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O barulho de arbustos se mexendo e galhos quebrando foi o bastante para que me fizessem acordar.
Abrindo os olhos lentamente, vi Claire, Samuel e Felix conversando ainda escorados no tronco.
-Grace? – Claire disse ao ver que eu não dormia mais. – Está acordada? – Questionou se aproximando e fazendo com que os dois rapazes se virassem em minha direção.
-Quanto tempo eu dormi? – Perguntei ainda sem me mover.
-Umas três, ou quatro horas. – Samuel respondeu no mesmo lugar.
-Como você se sente? – Claire perguntou ao se aproximar e se agachar ao meu lado.
-Estou bem. Muito bem mesmo. – Respondi sincera ao notar a melhora que sentia desde a ultima vez que estive acordada.
Era fato que ainda sentia a dor do corte, mas não como antes, agora era leve, como se tivesse apenas ralado o joelho.
-É melhor dar uma olhada, não acha, Claire? – Felix sugere e eu reviro os olhos. – Não faça essa cara, sabe que eu tenho razão. – Replicou após minhas nítida expressão de desgosto à sua sugestão.
-Ele tem razão mesmo, já estava indo sugerir o mesmo. – Claire concordou e a olhei incrédula.
-Está bem então. – Cedi aos dois sabendo que era o melhor a se fazer.
Se, para me curar o mais rápido possível, tivesse que fazer o que esses dois mandam, dessa vez, eu faria.
Claire, lenta e delicadamente, retirou as folhagens que cobriam minhas cintura e parte do meu quadril esquerdo.
-Uau, é por isso que eu amo a medicina. – Claire exclamou olhando de perto a ferida.
-Melhorou? – Perguntei esperançosa com um sorriso já formado.
-Sim, e muito. – Falou ainda sem tirar os olhos do ferimento. – Claro, você não consegue andar sem ajuda, e muito menos correr, mas o processo de cicatrização já começou, não está mais aquele vermelhidão, e o sangramento parou, o que são ótimos sinais. – Se aprontou a dizer antes que me deixasse muito animada para continuar o caminho.
-Então já podemos ir andando? – Pergunto arqueando uma das sobrancelhas sem conseguir deixar de sorrir pela minha melhora, algo que muito desejava.
-Se todos estiverem de acordo, podemos. – A mesma fala.
-Não acham melhor esperar até amanhã? A floresta está muito escura, talvez seja perigoso. E com a Grace assim tudo ficará mais difícil. – Samuel sugeriu preocupado.
-Não seja por isso. – Felix falou já acendendo uma labareda de fogo com uma das mãos. Instantaneamente, me lembrei de quando fomos acampar e ele precisou me ajudar para iluminar o caminho, como está fazendo agora.
-Vem Samuel, ajudaremos a Grace a se locomover. – Claire o chamou rapidamente ficando ao meu lado.
Os dois ajudaram a me levantar e cada um ficou de um lado para que eu me apoiasse e conseguíssemos andar, já que agora, um lado do meu corpo não poderia fazer movimento ou qualquer coisa que eu exigisse esforço.
-Se quiserem eu posso aju-. – Felix iria sugerir.
-Não, você precisa guiar o caminho. – Fui mais rápida e o cortei. – Podemos seguir? – Questionei tentando encerrar aquele assunto antes que discutíssemos mais, Felix assentiu e virou-se para frente, a fim de guiar-nos até onde Samuel e Claire haviam dito que poderia haver água.
Entendam, eu acho incrível sua atitude de me ajudar e proteger, mas sei que se ele me ajudasse nesse momento acabaria ficando cauteloso e preocupado demais, o que nos atrasaria mais do que eu, mesmo estando nesse estado.
Felix deve ter pensado o mesmo, já que não tentou argumentar. Ele sabia que tínhamos prioridades maiores no momento, e discutir não era uma delas.
Se não conseguíssemos encontrar água, tentaríamos um abrigo, talvez uma caverna ou algo do tipo. Assim poderíamos passar a noite tranquilamente e, no dia seguinte, continuarmos nossa busca por água.
Água.
Nunca pensei que sentiria falta desse líquido tão comum e que sempre esteve tão abundante em minha vida.
Fazia, aproximadamente, 18 horas que estávamos sem hidratação ou ingestão qualquer. Não demoraria para que os sintomas de desidratação começassem a aparecer. Primeiro bocas e peles secas. Então fraqueza e vertigem. Seguido de dores de cabeça e cansaço excessivo. Dependendo da falta de energia, podemos chegar até a alucinar. E bom, não ingerimos comida alguma até agora, corremos, e usamos nossas habilidades, que requerem grande parte da nossa força, ou seja, estamos a um palmo de entrarmos em colapso pela falta de água e comida.
A caminhada era exaustante e difícil, talvez não tanto para eles, mas para mim certamente estava sendo. Claro, eu não diria nada, isso só pioraria as coisas, e esse é o pior momento para ser egoísta pensando na própria dor, porém, não poderia negar que aquela não era uma das melhoras situações que eu já estive. Sim, queria parar, me recuperar e esperar que o machucado melhorasse, mas precisava pensar na minha circunstância atual, e, colocando minha vontade e o que que deve ser feito – encontrar, água, comida e abrigo – é bem melhor seguir com o combinado.
Minha perna do lado esquerdo, devido o machucado no quadril, não tinha tanta força quanto a do lado direito. Sentia o corte ardendo, pronto para se abrir novamente, pelo menos a facha de tecido colocada em volta da minha cintura me permitia ficar mais estável e dava a falsa sensação de que nada poderia chegar perto do meu ferimento. Claire estava de mal jeito ao meu lado, tentando me carregar e não cair ao mesmo tempo. Seu corpo pequeno não lhe ajudava no quesito ter que carregar alguém, seja quem fosse. Samuel, por outro lado, parecia nem fazer esforço. O mesmo era corpulento e alto, não mais que Felix, porém o suficiente para ultrapassar Claire e eu, o deixando em uma melhor posição para carregar alguém.
Claire e Samuel eram surpreendentemente parecidos fisicamente. Ambos continham traços latinos, ou orientais. Os traços bem marcados, cabelos castanhos beirando o preto e a pele bronzeada naturalmente, sem contar os olhos caramelos claros se misturando com o tom escuro de verde. Pareciam irmãos, ou até mesmo gêmeos, mesmo sem ter qualquer laço sanguíneo. Eu e Felix também não éramos tão diferentes. Ambos loiros, com a pele clara devido a região que vivemos, ele com seus olhos azuis gelo e eu com os verde sage. É, até que nos parecíamos.
-Quer parar? – Claire sugere sussurrando para que apenas eu ouça em tom de preocupação em relação a minha situação física.
-Não, eu estou bem. – Respondi forçando um sorriso que demostrasse serenidade.
-Ao contrário do que você deve achar, eu não sou cega e sei que está fazendo mais esforço do que deveria, e está sim cansada. Lembre-se que eu sou formada em enfermagem, consigo saber quando alguém está fingindo não doer. – Diz me deixando de olhos arregalados.
-Dói um pouco, mas posso aguentar. – Assegurei-a sendo honesta.
-Sei que pode, mas não atinja seu limite, ok? Ou piorará ao invés de melhorar.
-Pode deixar. – Sorri para ela comprimindo os lábios.
Assim continuamos nosso rumo em silencio mais uma vez.
A cada passo que dava, a dor parecia fazer um pouco mais parte de mim, já estava ficando acostumada a senti-la. Não sei se estava em um nível de exaustão tão grande que nada mais eu conseguia sentir, ou se realmente havia me acostumado com essa aflição. Pelo menos, estávamos progredindo.
Até que o que eu mais temia acontece.
Sinto um líquido escorrendo por toda a minha perna até chegar em meus pés e se encontrar com o chão coberto de folhas e terra. Olhei instantaneamente para o meu corte.
Não, não, não, não. Que droga!
Estava sangrando, novamente.
O tecido pendurado em minha cintura começava a ficar molhado, devido a todo o sangue que escorria de meu ferimento, agora, mais uma vez, aberto.
Justo no momento que estávamos ganhando ritmo e eu me acostumando ele precisava piorar.
Antes que eu tivesse a chance de racionalizar o que estava acontecendo, ou falar com algum deles, Samuel exclama:
-Estão ouvindo isso? – Questiona a ninguém em específico, mas fazendo com que todos parecem. O que eu agradeci devido a dor avassaladora que agora sentia.
Da última vez que ele pensou ter ouvido ou visto algo, foi um dupla. Torci mentalmente para que não fosse algo do tipo, era tudo o que menos precisávamos.
Ninguém declara nada. Eu por exemplo, realmente não escutava o que ele havia dito ter ouvido.
-Não escuto nada. – Claire respondeu, o que provavelmente eu e Felix também pensávamos, após alguns segundos da pergunta feita.
-Tem alguma correnteza de água por perto. É sério que não escutam? – Questionou mais uma vez, mas ninguém foi capaz de responder devido a sua primeira frase dita, a esperança de haver uma fonte de água deixou todos extasiadíssimos.
-Aonde? – Felix foi o primeiro a questionar.
-Um instante. – Ele disse pensando, então com um aceno pediu para que Felix me ajudasse.
Felix se posicionou ao meu lado como antes Samuel estava. Esperava que ele não percebesse o sangue que agora ensopava parte da minha calça. Não poderíamos parar agora. Eu juro que falaria para eles que o ferimento havia se aberto, mas com a oportunidade de encontrarmos água, não poderíamos parar.
Samuel, depois de me deixar com Felix, se agachou e apalpou a terra, a sentindo e observando. Fez isso por uns 30 segundos até que se levantou.
-Com certeza estamos perto de algo. A terra daqui é um pouco mais úmida devido aos lençóis freáticos que provavelmente existem embaixo dessa fonte de água. – Ele explica como um especialista. – Acho que é por aqui. – Agora é Samuel quem vai guiando o caminho com uma tocha criada por Felix para que não perdêssemos a visão do caminho.
Andávamos um pouco mais rápido, todos ansiosos pela possível água que haveria nesse local que Samuel está rastreando.
Alguns minutos se passaram quando eu também comecei a ouvir esse som de água correndo.
-Eu também ouço o som da água. – Disse me dirigindo a Samuel.
-Devemos estar perto. Não mais que cinco minutos para chegarmos até lá. – Ele garante fazendo com que um sorriso genuinamente feliz surgisse. Finalmente nos hidrataríamos.
Percebi, durante essa caminhada, que já estávamos com sinais de desidratação. Todos com as becas e a pele seca, isso já era nítido. Vi Claire se desiquilibrando mais de uma vez, não porque tropeçou ou coisa do tipo, mas sim por vertigem, um dos sintomas de desidratação. Eu estava tonta e com sérias dores de cabeça, porém, tenho certeza de que em parte, a maioria dos meus sintomas se dava devido ao ferimento que continuava a sangrar. Esperaria até que chegássemos na fonte de água para avisar Claire de que ele havia se aberto novamente.
-Estão ouvindo? – Samuel questionou animado pelo fato de que agora, aparentemente, já estávamos mais próximos da fonte de água.
O som de água corrente era alto e claro, todos escutavam.
Estávamos salvos.
-Ah meu Deus! – Claire exclamou ao nos depararmos com uma cachoeira.
O lugar, eu não poderia deixar de ressaltar, era belíssimo. Parecia de um conto de fadas. Como se não fosse real. Havia um lago, pelo visto de água doce, uma cachoeira caia sobre ele, exibindo água em abundância.
Meu coração palpitava de alegria. Virei-me para Felix que sorria igual a mim, então virei-me para Claire ao meu outro lado, a mesma estava igual a nós dois.
Parecíamos crianças que acabaram de ganhar o melhor doce de todos.
Uma agoniante dor me atingiu de repente. Minha feição de alegria se esvaiu. Minha visão ficou totalmente turva enquanto ela ia se perdendo em uma imenso mar de escuridão. Não os via, muito menos os ouvia. Meus sentido já haviam se esvaído e agora eu apenas me sentia caindo.
Caindo em algum lugar do mundo, ou talvez do espaço. Não sabia reconhecer o que havia acabado de acontecer.
Eu apenas apaguei, me desliguei.
A última coisa que me lembro foi de ver Felix, Claire e Samuel vindo ao meu socorro.







A última coisa que me lembro foi de ver Felix, Claire e Samuel vindo ao meu socorro

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