CAPÍTULO 45

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A manhã após minha entrevista foi produtiva e melhor do que eu esperava.
Assim como o prometido, fui para o treinamento, onde vi novamente meu irmão, Daphne, os gêmeos, Felix, além de todos os meus amigos da ilha, em síntese de que qualquer um que estivesse hospedado no palácio e tivesse quaisquer habilidades, poderia se juntar a nós e treinar.
Fiquei feliz por poder revê-los. Não deveria ter demorado tanto para voltar ao meu ritmo habitual. Nem eu consigo entender bem o porquê de eu ter feito o que fiz.
Talvez fosse pelo o que aconteceu. Não conseguia estar em qualquer parte desse palácio sem me lembrar dele, ou do que havia acontecido. Ainda era doloroso de mais, por isso me fechei e me tranquei naquele escritório com a desculpa de estar muito ocupada, sendo que a maior parte das minhas obrigações eram inúteis, eu mesma as fazia se tornarem algo muito maior, e desnecessário, somente para que eu me mantivesse distraída.
Sei que a dor e a tristeza não são desculpa para eu me isolar do mundo, afinal de contas, o restante da minha família sentiu tudo isso tanto quanto eu, e mesmo assim, não fizeram o que eu fiz.
Convenhamos que foi patético.
Mas agora já passou, e eu preciso enfrentar os meus medos e tudo o que tem me prendido. Voltarei a viver sem que nada me impeça.
Preciso focar, tirar todo o resto de minha mente. Tirarei tudo, a guerra, a coroa, a morte do meu pai, o sequestro da minha irmã, a traição do meu tio, a ilha, basicamente tudo, da minha mente.
Pararei de me mutilar com lembranças que apenas me fazem mal. Por pelo menos algumas horas terei que esquecer.
Nada disso foi minha culpa.
O que eu poderia ter feito? Absolutamente nada.
Não é como se eu fosse ignorar tudo o que tem acontecido, jamais conseguiria sequer esquecer, mas não posso – e não irei – me torturar dessa forma.
Já dei o primeiro passo para seguir em frente, agora não olharei para traz.
Continuando assim, eu só estragarei esse momento, o que com certeza não era o que meu pai quereria. Não deixarei que ele tenha morrido em vão, o honrarei seguindo com o seu legado.
Levantarei a coroa, assumirei o trono e vencerei essa maldita guerra de uma vez por todas.
Sou Grace Fernsby, futura rainha, sobrevivente de um massacre em uma ilha, que possui habilidades além da compreensão humana, e acima de tudo, alguém que não vai se deixar levar pelo medo.
Já disse quanto eu odeio sentir medo?
-Grace? Você veio! – Vejo Daphne animada assim que apareço na arena de treinos.
-Não perderia por nada. – Sorrio enquanto sou envolvida por seu abraço.
Como senti falta disso...
-Grace! – Vejo Claire e Alicia se aproximando.
-Meninas! – Digo já mais animada para o que me aguarda no dia de hoje.
-Você parece mais entusiasmada que o normal ou é impressão minha...? – Alicia questiona arqueando as sobrancelhas.
-É porque eu estou. – Falei sorrindo de canto.
-Então está tudo bem? – Claire certifica-se.
-Melhor impossível. – Respondo sorrindo abertamente para as três.
-Perfeito, hoje o treino será pesado. – Daphne fala comprimindo os lábios, uma feição cansada se formando só de pensar no esforço físico que seremos expostos por Reynold nessa manhã.
-Todos aqui!. – Reynold nos chama antes que possa falar qualquer coisa a mais para as meninas.
Nos juntamos próximos enquanto ele permanece em um tablado a nossa frente, se posicionando um pouco mais elevado que nós.
-Quero fazer uma rodada de duelos, sortearei os nomes e vocês lutarão entre si, quem for ganhando, luta com quem ganhou, e assim vai. – Ele começa explicando, sua postura era impassível, e nos olhava de forma desafiadora. Conhecendo as pessoas aqui presentes, poderia jurar que todos se sentiram intimidados. Quem não ficaria, não é mesmo?
-Então é uma competição? – Jade questiona.
-Em teoria. – Ele responde. – O intuito não é vencer, eu quero apenas observar os pontos fortes e fracos de vocês, ver com quais habilidades cada um se da bem e vice-versa. – Explica enquanto olha algo em sua prancheta. – Estamos em onze certo? – Ele confirma conosco.
-Doze, na verdade, senhor. – Alexia, mesmo tímida, responde por todos e ele volta a anotar algo em seu caderninho.
-Então a senhorita apareceu para o treino? – Uma vez ressoa atrás de mim, próxima ao meu ouvido, causando arrepios instantâneos.
-Falei que apareceria. – Respondi já sabendo de quem se tratava.
-Veio em um ótimo dia, como já deve ter percebido. – Ele diz, e mesmo não vendo seu rosto, consigo quase sentir o seu sorriso de canto crescendo. Um sorriso que ultimamente vem me deixando sem ar, algo que definitivamente não estava nos planos.
-Mais uma vitória para a minha lista. – Digo em um tom desafiador.
-Errada, Grace. – Ele se apressa a dizer. – Você se esqueceu que eu vou estar participando. – Ele explica no mesmo tom, dessa vez, me viro para ele, a incredulidade expressa em minha feição.
-Sugiro que não se gabe antes da vitória. – Aconselho cinicamente.
-Ah, você sabe o que vai acontecer, princesa. Eu ganho, você perde, enxerga que é algo rotineiro? – Diz convencido e eu o olho surpresa deixando uma risada nasal escapar.
-Felix, você é mais iludido do que eu imaginava. – Replico cruzando os braços.
-Bom, que vença o melhor, princesa. – Diz com um sorrisinho cínico que é retribuído por mim na mesma moeda.
-Vamos começar o sorteio. – Reynold anuncia, e após um ultimo olhar à Felix, me viro novamente para ver Reynold e o sorteio.
-A primeira dupla será... – Ele abre um dos papeizinhos que havia escrito e misturado junto com os outros. – Alicia! – Ele anuncia. – E... Ben! – Abre o outro papel.
Ben um tanto perdido, procura entre os demais Alicia, ela somente acena para que o mesmo consiga identifica-la.
-Continuando... – Reynold prosseguiu.
Jade e Daphne ficaram juntas; Samuel com Alexia; Henry com Claire; Felix e Jane, e por ultimo, eu e Peter
Duas duplas lutariam de cada vez, já que a arena era grande o suficiente para os quatro.
Confesso que estava ansiosa para essa manhã...
Os primeiros foram Ben contra Alicia, e Samuel contra Alexia. O resto de nós apenas os assistiria. O que, por incrível que pareça, foi muito divertido, mesmo que só ficássemos parados torcendo para os nossos favoritos.
Após uma longa e difícil luta, tínhamos os vitoriosos.
-Alicia e Alexia venceram. – Reynold anuncia.
Alexia estava radiante, aposto que ela não imaginava que venceria de Samuel, mas a entendo, Samuel é forte, mais velho e experiente, e tem grande maestria sobre sua habilidade, era de se esperar que ele vencesse, mas não, foi ela! Alexia tem um dom incrível, e com as pessoas certas a instruindo, conseguirá se tornar muito poderosa. Reynold por exemplo, tem dado a ela uma campo mais amplo e vasto de sabedoria e ensinamentos sobre suas próprias habilidades, o que claramente tem a ajudado, e muito. É nítido o quanto vem melhorando.
-Os próximos já podem se dirigir para a arena. – Nosso instrutor ordenou.
Henry iria contra Claire, e Jade contra Daphne, os quatro se dirigiram para o meio da arena. E mais uma vez tivemos um espetáculo
Todos eram muito habilidosos, e tinham ciência disso, usavam tudo o que podiam a seu favor. Era fascinante vê-los lutando. Eu por exemplo, gostava, principalmente, de encontrar seus erros e pontos fracos enquanto os observava, assim, não erraria e saberia exatamente o que usar contra eles.
A luta de Daphne e Jade foi um pouco mais longa do que a de Claire e Henry. Elas ficavam em um empasse toda hora. Ambas calculistas de mais para dar o primeiro passo e ter a chance de errar. Mas mesmo assim, minha querida prima foi a vencedora.
-Daphne, não se esqueça de manter seus braços um pouco mais rente ao corpo, e Jade, afaste mais as pernas quando estiver parada, isso vai lhe proporcionar mais movimento, agilidade e equilíbrio, está bem? – Reynold as instruiu assim que elas terminaram de lutar, da mesma forma como sempre fez comigo. – De qualquer jeito, Claire e Daphne venceram essa rodada. – Diz por fim. – Os próximos se dirijam para o centro da arena. – Fala anotando as vencedoras daquela rodada.
Levantei-me do meu assento e me direcionei até a o centro da arena onde lutaríamos.
-Esperei minha vida toda por isso. – Peter diz ao se preparar, ele seria minha dupla no momento.
-Da ultima vez que eu chequei, fui eu quem ganhei de você vez passada, se lembra? – Digo cínica, fingindo falsa ingenuidade.
-Aquele dia eu não estava bem preparado.
-Então agora você com sua carga total, superpreparado? – Pergunto sarcástica.
-Com total certeza. – Ele responde.
-Vou me lembrar disso quando vencer. – Digo o provocando.
-Tão engraçada, a esperança é a ultima que morre não? – Fala convencido de si mesmo já posicionado a minha frente.
-Claro. – Dou de ombros, indiferente.
Peter é definitivamente um irmão mais velho. Eu o trato, literalmente, da mesma forma que trato Henry, e bom, agora ele está com a minha prima, que é quase uma irmã para mim, ou seja, quando eles se casarem – porque irão – vai ser como se realmente fossemos irmãos.
-Estão prontos? – Reynold pergunta me tirando dos meus pensamentos.
-Nasci pronta. – Replico olhando diretamente para Peter.
-Para perder, certo? – Ele retruca e eu reviro os olhos.
-Quando quiserem. – Reynold diz com pouca paciência da nossa conversa e acabo rindo.
Antes que Peter possa sequer pensar o ataco com tudo.
Sei que pode parecer uma tática ruim, mas já a fiz e se mostrou bastante eficaz, na verdade.
Continuo a atacá-lo sem descanso. Peter consegue se esquivar, mas demonstra um semblante confuso e um tanto perdido quanto ao que está acontecendo. E era justamente essa a minha intenção, deixa-lo desnorteado o suficiente para se perdesse e eu ganhasse vantagem sobre o mesmo.
Com um rápido movimento, lhe dou uma rasteira, fazendo com que caia no chão e se desoriente por alguns segundos. Me aproximo com o intuito de eletrocuta-lo – levemente é claro – e vence-lo. Porém, não sai como o esperado.
Peter é mais rápido e se recupera antes que eu possa lançar minhas descargas elétricas sobre ele. Na verdade, acontece exatamente o contrario, ele lança uma rajada de água em mim, fazendo com que eu fique desnorteada, mudando completamente o rumo do meu plano. Tusso algumas vezes tentando me recuperar, e quando já estou pronta para contra-atacar, recebo outra rajada de água, não pela frente como eu esperava que fosse acontecer, mas vinda de cima.
É, Peter é de fato bom quando é motivado e quer vencer.
Nós dois nos encontramos em um estorvo após esse momento, ele não sabe se me ataca ou não, porque, uma vez recuperada, posso conduzir minha eletricidade através da água e faze-lo perder. Peter sabe disso, e está sendo cuidadoso com o seu próximo passo, sabendo que eu provavelmente faria isso.
Vendo que ele não fará nada se eu não fizer primeiro, decido agir. Lanço de surpresa uma corrente elétrica de baixa voltagem que passa de raspão pelo seu lado direito. E embora não tenha o acertado, fez com que ele tivesse que desviar. Foi justamente nesse ato que percebi que eu havia ganho, já que, ao desviar, perdeu o equilíbrio e caiu.
Agilmente, antes que consiga se levantar, eu me aproximo e toco em seu braço, deixando que a energia percorra todo o meu corpo e alcance Peter, dando lhe um leve choque para que não consiga reagir novamente. Fazendo com que assim eu vencesse.
-Grace e Felix venceram. – Reynold anuncia e então vejo que a luta de Felix contra Jane já havia se encerrado.
Olho para Peter que começa a se recuperar e, surpreendentemente, ele não está bravo, ou irritado, está sorrindo e rindo da situação.
-Por que você está sorrindo? – Questiono estendendo a mão para que se levantasse.
-Mandou bem. – Ele simplesmente diz assim que se levanta.
Estranho sua atitude, mas admito que foi nobre de sua parte.
-Obrigada. – Sorrio para ele.
Sigo ao seu lado para os assentos novamente onde todos estão reunidos.
-Grace, Felix, Daphne, Claire, Alexia e Alicia irão para a próxima fase. – Reynold anuncia. – Sortearei os nomes, por favor, aguardem. – Pede enquanto da as costas para nós e pega sua prancheta novamente.
Após alguns minutos de espera preenchidos por conversas alheias com os demais, Reynold torna-se para nós e diz quem irá contra quem.
Irei contra Alicia; Alexia contra Claire, e Felix contra Daphne.
Foi uma ótima decisão eu ter vindo a este treino, nunca me diverti treinando tanto quanto hoje, e pensar que talvez eu perderia isso para ficar enfurnada em um escritório.
Depois de tanto tempo lutando contra pessoas que, de fato, queriam me matar, acho que acabei pegando o jeito. Tanto que, contra Alicia, venci novamente. Não que não fosse difícil, porque era, e muito, mas eu venho ganhando técnica e precisão, além de estar ganhando um controle maior das minha habilidades, a situação no dia do funeral do meu pai envolvendo os jornalistas foi algo a parte, não irá se repetir novamente, o ponto é: estou progredindo e isso é uma excelente noticia.
Quando eu e Alicia terminamos, fomos assistir a luta de Daphne e Felix que ainda continuava com grande euforia.
Gelo e fogo combatiam entre si, cada um tentando provar ser o mais forte, e devo confessar, era difícil saber quem venceria ali. Ambos possuíam vantagens e desvantagens, e suas estratégias eram sublimes.
Vimos Claire e Alexia se aproximando. Claire continha uma bolsa de gelo na cabeça e parecia levemente abatida.
-E aí? Quem venceu? – Perguntei quando elas se sentaram próximas a nós.
-Alexia. – Claire respondeu segurando a bolsa de gelo.
-Foi mal pela pancada, de verdade, eu sinto muito. – Alexia disse realmente sentida pelo o que causou sem querer durante sua luta com Claire.
Não conseguimos conversar mais, pois cheia de euforia, Alexia se aproximava, chamando nossa atenção.
-Quem quer apostar? A luta está acirrada e eu quero ver quem consegue apostar no melhor. – Alicia sugere e eu me animo, assim como todos os presentes que pararam para prestar atenção no que dizia.
-Aposto cinco pratas na Daphne. – Peter declara.
Era mais que obvio que ele apostaria nela.
-Claro que apoiaria a namorada. – Alicia diz implicante e ele somente revira os olhos para a irmã. A esse ponto, todos já deveriam saber sobre o que rolava entre os dois. – Aposto cinco pratas na minha futura cunhada então. – Alicia diz e Peter a olha com cara feia.
-Aposto dez no Felix. – Claire diz.
Ela já o viu em ação mais de uma vez na ilha, sabe o quanto é poderoso, é completamente entendível sua opção de aposta.
-Estão apostando? – Jade se aproxima junto da irmã.
-Estamos. Eu e o meu querido irmão apostamos na Daphne. Claire no Felix. E a Grace... em quem vai apostar Grace? – Alicia pergunta virando para mim.
-Aposto cinco no Felix. – Respondo.
-Então acha que o noivinho vencerá? – Alicia pergunta provocante. – Quer nos dizer por que ou será invasão de privacidade ao casal?
-Sabe Peter, as vezes eu te venero por aguentar ela todos os dias na mesma casa por mais de vinte anos sem nunca ter tentando algo contra a vida dela. – Falo a ele que coloca a mão no peito fingindo entender sobre o que eu estou falando.
-Porque acha que ele vencerá, hein Grace? – Alicia pergunta sugestiva a mim, ainda insistindo na questão.
-Não contem para ele que eu disse isso, mas ele é um bom oponente, e tem mais experiência que Daphne. Além de ser um ótimo estrategista. – Respondo.
-Sim, mas a Daphne não fica atrás, e você sabe disso. – Alicia continua. – Vamos Grace, nos diga o real motivo por você torcer por ele. – Claire ri com a fala de Alicia.
-As vezes eu realmente me arrependo de ser sua amiga. – Falo cínica a Alicia.
-Sebe que não viveria sem mim. – Ela diz passando o braço pelo meu ombro.
-Muito pelo contrario querida, eu teria paz. – A corrijo retirando seu braço de mim.
-Pode negar o quanto quiser, meu amor. Sei que me ama, mesmo que no fundo. – Ela fala com um sorrisinho vitorioso e eu reviro os olhos, mas acabo deixando um sorriso transparecer.
De fato não viveria sem essas meninas, mas eu obviamente jamais admitira para qualquer uma delas.
-Parabéns aos dois. Sei que foi uma lua difícil. – Reynold diz e então todos voltamos nossa atenção ao centro da arena, onde os dois se localizavam, a luta já decorrida.
-Espera a luta já acabou? – Jane questionou um tanto impressionada.
-Ficamos tão entretidos na conversa que acabamos nos esquecendo deles. – Claire constatou.
-Quem venceu afinal? – Peter questionou por fim.
-Eu. – Felix responde com um sorriso ladino.
-Por um triz eu venço. – Daphne falou bufando enquanto se aproximava de nós.
-Não se preocupe, eu e meu irmão também achamos que você venceria, até apostamos em você. – Alicia fala tentando reconfortar a amiga
-Apostaram na nossa luta? – Felix pergunta indignado.
-Não está em questão no momento. – Claire responde.
-Por outro lado, certas pessoas preferiram apoiar o noivo. – Alicia literalmente me encarou ao falar.
-Apostou em mim? – Felix questiona com um sorriso malicioso e eu o fuzilo com o olhar para que pare.
-Como pode Grace?! – Daphne disse fingindo sentir grande ofensa.
-Em minha defesa, eu já consegui vencer de você, e o Felix já conseguiu vencer de mim, eu só juntei os fatos. – Explico na defensiva.
-Sei. – Disse me olhando de soslaio.
-Agora teremos a nossa final. – Reynold começa a falar, interrompendo nossa conversa paralela, a atenção indo novamente para o que ele dirá. – Alexia, Felix, Grace são os finalistas. – Ele declara e permanece em silencio, assim como todos nós. – O que estão esperando? Podem começar. – Diz após nós três termos permanecido imóveis.
-Mas lutaremos nós três ao mesmo tempo? – Alexia questionou confusa.
-Exatamente. – Reynold respondeu sorrindo, e, mesmo que ele não quisesse demonstrar, sabia que se divertia com situações assim.
-Acha que vai vencer, não acha Grace? – Felix me pergunta irônico enquanto nós três caminhamos para o centro da arena como fizemos nas ultimas rodadas.
-Achar é para quem não tem certeza. – Retruquei com um meio sorriso.
-Prometo pegar leve com você. – Ele me provoca.
-Bom, não é necessário, mas se insiste, não impedirei. Será apenas mais uma vantagem para mim. – Falei simples dando de ombros.
-Isso está meio nostálgico, não acha? Não se lembra de como foi o nosso primeiro treino juntos? Quanto você estava irritada porque eu tinha te beijado e mesmo assim acabei te vencendo. – Ele continua me provocando.
-Claro que eu me lembro. Espero que também se lembre do que eu fiz depois que você venceu. – Retruco me lembrando que eu o eletrocutei.
-Vai ser assim agora? – Indaga com um risada nasal e um sorriso maroto. – Pelo visto eu ainda consigo te deixar irritada. – Diz comum tom insuportavelmente irritante, seu rosto estampado com um sorriso arrogante que me deixou nos nervos.
Tento o máximo que posso não transparecer, não daria esse gostinho a ele, sou melhor que isso.
Quando nós três nos posicionamos, Reynold apenas assente, indicando que podíamos começar.
A primeira coisa que faço é lançar duas corrente elétricas, uma em cada um, já começando com energia a luta. Queria movimento, queria algo desafiador, e mesmo que eu tivesse que os atiçar para que isso acontecesse, faria com um imenso prazer.
Infelizmente, ambos conseguem desviar, mas meu objetivo é alcançado. A luta começa finalmente a se desenrolar, cheia de frenesi e dinâmica.
Alexia tenta prender Felix com sua raízes fortes e poderosas, mas antes que ela tenha controle sobre o garoto, ele queima sua raízes transformando-as em pequenos fragmentos. O mesmo sorrindo maquiavelicamente com o próprio feito, satisfeito por ter conseguido se livrar tão facilmente de sua oponente.
Enquanto os dois se distraiam lutando entre si, aproveito para me mobilizar, procurando um lugar estratégico para que eu pudesse os pegar de surpresa. Meu plano no momento era deixa-los lutando por tempo o suficiente para que não percebessem meu sumiço, e então, quando menos esperarem, os atacarei de súbito. Com sorte, um deles já será derrotado, restando somente um oponente contra mim, cada vez mais próxima da minha vitória iminente.
Percebo que, repentinamente, o ambiente se torna silencioso, nada além da minha própria respiração era ouvido. Eles provavelmente haviam percebido o meu sumiço, e neste momento procuravam me localizar. Seria agora a hora de agir.
Como o programado, consegui ficar atrás de Alexia. Felix estava mais distante, não conseguiria o acertar com precisão, já Alexia...
Confesso ter ficado com receio de acerta-la, gosto muito dela, mas eu estava lutando, e esse era um dos preços para a minha vitória neste dia.
No ápice daquele instante, lancei uma descarga elétrica em seus pés, feixes luminosos se aproximando da garota, e quando se deu conta, era tarde de mais, havia a acertado.
Minha intenção era derruba-la, e foi o que consegui fazer com sucesso.
-Alexia está fora. – Reynold anuncia ao ver a garota no chão se recuperando. – Restam apenas Grace e Felix. – Reynold prossegue como se narrasse os acontecimentos da "competição".
Me escondo de novo. Precisava pensar em um nova estratégia, e rápido, urgentemente, antes que fosse tarde de mais e Felix me encontrasse, acabando com qualquer chance de vantagem que eu poderia ter sobre ele.
Tinha poucas ideias, e muito menos tempo.
Olho ao meu redor. Só tenho os objetos do ambiente para usar ao meu favor. Tenho que me virar com o que tenho.
Temos hastes de ferro, bonecos de tiro ao alvo, alguns circuitos... não há muito o que eu possa usar.
Tenho que pensar no que é vantajoso para a minha habilidade. Se tivesse algo com água seria muito mais fácil. Mas eu preciso de algo diferente, e que conduza eletricidade.
Ferro! Metal! Isso!
É isso!
Materiais como ferro são capazes de conduzir minha eletricidade. E era exatamente isso o que eu precisava.
Uma das minhas melhores habilidades que envolvem o meu poder, é faze-lo se transcender por algo, ter condutor, como é o caso da água. Contudo, agora terei que mudar um pouco, e o ferro será o material essencial.
Só preciso que Felix esteja em contato com algo do tipo, como... as hastes. Perfeito.
Eu tenho um plano, e é muito bom.
Com tudo preparado em minha mente, decido que já está na hora de agir. Saio do meu esconderijo e procuro, primeiramente, Felix. Precisava saber seu paradeiro para então programar como chegaria até as hastes sem ser pega de supetão e acabar derrotada.
Ótimo.
Perfeito! Tudo o que eu mais queria aconteceu.
Agora ele também se escondeu para me pegar de surpresa. Isso não estava no meu plano, mas terei que me virar com o que me foi imposto.
Ando em direção as hastes. Felix provavelmente, a essa altura do campeonato, me observa e vai, obviamente, tentar me atacar a qualquer minuto, por isso estou alerta, olhos e ouvidos bem abertos, me preparando para qualquer ataque inesperado de um certo loiro irritante.
Estava chegando próxima as hastes quando uma bola de fogo passa adjacente a mim.
Me assusto recuando antes que me acerte logo me virando na direção que veio, vejo Felix vindo sentido a mim, enquanto já preparava para me atacar novamente. Sua feição era como se já tivesse certeza absoluta que venceria isso, o que inflamou mais ainda minha raiva por ele naquela hora.
Antes que ele seja capaz de dar outro golpe, lanço em seu rumo outro fluxo de carga elétrica, apenas para que se distraia e deixe-me livre, não me importava com essa luta boba, queria alcançar as hastes, não me distrairia com um simples luta corpo a corpo com ele.
Ao ver que ele presta atenção no meu ataque e é necessário que desvie, vejo, naquele momento, uma oportunidade para que eu avance mais um pouco, porém sou obrigada a parar novamente quando vejo que ele já se recuperou. Lanço mais uma corrente elétrica sem demora para que se mantenha ocupado enquanto eu ponho em pratica o meu plano. Espero que realmente funcione, caso contrario, ficarei sem opções e terei que improvisar.
-Quer fazer uma pausa para você recuperar o folego? – Ele sugere sarcástico enquanto me lança outra rajada de fogo.
-Não, você precisa? – Rebato lançando em seguida outro feixe luminoso.
Dessa vez eu conseguiria, dessa vez eu alcançaria as hastes, e completaria o meu plano, vencendo essa droga de uma vez por todas.
Aproveitando – mais uma vez – de seu momento de desatenção, sigo até as hastes sem nem sequer verificar se ele está ou não me seguindo ou tentando me atacar. Sei que foi tolice de minha parte arriscar-me tanto assim, mas já havia demorado de mais para chegar até aquelas hastes. No fim, acabo conseguindo pegar uma delas.
Pronto, meu objetivo principal foi alcançado, agora só falta Felix tocar nesta haste, e o derrubarei, terminando assim essa luta.
Preciso fazer que ele entre em contato com este metal. Seja por bem, seja por mal, conseguirei.
-Vamos Grace, pare de brincar, até parece que está fugindo de mim. – Felix diz com um leve toque de deboche quando nos aproximamos novamente. – Vamos, lutar de verdade. – Diz erguendo as duas mãos como dissesse "Vou pegar leve com você, não tenha medo de se aproximar", bom pra ele, porque eu... eu não iria pegar leve.
Minha estratégia que estava quase completa e ele não perdia por esperar.
Agora faltava pouco.
-Ei Felix. – Nosso olhar se encontra assim que o chamo. – Você quer lutar de verdade não é? – Ele se mantem impassível, seu olhar penetrante invadindo minha alma, como se lesse cada pensamento meu. Mantenho a postura e sorrio ladino. – Está bem então. – Dou de ombros olhando de soslaio para a haste antes de, por fim, lança-la em sua direção.
Felix, assim que viu o que vinha em sua direção, tratou de impedir o ataque. Conseguindo com agilidade segurar a haste antes que o acertasse.
O que ele não sabia era que, ao toca-la, entraria em contato com a minha eletricidade que havia sido posto sobre o metal assim que eu a segurei pela primeira vez.
E como eu esperava, ele caiu certinho na armadilha. Capturando a haste com um dos braços Felix pensou ter saído dessa, se livrado facilmente de mais uma das minhas investidas em derrota-lo.
Sua feição mudou completamente quando a energia chegou até ele. O mesmo caiu impactado pela eletricidade, não estava desacordado, apenas afetado pela pequena quantidade de energia que o fiz ser exposto, nada que causaria qualquer dano real ou permanente.
Aproximo-me de Felix, agachando-me ao seu lado.
-E aí? Como está? – Pergunto comprimindo os lábios para que uma risada não escapasse, o tom sarcástico claro em minha voz.
-Espertinha você, não? – Diz irônico ainda no chão se recuperando.
-Eu sou, não sou? – Retribuo o seu tom.
Fomos interrompidos por Reynold que se aproximou.
-Grace, a senhorita me surpreendeu dessa vez, não pensei que essa poderia ser sua estratégia. – Reynold falou intrigado, a mão em seu queixo repassando os meus movimentos. – Mas por outro lado, seu plano tinha muitas pontas soltas e poderia ter dado errado. Sugiro que se estiver em uma luta de verdade não use algo que tenha qualquer chance de falhar, está bem? – Ele me aconselha e eu assinto, me levantando do lado de Felix, orgulhosa pelo elogio do meu professor. – Felix, você também lutou bravamente e sei o quanto é astuto, mas sempre duvide do seu inimigo, no caso você achou que a estratégia da sua oponente era apenas lhe acertar com aquela haste, mas na verdade ela queria que você caísse nisso, ficasse em contato com a haste para que ela pudesse te eletrocutar, portanto, mais atenção nos passos do seu inimigo. – Adverte Felix que também assente, ainda sentado no chão. – E a todos que participaram quero dizer que foram bem. Todos, sem exceção tem algo para melhorar. Pude observa-los e ver suas forças ou fraquezas, nos próximos treinamentos exploraremos ambos em cada um. – Avisa se voltando para o resto dos jovens que se encontravam um pouco mais distantes de mim e de Felix. – Bom, estão dispensado. Tivemos uma aula produtiva. Já foi o suficiente por hoje. – Diz fazendo um gesto com as mãos para que pudéssemos ir em bora.
-Vamos. – Falo estendendo a mão à Felix.
-Acho que vou ficar aqui mais um pouco. – Ele fala suspirando.
-Vamos logo Felix, nem foi tão forte assim. – Digo o apressando.
-Como é chata. – Diz revirando os olhos e se levantando em um pulo.
-Até mais, Felix. – Replico somente, já dando as costas para o mesmo.
Sigo até os outros que estavam mais a frente.
-Ei, Alexia. – A chamei assim que terminou de conversar com as gêmeas.
-Ah, oi Grace. – Falou com o seu jeito alegre caminhando até mim.
-Foi mal por ter te atacado daquela forma. – Falo a garota.
-Não tem problema. – Ela sorri genuinamente. – Sei que foi uma competição, eu não levo esse tipo de coisa pro pessoal. – Ela me assegura e eu assinto aliviada para a ruiva.
-Ótimo então. Te vejo mais tarde. – Disse acenando para ela que retribuiu e seguiu ao lado das gêmeas que a aguardavam na saída.
Em seguida, caminho até as minhas amigas que conversavam com o pessoal e descansavam após esse duro treino.
-E aí meninas. – Me aproximei das três.
-Não converse comigo, estou de mal por você não ter apostado em mim. – Daphne fala mudando de lugar com Alicia que ficou entre nós duas.
-Ah meu Deus, Daphne. – Falei revirando os olhos e rindo nasalmente.
-É sério. – Ela diz assentindo freneticamente.
-Ok então, que tal se eu fizer algo que você queira? – Sugeri e ela abriu um sorriso. – Sabia que não estava brava. – Falei fingindo indignação. – É isso que eu chamo de oportunista. – Falei caçoando dela.
-Oportunista não, ambiciosa. – Ela me corrige.
-Quanta diferença. – Rebato.
-Acha que elas ficaram ainda muito tempo nisso? – Claire perguntou a Alicia como se eu e Daphne não estivéssemos presente.
-Se depender delas ficarão até o crepúsculo da tarde. – Alicia replicou.
-Melhor tira-las, não acha? – Claire sugeriu e Alicia assentiu.
-Tá bom, deu né? Vamos logo, estou faminta e o almoço já deve estar começando. – Alicia diz entrelaçando o seu braço ao meu.
-Foi a Daphne que começou. – Me defendo após alguns segundos de silencio.
-Grace! Por Deus...!

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Estamos oficialmente a QUINZE capítulos do fim do livro!! Nem parece que já vimos tudo isso, mas ainda há muito o que acontecer, portanto, não se preocupem.





Estamos oficialmente a QUINZE capítulos do fim do livro!! Nem parece que já vimos tudo isso, mas ainda há muito o que acontecer, portanto, não se preocupem

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O Preço da CoroaWhere stories live. Discover now