CAPÍTULO 59

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Fui acordada por uma grande movimentação.
Por que todos sempre me acordam assim?
Para falar a verdade, eu sequer havia percebido que adormeci durante o voo. Era bem possível que eu estivesse cansada de mais para notar que meus olhos se fecharam e que em poucos minutos eu estivesse completamente apagada.
Ao abrir minha pálpebras, ainda ouvindo vozes altas e próximas a mim, dou de cara com as duas garotas.
-Meninas? O que... – Bocejo ainda sonolenta por ter acabado de acordar, literalmente. – O que vocês estão fazendo?
-Viu Alicia, eu disse que não era pra acorda-la. – Claire repreendeu a cacheada.
-Mas eu queria conversar com ela. – Ela se explica quase que em uma lamuria.
-Só que ela estava descansando, ou não viu?
-Eu vi, e foi você com o seu sermão que a fez acordar, não eu. – Alicia se defendeu.
-Mas eu só precisei dar o meu sermão porque você queria acorda-la e eu precisei tentar impedi-la.
-O que está acontecendo? – Questionei as interrompendo da suposta discussão.
-Queria conversar com você. – Alicia respondeu simples.
-E? – Indaguei sem entender o contexto.
-E Claire não queria que eu a acordasse porque disse que você estava muito cansada e deveria relaxar, mas aí eu vim do mesmo jeito, por isso ela começou a berrar comigo falando para eu não fazer, então, se quer alguém para culpar, culpe ela!
-Por Deus! Eu não berrei, eu argumentei calmamente como sempre faço. Era você quem-.
-Tá, agora eu já acordei. – Cortei Claire antes que as duas voltassem a discussão anterior.
Não imaginei que elas se dariam assim tão bem, mas parece que viraram grandes amigas. Sei que o episódio não contribui com o termo "amigas" mas acreditem, esse é o jeito mais nítido de se ver uma amizade., principalmente quando se trata dessas duas em específico.
-O que queria falar? – Perguntei direcionando-me à Alicia.
-Ah você sabe... falar sobre a sua vida amorosa que suspostamente "não existia" mas que agora parece bem real. – Ela respondeu como tivesse ensaiado.
-Era sobre isso? – Claire questionou a garota em exclamação.
-Olha, eu sei que o que você vai-. – Alicia começou seu discurso de defesa.
-Por que não me falou antes? – Claire a interrompeu. – Se eu soubesse não teria hesitado em acorda-la. – Completou fazendo com que a referida abrisse um sorriso malicioso que logo foi correspondido pela mesma.
-Eu fico preocupada quando vocês sorriem assim. – Digo levantando uma das sobrancelhas e as encarando com desconfiança.
-Não há o que temer, ok? Só queremos saber: Felix e Grace como um casal é real ou não? – Claire resume. – Duvido muito que não seja, principalmente depois daquele showzinho e a noite da sua coroação. – Apressa-se a dizer. – Porém, ainda assim, queremos ouvir da sua boca. – Completa.
-Pode ser que sim. – Respondo levemente constrangida.
Acho que já citei, mas repetirei: esse assunto – minha vida amorosa – é extremamente embaraçoso para mim, acho que jamais me sentirei 100% confortável para comentar.
-Oh céus! – Alicia exclama gesticulando em êxtase. – Quer dizer que agora não é mais só política? – Alicia assimila os fatos.
-Digamos que não.
-Eu disse que estavam apaixonados. – Claire relembrou, gabando por ter acertado.
-Não creio que naquela época eu estava. – Replico à morena.
-Pois eu acho que sim, apenas perceberam agora. – Ela opina.
-Bom, eu não sei, eu percebi alguns dias antes da coroação.
-Uau, então, tecnicamente, é recente. – Alicia constata.
-É. – Dou de ombros sem saber ao certo como responder a isso.
-É tão fofo. – Claire falou com seu sorriso dócil que mostrava suas covinhas.
-Grace está parecendo um pimentão. – A cacheada apontou. – Melhor parar Claire, antes que ela fique ainda mais corada. – Alicia zombou rindo da minha feição que se avermelhava cada vez mais e mais.
-Gente, olha! – Claire chamou nossa atenção ao apontar para a janela do avião, fazendo com que aquela conversa finalmente tivesse um fim.
-Chegamos. – Digo ao conseguir ver, mesmo do alto, alguns prédios e galpões.
-Alguém já veio aqui? – Alicia perguntou a nós duas.
-Eu era muito nova, não me lembro muito bem, mas sei que já. – Respondo a mesma.
-Eu nunca. – Claire falou o que era obvio já que a garota era de outro reino e não faria sentido algum ter vindo aqui.
-Bom, acredito que gostarão da base. Vim várias e várias vezes, conheço até alguns soldados. – Ela declara e continuamos no silencio constante, apenas observando a paisagem longínqua através da pequena janela.
Não demorou para que o piloto anunciasse que pousaríamos e que deveríamos estar corretamente posicionados em nosso assentos, os cintos afivelados e os bancos na posição vertical.
O pouso foi tranquilo e não houve qualquer outra complicação. Apenas aquela mesma demora de sempre que ocorreu, mas com isso já estávamos acostumados.
Pelas janelas do avião vimos um comboio se aproximando, era obvio que seguiriam todos os protocolos de segurança. Afinal, a rainha estava a bordo.
Um tanque. Eles tinha, literalmente, um tanque. Ok, concordo que é super necessária a proteção para com a monarquia, eles são ameaçados de morte todos os dias e tem mais inimigos do que se pode contar, mas um tanque? Já era exagero. Principalmente porque teríamos apenas uma curta trajetória até a maior base militar existente, além de que cinco dos passageiros era providos de habilidades sobre-humanas. Duvido que conseguiríamos nos defender muito bem com menos, relembrando também que fomos sobrevivente de um genocídio dentro de um casulo. Mas quem sou eu para julgar este excesso de proteção?
-É sério que tem um tanque? – Alicia questionou, retoricamente, enquanto se mantinha boquiaberta.
-Eles realmente querem te manter a salvo. – Claire comentou.
-Majestade? – Ouço uma voz próxima a nós e me viro para a pessoa. – Já organizamos tudo para escolta-la, juntamente dos outros nobres, até April. – Reynold anuncia em seu tom formal que costumava usar, especialmente, em público. – Podemos descer. – Avisa por fim.
-Certo. – Me levanto. – Suponho que levarão nossas malas...
-Sim, já estão sendo descarregadas.
-Bom, sendo assim, vamos. – Concluo caminhando pelo corredor do avião, logo atrás, meus amigos me seguiam até a saída.
No primeiro contato com o lado de fora, sinto um ar gelado penetrar sob minha pele, causando uma sensação estranha com o meu rosto e mãos quentes.
Uma escada parecidíssima como a qual subimos na aeronave foi posta e assim pudemos descer.
Soldados e mais soldados rodeavam o local. Todos muito bem armados. Armas de fogo pesadas. Parece que a situação era muito pior do que eu esperava. A linha de frente parecia abranger muitos mais perigos do o esperado. Talvez minha mãe estivesse certa com todos aqueles avisos e súplicas por cautela.
Troquei um olhar rápido com as minhas amigas que se posicionavam cada uma de um lado meu. Elas também estavam espantadas pela possibilidade de tudo estar, de fato, um caos.
Mesmo sendo meio-dia, o Sol não era visível e um clima de pós-chuva cercava todo o lugar. Nuvens negras e carregadas tampavam qualquer luz solar, e o chão que continha algumas possas de água revelava que havia chovido mais cedo. Parece que aqui o clima não está muito bom.
Fomos levados em direção aos carros militares que, uma vez postos em nossos devidos lugares, começaram a se dirigir até a base April. Todos enfileirados. A segurança máxima. Até demais. Eram pretos e blindados, o vidro era coberto por algum tipo de plástico preto, era impossível ver o lado de fora e vice-versa.
Reynold foi com Tiffany em um dos carros, Samuel e Claire em outro, e por fim, Alicia, eu e Felix sozinho em um outro. Aparentemente, era mais seguro se fossemos separados, caso houvesse algum possível ataque, o que, na minha perspectiva, era totalmente improvável, mas não irei atrapalhar o trabalho deles.
Foi um pesadelo ter de ficar naquele carro durante uma boa meia-hora ao lado de Alicia. Ela encarava Felix e eu toda hora. Com olhares sugestivos. E chegou até dar indiretas. Me cutucou mais de uma vez e não fazia questão de disfarçar suas brincadeirinhas.
Minha paciência começava a se esgotar e a mesma continuava com seu sorriso maroto e malicioso, pronta para mais provocações contra nós. Acho que até comecei a sentir claustrofobia.
Ao descermos a primeira coisa que fiz foi – obviamente – dar graças a Deus, não suportaria mais cinco minutos com Alicia me azucrinando.
-Um dia eu ainda vou te prender. – Sussurrei a ela ao descermos.
-Querida, viver comigo já é uma prisão. – Ela rebate em meio a uma piscadela e eu sou obrigada a revirar os olhos.
Virei-me para o meu outro lado vendo Felix bem ali, o mesmo apresentando uma feição interrogativa, possivelmente se perguntando o que tanto eu e Alicia cochichávamos, apenas dei de ombros e neguei com a cabeça como se dissesse que era algo estupido, o que não deixava de ser verdade.
A entrada, como já era de se esperar, possuía guardas em todo canto. Eles ficavam de cada lado formando uma fileira para a nossa recepção. Todos com uniformes pretos e cheios de armamentos, sem contar os coletes a prova de balas.
Todos sob o meu comando. Seguindo as minhas ordens.
Foi inevitável que um sorriso de canto cheio de orgulho não aparecesse com tal pensamento. Eu sou a rainha e todos me devem obediência. Essa sensação era tão boa.
Esperei minha vida toda por esse momento e ele finalmente chegou. Estou, ao mesmo tempo que preocupada com toda a situação que estamos passando, contente por ter realizado a maior façanha da minha vida.
Com o meu tradicional olhar impassível e frio que sempre precisei usar no meio da milícia e de todos os políticos, caminhei imponente por eles. Era nítido o poder no meu andar. Empunhando respeito e me mantendo onde sempre deveria estar.
Logo atrás, Felix e Alicia caminhavam com a mesma intensidade. Os dois exalavam tanta soberania quanto eu. Estavam realmente autoritários daquela forma. Ninguém ousaria sequer olhar em nossa direção. Consegui ver de relance um sorriso ladino e talvez um tanto maroto no rosto de Alicia, ela gostava disso, gostava dessa atenção.
Já Felix, ele parece ter se apossado mais uma vez daquele Felix intimidador que não seria desafiado em nenhuma circunstância. E eu, particularmente, gostava daquilo.
-Majestade. – Um tenente se curvou ao perceber minha presença do lado de dentro da base. Claire, Samuel, Reynold e Tiffany já haviam chego naquele minuto. – Por favor, me acompanhem. – Ele pediu esticando o braço para mostrar onde deveríamos ir.
Estávamos em um galpão, haviam muitos carros estacionados ali, tanques, carros militares blindados, tratores de artilharia, veículos de combate, e outros iguais aos que viemos. Suponho que aqui seja uma espécie de garagem para eles.
Seguimos o homem que nos levou até um elevador de tamanho bem maior do que os que estávamos acostumados.
-É por aqui. – Ele disse quando as portas se abriram.
Não sei o quanto descemos, mas adentramos bem fundo na terra. Agora, no subterrâneo, víamos a verdadeira base.
-Estamos a quantos metros abaixo da terra? – Claire pergunta tirando as palavras da minha boca.
-Uns vinte metros, temos alguns andares ainda mais abaixo da terra onde ficam nossos outros setores salas de treino, o hospital do quartel, refeitório entre outras coisas, em breve conhecerão tudo. – Ele explica a ela, que somente assente e continua a caminhar assim como o restante que também ouviram suas palavras.
O lugar era imenso, muito grande mesmo. Era coberto por ferro e metais, nenhuma janela para o lado exterior, não tão diferente do lugar que Felix e eu ficamos antes de sermos mandados até a ilha. E pensar que ainda havia muito mais coisa abaixo de nós, não é atoa que essa é a base do comando central do meu reino.
Havia um segundo andar mais acima de nós neste mesmo setor que era visível, uma pequena escada era o modo que seria usado para subir até lá, local onde algumas outras salas estavam presentes. Pareciam salas importantes e apostaria que entrarei lá algumas vezes.
Muitas pessoas andavam de um lado para o outro, homens e mulheres uniformizados eu serviam nossa pátria. Pela roupa, conseguia distinguir seus cargos; haviam cabos, outros coronéis e tenentes, soldados rasos e até alguns enfermeiros, a cruz vermelha os destacava um pouco mais. Alguns carregavam armas, outros pranchetas. Sempre apressados como se estivessem atrasados para algum compromisso.
-Arranjamos os melhores dormitórios para os senhores, ficam um andar abaixo de onde estamos. Todos os seus pertences já foram deixados em seus respectivos quartos. Se quiserem, os levarei até lá.
-Antes, eu gostaria de conversar com o coronel Weather. – Peço ao tenente.
-Claro, ele está na sala de estratégias, a levarei até ele. – Informa.
-Certo. Reynold, por favor me acompanhe. – Peço ao meu conselheiro.
Juntos, seguimos até a sala de estratégias citadas pelo tenente, enquanto isso, meus amigos eram encaminhados até o andar dos nossos dormitórios, mereciam um descanso após uma viagem cansativa, além de que, à noite, mais acontecimentos estariam por vir e precisariam estar dispostos.
Subimos aquela mesma escada que dava para o segundo andar e que havia me chamado a atenção minutos atrás. Sabia que era havia algo de importante nessas salas.
-É aqui, majestade. – O homem indica apontando para a porta à nossa frente.
-Obrigada, pode se retirar. – O dispenso.
O mesmo reverencia mais uma vez e segue escada abaixo, provavelmente para os seus afazeres de costume.
-O coronel Weather será meu novo general. – Aviso Reynold antes que entrássemos, era bem possível que eu o pegasse de surpresa.
-Ótima escolha. – Diz firme, porém pensativo, com certeza via os prós e contras dessa decisão.
Bati na porta e uma voz grossa e masculina ecoou dizendo "Entre!". E assim o fizemos, girei a maçaneta e segui, ao lado de Reynold, adentrando a sala.
-Coronel Weather? – Certifico-me de ser o homem que procuro.
-M-majestade? – Sua face empalideceu ao me ver. – Mil perdões, não sabia que era senhorita, e-eu... – Ele estava tão embaraçado.
O homem a minha frente devia possuir um metro e noventa, era realmente gigante, até mesmo comparado a Reynold. Era careca e corpulento. Mesmo que possuísse certa idade, demonstrava ser saudável e musculoso, ativo em todas as suas obrigações.
-Não se preocupe, coronel, eu não avisei que viria conversar com o senhor.
Nos mantemos em um silencio descontável, o mesmo estava nitidamente preocupado com o que minha visita se tratava.
-Vossa majestade deseja algo? Algum café, chá? Algo para comer? – Ele questiona rapidamente, claramente nervoso com a minha presença imprevista.
-Não, não é necessário senhor, estou bem. Só precisava conversar com o senhor. – Aviso-o para que se acalme, contudo, acho que o jeito que falei não foi o melhor, poderia jurar que o mesmo engoliu seco, mesmo que tentasse demonstrar calmaria.
A este ponto da minha vida, eu era quase uma expert em perceber o que as pessoas sentiam, e o que fingiam estar sentindo.
-Imagino que seja sobre a sua irmã. – Ele conclui já que um dos principais motivos por ter vindo aqui foi a busca por ela. – Eu, por conta própria, já comecei a reunir informações do tipo: imagens de satélite da área, e até mesmo dos dados de aviões e helicópteros de decolaram naquele dia. – Apressa-se a me dizer, o que me deixa ainda mais convicta com a minha escolha.
Pelo visto, havia sido o único que, mesmo sem ordens, começou a fazer o trabalho adiantado. Gosto de pessoas disciplinadas e esforçadas, e pelo o que vejo, e o que soube por minha mãe, este homem possui as duas qualidades.
-Sim, estou por isso, mas há outra coisa. – Ele ergueu uma das sobrancelhas em questionamento. – Estou aqui para nomeá-lo meu novo general. – A face do homem mais uma vez embranqueceu.
-General?
-Sim, senhor. Quero que seja meu novo general. Soube de quando trabalhou no palácio e da confiança que meu pai tinha em você. E pelo o que eu mesma pude observar, o senhor parece ser alguém ideal para este posto. – Lhe explico.
-É uma enorme honra, majestade. – Fala tênue com a informação que o pegou de surpresa.
-Iremos fazer uma pequena cerimonia esta noite para a sua nomeação, para que se torne algo público. – Lhe informo.
-Obrigado, majestade. Prometo que não irei desaponta-la. – Ele me garante curvando-se levemente em agradecimento.
-Eu espero mesmo. – Repliquei. – O senhor soube sobre o que aconteceu com o meu tio, o ultimo general? – Questiono.
-Ele se tornou um traidor. – Disse, a voz cheia de repulsa e decepção.
-E eu perdi totalmente a confiança nele. – Acrescento. – Meu pai confiava em você, e, honestamente, espero um dia confiar. Preciso de lealdade e pessoas confiáveis ao meu lado. – Digo sem qualquer emoção, visando que minhas palavras cravem em sua mente e não se esqueça. – Não minta para mim, não omita qualquer fato, eu quero saber tudo, quero honestidade, se ela machuca ou não isso não me importa, entende?
-Completamente, senhorita. – Ele afirma curvando a cabeça enquanto suas duas mãos permanecem atrás das costas.
-Se sequer pensar em trair sua nação, estará pedindo um destino pior do que a morte. – Falo autoritária, surpreendendo-me com as minhas próprias palavras, até mesmo Reynold me olhou de relance após ouvir o que eu disse. – E se souber sobre qualquer traidor em nosso meio, pode dar um fim a ele você mesmo, e depois me contate. Estamos entendidos?
-Claro, majestade. – Assentiu sem me olhar nos olhos.
-Ótimo. – Sorrio ingênua mais uma vez, até parecia que eu não tinha acabado de ameaçar alguém naquele mesmo instante.
Reynold me olhava um tanto chocado, mas havia um quê de orgulho por trás de toda aquela carranca.
-Prepararei as ultimas coisas pendentes para a sua nomeação. – Falei por fim. – Ah, e quero começar as buscar atrás da minha irmã assim que a cerimonia acabar, use todos os nossos recursos, qualquer coisa que estiver ao nosso alcance. – O aviso antes de me retirar.
-Como quiser, majestade. – Ele reverencia uma ultima vez antes de eu saia da sala acompanhada por Reynold.
-Alguém sabe sobre a nomeação?
-Não. – Respondo como se fosse algo simples.
-Foi o que eu imaginei. – Diz em tom de "Eu sabia". – Temos algumas coisas para resolver, não acha?
-Sugiro que comecemos imediatamente então. – Observo já seguindo até as escadas pelas quais viemos.                                 
São em momentos como esse que eu agradeço por ter uma ótima secretaria e um conselheiro prestativo.
Como já era de se esperar, o meu comunicado sobre a nomeação do novo general causou grande alvoroço, não demorou nem cinco minutos após o meu aviso para que todos saíssem organizando tudo.
Todos estavam agitados e correndo contra o relógio para fazerem um cerimonia o mais adequada possível, mesmo que fosse de improviso, afinal, era um pedido oficial da rainha, e ninguém ali ousaria desobedecer a uma ordem direta da coroa.
Passei praticamente a tarde toda tentando resolver toda essa parte burocrática de nomear um general, enquanto isso, Tiffany ajudava a preparar o local da cerimonia. Seu gosto era impecável e confiava completamente nela para tal tarefa, sabendo como a mesma é tão perfeccionista quanto eu, sei que organizará tudo da forma mais impecável existente.
Assim que consegui terminar tudo que era necessário, resolvi que seria melhor parar, não vou me estressar por algo eu deveria ser motivo se alegria. Agora, com um general, tudo ficaria bem mais fácil, mais um passo para a estabilização do meu reinado. No ultimo mês, eu e Reynold que tínhamos que resolver absolutamente tudo, lembram-se como fiquei exausta. Mesmo comigo ainda não sendo rainha, eu era a única no comando, por isso ficou sobre os meus ombros toda essa responsabilidade. Contudo, agora as coisas seriam diferentes, e isso seria um fardo a menos, bom, eu espero.
Ao descer um andar abaixo do que eu estava anteriormente, adentro o setor dos dormitórios, suponho que todos os aposentos deste quartel fiquem aqui.
Um dos soldados havia passado o numero do meu quarto e dos meus amigos, por sorte ficamos todos no mesmo corredor.
Ao passar pelo quarto de Alicia escuto duas vozes em meio a risadas.
-Meninas? – Abro a porta sem nem sequer bater.
-Grace! – Claire exclamou ao me ver na porta.
A mala de Alicia estava aberta sob a cama e Claire a ajudava arrumar suas coisas e a colocar no armário que havia ali.
O quarto era até que grande, parecia de um hotel comum. Tinha uma pequena mesa com três cadeiras, um sofá que devia caber somente duas pessoas, uma cama de casal com lençóis brancos e cobertores no mesmo tom, um armário no lado esquerdo e uma bancada não muito grande próxima a porta, além de um outra portinha que dava, eu presumo, ao banheiro.
-Se arrumem. – Aviso objetiva e as mesmas despojaram feições confusas e um tanto perdidas quanto a situação. – Teremos a nomeação do novo general. – Acrescento.
-Então era isso o que ficou fazendo até agora? – Alicia pergunta confirmando sua hipótese.
-Exatamente. Ajudei também com os preparativos, foi tudo de ultima hora. – Comento.
-Espera. Você meio que avisou toda base só agora, tipo, chegou do nada e falou "Olha tenho um novo general vamos nomeá-lo agora, arrumem tudo"? – Claire questionou assimilando os fatos.
-Foi bem isso. – Constatei franzindo os lábios.
-Caramba, isso é tão sua cara. – Alicia observa em tom zombeteiro.
-Vou levar como um elogio. – Replico. – De qualquer jeito. – Continuo. – A cerimonia será em uma hora se não me engano. Não será nada chique ou longo, só estejam com um traje formal. – As instruo.
-Como quiser, majestade. – Alicia diz com uma reverencia e eu jogo uma almofada que havia em uma espécie de poltrona, direto em sua direção. – Ouch. – Falou acariciando o braço como se aquilo realmente tivesse machucado, o que era completamente mentira.
-Já vou indo. – Digo por fim às duas, retirando-me do quarto, mas sendo seguida por Claire que também ia em direção aos seus aposentos.
-Até mais, Grace. – Ela acena antes de adentrar em seu dormitório.
Seguindo até minha alcova, noto que é igual a de Alicia, imagino, na verdade, que todas sejam.
Ao ligar as luzes, noto que minha mala, como haviam avisado, estava posta ao lado da minha cama. Sigo rapidamente até ela e a abro, já tirando minhas mudas e mais mudas de dentro dela. No pequeno armário haviam vários cabides, tratei logo de colocar minhas roupas neles.
Caminho até a portinha que pressupus ser o banheiro, e de fato era. Ele continha uma pia de tamanho médio, um vaso e um chuveiro dimensão ideal.
Liguei o chuveiro na água quente e peguei tudo o que precisaria para tomar banho.
Depois de despir-me, entrei naquela água quente o que, em contato com a minha pele, fez meu corpo descansar. Era tudo o que eu precisava. Um banho relaxante para que os meus músculos descontraíssem depois de tanta preocupação com a viagem, a nossa chegada e a cerimonia.
Confesso que tenho amado mais que tudo ser rainha, mas, também preciso admitir que é muito mais estressante e cansativo do que eu imaginava ser. Meu pai sempre fez parecer tão mais fácil.
Às vezes imagino se de fato não seria mais fácil se ele estivesse aqui. Talvez, o tendo ao meu lado, me aconselhando, me ajudando, me ensinando, eu conseguisse orquestrar e conciliar melhor tudo o que tenho que fazer.
Mas as coisas nem sempre são como queremos, e bom, minha vida tomou um rumo que eu jamais imaginei que tomaria, e mais de uma coisa não foi como eu queria, mas o que eu posso fazer agora? Nada, apenas aceitar, seguir em frente, e ser a líder que eu nasci para ser.
Não é hora para eu dar uma de emocionalmente abalada. Meus dias de adolescente assustada já acabaram sem que eu sequer me desce conta, e agora, eu preciso ser o que esperam de mim, não só por eles, mas por mim mesma também.
Então chega de drama, isso nunca combinou comigo mesmo.
Minha roupa estava estendida pela cama, e eu logo tratei de vesti-la, estava possivelmente atrasada já, além de que eu deveria ser uma das primeiras a chegar.
Foi até que bom eu ter ouvido Marli e trago alguns vestidos. Essa era definitivamente uma ocasião onde era mais adequado um traje do tipo.
Meu vestido azul marinho tinha um caimento ótimo. Não decidi abusar em acessórios ou qualquer outra coisa. A simplicidade sempre me encantou, ela tem sua própria elegância e, devo dizer, fica magnifica em qualquer situação.
Saindo do meu dormitório, segui sozinha até o elevador para chegar até o andar de cima onde tudo foi preparado.
A primeira pessoa que encontro é Tiffany que conversava com alguém, ela apontava para uma direção, provavelmente direcionando a pessoa a seguir suas ordens quanto a decoração da cerimonia, a pessoa segue até lá e faz o que eu suponho ter sido instruída a fazer pela minha secretaria.
-Tiffany. – Me aproximo da mesma.
-Majestade. – Ela reverencia. – O que achou? – Pergunta com um leve tom de ansiedade, ambas olhando na direção em que tudo estava preparado. V
Inúmeras cadeiras haviam sido postas de frente para um pequeno púlpito que foi decorado com algumas faixas em um tom de bege claro.
-Está ótimo. – Disse sincera a ela.
-Nossos recursos eram escassos, mas tentei fazer o melhor. – Ela explica a pouca decoração.
-E conseguiu. – Concordei sabendo como deveria ser difícil programar algo de tal importância em poucas horas.
-Grace. – Me viro com o som da voz que me chamava, ainda não reconhecida.
-Ah, oi Samuel. – Reconheço-o.
-Desculpa, estou interrompendo? – Pergunta, reparando em Tiffany ao meu lado pela primeira vez.
Olho para a mesma, buscando uma resposta, não sei se ela tinha algo a mais para me falar.
-Não interrompe, senhor. – Ela se apronta a dizer.
-Que bom. – Ele sorri simpático com o seu jeito extrovertido de sempre. – A propósito, não fomos apresentados, sou Samuel. – Ele estende a mão para ela.
-Tiffany. – A garota responde. – Muito prazer. – Acrescenta. – Bom, não vou atrapalha-los, os deixarei à vontade. – Curva-se sutilmente uma ultima vez antes de nos dar as costas. – Ah, quase me esqueci. – Ela da meia volta, posicionando a nossa frente mais uma vez. – Majestade, a senhorita terá que estar presente próxima ao púlpito ao lado dos demais principais coronéis na hora da cerimonia. E eu já organizei a fileira para a senhorita Daphne, para o senhor Samuel, para a princesa Claire e o príncipe Felix, seu noivo. – Ela conclui.
-Certo, obrigada. – Assinto para a minha secretaria que retribui e em seguida, vira-se novamente, dessa vez se retirando para terminar de organizar os últimos detalhes.
Seria um pequeno evento, mas com grande significado. Tudo deveria estar da melhor forma que conseguíssemos fazer, mesmo que fosse com recursos limitados e não tão adequados quanto esperávamos. Pelo lado bom, seria algo rápido onde não teríamos mais dores de cabeça do que já estávamos tendo.
-Acho que seguirei até o meu lugar então, parece que já vamos começar. – Samuel anuncia observando o lugar enquanto soldados e mais soldados chegavam e assumiam seus lugares, seja de destaque ou no meio do público.
-Ok, até mais. – Digo comprimindo os lábios em um sorriso.
-Boa sorte. – Sorri dócil e segue até a fileira que foi instruído a se sentar por Tiffany que, neste momento, estava a mil.
Ela tem sido uma das pessoas mais uteis e prestativas até agora, não sei o que faria sem ela em um momento como esse.
Mesmo eu tendo minha mãe, Reynold e outros conselheiros para me auxiliar, Tiffany é diferente, ela é como se fosse os meus olhos e os meus ouvidos nos lugares onde não posso estar por ser uma pessoa só. Os outros geralmente ficam ocupados de mais em seus próprios cargos e ofícios principais, não teriam tempo para fazer coisas como Tiffany faz. Ela de fato é uma benção.
-Ei. – Aquela voz familiar aparece ao meu lado.
-Oi... – Digo ao sentir sua presença.
-Está bem? – Pergunta para certificar-se.
-Estou. – Afirmo olhando-o de relance.
Uau. Ele estava belíssimo. Usava um simples traje formal, um que praticamente sempre usa em situações um pouco mais importante, mas sem o terno é claro. E mesmo assim, mesmo com uma roupa comum, ele parecia se destacar.
Droga, estou mesmo patética falando coisas do tipo. Eww, que ridículo.
-Está mesmo, hum?
-Juro que estou ótima, Felix. – Lhe garanto.
-Só queria ter certeza. – Explica. – Está tudo pronto? – Pergunta observando o nosso derredor.
-Sim, e começará em breve. Tiffany separou assentos especiais para os meus convidados. É bem ali, onde Samuel está. – Aponto com os olhos.
-Sendo assim, acho que já vou tomar o meu lugar. – Diz por fim.
-Ok então, até mais tarde. – Fito o mesmo mais uma vez.
-Até. – Ele segura levemente em minha cintura e deixa um beijo suave em minha bochecha deixando o lugar instantaneamente mais rosado que o normal.
-Majestade, a senhorita precisa se posicionar. – Tiffany surge repentinamente ao meu lado, sem querer assustando-me com sua presença inesperada.
-Ah sim, ali, certo? – Sugiro apontando para o lugar que imaginei ser o meu.
-Sim, senhorita, a cerimonia começa em dez minutos. – Diz por fim.
Caminho até o meu lugar acima do tablado. Reynold e outros dois oficiais se encontravam do lado esquerdo do púlpito, enquanto eu permanecia no direito.
Acenei ameno para o meu conselheiro que curvou sua cabeça tão discretamente que foi praticamente impercebível.
Consegui avistar, saindo pelo elevador, Alicia e Claire que, ao trocarem olhares comigo, gesticularam cumprimentos fazendo perceptível sua chegada. Somente sorri suave para as duas que caminhavam até Felix e Samuel.
Dali, via todos os presentes. Praticamente todos os acentos estavam tomados e mesmo assim, em média, uns trinta soldados ficaram em pé. Todos usavam seu uniforme formal. Basicamente era o seu uniforme, mas feito de forma mais elegante, todos com o mesmo estilo.
-Senhoras e senhores, tomem seus lugares, a cerimonia começará. – Reynold, que agora se encontrava no meio do tablado, anunciou a todos, o que causou um silencio imediato. – Todos sabem o porquê de estarmos aqui, então, não faremos uma introdução muito longa, nem temos tempo para isso. – Ele continua. – Nossa rainha, hoje, escolheu seu novo general, e estamos aqui para que seja pública e oficial tal declaração. – Conclui.
-Coronel Anthony Weather. – Um dos oficiais que estava ao lado de Reynold, chamou. – Suba até o púlpito. – Ordenou.
O mesmo, vestindo o terno tradicional oferecido aos soldados como parte do traje formal, seguiu pelo corredor formado pelas cadeiras que estavam de cada lado.
Sua entrada não foi como a que fizemos em minha coroação, não, foi objetiva e rápida. Entrou com passo firme, enxergando seu alvo e caminhou até o seu destino. Seria uma cerimonia mais pragmática, e não havíamos tempo para mais rodeios, além de que não faria sentido fazermos algo grandioso como um casamento.
A parte burocrática da passagem de cargo do meu tio para o coronel Weather, já havia sido realizada por mim durante a tarde, então, agora, somente uma cerimonia pública seria realizada.
Quando o homem chegou até nós, ajoelhou-se de costas para o público constituído pelos quatro nobres – meus amigos –, secretários e soldados de todos os escalões.
-O juramento será feito. – O oficial disse dando alguns passos para trás.
-O senhor jura solenemente colocar a sua nação em primeiro lugar? – O terceiro homem presente na plataforma, aproxima-se, é ele quem fará esta parte da cerimonia.
-Juro. – O – por não muito mais tempo – coronel Weather anuncia com ternura.
-O senhor está disposto a se sacrificar por sua pátria? – O oficial continua.
-Estou.
-O senhor jura obediência aos seus maiorais, e senso de dever com os seus soldados?
-Juro.
-Está ciente de que o senhor terá de obedecer à risca todas as leis, e, ao desobedecer, sofrerá as consequências?
-Estou. – Confirma mais uma vez.
-Majestade, faça as honras? – O oficial tornou-se para mim, dando me lugar de vez e voz para que oficializasse a nomeação.
Sorrio em resposta e sigo para o centro onde os últimos três se posicionaram em sua vezes.
-E com o poder concedido a mim, legitima rainha, eu o nomeio general de todas as tropas armadas de Southcost, dando-lhe poder máximo abaixo de mim para comandá-los e liderar nosso exercito. – Digo, encerrando o protocolo de designação de um novo cargo tão importante quanto o dele.
Ele se levanta, erguendo-se do chão, agora, não mais como o coronel Weather, e sim como o general de toda uma nação. Era uma grande honra.
-Anthony Weather, general de toda Southcost. – Exprimo a todas as testemunhas.
Uma onde de aplausos ressoou, até mesmo alguns assobios foram ouvidos, todos exultantes com o novo general, que prometia melhorias ao nosso sistema militar, e que eu seriamente esperava ser muito melhor que o ultimo.
Uma nova era neste reino havia se iniciado.
E era só o começo.

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O que acharam do penúltimo capítulo?? Nem acredito que já está tão no fim. Mal posso esperar para vocês lerem o último...
Bjssss, Sara
Aproveitem a leitura!!




Bjssss, SaraAproveitem a leitura!!

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O Preço da CoroaWhere stories live. Discover now