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Eu estava dormindo quando os meninos chegaram. Eu e Claire havíamos conversado por várias horas e acabamos cochilando enquanto os esperávamos. Ao adentrarei a gruta, acabamos acordando assustadas e com medo de ser alguma outra dupla cindo nos atacar, mas ao reconhece-los, relaxamos novamente.
-Por que demoraram tanto? – Claire se apressou a perguntar.
-Digamos que uma certa luta quase não acabou muito bem. – Samuel respondeu dando de ombros como se aquilo fosse insignificante.
-O quê aconteceu? – Perguntei apressadamente.
-Um da dupla tinha poderes de água, fiquei em desvantagem, Samuel quase que fez tudo sozinho. – Sorriu cumplice para o garoto que bebia água. – E o outro era da luz assim como Alicia. – Ele explica sentando-se perto de mim.
-Eu disse que deveria ter ido com os dois. – Claire fala um tanto irritada.
-Não precisava, demos conta. – Samuel lhe disse apoiando a mão em seu ombro.
-Mas quase morreram. – Exclama. – Imagina o que teria acontecido depois disso? – Claire observou.

-Quase. - Samuel ressaltou.


-Ela tem razão. – Concordo com ela me pondo ao seu lado na discussão. – É melhor vocês não lutarem até estarmos todos juntos novamente. – Sugeri aos dois que acabaram cedendo e assentindo.
Odiava ser quem nos atrasava. Queria muito, muito mesmo sair andando por aí, lutar e sair dessa maldita ilha. Mas sei que não vai adiantar nada eu me lamentar ou sair andando por aí para que comece a sangrar mais uma vez e termos que ficar parados por mais uma semana. Seria total imprudência e egoísmo da minha parte se fizesse isso. E é por isso que engulo o remorso e continuo ali, conversando com os meus amigos.
-Pelo menos conseguiram caçar algo? – Pergunto.
-Mas é claro, ou não me chamaria Felix Schulz. – O garoto diz ao meu lado o que me faz soltar uma risadinha em negação.
Os dois haviam trazido dois coelhos silvestres, obviamente mortos. Não demorou para que tudo ficasse pronto e pudéssemos nos alimentar.
Ao terminarmos de jantar fomos todos nos deitar.
-Eu fico de guarda hoje a noite. – Avisei a eles. – Eu já descansei de mais e estou disposta ainda, além de que alguém precisa ficar de olho, não? – Acrescentei antes que pudessem negar o meu pedido. Sei que todos estão bem mais cansados que eu, e realmente não sentia um pingo de sono.
Eles acabaram concordando o que me fez sorrir satisfeita. Cada um seguiu para uma parte da gruta, escorando em suas próprias mãos, tentando tornar o chão um pouco mais macio.
Com certeza não estávamos acostumados a dormir no chão duro de uma caverna no meio de uma ilha. Afinal, somos todos da realeza e nobres, sempre tivemos tudo o que queríamos, e do melhor que poderia ser arranjado. Era uma dura quebra de realidades. Porém, acho, não sei para os outros, mas para mim, que está sendo algo bom, não sei... nunca passamos por nenhum necessidade ou desaforo, e mesmo sem perceber podíamos ser mimados, algo que eu não gostaria de ser, por isso, essa situação está mudando a minha visão de diversas coisas e moldando o meu caráter mais um pouco. Pelo menos estou conseguindo encontrar algum ponto positivo em tudo isso, confesso que estava sendo – está sendo – bem difícil manter as esperanças intactas aqui dentro.
Todos já dormiam fazia quase duas horas, eu acho. O silencio reinava dentro da gruta, porém, mesmo em um som abafado, consigo escutar as criaturas do lado de fora da gruta, mas isso com certeza não me assusta, muito pelo contrário, está me acalmando. Uma canção melodiosa de pássaros ressoa do lado de fora.
Lembro-me subitamente de Ashley e a promessa que lhe fiz ao entregar-lhe o colar. Isso apenas me motiva cada vez mais a lutar, a ganhar. Meus pais ficaram tão feliz quando voltar. Meu irmão, as meninas, Peter. Marli e Reynold. Até mesmo meu tio, tenho me lembrado muito dele esses dias, no quesito estratégias para vencer essa... competição? Enfim. Tento me lembrar detalhadamente de todas as estratégias que já montamos juntos. Devo muito a ele por ter me ensinado tantas coisas, e, é claro, a todos os meus outros professores como meu pai e Reynold. Todos eles me ensinaram a arte da guerra, a de governa, a de liderar. E são por todas essas pessoas que voltarei sã e salva. Juntamente de todos os amigos que formei aqui.
Respiro fundo suspirando. Serão longos dias até estarmos em casa novamente.
-Grace, pode ir dormir. – Uma mão toca o meu ombro. – Deixa que eu fico de guarda. – Felix fala me fazendo assustar com a sua voz ecoando repentinamente.
-Felix? Você me assustou... – Disse aliviada com a mão no peito.
-Foi mal. – Sorriu cansado sentando-se ao meu lado e cruzando as pernas.
-Pode dormir, eu estou bem. – Lhe assegurei para que voltasse a descansar.
-Não consigo dormir. – Explica com um ar grave, como se fosse uma confissão.
-Não estava dormindo até agora? – Indaguei e ele acenou com a cabeça. – Por que não consegue? – Me arrisco ao perguntar.
-Sei lá, insônia talvez? Preocupação...? – Sugere dando de ombros.
-Também não consigo muito bem, e eu nem sei direito o porquê. Meus olhos simplesmente não se fecham, embora agora estivesse bem relaxada olhando para a água.
-Sei como é. – Ri nasalmente.
-Pode ficar acordado comigo, então. – Lhe disse, voltando meu olhar para o mesmo que se encontrava sentado ao meu lado.
-É estranho. – Ele solta inesperadamente após alguns minutos que estávamos ali, sentando lado a lado olhando para a cachoeira que despencava.
-O quê é estranho? – Pergunto o olhando rapidamente e então desviando.
-A gente aqui, lutando para sobreviver. – Ri sem humor. – Há dois meses atrás eu estava no meu palácio seguindo a minha vida normalmente. E agora? Olha onde estou. Caçando no meio de uma floresta por comida. – Fala em tom de incredulidade.
-Pode acreditar, também não esperava que minha vida tomaria esse rumo. Na verdade, achei que ela acabaria no dia que aquele cara me atacou no quadril. – Admito, rindo nasalmente da minha própria desgraça sendo acompanhada pelo garoto ao meu lado.
-Confesso que também achei que fosse morrer. – Ele admite e o olho boquiaberta. – Mas não podia te falar ou entraria em pânico.
-E agora eu estou aqui, viva, respirando. – Inalo um pouco do ar como se assim pudesse ter certeza de realmente estar viva.
-E eu cumpri minha promessa. – Diz me olhando de soslaio, o encaro com o cenho franzido. – Falei que não te deixaria morrer, e não deixei. – Me lembra.
-É, isso, de fato, é verdade. – Sou obrigada a concordar.
-Finalmente concordou comigo. – Rimos baixinho para não acordo os outros.
As horas foram se passando e eu e Felix continuávamos a conversar. E como eu já disse diversas vezes, Felix é uma das pessoas que mais me passa a sensação de segurança. Meus músculos foram relaxando e as preocupações passando. Quando me vi já estava caindo de sono. O barulho da água caindo apenas me deixava mais hipnotizada. Felix deve ter percebido já que passou um dos braços pelo meu ombro, aninhando-me ao seu peito e fazendo com que eu me sentisse mais confortável, e, devo admitir, estava funcionando. 

O Preço da CoroaWhere stories live. Discover now