que ouvi o que disse, ruborizando ainda mais à medida que eu repassava suas palavras em minha mente.
-Meu Deus, você deve estar morrendo de vergonha. – Ele afirma rindo.
O olho indignada.
-Está rindo de mim?
-Você provavelmente está muito vermelha. – Ele assume.
-Não estou não. – Me defendo depressa.
-Só pelo tom que acabou de usar já sei que está. – Continua rindo.
-Como você é bobo. – Digo revirando os olhos.
-O bobo que você é apaixonada. – Ele sorri maroto e eu permaneço boquiaberta sem conseguir conter o sorriso que se formava.
-Sabe que não precisava ficar falando isso o tempo todo, não? É constrangedor. – Digo olhando para o outro lado sem conseguir encarar diretamente seus olhos neste momento onde tudo o que eu quero é me enfiar em um buraco.
-Mas eu quero, e não me importo se é ou não constrangedor. – Da de ombros como se fosse algo simples.
-E por que quer tanto? – Ouso perguntar, mordendo o canto da minha bochecha internamente.
Seus olhos brilhavam e o sorriso genuíno que antes estampava sua face se esvaiu dando lugar a um olhar profundo e cheio de novos significados.
O mesmo deu um passo a minha frente, aproximando-se mais de mim.
-Porque eu finalmente consegui te conquistar. – Ele diz sem duvida alguma. Minhas bochechas ruborizando mais do que eu imaginei ser possível, e é impossível não sorrir.
Mais um passo é dado, inclinando-se a minha frente, já que estou sentada e ele em pé, dessa vez, poucos centímetros nos separam.
-E agora eu posso falar isso aos quatro cantos da Terra. – Ele afirma.
Dessa vez, sou eu quem não me contenho, sou eu quem está maravilhada de mais com esse momento e não consigo me controlar. Dessa vez, sigo o que meu coração manda e calo a minha mente por pelos menos alguns segundos, deixando que a emoção tome conta de mim na minha próxima ação.
Segurando levemente no canto de seu pescoço, aproximo-o de mim. Felix não recua, não faz nada, espera calmamente que eu conclua o que quero fazer, deixando-me à vontade para tomar a atitude que pretendo.
Não duvidaria que ele estava louco para que eu tomasse alguma atitude.
Devagar e atenciosamente, o puxo para mais perto de mim, nossos lábios praticamente roçando um no outro, meus olhos já fechados enquanto estou prestes a agir.
Quando nossos lábios se encontraram, foi suave a macio, gracioso e intenso. Senti como se fosse a primeira vez, como se ainda fossemos estranhos um para o outro.
Desconhecidos que descobriram sentimentos em comum, e que agora os partilhavam como uma unidade.
-Você será a causa da minha insanidade, sabe disso não? – Felix diz ao nos separarmos, seus olhos cintilantes encontrando-se como os meus que brilhavam pela luz das estrelas.
-E você a minha salvação. – Replico em um sussurro praticamente inaudível, ficaria surpresa se ele tivesse conseguido ouvir, o que para minha surpresa aconteceu.
Como resposta ele sorriu comprimindo os lábios, suas mãos ainda em meu rosto, tocando meus cabelos, e arrepiando minha pele, seu olhar em minha alma.
Naquele momento, nada me faltava. Eu tinha tudo o que precisava e sempre quis. Eu o tinha tanto quanto ele me tinha.
Naquele momento, um mar de novas esperanças e sonhos se abriu para mim. Um campo vasto de imaginação percorrendo por toda a minha criatividade. Um destino lindo eu via em meu futuro. E lutaria para alcança-lo. Lutaria incansavelmente, não sozinha, não... eu teria pessoas ao meu lado, teria minha família, meus amigos, eu teria ele.
Naquele momento, tudo pareceu ser possível, e eu usufruiria o máximo que pudesse daquela sensação.
Me sentia completamente viva.




Me sentia completamente viva

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O Preço da CoroaWhere stories live. Discover now