6.2

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Na neuronet Daniele acorda de madrugada com uma mensagem na caixa de entrada. Remetente, Cap. Shitiro Umada.

"Sra. Cap. Daniele Hunter.

Convocamos todos os militares a bordo da E.M. Akimura para despertar da Criogenia em 1 dia 21 horas e 43 minutos. Será realizada uma reunião de emergência no anfiteatro central".

Ela arquivou a mensagem e foi adicionada uma tarefa não revogável com prioridade alta na Quest list. "Reunião de Comando 1d 21h 42m". Isso significava que não teria escolha, quando o tempo zerar ela seria despertada querendo ou não.

Estava exausta, mesmo com seu corpo físico hibernando, sua mente se cansava com os treinos de vôo. Ela se perguntava se todos os militares seriam convocados mesmos. Até mesmo aqueles da área da saúde? Pensou no Cap. Yuri.

Não conseguiu dormir novamente, procurou na lista de contatos e observou o nome dele. Ela pensou duas vezes, porém não ligou. Três anos em Criogenia, nunca tinha ficado tanto tempo antes, nem mesmo depois da sua cirurgia após o acidente, preocupou–se com os efeitos colaterais de tanto tempo mantida em estado quase vegetativo sob efeito de drogas.

Tele transportou-se para a Akimura no outro dia, fazia tempo que não voltava, seu quarto de 9 metros quadrados estava como deixou no mundo virtual da Neuronet. Nenhuma alma viva andava pelos corredores da espaçonave, parecia uma nave fantasma à deriva no espaço. Será que tinham entrado em hibernação total desligando-se da realidade virtual, porém mantendo-se na criogenia. Ou estavam em outros locais vivendo suas vidas? Andou até a ponte de comando, como era militar a ponte permitia seu acesso, acendeu aos consoles da nave.

"Boa noite senhora, o que deseja fazer?"

– A qual distância estamos do nosso destino?

"O destino encontra-se a 2,5 Anos Luz de distância".

Algo estava estranho, as contas não batiam. Pelo tempo que estavam viajando, já deviam ter percorrido 1 ano luz no mínimo, e deveriam restar 2,1 e não 2,5.

– Quanto tempo resta até o nosso destino?

"Faltam 7 anos e 6 meses para chegarmos ao destino final, sistema Nexus".

Definitivamente algo estava errado e Daniele começava a desesperar-se.

– Diagnóstico dos sistemas!

"A E.M. Akimura encontra completamente operacional, reator de fusão nuclear estável, potência dos motores em 75%, iniciando checagem por erros, sistemas elétricos, computador de bordo, neuronet, navegação, mecânica, criogenia, amortecedor cinético, escudo magnético, todos os sistemas funcionando, números de passageiros a bordo 183, passageiros em Criogenia 162".

– Por que estamos atrasados em nosso percurso? Tudo está operando normalmente. Aconteceu algum desvio de rota?

"Às informações sobre rota foram negadas para seu nível de acesso".

Alguém alterou o percurso, ela tinha certeza disso.

– Ligue para o Cap. Shitiro Umada.

Esperou, até que a chamada se encerrou sem resposta.

Pensou em ligar para a Oficial de Navegação Cameron Lima, porém desistiu da ideia. Talvez todos eles tenham recebido ordens de não responder perguntas antes da reunião.

– Ligue para o Cap. Dr. Yuri Akimura.

Uma janela de vídeo conferência pairou sobre sua visão.

– Olá Daniele, a que devo esse prazer. – O rosto dele apareceu em sua visão, pelo fundo da imagem parecia que ele não tinha deixado seu quarto em Onix ainda.

– Oi Yuri, você recebeu o chamado do Cap. Shitiro para a reunião hoje?

– Sim recebi, marquei meu despertar para algumas horas antes.

– Estou muito preocupada com a rota da Akimura, você por acaso sabe algo a respeito?

– Não, não soube de nada. Contudo conheço um enfermeiro que acaba sabendo de muita coisa pelos corredores, acredito que ele estará na reunião.

– Não, deixe, não o incomode, pode ser bobagem minha, ou erro nas leituras dos instrumentos da espaçonave. Te vejo na reunião ok?

– Tudo bem. Estava pensando em como seria te rever no outro lado. No mundo real.

– Vai ser interessante...

– Estou ansioso. Beijos Dani.

– Tchau Yuri. – A chamada se encerrou.

Estava muito ansiosa para construir especulações, abriu sua Quest List e cancelou todos os seus compromissos e missões. Resolveu acordar mais cedo aquela manhã para ter tempo de se recuperar da ressaca pós sono.

Faltavam 20 horas para o horário da reunião, ela caminhou até o convés de criogenia, abriu o console e falou sua senha. Por comando de voz selecionou: "Despertar Agora".

O despertar é impactante, é como se o sangue do corpo estivesse a muito tempo parado, Daniele sentiu dormência em todo corpo, um zumbido fino e continuo. Logo depois veio a dor do membro fantasma, já faziam três anos que ela não convivia com a perna robótica que substituía sua perna amputada. O vidro à frente do seu criopod começou a exibir o vídeo de boas-vindas padrão.

"Saudações senhora Cap. Daniele Hunter, seja bem-vinda de volta à E.M. Akimura.

O despertar pode ser um pouco incomodo nas próximas horas, seu corpo encontrava–se em inércia durante muito tempo e pode apresentar sintomas como náuseas, dores articulares, vertigem e alucinações áudio visuais. Por favor beba fluidos em abundância, principalmente a mistura hidroeletrolítica fornecida.

Qualquer dúvida compareça a Baia médica. Aguarde enquanto desconectamos os acessos venosos do seu corpo antes de tentar sair da criopod".

Em pequenos estalos 4 tubos foram removidos um de cada membro do seu corpo, o tubo orotraqueal e a sonda ureteral saíram em seguida, os eletrodos neurais se soltaram, o liquido se esvaziou e a Cúpula da criopod finalmente se abriu.

Daniele esticou os braços e pernas, checou o funcionamento de sua prótese, por ser impossível distingui-la de uma perna humana normal, nem onde terminava a perna e começava a prótese, ela demorou para achar o botão de comando de diagnóstico.

– Diagnóstico. – Falou.

"Prótese em funcionamento, nenhuma falha detectada, análise de plasma sanguíneo, Glicemia, controle Hormonal, contagem celular, sem alterações. Contagem lipídica normal. Sem alertas relatados".

– Ótimo. – Respirou fundo e não se sentiu menos cansada, havia esquecido como o ar dentro da nave era rarefeito e sem cheiros, sem vida.

Ela deu um passo e saiu do pod, um pouco tonta ainda do despertar. Tentou segurar, até que não resistiu e vomitou. De prontidão dois drones de limpeza apareceram e deixaram o chão brilhando de novo.

– Vocês estavam ansiosos para isso acontecer, aposto.

Caminhou até seu dormitório cambaleando usando o roupão fornecido na sala de criogenia. Ao chegar na porta teve sua íris escameada e a porta se abriu.

Tomou um banho como se estivesse suja há três anos. E de fato estava. Abriu o guarda roupa, puxou uma calça jeans e uma camiseta da Aliança. Preparou um copo do soro hidroeletrolítico com o pó efervescente fornecido na criogenia, deitou na cama do alojamento e ironicamente, dormiu.

Órfãos de Olimpus [COMPLETO]Onde as histórias ganham vida. Descobre agora