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Ela acordou antes do despertador ser acionado, não só pela ansiedade do que estava por vir, mas também pela dor no que restou da sua perna direita. Ainda sentia dor no que alguns meses atrás ainda era a ponta de seus dedos. Aquilo parecia punição eterna pelo descuido que causou a morte de seu amigo, ainda vivia aquela noite em pesadelos, mas as novas pílulas a ajudavam a ter noites melhores.

Tocou em um ponto abaixo de seu joelho, o ponto se iluminou e emitiu um som em resposta ao toque indicando que aguardava um comando de voz.

– Diagnóstico. – Ela falou.

"Prótese em funcionamento, nenhuma falha detectada, análise de plasma sanguíneo: glicemia, controle hormonal, contagem celular, sem alterações. Alto índice de LDL colesterol e triglicerídeos, uma notificação de dieta foi enviada a sua central de saúde".

A dor de membro fantasma sempre fazia ela suspeitar de algum mal funcionamento da prótese, mas era normal sua mente não ter se acostumado com a falta daquela parte de seu corpo, ela olhava para a prótese e não distinguia a diferença de sua perna n...

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A dor de membro fantasma sempre fazia ela suspeitar de algum mal funcionamento da prótese, mas era normal sua mente não ter se acostumado com a falta daquela parte de seu corpo, ela olhava para a prótese e não distinguia a diferença de sua perna normal, a pele sintética da prótese se continuava com a sua epiderme como se sempre estivesse ali. A única diferença é que essa falava quando era solicitada.

Estava cansada, ela aproveitou sua última noite para beber doses de whisky virtuais em Onix. A bebida era virtual, porém a ressaca era real.

Daniele se levantou e andou até a pia do banheiro. No espelho uma mulher de 27 anos, as olheiras estavam piores hoje, mas ainda não revelam tudo que sofreu nos últimos meses.

A cerca de 3 meses terminara uma relação complicada, desde então tentava se controlar. Tinha medo do fardo que seria ter de conviver com a dor da separação. Quando bebia demais se descontrolava, fazia ligações, enviava mensagens, visitas inesperadas, ela tinha se tornado o que sempre abominou, uma ex-namorada inconveniente, perseguidora e isso só prejudicava a si mesma.

Apesar de tudo era naturalmente bela, possuía olhos castanho claros e um cabelo negro levemente ondulado nas pontas, ressecado e quebradiço, há alguns meses já não cuidava muito bem de sua aparência, algo banal para uma militar em plenas condições psicológicas. Não era o caso de Daniele Hunter que há alguns meses pensara em suicídio. Pegou um frasco de Codeína e ingeriu 1 comprimido com um gole de água da torneira. Olhou novamente para o espelho que refletia a data e hora, condições climáticas e algumas notícias:

"Terremoto amortecido no setor 43, hemisfério norte de Raven. É o terceiro terremoto na região esse ano, não houveram feridos";

"Sistema de balizadores de emaranhado quântico opera normalmente entre Aires e Nexus, finalmente a internet alcança as estrelas";

"Sistema de controle climático volta a operar normalmente nesta sexta feira, os habitantes do hemisfério sul ainda reclamam por chuvas descontroladas por mal funcionamento";

"Assinatura nuclear artificial em ponto desconhecido entre Aires e Nexus chama a atenção de cientistas e da polícia da Aliança, suspeita-se de ação de piratas espaciais entre os sistemas"

Uma pequena propaganda misturava-se nas notícias do dia, "Sistema Nexus, um novo mundo, uma nova vida".

– Quem acredita nessa baboseira? – Resmungou.

Entrou no box do banheiro, "Bom dia Daniele". Ela acionou uma área na parede que respondeu com um sinal sonoro ao seu toque, uma música iniciou-se e o chuveiro ligou na temperatura pré configurada. Na escola militar chamavam aquilo de carcaça surrada, a garota tinha um corpo escultural, pernas definidas, seios e bunda que desafiavam a gravidade, talvez por ter vivido a maior parte dos anos de sua vida fora do alcance da mesma. As costas fortes, porém, exibiam marcas de cicatriz deixadas pelos anos de treinamento e operações em colônias espaciais rebeldes da época das revoltas espaciais. Todavia uma cicatriz era mais recente, ainda doía quando tocava nela sem querer, da parte inferior do osso esterno para abaixo do umbigo, resultado de uma cirurgia de laparotomia exploradora de emergência realizada em uma estação espacial próxima ao local do acidente. Não sabia se agradecia ou se amaldiçoava os nano-robôs presentes em sua corrente sanguínea, foram responsáveis por mantê-la viva quando seu caça espacial Sabre foi avariado em uma manobra evasiva durante uma perseguição a um cargueiro pirata, sua espaçonave ejetou seu assento e a manteve em deriva no espaço. Alguns creditam sua sobrevivência a um milagre, Daniele chama de purgatório.

Vestiu calças Jeans que retirou da sua mala ainda arrumada em cima de uma mesa, uma camiseta da Aliança, uma jaqueta de couro preta para se proteger do frio que fazia nas ruas de Onix naquela época do ano. Daniele gostava do inverno, a fazia lembrar da sua infância, quando criança ela morava numa cidade ao extremo sul do continente, numa casa de campo, não chegava a nevar, mas ela lembrava do frio que tinha de enfrentar no rio enquanto pescava o sustento da casa com seu pai, alguém que lembrava com saudade. O planeta Raven tinha controle climático ativo por satélite, os engenheiros climáticos podiam fazer verão o ano todo, mas ouvira em algum lugar que estações cíclicas naturais eram mais saudáveis para o planeta. "Livro de mais para quem estuda para puxar um gatilho", era o que pensava quando obrigavam ela a estudar sobre temas que não ajudavam em muita coisa na hora de pilotar um Sabre.

Colocou o smartwatch em seu pulso, um modelo retrô com pulseira de aço prateado. Ao tocar o maquinário sobre o pulso, a pulseira se ajustou automaticamente e o visor acendeu. Sob sua pupila começou a piscar informações sobre uma lente corneana implantada, ela observava uma mensagem pairando sobre seu ponto de vista, "Quinta–feira, 15 de junho, Dia do lançamento" e uma série de notícias. Daniele fez um gesto discreto e as notícias sumiram da sua vista.

– Chame um táxi. – Falou ela como se estivesse falando com alguém ao seu lado enquanto calçava um tênis confortável.

"O veículo chegará em 5 minutos, o que mais deseja?"

– Feche a conta do hotel, debite dos meus créditos online, deixe preparado meu café da manhã para viagem no balcão de saída. – Falou enquanto pegava sua mala e caminhava para o elevador.

"Foram debitados 109 créditos de sua conta. Cardápio habitual ou tem alguma preferência?"

– O de sempre...

"Sua refeição estará esperando no balcão na saída do hotel."

Quando entrou no elevador não precisou fazer nada, ele já estava configurado para leva-la para o saguão, ao sair uma pequena janela já destacava sua refeição num saco de papel próximo à saída do hotel.

Pegou o saco de papel e uma garrafa descartável de café quente, saiu pela porta giratória que lembrava os hotéis de uma época muito anterior aquela, ela gostava de coisas que remetiam ao passado, escolhera aquele hotel por sua decoração e fachada, lembrava a época em que era criança.

Na porta um taxi autônomo a esperava com a porta aberta, na sua visão pairava sobre o taxi a mensagem "Seu taxi chegou". Entrou no veículo, no visor de boas vindas do taxi era exibido o trajeto e a mensagem "Por determinação judicial seu destino é fixo e obrigatório hoje: Espaço Porto de Onix, Tempo estimado: 15 minutos".

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Daniele Hunter é uma mulher que continua forte mesmo diante dos golpes da vida, será que algum(a) leitor(a) se identifica com ela? E ela vai mostrar muito mais garra durante essa aventura. E o design de personagem? Curtiram? Deixem sua opinião! E não esqueçam de votar todos os capítulos pessoal, por favor! É muito importante!

Órfãos de Olimpus [COMPLETO]Onde as histórias ganham vida. Descobre agora