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Assim que passamos pela primeira rua, fiquei horrorizada.
Destruição.
Era essa a palavra que definia a minha cidade agora.
Pessoas estavam na rua, algumas feridas outras chorando, suas roupas rasgadas ou sujas. Lugares que costumavam ser shoppings ou centros comerciais, haviam se tornado bases militares ou centros médicos, como... como se fosse uma área de guerra...
Segurei com todas as minhas forças as lagrimas que ameaçavam cair. Ao ver o meu reino, o meu próprio povo, daquele jeito, perdi a minha postura serena que tentei manter durante todo trajeto até aqui.
A guerra acabou. Acabou! 

Era pra ter acabado pelo menos...
Nós vencemos!
Nós vencemos?
Nosso esforço foi em vão? Tudo o que fizemos... não, não. Eu preciso me encontrar com meu pai e entender tudo o que está acontecendo. Tipo, agora.
Seguimos caminho até chegarmos ao palácio. Felizmente, não estava tão destruído como pensei que estaria. Imaginei tantas coisas durante o nosso percurso que para mim tudo estaria pegando fogo.
Desde a entrada, haviam mais soldados do que eu já havia visto minha vida toda. Carros militares, tanques, soldados armados fazendo ronda, tudo isso... eu... eu nem sei explicar tudo o que eu senti ao ver a minha casa naquele estado. Jamais havia presenciado algo dessa forma.
Era inacreditável que isso era real, não poderia ser. A minha casa... não. Eu não queria que fosse. Parecia que estávamos em um filme apocalíptico.
E eu pensando que não teria como ficar pior depois da arena.
Ao descermos do carro, fomos escoltados por soldados.
Por extinto, não sei o que me deu ao fazer aquilo, mas segurei com força a mão de Felix. Eu estava assustada, e até me atrevo a dizer com medo, e ele sempre me passou segurança. O mesmo me olhou de relance com um leve sorriso, apertando de leve a minha mão como se assim dissesse que estava comigo e que entendia o que eu estava sentindo.
-Era isso o que o senhor não queria nos contar? – Pergunto com a voz hesitante a Reynold. Ele não responde, apenas abaixa a cabeça.
-Querem entrar? – Ele pergunta e Samuel, Felix e ele mesmo tornam o olhar para mim, somente esperando a minha decisão.
-Pode ser. – Respondo com receio do que estou prestes a ver.
Seguimos pelas escadarias de mármore e os grande pilares que enfeitavam a fachada do palácio. Os arbustos e pinheiros que eram cortados milimetricamente para serem o mais perfeito que pudesse, agora estavam destruídos. As rosas brancas, totalmente despedaçadas.
Não consigo imaginar em como os jardins devem estar, muito menos a parte interior do palácio. O Grande Salão, a sala de música, a biblioteca, meu quarto... todos os meus lugares preferidos podem estar destruídos.
Dentro era pior do que eu imaginei. Jamais pensei que a minha casa poderia ficar assim, nesse estado tão... horrível...
As grandes e belas vidraças estavam totalmente quebradas espalhadas pelo chão. Os quadros que ficavam nos corredores, haviam sido arruinados e detonados. Diversos moveis eram retirados em pedaços. Cortinas rasgadas. Tudo perdido. Tudo.
-Houve um ataque interno no palácio. Por isso a situação é bem pior aqui dentro. – Reynold diz evitando contato visual comigo, apenas intercalando entre Felix e Samuel, que ainda no acompanhava.
Minha família!
Ao concluir tal fato, os abandonei ali sem dizer qualquer palavra e comecei andar desesperada pelos corredores que um dia me foram tão familiares.
Andei, andei e andei até parar de frente para a porta do escritório de meu pai. Se fosse em qualquer outro dia ele estaria aqui, até mesmo se ataques estivessem acontecendo, ele estaria aqui. Essa é a sua principal sala, onde planeja, onde tem reuniões, onde faz... tudo. Porém, dessa vez, embora a sala estivesse intacta, ele não estava presente. Uma onda de pânico percorreu pelo meu corpo pensando no pior.
Segui para o corredor onde meu quarto fica.
Minhas coisas não estavam em um estado tão deplorável, porém, perderia muitas delas. Meu piano estava destruído o que partiu meu coração. Ganhei ele com cinco anos e desde então não ousei trocar, era algo emocional o que eu tinha com ele. Minhas roupas poderiam ser restauradas, eu espero. Minha penteadeira estava com seu vidro quebrado e todas as coisas que antes nela eram guardadas, agora estavam jogadas no chão. O dossel da minha cama possuía alguns rasgos, no entanto, minha cama estava intacta. Dei uma ultima e rápida olhada para o quarto que já foi tão lindos antes de sair.
Entrei no quarto de Daphne, ela não se encontrava ali e seu quarto apresentava a mesma situação que o meu.
Continuei andando pelos corredores. Uma angustia em meu peito continuava crescendo, cada vez maior e maior.
No quarto de Ashley não havia ninguém, nem no de Henry, e nem no de August.
Minha respiração a esse ponto já estava descompassada e minha mente rodava.
Onde minha família está?!
Caminhei, em seguida, para a Sala do Rei, ou seja, a sala do trono, enfim, que seja. Vazia e destruída ela também se encontrava, apenas o trono permanecia incólume.
O Salão de Refeições não estava tão destruído, ainda assim, nenhum resquício de qualquer alma viva ali era encontrado ali.
Comecei a entrar em pânico ao perceber que minhas opções se esgotavam. Havia ido a todos os lugares que costumávamos ficar, seus quarto, tudo, o que mais eu poderia fazer?
Nunca me senti tão angustiada quanto agora. Nem mesmo na arena. É como se todos que um dia conheci houvessem sumido. Minha cabeça lateja e meu coração palpitava mais acelerado que nunca. Minha começavam a tremer com o nervosismo.
Onde eles estão? Onde eles estão? Onde eles estão?
Repetia a minha mente sem parar.
Agora andava sem rumo pelos corredores, queria apenas achar qualquer um que não fosse um dos criados que limpavam o palácio arruinado.
Minha pernas ameaçavam falhar juntamente da lagrimas que insistiam em cair. Aposto que se visse eu mesmo, acharia que é alguma louca. Tentei, tentei e tentei me manter controlada, mas nesse momento tudo o que eu precisava era da minha família. Eu fiz tudo isso por eles. Por eles! E eu não os perderei agora. Não permitirei isso.
Meus pensamentos não estavam claro e poderia fazer alguma besteira por isso comecei a tentar respirar calmamente, não como alguém sem ar e que busca o alivio para os pulmões.
Ao virar a esquina de um corredor, trombei de cara com um corpo mais alto que eu. Olhei, mesmo com os olhos marejados, para essa pessoa e então vi ser Felix. Foi como um gatilho vê-lo e antes que eu me desse conta, lagrimas escorriam pelos meus olhos. O mesmo não pensou duas vezes antes de me puxar para um abraço apertado que me envolvia por completo. Chorei mais uma vez em seu peito.
O silencio pairava pelo ar com exceção do meu choro baixinho que eu tentava forçar parar, contudo, fracassava. Felix não havia perguntado nada, não havia dito nada. Ficou somente ali, acariciando o meu cabelo e me segurando firme enquanto deixava que eu chorasse.
O primeiro som foi o de passos se aproximando. Nos separamos assustados e eu limpei meu rosto imediatamente. Odiava chorar, e odiava mais ainda que me vissem chorando.
-Finalmente encontramos vocês. – Reynold falou acompanhado de Samuel.
-Podemos sair daqui? – Perguntei antes que qualquer um dissesse alguma coisa.
-Claro, sua família está na barraca a aguardando. – Ele disse e ergui meu olhar para ele no mesmo instante, os olhos arregalados e o coração palpitando, mas dessa vez, era por felicidade. Acho que meu humor nunca mudou tão rapidamente.
-Por favor, vamos até eles, nesse instante! Vamos, não podemos perder tempo! – Falei extasiada já seguindo pelo corredor.
-Alteza, tem algo que precisa saber antes. – Ele diz abaixando a cabeça para que eu não veja seu rosto.
-O quê? – Perguntei arqueando uma das sobrancelhas forçando um sorriso. Reynold permaneceu em silencio. Samuel e Felix apenas observavam a situação. – Reynold, o quê foi? – Perguntei mais uma vez com uma risada nasal. – Aconteceu algo?
-Aconteceu. – Ele responde depois do pequeno intervalo de tempo. – Aconteceu sim.
-E o que é? – Mais uma vez ele se mantem em silencio. – Minha família está bem? – Indaguei pois, ao vê-lo fraquejar na resposta, só poderia ser por algo que me atingiria, e muito. Apenas a minha família poderia me fazer sentir-me assim. – Alguém está ferido? – Sugeri começando a me preocupar e ele não me responde. – O quê aconteceu? – Questionei em tom mais alto. – Reynold, me diga, agora. O quê aconteceu?! – Aumentei meu tom soando de forma firme e autoritária.
-O seu pai, alteza... – Ele começou, a voz tremula.
-O quê tem ele? – Questiono ansiosamente. – Está ferido? Está me chamando? – Falei rapidamente pensando nas probabilidades e detestando cada uma delas.
-Infelizmente não. – Meu instrutor responde.
"Infelizmente"?
-Foi... capturado? – Especulo, os olhos já marejados.
-Não. – Reynold responde.
-O quê é então?! Me diga, agora! Me diga de uma vez! – Me exalto sem qualquer paciência para lidar com aquela situação.
-Quando o ataque ocorreu... os inimigos vieram direto para o palácio. – Volta seu olhar para mim e agora posso ver as minúsculas gotículas se formando no canto de seus olhos. – Estavam atirando. – Diz suspirando ao olhar para o teto tentando conter suas emoções. – Invadiram a Sala do Rei... atiraram na direção da sua mãe. 

Meu coração para. 

Minha mãe...

M-minha mãe?

-Por favor continue. – Peço com os lábios comprimidos enquanto meus olhos se enchem mais ainda de água.
-Seu pai ele... ele tentou protege-la. Se jogou em sua frente. – Respirou fundo deixando uma risada nasal escapar como se estivesse desacreditado com o que iria me contar. – Ele a salvou.
-Então está ferido? – Questiono tentando não pensar na primeira opção para essa situação antes que ele consiga dizer mais alguma coisa. Algumas lagrimas acabaram caindo.
-Alteza, seu pai foi atingido. – Olhou para o seu lado esquerdo passando a mão pelo queixo em sua rala barba. – Ele... ele faleceu, Grace. – Disse de uma vez.
-O quê?









-O quê?

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O Preço da CoroaWhere stories live. Discover now