3.1 - E. M. Akimura

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Parte II - A viagem


"Yuri Akimura, seja bem-vindo à Akimura. Deseja iniciar um tour?"

– O que temos de interessante para fazer aqui?

"Se está se referindo a entretenimento, a Akimura conta com 1 convés de lazer com jogos eletrônicos, bar e restaurante. Enquanto imerso no criopod durante a hibernação criogênica, o senhor terá acesso à neuronet, podendo conviver no espaço virtualizado e interagir com pessoas da nave, e inclusive do planeta Onix, enquanto seu corpo repousará em estado latente, se preferir também pode desligar essa função e adormecer até ser automaticamente despertado no horário previamente programado."

– Ok, onde fica meu alojamento?

"Seu alojamento fica no braço Escorpião, pavilhão A, box 14. Siga a indicação de orientação para encontrar seu box."

Yuri já estava seguindo as setas de orientação que planavam na sua visão antes mesmo de ler toda a mensagem do assistente. Ao chegar no box indicado um dispositivo na porta fez a leitura da íris confirmando a identidade do tripulante e permitindo a entrada.

Yuri jogou sua mochila no guarda roupar, puxou a camisa que estava pendurada no cabide, vestes cinza e verdes com um símbolo de emergência médica, uma cruz de 6 braços branca. Trocou suas roupas pelo uniforme e saiu do dormitório.

– O que posso fazer antes de ir pra criogenia?

"Poderá assistir o lançamento da Akimura do observatório, no centro dos braços. Se desejar pode ir conhecer os consultórios e laboratórios médicos onde o senhor irá atender."

– Onde fica?

"Pode ser mais específico senhor?"

– O observatório, onde fica o observatório? Ou você acha que eu quero atender nervosinhos ansiosos com a partida?

"Sou apenas um assistente virtual senhor, não posso fazer suposições".

– Me mostre logo a merda do Salão Comum.

"Siga as setas de orientação por favor senhor Yuri".

Yuri passou por várias pessoas, contentes, chorosas, perdidas que ainda procuravam seus dormitórios, alguns pareciam cheio de tarefas corriam com painéis transparentes nas mãos. Um rapaz era carregado por duas moças da manutenção, parecia que tinha desmaiado.

Chegou no salão comum, uma sala com teto e paredes transparentes onde poderiam ver tudo ao redor.

– Atenção tripulantes e passageiros, contagem regressiva para lançamento está em execução, sentem-se na poltrona mais próxima e ative a trava magnética de suas botas, atenção a Akimura entrará em processo de lançamento em 60 segundos, após essa mensagem, alterações gravitacionais poderão ser experimentadas.

O aviso ecoava por todos os corredores e salas da Espaçonave.

Yuri sentou numa poltrona que estava ao seu lado. Cintos de segurança em X prenderam seu tórax e quadris, uma fita prendeu sua testa para evitar efeito chicote, as botas magnéticas prenderam seus pés no chão para impedir que escapassem durante o empuxo de lançamento.

– Nervoso amigo? – Falou o rapaz jovem, de menor estatura sentado ao seu lado.

– Não, já estive em outros lançamentos.

– Me chamo Júlio, mas pode me chamar de Bloody.

– Bloody? Como o pirata procurado?

– Eu prefiro o termo 'transporte facilitado'. Me ofereceram esse belo cruzeiro após ser preso por pirataria no espaço de Coronte. Você deve ter visto nos notíciarios. E você quem é?

– Me chamo Yuri, sou o médico chefe da Akimura.

– Prazer em conhece-lo Yuri. Por acaso você tem algo mais forte do que vodka na aeromedica?

Yuri ignorou a pergunta quando iniciou-se uma contagem regressiva de 60 segundos a Akimura começou o processo de lançamento. A nave possuía pequenos propulsores por todo o casco que ajustavam sua orientação, os da parte ventral da nave foram acionados fazendo ela flutuar no chão e recolhendo seus trens de pouso. A nave assumiu posição vertical apontando para 90º perpendicular ao horizonte sincronizado com o término da contagem de 60 segundos, quando o alto falante do terminal contou "ZERO" os motores de fusão nuclear do fundo da nave foram acionados em potência mínima, porém suficiente para vencer a gravidade do planeta Raven.

A nave aos poucos acelerou para o espaço, em menos de 2 minutos já estava orbitando o planeta, a visão era incrível.

– Raven o planeta Azul, dizem que Braven não chega nem próximo da beleza de Raven. É tudo propaganda eganosa.

– O nosso planeta é azul devido sua camada de ozônio refletir essa cor da luz de Aires. O processo de formação atmosférica de Braven ainda não completou a mistura gasosa da estratosfera, mas em 50 anos tudo estará mais azul do que aqui.

– Falavam isso quando iniciaram a colonização de Coronte. Eu cresci na colônia mineradora, meus pais morreram em Coronte sem ver o prometido céu azul e os vastos oceanos. A associação de indústrias só pensa em lucro, nunca cumpriram a promessa de infraestrutura planetária. Se isso nunca aconteceu nesse sistema porque aconteceria em Nexus?

– Você provavelmente tem razão em não acreditar, mas em Braven, se isso não acontecer, a colônia não sobreviverá. Já imaginou o tempo e dinheiro que gastaríamos com transporte de materiais básicos que poderiam ser produzidus num planeta climatizado?

– É pra isso que nós existimos, os facilitadores de transporte espacial. – Bloody falou com um sorriso no rosto.

Aquela distância podiam aprecisar melhor o planeta, cheio de nuvens e continentes cinzas. Yuri lembrava de fotos antigas espaciais de Raven, antigamente era Azul e Verde, mas as cidades cresceram de forma que sobraram apenas pequenas áreas verdes de proteção ambiental. Mesmo assim nada daquilo perdeu sua beleza, Raven era um planeta de tirar o folego.

Yuri sentiu náuseas, não só pelos efeitos da ressaca que ainda estava sentindo, mas acabara de notar que estava fora do alcance da gravidade do planeta. Olhou ao seu redor e pessoas mais sensíveis aos efeitos da cinetose já começavam a vomitar. Ele se segurou.

– Cinetose. Daqui a pouco a aeromédica vai estar lotada de pessoas passando mal. – Falou Yuri, que já tinha experiência com essa situação.

– Isso é inofensivo, nas minhas viagens não levávamos médicos. Em algumas horas as pessoas se acostumam com a gravidade zero.

– Apesar de ser algo inofensivo, se o mal se estender por muitos dias, poderia causar desidratações severas por vômitos frequentes devido à falta de gravidade, ou a alteração da mesma devido à diferença da gravidade real para a simulada.

Nesse momento a nave começou a abertura dos braços. Assumindo essa forma a nave exibia seu canhão de plasma perfurador escondido no interior da estrutura, e um acesso para os produtos minerados no espaço sugados por gravidade artificial.

A nave, como a maioria das naves da Aliança simula gravidade por movimento de rotação, os pequenos propulsores de navegação começaram a rotacionar a nave com os braços abertos, com o efeito da rotação a sensação de gravidade voltou. Yuri já se sentia melhor.

Novamente a nave volta a se orientar apontando para um ponto do espaço em que Yuri identificava uma estrela mais brilhante, Nexus. Num novo estalo, um solavanco mais forte poderia ser sentido por todos, era os motores principais entrando em aceleração, e novamente os braços foram fechados assumindo posição de cruzeiro, o formato cônico alongado como um foguete.

Estávamos deixando nosso lar.

Órfãos de Olimpus [COMPLETO]Onde as histórias ganham vida. Descobre agora