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Ao chegarmos, Felix e eu nos deparamos com todos treinando.
Ben, que era sobrehumanamente veloz, desviava de todos os ataques de Samuel, que lançava suas lâminas contra o garoto. Até agora, não sabia que os poderes de Ben eram supervelocidade, mas devo confessar, ele se encaixa perfeitamente com essa habilidade. Samuel não deixava barato para ele e o atacava com o máximo da lâminas e o mais rápido que conseguia.
Claire levitava algumas pedras, arremessava-as para o ar e depois as pegava, fazendo com que flutuassem. Perigoso, mas isso a ajudaria a aprimorar suas habilidades.
As gêmeas lutavam entre si, elas tinham os mesmos poderes e sabiam os pontos positivos e negativos de suas habilidades, por isso, deixava tudo mais difícil, precisavam conseguir prever corretamente o que a outra faria antes que o fizesse.
-Podemos nos juntar a vocês? – Felix questiona com um sorriso de lado já formado.
-Claro, treinem um com o outro. – Claire sugere e me olha daquele jeito, reviro os olhos para a mesma.
-Essa eu pago pra ver, Grace contra Felix, quem ganha? – Jane diz rindo e se sentando em um dos rochedos que havia por ali, a mesma estava ofegante de seu treinamento.
-Façam suas apostas, façam suas apostas. Temos dois ótimos competidores, mas só um receberá a glória de um vencedor. – Samuel brinca e todos riem.
-Vamos lá, Grace. Eles querem ver um show. – Felix olha para mim malicioso.
-Eles vão ter um ao te ver detonado por mim. – Rebato e todos se entreolham boquiabertos com a minha fala.
O mesmo ri exageradamente e olha para o lado, um sorriso maroto ainda em seu rosto.
Mal tenho tempo de pensar, já que logo em seguida uma bola de fogo é lançada em minha direção. Graças aos meus reflexos consigo dar uma cambalhota no chão e desviar.
-Uau. Atacar seu oponente desprevenido, quanta ousadia. – Disse já em pé.
-Sabe como é, não? Gosto de ter vantagem. – Da de ombros, e lanço uma descarga elétrica sem qualquer aviso prévio.
-Sim, sei como é. – Replico a sua frase anterior.
A partir daquele instante, não falamos mais, apenas lutamos dando tudo de si. Éramos orgulhosos de mais para deixar que o outro vencesse. Assim, continuamos a atacar um ao outro com a intenção de derrubar o oponente.
Comecei a atacar sem parar, fazendo com que Felix ficasse mais na defensiva do que no ataque, se concentrando nos raios que precisava defender antes que um atingisse seu lindo rostinho. Já havia montado toda uma estratégia em minha mente, e estava a colocando em ação quando, ao ficar próxima o suficiente, passei-lhe um rasteira, que fez o homem cair, porém, nada tirava aquele estupido sorriso maroto. Só fui entender o porquê quando, ainda caído, passou as pernas nas minhas, também me fazendo cair.
-Trapaceiro. – Falei ainda caída ao seu lado, recuperando o folego.
-Competitiva. – Ele rebate.
Ele se levanta primeiro e me estende a mão, a qual eu faço questão de recusar, me levantando sozinha.
-Eu ganhei. – Anunciei me aproximando do pessoal.
-Opa, opa, opa. – Ele diz ele para na minha frente barrando a minha passagem. – Quem disse? Eu também te derrubei, não foi? – Olhou para os nossos aliados com a pergunta.
-Mas eu o fiz primeiro. – Me virei para eles, ficando ao lado do meu parceiro, com a intenção de convence-los. Parecíamos duas crianças diante da mão dizendo que foi o outro que começou a briga.
-O jure chegou a um veredito. – Samuel disse fingindo estar sério, mas tendo que, nitidamente, se segurar para não rir.
-É um empate! – Claire anunciou.
-O quê?! Um empate?! Eu obviamente ganhei. – Argumentei.
-Grace, é melhor assim, nem um nem o outro. – Felix tenta me convencer com um olhar arrogante.
-Isso é porque você perdeu. – Sorrio cínica para o mesmo que revira os olhos. 

–Claire, ajuda a sua amiga a enxergar o que estamos tentando falar? – Felix se vira para Claire que apenas assiste a "discussão" com divertimento no olhar.
-Não obrigada, está bem divertido ver os dois brigar. – Ela diz com um sorriso falsamente ingênuo.
-Pessoal, acho melhor todos voltarmos a treinar. – Felix muda de assunto.
-Concordo. – As gêmeas falam em uníssono.
-Vou treinar com Claire, alguém decente. – Digo voltada para Felix, acentuando cada palavra, e o mesmo da de ombros rindo como se estivesse indiferente. Admito que até eu tenho vontade de rir quando agimos assim um com o outro, parecemos duas crianças.
Claire e eu treinamos intensamente uma com a outra. Fico pensando em como vai ser quando ela conhecer Alicia e Daphne, aposto que virarão amigas no mesmo instante. Temos diversas coisas em comum e sei que as meninas a amarão. Não vejo a hora desse encontro acontecer. Talvez depois de amanhã já tenhamos essa oportunidade.
Uau...
É estranho pensar que estamos ganhando. Estamos acabando e vencendo tudo isso!
A alegria será tão grande quando chegarmos. Mal posso esperar. Reverei todos os meus amigos e família. Voltarei a minha vida normal. Treinarei e aprenderei cada vez mais sobre o oficio de rainha. E... e me casarei com Felix.
Me desanimo ao pensar nisso. Mesmo me simpatizando cada vez mais com Felix, ainda não concordo em me casar sem amor, e principalmente o fato de eu não poder ser rainha única e soberana. Não terei plenos poderes no meu próprio reino, e isso é algo que eu ainda anseio.
Contudo, agora não é lugar nem momento para refletir sobre isso. Quando voltar terei todo o tempo do mundo para pensar o quanto eu quiser sobre o meu futuro. Agora, porém, tenho que me concentrar no dia de amanhã. Nada importará se não formos bem-sucedidos.
Claire e eu, ao nos sentarmos em algumas raízes grandes e saltadas da terra, conversamos como sempre temos feito. Falamos sobre como é a nossa estratégia na luta corporal, coisa que sempre devemos aprimorar. Ela me deu dicas, e eu dei a ela, uma aconselhando a outra. Eram momentos de cumplicidade assim que me faziam perceber que seriamos ótimas amigas daqui em diante, e pensar que por causa desse torneio talvez não fossemos nunca nos conhecer. Claire, curiosa como sempre, citou e perguntou indiretamente sobre quando eu e Felix havíamos ido até o covil inimigo, a mesma jurava que algo havia acontecido, mas a assegurei de que não, felizmente – ou infelizmente – apenas fomos e voltamos.
Depois, a morena também comentou sobre o nossa pequena "cena" de alguns minutos atrás. Lhe expliquei que sempre foi assim. Toda vez em que competimos acaba dessa forma. Um querendo vencer o outro. E até confessei que gosto dessas nossas brincadeiras que não são tão brincadeiras, as vezes levamos um tanto a sério devo admitir, mas até que eu gosto, é pelo menos engraçado, e principalmente divertido poder competir dessa forma com alguém.
Alguns minutos depois, o sol começou a se por. Um dos momentos mais lindos do dia. O crepúsculo se aproximava cada vez mais, e com ele, a escuridão acompanhada da lua e das estrelas, embelezando e iluminando o escuro céu.
As noites aqui são tão diferentes do que eram em casa. Aqui não tem qualquer tipo de luz elétrica – ou qualquer coisa movida a eletricidade – sendo possível vermos as estrelas e as constelações com pura clareza. Sempre fui apaixonada nas estrelas. Me lembro que quando era criança, umas das matérias que meus tutores davam que eu mais me interessava era astronomia. O universo é tão imenso, ainda há tanto a ser descoberto e estudo sobre o espaço, os planetas e as estrelas o habitam. Em pensar que tudo isso foi criado por Deus. É algo inexplicável. Inimaginável. Somos tão impotentes como humanos. E, ao olhar para o céu, me lembro disso, não deixando que o meu ego seja grande de mais. Pessoas como eu, digo, com habilidades, tendem a se sentir superiores as outras, o que eu acho absurdamente ridículo. Isso que eu faço de olhar as estrelas, me faz lembrar que sim, eu posso ter talentos, posso ser extraordinária, mas que, em comparação a algo maior, sou infinitamente inferior, ajudando-me a não inferiorizar os outros também.
Além de que sou uma pessoa tendenciosa a ser controladora. Preciso sentir que tudo está em seu devido lugar, o lugar que eu quero, mas preciso aceitar que nem sempre as coisas sairão como eu quero, o que, geralmente, me deixa frustrada, mas sei que devo começar a aceitar tal fato.
Todos entramos e fomos comer algo. Estava faminta e tenho certeza de que os outros também. Passamos a tarde treinando, planejando e nos mantendo em ação, nada mais justo que uma boa refeição antes de nos deitarmos.
Conversas paralelas escoavam pela caverna que fazia eco. Todos pareciam mais leves, mas ao mesmo tempo, estavam ansiosos. Uma agitação diferente era visível em todos nós. E não duvido nada que seja por causa da importância do dia de amanhã. Até mesmo eu, que assegurei Felix essa mesma tarde não estar sentindo um pingo de hesitação, sinto agora. Um nervosismo vem crescendo em mim. Tenho uma grande tarefa a realizar amanhã. E talvez eu possa não resistir. Não quero pensar nessa hipótese, mas ela existe. Nunca fiz nada parecido e quando treinei com água, nunca estive em contato com ela enquanto deslocava minha eletricidade. Ou seja, estou fazendo algo totalmente as cegas.
Mas vele a pena, vai valer.
Precisa valer.








Precisa valer

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O Preço da CoroaWhere stories live. Discover now