CAPÍTULO 53

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Ao som de vozes que pareciam discutir sobre algo, sou acordada abruptamente.
Sento-me de supetão na cama, assustada pela invasão e a duvida da identidade de quem poderiam ser os intruso.
Engatilhando todo o meu poder e armada com pura eletricidade, me preparo para atacar quem quer que fosse.
Talvez, só talvez, eu estivesse em estado constante de alerta nos últimos meses.
-Grace! Somos nós! Somos nós! – Uma voz familiar me para.
Arfo e suspiro ao ver quem era.
-Que raios... – Falo em um grunhido, ainda sonolenta e perdida com a confusão. – Vocês são loucas?! – Questiono ao ver as três garotas paradas a frente da minha cama. – Sério, o que é isso?! – Sibilo pausadamente cada palavra, levantando-me da cama e me aproximando do trio.
-Ora, achei que a esse ponto já teria percebido. – Alicia debochou e eu a fuzilei com o olhar.
-Estamos te acordando! – Claire responde animada, ignorando completamente o comentário de Alicia.
-Jura? – Falo em tom irônico, irritada com as três pela forma que me acordaram. – Por que tinha que ser assim? Estavam entediadas ou algo do tipo? – Pergunto.
-Porque, minha querida prima, hoje é a sua coroação e você merece um dia especial, e que tratamos de organizar com a permissão de sua mãe. – Daphne responde. – Por isso, te acordamos de um jeito mais... legal. – Ela explica.
- "Legal" não seria a palavra que eu usaria para descrever como vocês me acordaram. – Dou ênfase na fala.
-Por favor Grace. – Alicia revira os olhos bufando. – Nós-.
-Ok, ok, somos pessoas horríveis. – Claire resumi impaciente com a discussão, calando Daphne, Alicia e eu. – Agora vamos, levante-se, temos um dia cheio e o tempo é curto. E você precisa estar pronta para tudo o que tem por vir. – A morena cantarola me empurrando em direção ao banheiro para que eu me arrume.
Sem nem ter tempo para reclamar ou questionar sobre o que está acontecendo, me vejo dentro do banheiro, uma porta separando eu e minhas melhores amigas, apenas aquela porta me impedia de estrangular cada uma delas por ter me acordado daquela forma tão horrenda.
Ao virar-me, vejo pendurado em um cabide um vestido simples. Era completamente branco e de mangas que iam até os meus ombros. Uma sapatilha simples que aposto nunca ter visto antes, também está posta no canto do banheiro.
Não demorei mais que dez minutos até estar pronta.
Saindo do meu banheiro encontro as três que, agora, ao conseguir encara-las com mais clareza e de fato acordada, percebo que usam a mesma roupa que eu.
-O que é isso? – Pergunto me referindo aos trajes idênticos.
-Uma roupa. – Alicia satiriza.
-De fato Alicia. Jamais teria notado sem a sua ajuda. – Falo no mesmo tom revirando os olhos. A cacheada somente sorri cínica para mim. – Mas porque essas roupas?
-Porque iremos ter uma manhã especial, como eu já disse. – Daphne responde o obvio.
-E o que exatamente faremos nessa manhã especial?
-Nos arrumar para o seu coroamento. – Claire foi quem respondeu. – E devemos começar neste exato momento. – A mesma entrelaça nossos braços, me levando até a porta juntamente de Daphne e Alicia.
Nós quatro, uma do lado da outra, seguimos juntas até o arem, local onde nos arrumaríamos.
Bom, isso é a única coisa que eu fui permitida de saber por enquanto, já que as três fazem questão de me manter as cegas pelo resto do dia quanto ao que vai acontecer comigo mesma durante a minha própria coroação.
O dia mal começou e, pelo visto, tenho mais coisas para fazer do que posso contar. Essas garotas organizaram realmente tudo, duvido muito que não haja um dedo de minha mãe nisso, com total certeza há um dedo dela. Porém, mesmo com o jeito desumano pelo qual fui acordada nesta manhã, continuo entendendo – e apreciando – o que estão por mim, sendo algo fantástico e único, algo que provavelmente experimentarei uma vez na vida.
Uma sensação de pura alegria irradiou por todo o meu ser.
Pelo visto uma grande onda de serotonina e outros hormônios haviam sido libertos em meu sistema.
Um contentamento imprevisto ocupou o lugar da minha insegurança precedente. Olhando por essa perspectiva, me pareceu banal ter estado tão aflita quanto estive durante, praticamente, toda essa semana.
Claro, a monarquia tem seus desafios – e teria muito mais do que eu poderia imaginar –, não direi que não tenho medo deles, mas agora, me sinto um pouco mais pronta, um pouco mais digna de tal incumbência que me foi entregada.
Como se fosse algo escrito para acontecer.
-Achei que minha mãe se arrumaria conosco. – Observei ao sentar-me em uma poltrona enquanto uma das funcionárias se preparava para pintar minhas unhas.
-Grace, você conhece a mãe que tem. Tia Catherine, a esta hora, deve estar enlouquecendo com todos os preparativos da cerimonia. Sabe como ela é perfeccionista. – Daphne responde, e, parando para pensar, era obvio que estaria fazendo exatamente isso.
-Tem razão. – Comento dando de ombros e voltando ao meu silencio anterior enquanto Alicia e Daphne discutiam algo de que eu não tinha conhecimento e pretendia não me meter.
-Vou escolher meu esmalte. – Alicia anuncia imprevistamente, levantando-se, mas parando no meio do caminho antes de prosseguir. – Quer vir comigo Claire? Ou já se decidiu?
-Irei com você, ainda não encontrei nenhum tom que gostasse, bom, pelo menos aqui ainda não. – A garota profere se colocando ao lado da garota que já estava de pé.
Assim, as duas se retiram deixando-me a sós com Daphne, que também já fazia suas unhas, assim como eu.
-Bom, aproveitando que estamos sozinhas... – Início o que eu estava doida para falar com ela desde ontem. – Soube que conversou com Felix. – Revelo objetiva, fingindo um tom firme e de irritação, ansiava saber qual seria sua reação.
Minha prima pigarreia, talvez estranhando o jeito que me dirigi a ela. Ela abre a boca, mas nada diz, comprime os lábios corando, receosa e embaraçada com a minha possível forma de reagir, e em como me explicará o porquê de ter agido como agiu.
-Grace eu... eu só fiz aquilo porque... porque pensei... – Ela pigarreia mais uma vez, tossindo o seco.
Continuo o contato visual, arqueando uma das sobrancelhas, pressionando-a indiretamente. A mesma engole seco ao perceber o quão impassível eu continuava.
-Meu Deus, Daph! – Interrompo o momento com uma risada inoportuna, procurando acabar com a sua aflição de uma vez por todas. – Eu estava brincando. – Lhe explico, assumindo um semblante relaxado e brincalhão. - Não estou brava. – A asseguro.
Ela suspira aliviada, exalando o ar que prendeu pelo nervosismo, mas então, sua expressão muda mais uma vez, fuzilando-me com o olhar diz:
-Não brinque assim sua... sua pirralha. – Minha prima, repreendendo-me com um leve tapa, me diz em tom de indignação, fazendo com que eu a olhe incrédula.
-Como seu humor mudou, não? – Insinuo com uma risada nasal.
-Que seja. – Ela revira os olhos. – Ele fez o que eu mandei? – Pergunta direta, a este ponto, ambas estávamos cientes do que ela se referia.
-Fez.
-Ah meu Deus! Ele fez! – Exclama em êxtase. – Por favor, me conte o resto, fale logo Grace.
-Ontem, logo após o jantar, Felix foi ao meu quarto e me pediu desculpas. – Lhe conto.
-Ah... – Exprime murchando. – Só isso? Achei que ele tomaria uma atitude. – Diz emburrada. – Precisarei de mais algumas sessões com seu noivo, minha cara. – Ela me fala como se fosse uma médica ou algo do tipo.
-Nos beijamos – Anuncio em sussurro quase inaudível, enquanto me perco nas lembranças do momento.
O olhar longe e desatento me entregava.
Havia mesmo me tornado uma tola apaixonada?
Mordo o lábio inferior, sem conseguir conter a adrenalina que já começava a percorrer meu corpo ao recordar-me de tal episodio.
-Perdão, o que disse? – Daphne pergunta sincera. – Não consegui escutar.
-Nos beijamos. – Falo, dessa vez olhando diretamente para a minha prima, conseguindo contar-lhe em alto e bom tom.
-Oh céus! Você se beijaram! – A mais velha diz, arrebatada pela notícia.
-Daphne! – A advirto, receosa com possíveis ouvidos curiosos. – Fale baixo, ou quer que todos saibam? – Digo em uma espécie de sussurro gritado.
-Vocês já são noivos, estar ou não estar apaixonado não muda nada. – Replica.
-Olha, eu não sei lidar muito bem com isso, ok? Acho que já está claro o suficiente. – Lhe explico, bufando e impaciente.
-Ok, ok, como quiser, priminha. – Fala recostando-se mais ainda em sua poltrona ao lado da minha. – Mas como foi? Você disse que estava apaixonada e pronto? Ou foi ele primeiro?
-Então... – Começo hesitante, comprimindo os lábios antes de lhe dizer.
-Não diz que você não fez o que eu acho que você não fez. – Fala já em tom de censura.
-Em minha defesa... – Pigarreio ao não encontrar argumentos concretos o suficiente para presentar a garota que agora me colocava contra a parede – no sentido figurado é claro.
-Viu?! Não há nada que lhe impediu. Apenas sua própria covardia. – Aponta sincera.
-Ouch. – Ponho a mão no lugar em que meu coração fica. – Essa doeu. – Falo fazendo biquinho para a minha prima e ela apena arqueia uma das sobrancelhas. Era como se ela dissesse com o olhar "Era para doer", aceitei aquilo como um aviso para tratar daquele assunto seriamente. – Tá... eu poderia sim ter falado. – Cedo. – Eu só... só não achei que fosse o momento certo.
-E quando vai ser? Se depender de você só depois que os dois estiverem casados, e olhe lá. – Diz impaciente comigo.
-Eu prometo, falarei. É só que não foi o melhor momento, entende?
-Não, não entendo, mas para o seu próprio bem, não direi mais nada até você tomar uma atitude. – Ela pausa, pensando no que me dirá em seguida. – Felix pode ter dado o primeiro passo, mas o amor não é um caminho de mão única, os dois precisam querer para que de certo. – Me adverte finalizando seu sermão e decido não acrescentar mais nada para que aquela conversa não se prolongue.
Não demorou para que Alicia e Claire voltassem carregando potinhos de vidro que continham esmaltes escolhidos por elas.
-Aconteceu algo? Estão com uma cara estranha. – Claire falou franzindo o cenho ao se aproximar perto o suficiente para notar nossas expressões.
-Você não está pensando em renunciar o trono, está? – Alicia cogitou e eu a encarei com os olhos arregalados.
-O quê? Não! Claro que não. Nada aconteceu. – Respondo as duas.
Percebo que suas feições são de desconfiança, mas sei mentir e mantenho a expressão relaxada e serena.
-Que seja. – Alicia encerrou aquele momento. – Trouxemos essas cores se ainda tiverem tempo de mudar o esmalte de vocês. – Ela se senta a minha frente.
E assim, continuamos aquela manhã de embelezamento.
Assim que a ultima de nós quatro terminou de fazer o pé, a mão, e passou todos os cremes que nos haviam sido recomendados, seguimos para o corredor, deixando o arem que agora era preenchido por outras mulheres da nobreza que haviam vindo com as comitivas para a coroação, e caminhávamos rumo ao Salão de Refeições, onde o almoço já estava sendo servido a quase meia hora e daríamos uma pausa dos tratamentos e ornamentações.
Ao adentrarmos, na mesa principal assentavam-se Henry, Peter, Felix e Samuel. Minha mãe, com certeza, almoçou mais cedo com Auggie, e o resto dos meus aliados, quero dizer, amigos, estão espelhados pelo palácio, talvez se arrumando, ou ainda dormindo, podem já ter almoçado também, de qualquer maneira, somos nós os presentes nesta mesa no momento.
-É sério que estão se arrumando desde de manhã? – Samuel pergunta impressionado.
-Sim. – Nós quatro respondemos em uníssono, normalidade e tranquilidade ecoando em nosso tom de voz.
-E por que isso? – É a vez de Felix questionar. – Vocês ainda têm a tarde inteira. – O loiro argumenta.
Olho para Felix pela primeira vez naquela amanhã, encontrando-me com aqueles pares azuis de olhos brilhantes. Memórias que eu aposto que não se esvaíram tão rápido, voltam a minha mente e é inviável não corar.
-Ele tem razão. Não é possível que precisem de tudo isso. – Meu irmão constata falando como se fosse algo irracional o que fazíamos.
-Por Deus... – Alicia bufa. – Isso é tão típico de homens perguntarem. – Ela revira os olhos trocando um olhar cumplice comigo e eu assinto como se lhe dissesse que entendo sobre o que fala.
-Espera, eu também estou curioso. O que vocês tanto fazem que demora um dia inteiro. – Peter apoia meu irmão.
-Idem. – Samuel declara.
-Nós garotas, passamos por muitos processos sem sentido para vocês. Tudo isso para que consigamos estar prontas. É algo que agrada a nós mesmas, entendem? – Daphne os questiona, mas os quatro permanecem em silencio, não compreendendo o que minha prima quer dizer. – Vejo que não entenderam. O que quero dizer, é que, para algumas de nós é fantástico se arrumar, é um prazer, por isso não nos importamos com todo o tempo que pomos nisso.
-Mas o que vocês fazem? – Samuel pergunta.
-Primeiros são os pré-tratamentos, depois os tratamento em si, então de fato a transformação, em seguida nos vestimos, revemos os últimos detalhes e qualquer mínima falha que possa haver, por fim, estamos prontas. Lembrando que cada etapa pode demorar tempos diferentes, e as vezes, se não gostamos de algo, refazemos, o que demanda ainda mais tempo. Mas no fim, posso lhes assegurar, vale muito a pena. – Minha prima conclui.
-E vocês não cansam disso? – Meu irmão diz incrédulo com tudo isso.
-Como Daphne disse, para alguma de nós isso é um prazer. Claro, tem pessoas que não gostam, e preferem tudo mais simples, mas eu, por exemplo, amo o processo de me ornamentar para algum baile ou coisa do tipo. De onde venho, há muitas e muitas festas. Todas com decorações extravagantes, cheias de cores vibrantes. E eu sou fascinada com este estilo. – Claire lhe explica. – Contudo, porém, conheço algumas amigas que vem de outros reinos onde este não é o costume. As gêmeas que vem de Giethorn vestem-se com tons frios e neutros, lá, eles não tem o costume de festejar como nós, mas isso não quer dizer que elas não gostem se de preparar para um grande baile. Enfim, cada mulher é diferente, com seus gostos, desejos e caprichos diversificados. – A morena da de ombro por fim.
-Tenho que admitir, achei bastante esclarecedora sua explicação. – Felix reconhece.
-Embora eu tenha achado interessante tudo isso, acredito que jamais entenderei as mulheres. – Samuel atesta.
-Melhor nem tentar. – Meu irmão lhe aconselha.
-Ninguém jamais entenderá, Samuel. – O corrijo com um sorriso de canto enquanto olho de soslaio para as minhas amigas que possuem a mesma feição, averiguando ser verdade o que eu falara.
Depois da curta interação, o almoço foi tranquilo e silencioso, ameno de mais para um dia que continha eventos tão importantes marcados.
Sentia uma espécie de ansiedade boa, na qual eu aspirava desesperadamente saber como seria daqui para frente, e almejava me tornar rainha mais do que tudo.
Eu finalmente havia aceitado que era esse o meu proposito e tentava ver a melhor parte de tudo isso.
Ao ouvir meu nome ser chamado pelos lábios de Alicia, me dei conta que as três já estavam prontas para continuarmos nosso dia de autocuidado.
Um estúdio, mais moderno do que eu esperava, era o local onde seríamos arrumadas. Cabelo e maquiagem produzidos com enorme capricho pelos melhores profissionais do reino.
Com total e absoluta certeza, seremos o primor e o centro das atenções nesta cerimonia.
A pedido meu – com muita, muita insistência – foi feita uma maquiagem simples em minha face, nem um pouco chamativa, graças a Deus.
Detesto sombras ou pele sobrecarregadas, meu vestido já continha informação de mais para que minha pele também chamasse atenção.
Meus fios loiros foram alisados completamente, tirando sua forma ondulada natural, para que em seguida fossem presos, formando um alto e apertado rabo de cavalo. Nem um fio sequer foi deixado para trás. Confesso que no início, senti dor de cabeça pela força que usaram ao faze-lo, alguns minutos depois consegui me acostumar com a dor. Meu cabelo longo e volumoso ajudaram a dar o efeito que desejavam no rabo, deixando-o majestoso, era de fato um penteado digno da realeza.
Com o cabelo e a maquiagem já prontos, segui até os meus aposentos, separando-me das meninas, que veria apenas na cerimonia. Alicia ainda não havia terminado seu penteado quando me despedi das três. A partir de agora, cada uma se arrumaria sozinha, não que houvesse muito coisa a ser feita, precisávamos apenas colocar nossos trajes e então estaríamos prontas.
Ao chegar em meu quarto, Marli e Madame Bernard já se encontravam ali, papeando sobre algo com empolgação.
-Senhoras. – Disse cumprimentando as duas.
-Ah, que bom que chegou, bem a tempo! – Dominique exclamou.
-Podemos começar. – Marli disse por fim.
Assim, as duas me ajudaram a vestir-me.
O vestido era imenso e delicado, por precisei de muita ajuda para me trocar dessa vez, principalmente para que não estragasse a maquiagem e o cabelo. O caimento parecia melhor do que o da primeira vez que provei.
Coberto por predarias brilhantes que causavam lindos efeitos luminosos, o vestido cintilava. Não muito estufado, porém continha certo estofamento. Ombro a ombro, com uma espécie de "capa" do mesmo tecido brilhante que a bainha era feita. Era uma capa comprida e espaçosa. Não tinha a visto ainda, suponho que tenha sido uma incrementada feita por Madame Bernard e, que ainda por cima, me pegaria de surpresa.
-Madame-. – Ia falando.
-Dominique, querida, por favor, Dominique. – Ela me corrige.
-Dominique. – Enfatizo a fala e ela pisca para mim. – Isso está lindo. A capa... ela é deslumbrante. Muito obrigada.
-Oh alteza, é uma honra, fiz com enorme prazer, não precisa agradecer.
-De fato, é um primor Madame. – Marli a elogia observando escrupulosamente o vestido e apreciando cada parte dele assim como eu e qualquer um que o visse.
-Vocês são muito gentis. – Ela diz colocando as mãos em seu peito.
-E a senhora é muito talentosa. – Retribuo.
-Agora, não há tempo a perder! – Dominique volta ao foco. – A senhorita precisa ser encaminhada neste exato instante até a Sala do Rei, bom, Sala da Rainha no caso. – Ela diz e nós três rimos de sua constatação.
-Eu e a Madame Bernard a ajudaremos. – Marli diz me dando a mão para que saísse do tablado que havia em meu quarto.
Com Dominique ao meu lado, e Marli do outro, seguimos juntas pelos enormes corredores até o nosso próximo destino.
Tudo pareceu ser tão rápido. Estávamos todos tão apressados e eufóricos. Era nítido o quão ansioso todos estavam. Os servos andavam de um lado pro outro. Burburinhos com expressões de nervosismo e impaciência. Todos os cômodos de embelezamento totalmente preenchidos, atingindo suas capacidades máximas. Guardas em todas as mais inusitadas passagens possíveis. Tudo para que esse fosse o dia perfeito. Para que a minha coroação fosse um sucesso.
Sentia que meu coroação sairia pela boca, não seria impensável eu vomitar neste instante, sentia que iria. Minha feição agora era pálida, meus lábios secos e minhas mãos tremulas.
Eu não estava com medo, eu... eu só estava de frente com o momento mais importante da minha vida. O momento em que eu me tornaria rainha. O momento que eu deixaria de ser uma garota comum. Agora eu seria soberana de todo um reino. Comandaria, orquestraria planos, acabaria ou iniciaria guerras, a partir de hoje, tudo estaria em minhas mãos.
-Está bem? – Marli pergunta em meu ouvido, um sussurro quase inaudível.
-Estou. – Assinto forçando o sorriso mais convincente que eu poderia ter.
-Será um grande dia. E a senhorita se sairá muito bem. – Ela me assegura, tentando, de forma falha, me reconfortar.
-Está entregue, majestade. – Dominique diz deixando-me a porta da Sala do Rei, minha mãe à minha frente.
Tornando-me a olhar para a minha mãe pela primeira vez naquele dia, um suspiro de alivio se esvai de mim no mesmo segundo.
-Oh... minha filha querida. – Ela diz se aproximando e colocando sua mão em contato com a minha face. O toque familiar acalma minha respiração descompassada. – Está tão bela... – Diz se perdendo em meu rosto.
-Mãe... eu... eu estou pronta, não estou? – Falo soando como uma criança assusta, se bem que eu não estava muito longe de ser uma.
-Está meu bem, está sim, e não duvide disse. Lembre-se do que conversamos. Peça ajuda, fique perto de quem ama. Todos precisamos de alguém ao nosso lado. E tudo ficará bem. – Ela me lembra e eu assinto freneticamente, assegurando mais a mim mesma do que a mulher que me criou a minha frente. – Seus amigos estão aqui, queriam te dar boa sorte antes de você entrar.
-Eles estão? – Indago retoricamente, maravilhada com a possibilidade.
-Estão logo ali, na curva do corredor. Quer vê-los? – Assinto sem nem pensar.
Juntas, lado a lado, as mãos entrelaçadas, seguimos até onde ela havia falado. Minha mãe, no momento, era o meu maior porto seguro, a minha maior apoiadora, a pessoa que eu chamaria primeiro caso precisasse de qualquer coisa. Não sei o que seria sem ela.
-Grace! – A voz de Alicia me faz sorrir instantaneamente.
-Alicia. – Digo ao sentir seu braços ao meu redor.
-Você está perfeita! Estou sem palavras. – Ela diz ao me olhar por completo.
-Obrigada, você também. – Digo a cacheada.
Alicia vestia um belo vestido azul marinho, escuro como a noite. Tinha um cinto em sua cintura cravejada por pedras brilhantes. Era de alças e parecia muito leve. Feito inteiramente de seda pelo o que pude observar.
-Olha quem diz. – Ela fala, mas então sai da minha frente dando lugar para Claire.
-Ah! Que dia, não? – Fala animada com um sorriso de orelha a orelha.
-Que dia. – Digo em meio a uma risada.
-Você se sairá incrivelmente bem, ouça o que eu digo, as vezes sei do que falo. – Ela me aconselha e não posso deixar de rir com sua ultima frase.
-Assim espero. – Retribuo.
A mesma vestia um traje rosa claro, era um pouco mais estufado que o meu e continha mangas bufantes e longas. Estava divina.
-Minha vez. – Escuto a voz da minha prima e logo o seu abraço é sentido. – Eu te amo de mais. – Ela fala enquanto me aperta um pouco mais. – Não faça nenhuma burrice, está bem? – Me aconselha dessa vez segurando firme em minhas mãos.
-Pode deixar. – A asseguro.
-Não confio em você, então ficarei de olho. – Diz por fim com um sorriso de canto que é logo retribuído por mim.
Minha prima veste um tom de azul gelo, muito conveniente com suas habilidades. É delicado e minimalista. Totalmente elegante, assim como quem o veste.
Samuel e Peter se aproximam. Ambos vestindo ternos pretos tradicionais, com gravata e tudo mais que se espera em um terno.
-Achei que não estaria viva para ver o dia em que estariam bonitos. – Disse sarcástica aos dois que reviraram os olhos.
-Não posso dizer o mesmo de você. – Peter retruca e eu rio. – Boa sorte lá. – Ele diz por fim me dando um leve abraço.
-Conta comigo, Grace, e não deixa eles te intimidarem. – Samuel aconselha.
-Por favor, eu participei de um massacre com adolescente que continham habilidades inumanas, acha que eles me intimidam? – Falei irônica e ele rio abaixando a cabeça e então voltando a olhar para mim. – Boa sorte. – Conclui se retirando e seguindo para o salão da cerimonia.
Henry e Felix são os próximos.
-Quem diria? Eles foram loucos o suficiente para te deixar assumir o trono. – Henry implica como qualquer bom e tradicional irmão.
-Acredite, eu sou mais louca ainda por estar assumindo. – Lhe afirmei em falso tom de seriedade.
-Vai ser dar bem, irmãzinha. – Ele me abraça.
-Obrigada, irmãozinho. – Destaco o jeito que ele havia me chamado.
-Ainda sou maior.
-E eu mais velha então não enche. – Retruco e ele apenas revira os olhos, mexendo em seu cabelo escuro e seguindo para o lado de minha mãe que continuava ali me aguardando.
-Finalmente o dia chegou. – Felix começa se aproximando alguns passos, as mãos em seus bolsos, mas o olhar em mim.
-Chegou. – Disse em meio a um suspiro hesitante.
-Sei que já te disse, mas não custa repetir. Você será uma boa monarca.
-As pessoas têm me dito bastante isso ultimamente.
-Então deve ser verdade.
-Deve ser. – Replico em um meio sorriso.
"Felix pode ter dado o primeiro passo, mas o amor não é um caminho de mão única, os dois precisam querer para que de certo"
Escuto, justamente agora, a maldita voz da minha prima que me importunava até mesmo quando não estava presente.
Viro-me levemente em direção a minha mãe e meu irmão.
-Mãe? – Ela percebe que a chamo. – Poderia nos dar licença? Só por alguns minutos.
Ela checa o relógio e me olha com uma das sobrancelhas arqueadas, hesitante e desconfiada.
-Está bem. Temos mais quinze minutos e nada mais, depois a cerimonia começará. – Ela avisa.
-Combinado. – Tento conter um sorriso extasiado.
-Vamos Henry. – Ela diz dando o braço ao meu irmão.
-Eu também? Não posso ficar aqui e ouvir a fofoca dos dois? – Ele questiona emburrado.
-Henry, vamos, deixe sua irmã em paz. – Minha mãe o assevera.
-Mas mãe-.
-Nada de "mas", vamos. – Ela lhe fala mais uma vez e ele acaba cedendo.
Apenas rio da situação e do irmão que tenho, Auggie, sem sombra de duvidas, é muito mais fácil de lidar.
-Já foram. – Felix anuncia.
-Eu sei. – Digo um tanto nervosa por estar indo fazer o que tenho tanto medo de fazer.
-Está tudo bem?
-Está. – Lhe afirmo, mas o mesmo não parece ter se convencido. – Eu... eu preciso te falar algo.
-Pois bem, diga. – Seu tom é descontraído, diferente do meu, que está mais tenso que o normal, muito mais tenso.
-E-eu não sei como te dizer. – Admito, nervosismo claro em minha voz que falha.
-Grace, o que aconteceu? – Pergunta preocupando-se, aposto que acha que algo de ruim aconteceu comigo, ou que há algo me afligindo.
-Não precisa se preocupar, não é nada sério.
-Mas você está nervosa de mais para não ser. – Ele argumenta.
-Lembra... – Suspiro tentando fazer minha voz soar mais firme. – Lembra de quando conversamos sobre... bom. – Tusso forçadamente. – Nós dois, no acampamento? – Ele assente.
-Foi quando você me contou sobre o novo acordo de casamento, não? – Felix certifica-se.
-Sim, isso mesmo.
-Você quer quebrar o acordo? – Me indaga objetivo.
-Eu... o quê? Não! Não, não, você entendeu errado.
-Grace, por Deus, diga de uma vez, está me matando com todo esse suspense.
-Que droga, Felix! – Me exalto irritada comigo mesma por não conseguir dizer e temerosa sobre o que é o assunto. – Que se dane. – Digo a mim mesma em um sussurro impossível se der ouvido por alguém que não fosse eu.
Decidida que agora faria o que tinha de fazer, encaro-o nos olhos sem hesitar.
-Eu estou tentando te dizer que é bem possível que eu goste de você, muito. No sentido de que pode ser que eu até esteja apaixonada por você, seu idiota! – Falo de uma vez tapando minha boca depois de perceber o que acabei de falar. Me arrependendo profundamente no exato momento em que escutei minha própria voz proferindo tais palavras.
Sua expressão é indecifrável. Algo no meio de surpresa, raiva, felicidade... não faço ideia do que interpretar.
-Droga... – Sibilo em um sussurro. – Esquece o que eu falei. – Digo a ele piscando sem entender a situação que me coloquei. – E-eu vou avisar minha mãe que já podemos começar. – Lhe aviso, sem qualquer mínima coragem de encarar seus olhos.
Ao virar-me, não consigo dar nem dois passos antes de sentir que alguém me segurava, fazendo com que eu permanecesse no lugar em que estava, sem conseguir me locomover e me retirar daquele ambiente constrangedor.
Maldita hora em que eu decidi escutar Daphne.
-Grace. – Felix profere meu nome, mas não me viro.
Embaraçada de mais para vê-lo. Envergonhada de mais para lembrar-me da estupides que havia acabado de cometer.
-Grace, olha pra mim. – Ele pede seriamente. Não soava como um pedido, com certeza não.
-Felix, já foi humilhação de mais eu ter feito o que fiz, e já me arrependo. Podemos simplesmente esquecer?
-Mas eu não quero esquecer.
Olho em sua direção escutar essas palavras saírem pelos seu lábios.
-O quê?
-Você tem noção do quanto que eu esperei para te escutar falando isso? – Ele me indaga colocando uma de sua mãos em meu pescoço.
Minha feição cai. A surpresa era explicita em meu rosto. Boquiaberta e sem palavras fiquei.
-Felix, você... v-você esperou? – Engulo um seco depois que ele assente positivamente. – E-eu nem sei o que dizer.
-Não precisa. – Ele sorri de canto e eu franzo o cenho.
A próxima coisa que eu me lembro são de seus lábios entrando em contato com o meu. A melhor sensação que eu poderia sentir naquele momento.
A sensação que me tirava da Terra. A sensação que me tornava em alguém bobo.
Posso já ter a sentido mais de uma vez, mas todas vez que acontece, parece com a primeira vez. Era para isso ser impossível, certo? De algum estranha maneira não é. É completamente possível, e acontecesse comigo todas vez que nossos lábios se encontram. Despertando faíscas dentro de mim como se fosse a primeira vez. Incendiando tudo o que há entre nós.
-Ah meu Deus! – Alguém grita do outro lado do corredor fazendo com que nós dois virássemos no mesmo instante. A pessoa estragando completamente nosso momento.
Ao virar-me, encontro a pessoa que eu menos esperava.
-Henry?! – Questiono incrédula ao ver quem era.
O mesmo estava tapando os olhos com as mãos e se demonstrava apavorado.
-Meu Deus, eu poderia ter vivido tranquilamente o resto dos meus dias antes de ter visto minha irmã beijando alguém. – Ele diz com pura repulsa no tom. – Como isso é nojento. Vocês poderiam ter sido mais inteligentes e não se beijado no meio do corredor, não? – Ele nos questiona como se nos acusasse. – Cara, eu vou ter pesadelos com isso... – Diz franzindo os lábios e passando a mão pelo rosto, como se fosse possível apagar a recente memória.
Felix apenas ria da situação enquanto eu me enfurecia com o meu irmão.
-Que raios você está fazendo aqui?! – Falo me aproximando do meu irmão que havia se mantido imóvel desde o momento que chegou.
-Mamãe disse pra te chamar que já havia dado a hora, mas então... eu tive a pior cena da minha vida. – O garoto dramatiza.
-Meu Deus Henry... – Digo incrédula ao meu irmão. – Avise a mamãe que já estou indo. – Lhe peço, mas o mesmo não se move. – Agora. – Exclamo autoritária.
-Eu estou tentando me recuperar, da pra você esperar? – Apena o encaro, se olhares matassem meu irmão já não estaria mais aqui a um bom tempo. Ele entende o recado e ergue as mãos em rendição. – Já estou senhorita. – Ele fala irônico.
-Ah meu Deus, isso foi muito constrangedor. – Digo a Felix que estava logo atrás de mim.
-Achei engraçado.
-Vergonhoso. – O corrijo.
-Pelo menos tudo está as claras.
-Literalmente.
-É melhor já irmos, antes que seu irmão, ou pior, sua mãe, apareçam. – Ele sugere e eu assinto sem nem poder discutir sobre algo assim.
O mesmo entrelaça os nossos braços e me guia até a área em que eu entraria e minha mãe nos aguardava ansiosamente.
-Finalmente! Grace, por favor querida, não faça mais isso, meus nervos estavam quase explodindo.
-Ok, ok, desculpe-me. – Disse já me prontificando ao seu lado.
-Que seja... – Falou suspirando cansada. – Felix, Henry, os dois já podem entrar no Salão, precisam ocupar seus lugares na primeira fila, entenderam? – Ela diz claramente aos dois, uma indireta exigência de que fizessem tudo completamente como ela os instruiu.
-Pode deixar, mãe, não iremos nos perder. – Henry diz a nossa mãe deixando um beijo em sua bochecha e caminhando ao lado de Felix até uma segunda entrada, onde na verdade havia uma entrada para funcionários, mas que seria utilizada por eles já que eu entraria pela principal.
-Está pronta? – Ela pergunta a mim.
-Acho que sim. – Forço um sorriso maior do que eu poderia oferecer naquele momento.
-Eu tenho muito orgulho de você. – Ela diz reconfortando-me. – E seu pai também. – Acrescenta, meus olhos começando a marejar no mesmo instante. – Agora eu preciso entrar, ficará bem?
-Claro.
-Quando as portas se abrirem faça exatamente como ensaiamos. – Me adverte.
-Pode deixar, mamãe. – Asseguro-a.
-Ah! Minha filinha cresceu. – Ela exclama sem conseguir se controlar e me abraçando. – E se tornou uma mulher maravilhosa. – Completa.
-Mãe, eu vou começar a chorar, não quero borrar a maquiagem. – Lhe aviso.
-Perdão, eu só... – Ela funga. – Ok, sem choro. Arrase, querida. – Lança-me uma piscadela que me faz rir. Então, a mais velha se dirige pelo mesmo lugar que Felix e Henry seguiram.
Ok, agora eu estava sozinha, e acabou qualquer chance de fugir.
Eu estava prestes a me tornar rainha... uau
"Você nasceu para ser uma rainha. Seja uma! Faça isso!"
Uma voz imaginaria familiar ressoa pela minha mente.
Era o meu pai.
Sei que não era real, mas era tão audível, tão clara. Era exatamente o que ele me diria neste momento. Era como se ele estivesse bem ao meu lado me dizendo estas palavras.
Ele estava comigo. E nesse momento eu sentia isso. Eu... eu não sei explicar, mas sentia. Ele queria isso. Eu quero isso.
Eu me tornarei rainha. Eu me sinto como uma.
Eu assumirei a coroa.
Eu paguei, e muito caro, por ser a herdeira deste reino. Passei por coisas que jamais havia imaginado que passaria. Vivenciei, aprendi, evolui. E agora, eu estava pronta.
E mesmo que o preço da coroa tenha sido caro, valeu a pena.
Não me arrependo de nada.
Meu momento havia chegado. E, a frente de todo um público, eu reclamaria meu direito de nascença.
Eu estava me tornando soberana, e não poderia estar mais feliz, puramente, legitimamente, completamente, feliz.




Eu estava me tornando soberana, e não poderia estar mais feliz, puramente, legitimamente, completamente, feliz

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O Preço da CoroaOnde as histórias ganham vida. Descobre agora