CAPÍTULO 50

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Bato fortemente na porta a frente do meu quarto.
Ninguém, obviamente, responde. Por isso, entro com tudo, causando um enorme barulho intencional, mas não conseguindo fazer com que a pessoa procurada acordasse.
Era madrugada e eu estava praticamente invadindo o quarto da minha prima.
Caramba, isso era legal de se dizer.
Sem conseguir dormir depois da minha ultima descoberta, percebo que não sossegarei até dividir com alguém, eu precisava soltar para alguém tal constatação, que nem eu consigo acreditar muito bem.
Eu... eu nunca me apaixonei. Nunca senti mais do que atração por algum cara. Embora sempre soube dar ótimos conselhos amorosos. Mas cá estou eu, de pijama, invadindo o quarto da minha prima porque não consigo dormir ao perceber sentir o que eu mais temia sentir em um momento como esses, por um cara que eu acabei de discutir e dizer que só me casaria com ele por motivos políticos.
Posso atestar que tudo está indo como o planejado!
-Daphne... Daphne! – A sacudo em sua cama. – Daphne. – chamo novamente.
-Hum. – Ela grunhi embaixo de seus cobertores.
-Daph, por favor. – A chamo novamente.
-Eu estou dormindo. – Minha prima resmunga.
-Daphne é urgente. – Continuo a sacudindo.
-Amanhã. – Ela diz virando para o outro lado e se cobrindo até a cabeça com os edredons.
-Daphne, trate de se levantar, eu preciso falar agora com você, estou desesperada! – Falo em um tom alto e autoritário com ela, um que eu nunca uso.
-Argh. - Resmunga de novo. - O que foi Grace?! – Ela acorda finalmente, sentando-se na cama agora me encarando.
-Eu descobri algo. – Declarei.
Imagino que por ainda estar sonolenta, sua processão de informações está um tanto lenta. Alguns segundos se passaram até que Daphne entendeu o que eu disse.
-Sobre o quê? – Perguntou em tom agoniado sobre o que eu iria lhe falar.
-Sobre mim.
-Você está me assustando Grace, fala logo. – Diz, agora praticamente desperta.
-Eu descobri... – Começo relutante.
-Descobriu...? - Me incentiva a soltar de uma vez.
-Que eu estou... – Ainda hesito em contar.
-Desembucha! – Minha prima me apressa.
-Eu descobri que estou apaixonada pelo Felix Schulz. – Falo de uma vez.
Alguns segundos de silencio se passam.
-Ah... é isso. – Falou entre um suspiro entediado.
-Como você não está surtando? Eu estou surtando. – Falei surpresa e confusa com o cenário.
-Eu surtei quando eu percebi. – Diz usando o passado e isso me deixa ainda mais perdida e fora de contexto. – Minha querida prima, o que você acaba de me contar não é novidade alguma.
-Como não? Eu não sabia, como você saberia?
-Todos sabíamos. – Ela me corrige deixando-me ainda mais embaraçada.
-Perdão? O que você acabou de falar? – Disse desacreditada com os olhos arregalados, boquiaberta e espantada com a revelação de minha prima.
-Todos sabíamos que estavam apaixonados. Estávamos apenas esperando que algum de vocês assumisse primeiro, era tudo uma questão de tempo. – Ela afirma dando de ombros no plural o que fez meu coração dar leves palpitadas. – E antes que me pergunte, eu sabia desde que voltaram da competição. Depois da ilha, os dois começaram a se olhar diferente. Estava na cara que o sentimento que tinham um pelo outro havia mudado.
-Espera... os dois?! – Indago-a.
-Sim, os dois. – Ela afirma com um meio sorriso.
-Quem mais sabia?
-Eu, as meninas, o Peter, seu irmão, acho que alguns dos seus aliados também, só não falamos.
-E o Felix? Ele sabe? Ele sabe que eu... que eu estou apaixonada por ele? – Pergunto preocupada com a possibilidade.
Isso seria péssimo! Eu devia parecer uma tonta.
Ah não, não. Isso definitivamente não pode estar acontecendo.
-Por favor Grace. Não somos crianças para entregar bilhetinhos. Se você gosta dele, conte a ele, pronto. Para você vai ser até mais fácil, afinal, vocês já estão noivos, e ele já praticamente confessou que gosta de você... então, relaxa.
-Eu... eu sei. – Concordei desnorteada. – Eu só... – Procuro as palavras mas ela não veem. – Eu nunca me apaixonei, você sabe. Eu nunca havia sentido essa sensação, e nem sabia como era. E eu estou levemente assustada com tudo isso. – Disse seriamente a minha prima que sorriu complacente com o meu desabafo.
-Grace, você tem que parar de se preocupar em como deve agir, no que deve falar ou fazer. Apaixonar-se pode ser muito complicado, mas também pode ser simples, acredite, eu já senti isso, e sinto ainda. – Ela diz com o seu tom de irmã mais velha conselheira. – No amor, somos todos tolos e bobos. Não há uma lista de regras a seguir, está bem? Felix não é um governador importante que você precisará impressionar, ele é... ele, e se eu estiver certa, o que eu acho ser bem provável, você não tem com o que se preocupar, ele certamente sente o mesmo. – Daphne diz reconfortante.
-Mas, como eu falo para ele? – Questiono não sabendo, pela primeira vez, como lidar com situações amorosas.
E pensar que eu já aconselhei o meu irmão sobre isso...
-Só fale, é simples. Aja no momento que achar adequado e dará certo. Mas já te peço, vocês que se resolvam, não me meterei nisso. – Rio nasalmente de seu pedido.
-Bom, não é assim tão simples...
-Como não? Eu te falei, o amor pode ser muito complicado, mas também pode ser simples, só depende de cada um.
-Talvez, só talvez, eu tenha acabado de dizer a ele que o que temos é pura política. – Lhe digo comprimindo os lábios a espera de sua reação.
-Perdão..., você o quê?! – Ela indaga em um sussurro gritado para que não acorde o resto do corredor.
-Eu sei, eu sei, eu agi muito errado, e me arrependi na mesma hora que proferi tais palavras, eu juro. – A assegurei pois sei que de fato não deveria ter falado o que falei.
-Mas isso aconteceu agora? Tipo, de madrugada? Vocês brigaram, por quê? – Daphne questionou. Agora era ela quem estava perdida no cenário.
-Em minha defesa, ele ficou irritado comigo por algo muito bobo.
-Depende do sentido de "bobo" que você tem. – Ela fala tênue. – O que aconteceu? – Perguntou seriamente.
-Resumidamente, eu estava com insônia e acabei indo na biblioteca para me distrair. Eu não esperava, mas acabei encontrando Samuel que estava tendo o mesmo problema que eu. – Vou lhe explicando e, arqueando sua sobrancelha, ela analisa a situação. – Eu sabia que pegaria mal, nós dois ali, juntos, de madrugada, e eu não o conheço tão bem, por isso já fui indo embora, mas ele se voluntariou para me acompanhar. O que é totalmente entendível, isso é o que qualquer homem bem-educado faria, certo? E Daphne, eu juro, ele não me vê como outra coisa além de amiga, ele mesmo me disse a pouco. E eu também não o vejo de outro jeito. Na verdade, Samuel se mostrou muito atencioso e gentil. Enfim, Felix acabou encontrando-se conosco, e você já deve saber o que ele imaginou. – Lhe explico. – Mas o real problema é que ele não acreditou em mim. - Aponto para o meu próprio peito. - Muito pelo contrario, brigou comigo e quis tirar suas próprias conclusões sem saber o contexto da situação.
-Bom, Grace, na defesa de Felix, consigo entender o porquê de ter agido como agiu, eu, provavelmente, teria feito o mesmo. – Ela começa e já cruzo os braços, entristecida por ela, minha própria prima, estar defendendo meu noivo. – Contudo, concordo que ele deveria ter te ouvido. Vocês já passaram por muita coisa para não confiarem um no outro. – Ela completa.
-Foi justamente o que eu pensei!
-Grace. – Minha prima começa docilmente. – Duvido que a esse ponto já não tenha percebido, mas Felix está visivelmente apaixonado por você, e te vendo com outro cara daquela forma deve tê-lo deixado maluco. – Ela diz delicadamente para tentar me mostrar o lado de Felix.
-'Tá, quem sabe você não está certa? – Dou de ombros e minha prima revira os olhos.
-Sabe que eu sempre estou. - Ela afirma em meio a um risinho.
E ela realmente sempre está, é impressionante! Só não digam a ela que eu admito isso.
-De qualquer jeito, é ótimo que você finalmente percebeu o que sentia.
-Não consigo acreditar que vocês descobriram antes de mim mesma. – Disse incrédula.
-Para você ver como todos somos tolos no quesito amor.
-Espero que eu não seja tanto.
-Ah, acredite, você será. – Ela me assegura com um sorriso ladino. – Ok, agora sai do meu quarto. – Fala repentinamente. – O Sol já vai raiar e eu quero dormir. – Completa objetiva.
-Não é minha culpa que você disse que queria ser a primeira a saber assim que eu soubesse o que sentia. – A relembrei de quando me disse isso.
-Você levou de forma literal demais. – Ela bufa.
-Você não havia especificado nada.
-Boa noite, Grace. – Desejou por fim, cortando o assunto e me convidando a retirar-me de seu quarto.
Seguindo silenciosamente pelo seu quarto, caminho até a porta.
-Boa noite, Daph. – Falo entre a porta e o corredor, mesmo que minha prima já esteja, praticamente, adormecida.
Cortando o corredor, e abrindo com o maior cuidado a porta de meu quarto, sigo até a minha cama, agora, pronta para dormir.
Acho que eu consegui resolver meu problema com a insônia.
Já deitada no meio do breu que havia em meu aposento, suspiro, pelo menos tentando absorver os últimos acontecimentos, que devo confessar, não seriam esquecidos tão facilmente, muito menos ignorados pela minha parte.
Se isso está de fato está acontecendo não saberei lhes dizer. É como se fosse um sonho distante, imprevisível e não programado. Sem data de inicio ou fim.
Acho que o cupido finalmente acertou as suas flechas em mim.
Por Deus... eu realmente estou apaixonada. Não falo nada com nada

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Faltam 10 capítulos pro fim do livro!!




Faltam 10 capítulos pro fim do livro!!

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O Preço da CoroaWhere stories live. Discover now