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"Saudações senhor Cap. Yuri Akimura, seja bem-vindo de volta à E.M. Akimura.

O despertar pode ser um pouco incomodo nas próximas horas, seu corpo encontrava-se em inércia durante muito tempo e pode apresentar sintomas como náuseas, [..]".

Yuri respirava ofegante, já conhecia aquele discurso de cor. Se certificou que não estava tonto, só então deu um passo fora do criopod. Estava de volta, a 45 dias de viagem através do túnel, ele estava acostumando-se aos longos períodos de hibernação, já havia ficado mais tempo. Pegou a solução de eletrólitos e bebeu, ávido, porém rápido demais, virou o rosto e vomitou, não estava pronto para beber nada ainda.

Foi aos seus aposentos, o ar era rarefeito a bordo da espaçonave, diferente da sensação de respirar na neuronet. Tinham poucas pessoas pelos corredores, viu alguns acordando ao mesmo tempo que ele, as pessoas talvez tivessem aprendido a acordar mais cedo depois das últimas hibernações. Tomou um banho e dormiu.

Yuri sempre passava dias sentindo pequenas dores de cabeça decorrentes do longo período de hibernação. A desidratação prolongada resultava em danos nos diversos tecidos e órgãos, mas nada muito grave, pelo menos nada de muito grave que fosse detectável com a medicina moderna, muitos estudiosos ainda condenavam o uso indiscriminado de criopods sem os estudos de efeitos a longo prazo. A maravilha moderna da medicina era comercialmente infreável.

Passou o primeiro dia infundindo uma mistura de soro fisiológico, drogas analgésicas e glicose na seção aeromédica, mas enquanto isso atendia as pessoas que acordavam da hibernação, a maioria com náuseas e vômitos, dores articulares e dores de cabeça. Alguns poucos retornavam sofrendo de ataques epilépticos, existia o risco, apesar de Yuri nunca ter presenciado o caso, de uma complicação mais grave, o coma pós criogenia. Simplesmente seu cérebro não retorna do sono e você permanece dormindo. Esses tinham que ser mantidos em unidades semi intensivas até acordar de fato, mas Yuri só tinha lido artigos sobre o assunto, nunca vira acontecer de perto.

Ele atendeu Daniele com fortes dores de membro fantasma e dores de cabeça, ele já tinha previsto isso e tinha alertado ela. Caso acontecesse ela devia o procurar.

Foi um dia cheio para os médicos e enfermeiros de campo, sem nenhuma intercorrência grave, todos os militares saiam dali direto para seus postos de trabalho, preparando os sistemas da espaçonave para a chegada em Sírius.

Já era noite para quem estava acostumado com o horário do distrito de Onix, Yuri passava a última ronda na seção aeromédica dando alta a pacientes que chegaram por último. Ele sabia que no próximo dia teria ainda mais trabalho, a maioria das pessoas espera irresponsavelmente até o último minuto para despertar, apesar de todos os avisos que ele tinha emitido em mensagens globais na neuronet.

Ao final do turno finalmente largou a prancheta, fez um gesto e acessou a lista de contatos, procurou Dani, tentou a chamada de voz, sem resposta. Ela tomou muitos medicamentos analgésicos e anti eméticos, estava fraca, achou melhor deixa-la descansar. Pegou o corredor de volta para seu apartamento e no caminho passou pelo observatório da Akimura.

A viagem através de buracos de minhoca era um espetáculo à parte, estrelas de todas as cores rodopiavam pelo firmamento, o mesmo manto luminoso recobria a nave como na viagem por Halos de Propulsão Gravitacional.

Nos monitores da Akimura a sua localização aparecia como desconhecida, os sistemas de navegação da nave não funcionariam por ali. Numa situação normal os aparelhos de uma nave interestelar triangulam a sua posição medindo a localização de pelo menos três estrelas conhecidas por espectrometria, mas naquele caso as estrelas estavam dispostas em locais completamente diferentes, viajavam dentro de uma singularidade de distorção espaço temporal.

"Talvez Seth com todo seu poder de processamento liberado conseguisse calcular com exatidão o local onde estamos"– pensou Yuri.

De toda forma o tempo foi estimado e aparecia nos monitores uma contagem regressiva de mais 12 horas.

Ele foi até seu dormitório, com um gesto comandou a intensidade da iluminação, o quarto ficou escuro, deitou e fitou o teto por alguns minutos, pensativo. Como seria Sírius de perto? Era só no que pensava.

Órfãos de Olimpus [COMPLETO]Onde as histórias ganham vida. Descobre agora