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Os olho, ainda relutante, mas não deixo que meu nervosismo transpareço. Impassível permaneço. A ansiedade de suas reações me consome por completo antes que alguém seja o primeiro a dizer algo
-Vai funcionar. – Felix declara e um ar que nem percebi estar prendendo é solto.
-É brilhante! – Alexia é a segunda a anunciar, implicitamente, que está do meu lado.
-Por favor, explique mais uma vez, com maior riqueza de detalhes. – Jade pede com os braços cruzados e eu assinto.
-Há um lago no esconderijo deles, certo? Eu o citei para vocês quando descrevi o lugar onde se encontravam, lembram? – Não espero que eles respondam e continuo sem mais delongas. – Minhas habilidades se intensificam quando há uma espécie de... hum... amplificador! – Encontro a palavra. – A água é um deles.
-Eletricidade é conduzida pela água. – Ben murmura consigo mesmo, mas todos acabamos ouvindo. Seu olhar está longe, e é quase audível as engrenagens de seu cérebro trabalhando.
Aposto que ele já entendeu o que eu pretendo fazer.
-Exatamente. – Se assusta ao perceber que concordei com o que ele disse para si mesmo em baixo tom, bom, que ele achou dizer em baixo tom. – Se no momento que eu estiver na água e depositar a minha eletricidade nela, e os aliados de Northshire também estiverem nela, serão eletrocutados na hora, todo juntos. E mesmo se eu usasse umas das minha menores voltagens, já seria mortal colocada em grande quantidade.
-Tem certeza de que consegue? – Jade desconfia perguntando com tom de implicância.
-Tenho. - Afirmo, mas a mesma arqueia uma de suas sobrancelhas ainda incerta quanto a minha capacidade - Já o fiz antes. – Replico um tanto irritada pela duvida em minha capacidade.
-Se você diz... – Ela da de ombros ainda resistente.
-Talvez possa mesmo funcionar. – Claire declara.
-Concordo, mas temos que elaborar melhor tudo isso. – Samuel diz.
-É claro que temos, esse foi só o inicio de um plano no qual teremos algo forte o suficiente para eliminar todos eles de uma vez. – Falo. – Primeiro, precisaremos, de alguma forma, os atrair para a água.
-Isso é fácil. Durante a luta é termos a mentalidade de ir andando até a água. – Jane fala.
-E a de sair antes que Grace aja. – Ben completa. – Se não serão eletrocutados junto com eles.
-Grace, você precisará estar muito próxima deles para conseguir eletrocuta-los, enxergar o seu arredor, e não matar um de nós. – Jane avisa voltando-se para mim.
-Sei disso. Eu posso permanecer na água enquanto transfiro energia a ela. – Lhes digo tentando soar o mais convincente possível.
-E você não será eletrocutada junto deles? – Felix pergunta o que eu mais temia.
A verdade era que não, eu não tinha certeza alguma se seria ou não eletrocutada. E, embora sempre prezei a minha segurança pessoal, dessa vez será a minha vida por um reino. Ou seja, sem autopreservação, apenas farei o que tem de ser feito. As consequências virão, porém, apenas no momento saberemos se são negativas ou positivas. E mesmo assim, sabendo sobre tudo isso, tendo total consciência dessa incerteza e da minha possível morte ao me sacrificar, respondo:
-Claro que não. – Respondo sem vacilar, exatamente como eu precisava.
-Então pode mesmo dar certo. – Claire analisa.
-Podemos tentar. – Jade diz.
-Não iremos tentar, iremos o fazer, e, se não der certo, significa que falhamos e que nós morremos. – Felix fala sério e até eu me assusto com a sua fala.
-Então temos que ter certeza. – Samuel replica.
-Acham que vai dar certo? – Alexia questiona a todos.
-Sinceramente, eu acho que sim. – Claire diz decidida se pondo ao meu lado.
-Eu também. – Felix fala em seguida.
Alexia assente em concordância com um sorriso sem mostrar os dentes escapando pelos seus lábios.
Samuel também assente olhando diretamente para mim, que estava a sua frente.
-Para mim vai funcionar. – Ben me da apoio.
As gêmeas. Só faltam elas para que todos concordem e começamos a nos preparar, em todos os sentidos, para a nossa luta final.
Elas se entreolham. Estão hesitantes. Preocupadas se falharmos. Se não formos bons o suficiente para acabar com isso de uma vez.
Entende a preocupação das duas, mas sinto uma certeza imensa de que conseguiremos, e espero estar certa.
-Eu apoio. – Jane se manifesta e é impossível deixar de sorrir orgulhosa e satisfeita.
Jade suspira e olha relutante para a irmã, que retribui com um olhar encorajador e um aceno com a cabeça. Jade se volta para nós e suspira mais uma vez.
-Está bem! Pode ser. Vamos fazer isso. – Ela cede aliviando a todos. Seria um sério problema se um de nós se recusasse a seguir o plano, gerando consequências que nos levariam, até mesmo, a morte.
-Agora precisamos resolver todos os detalhes. – Alexia nos lembra.
-Metade de nós atacarão primeiro, e o resto estará escondido para a emboscada. Algum voluntario? – Felix inicia.
-Entraremos na frente. – Alexia se prontifica junto de Ben que assente em, mostrando concordar com o que a garota disse.
Tenho que assumir que fiquei sim um tanto preocupada com Alexia e Ben. Sei que são poderosos, mas não tem tanta experiência quanto quem enfrentarão. Charlie e Dorian são adultos, mais velhos até que eu, e treinaram a vida toda, o que significa mais tempo que Alexia e Ben que tem apenas 16 anos. Espero com todas as minhas forças que não se machuquem. Que saibam usar seus poderes com sabedoria e calcular seus movimentos com prudência, caso contrario, poderão correr grande risco. Dessa vez, terei que confiar neles.
-Nós também. – Jade toma a frente, o que eu não esperava, e a irmã sorri orgulhosa para a mesma. Fico um pouco mais confortada ao saber disso, Ben e Alexia com certeza terão ótima ajuda.
Não sei quais são as habilidades dos nossos inimigos, mas sejam quais forem, temos que estar preparados, para qualquer uma delas.
-Grace, Samuel, Claire e eu estaremos na emboscada então. – Felix diz objetivo.
-Certo, parece que já nos organizamos. – Samuel fala. – E quando realizaremos tal ato? – Ele pergunta.
-Amanhã. – Anuncio.
-Não acha que está muito cedo? – Felix pergunta se direcionando a mim.
-Não. Hoje terminaremos de ver todos os detalhes e treinaremos, temos bastante tempo. Amanhã pela manhã já poderemos iniciar o plano. Não quero perder tempo, e suponho que vocês também não. – Falo firme não querendo ser contrariada, no final, todos concordam.
-Creio que seria bom se dois ou três de nós fosse até o lugar onde eles estavam. – Ben fala aleatoriamente e antes que qualquer um pergunta eles continua... – Estamos contando com o fato de que eles continuam no mesmo lugar, mas e se não estiverem? Precisamos averiguar e ter certeza de tudo antes de agir. Como Felix falou, não iremos apenas tentar, iremos acabar com isso. – Explica seguro no tom, sua voz sai estável e profunda, e todos, entendemos que ele está completamente com a razão.
-Eu e Grace iremos. – Felix declara me olhando de soslaio e não faço nada, estava ótimo para mim ir com ele, gostaria de sair novamente dessa caverna.
-Melhor irem agora antes que fique tarde de mais, ainda temos que treinar. – Claire nos sugere.
-Terminaremos de organizar todos os detalhes e depois passaremos para vocês. – Jane nos garante.
Assentimos e seguimos para a saída da caverna.
-Mal posso acreditar que já acabaremos com tudo isso. – Felix fala após andar uma dúzia de passos.
-Após quase três semanas, uma guerra de mais de dez anos será finalmente resolvida. – Replico ao seu comentário anterior.
-E então voltaremos para casa. – Nos entreolhamos quando ele disse isso.
-Bom, é por aqui. – Quebro o contato visual e encaro o caminho a minha frente. – Não fica tão longe e acredito que não saíram de onde estavam. – Lhe falo.
-Assim esperamos.
Continuamos seguindo pela aquela imensa floresta. Novamente vi os variados tipo de vegetações, onde as copas, altar e diversas, se tocavam formando uma espécie de "teto" nos protegendo do sol escaldante que entrava pelas falhas entre o "teto" verde acima de nós.
O caminho não havia ficado mais fácil, porém, seguíamos com persistência até o nosso destino.
-Já estamos chegando. – Disse me relembrando da trilha seguida pela ultima vez. São em momentos como este que agradeço à minha memoria fotográfica.
Conforme prosseguíamos fazíamos cada vez menos barulhos até que nem um ruído sequer era emitido. O silencio pairava sobre nós. Não era necessário que avisássemos um ao outro que precisávamos nos manter quietos, era algo implícito e que ambos compreendíamos.
Começamos a escutar, mesmo que distante, uma voz, e então outras. Eram conversas.
Olhei imediatamente para Felix e o mesmo entendeu que eram os aliados de Northshire, ou seja, eles continuavam no mesmo lugar.
Fiz um sinal para Felix que devíamos nos aproximar mais um pouco com a intenção de que ele também conseguisse ver o local e poder pensar em estratégias assim como eu pude.
Ele acenou positivamente e juntos fomos andando, cautelosa e silenciosamente até ficarmos em um certo ponto que pudéssemos o ver. Escondidos pelas enormes plantas que cercavam a clareira, os observávamos com atenção, podendo escutar e ver tudo o que faziam.
-Quando eu acha aquelas inúteis de Southcost acabarei com cada um deles, um por um. – Dorian falou, sangue nos olhos.
Tive que me segurar para não rir, afinal, a situação estava totalmente invertida, éramos nós quem estavam a um passo de acabar com todos eles.
-Se acalme Dorian. Nossa vingança chegará. Annabeth e Chad podem ter sido mortos por aquela princesinha, mas nos vingaremos, eles não perdem por esperar. – Diz com uma voz serena que chega a me dar enjoo.
Annabeth e Chad devem ser aqueles que nos atacaram alguns dias atrás, quando nos encontramos com Alexia, Ben e as gêmeas.
Lembro-me de ter ficado triste pelo fato de ter os matado tão brutalmente, mas também me lembro de como eles tentaram nos matar e, enquanto morria, essa quem suponho ser Annabeth me jurou vingança.
O leve remorso que sentia rapidamente evaporou.
-Lembre-se irmão, quando nos encontrarmos com eles, eu mato a vadia de Southcost. Aí sim, ela terá o que merece... – Dorian alerta o irmão com uma risada, quase que uma gargalhada, escapando de sua boca asquerosa.
-E depois pegaremos os outros. Mataremos e torturaremos todos, uma por um, da forma mais dolorosa que houver. – O irmão falou maquiavélico, um sorriso de ladino estampado em sua cara.
Os outros quatro aliados apenas os observavam e riam da animação ao pensarem na morte.
Mordo o interior da boca nervosa e com vontade de ataca-los agora nesse mesmo instante.
Felix, percebendo minha irritação aperta de leve minha mão esquerda que estava ao seu lado.
Ele, com um gesto, indica que já deveríamos ir embora. Assinto e juntos seguimos mais uma vez em um tremendo silencio até nos afastarmos completamente deles. Quando Felix se dirige a mim:
-Está com medo? – Ele pergunta ainda olhando para a frente.
-O quê? Claro que não. – Respondo o olhando e depois voltando meu olhar ao caminho a minha frente.
-Grace, sabe que não tem problema algum sentir medo, não sabe? – Ele tenta me reconfortar.
-Acontece, Felix, que eu não estou com medo. É sério. – Lhe asseguro quando o mesmo arqueia uma das sobrancelhas. – Sinto mais ódio do que qualquer outra coisa, para ser sincera.
-Está bem, está bem. – Ele levanta as mãos em sinal de rendição. – É que eu pensei que com tudo o que fosse acontecer, e com o que acabamos de ouvir, você pudesse estar, mesmo que minimamente, assustada.
Suspiro antes de responder a primeira coisa que veio em minha mente.
-Obrigada pela preocupação, mas não, isso não me abalou, muito pelo contrario, me motivou mais ainda a ganhar logo essa guerra. – Repliquei confiante.
-Além disso, belo plano. – Sorriu de canto ainda olhando para frente, mas acabei vendo ao olha-lo pelo canto do olho.
-Obrigada, não vejo a hora de pô-lo em prática. – Sorri ladina e o mesmo riu de leve negando com a cabeça.
-Você não tem jeito mesmo.
-Só quero terminar com tudo isso. Acho que se ficássemos mais uma cena nessa maldita ilha enlouqueceria. – Ri da minha própria fala.
-Amanhã acabaremos com tudo isso. – Diz retoricamente. – Esperamos tanto, acho que conseguimos mais um dia. – Ele me olha com aqueles lindos olhos de esmeralda.
-Mais um dia e nada mais. – Falo esperançosa.
-E nada mais. – Ele repete, voltando a me olhar nos olhos.
Era possível ver ali uma cumplicidade, uma conexão de duas pessoas que sabiam o que estavam sentindo, que sabiam a importância de tudo aquilo, trabalhavam juntos e se ajudariam, não importa o que fosse.







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O Preço da CoroaOnde as histórias ganham vida. Descobre agora