Harry achava que Hermione tivera uma boa intenção quando fez o que fez, mas isso não o impedia de estar aborrecido com ela. Ele fora dono da melhor vassoura do mundo por breves horas e agora, por interferência dela, não sabia se iria rever a vassoura, eu o entendo totalmente, não sei o que eu faria se tivessem levado a minha Nimbus.
Rony também estava furioso com Hermione. Na sua opinião e na minha também, desmontar uma Firebolt nova em folha era nada menos que um ato criminoso. Hermione, que continuava convicta de que agira visando ao bem do amigo, começou a evitar a sala comunal. Nós achamos que ela se refugiara na biblioteca e não tentamos persuadi-la a voltar. Em tudo por tudo, ficamos felizes quando o restante da escola voltou, pouco depois do Ano-Novo, e a Torre da Gryffindor novamente se encheu de gente e ruídos.
As aulas recomeçaram no dia seguinte. A última coisa que alguém ia querer fazer era passar duas horas lá fora em uma fria manhã de janeiro, mas Hagrid providenciara uma fogueira cheia de salamandras para alegria dos alunos, que passaram uma aula incomumente boa juntando madeira e folhas secas para manter o fogo alto enquanto os bichinhos, que adoram chamas, subiam e desciam pelas toras embranquecidas de calor. Eu ainda não tinha tido tempo de falar com Draco, mas ele parecia animado, ao mesmo tempo que desesperado pra falar comigo.
— Ele continua com cara de doente, vocês não acham? — Perguntou Rony quando saímos da aula, se referindo ao Prof. Lupin — Que é que vocês acham que ele tem?
Ouvimos um alto muxoxo de impaciência atrás de nós. Era Hermione que estivera sentada ao pé de uma armadura, rearrumando a mochila, tão cheia de livros que não fechava.
— E por que é que você esta fazendo muxoxo para a gente? — Perguntou Rony, irritado
— Por nada. — Respondeu Hermione em tom de superioridade, passando a mochila pelo ombro
— Nada, não. — Disse Rony — Eu estava imaginando qual seria o problema de Lupin, e você...
— Bem, será que não está óbvio? — Disse a garota com um olhar de superioridade de dar nos nervos
— Se você não quer dizer, não diga. — Retrucou Rony com rispidez
— Ótimo. — Disse Hermione, arrogante, e foi-se embora
— Ela não sabe. — Disse Rony, olhando, rancoroso, para a garota que se afastava — Só está tentando fazer a gente voltar a falar com ela.
— Vocês parecem um casal de velhos discutindo. — Falei em um tom de brincadeira enquanto me dirigia ao Salão Principal
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Somente um dia antes da partida de quadribol Slytherin X Ravenclaw foi que eu consegui falar com Draco, na verdade, eu meio que precisava conversar com ele. Preparei biscoitos de gengibre com chocolate e pedi para Colin o entregar junto com um bilhete em que eu o mandava me encontrar na torre de Astronomia. Passei uma semana inteira apenas o vendo de longe e eu realmente precisava, necessitava, era estranho.
— Rox?
Me virei para porta e o vi, eu queria gritar com ele ou sei lá, mas tudo que eu consegui foi sair correndo ao encontro dele e pular o abraçando sem ligar pra mais nada. Nossa, eu estava com saudades daquele loiro metido.
— Como foi as férias? — Perguntei assim que nos afastamos e eu pude ver claramente seus olhos acizentados brilhando
— É pra ser sincero? Horríveis. — Ele admitiu com um sorriso — E as suas?
— Entediantes, Hermione e Rony brigaram, aí já sabe, ficou um clima horrível e blá blá blá. Se bem que Mione consegue ser bem chatinha de vez em quando. — Expliquei apenas jogando as informações nele
— Puxa — Ele riu — Ah, obrigada mesmo pelos biscoitos, espero me dar bem no jogo de amanhã.
— Tenho certeza que você vai ser ótimo, você é um excelente jogador, Dray. Aliás, onde está o menino convencido e seguro de si que eu conheci no primeiro ano? — Perguntei o fazendo rir
— Você vai torcer por mim, né Rô?
— É claro que eu vou. — Falei colocando uma mão por cima da dele
Draco abriu um largo sorriso ainda me olhando. Era estranho, no início do ano, para mim ele não passava de um garoto arrogante, mimado e preconceituoso e agora, de repente, tudo mudou.
— Quando vai entrar para o time? — Perguntou ele distraidamente
— Bom... — Eu de repente me animei — Antes a desculpa era que eu não tinha uma vassoura boa, mas agora... ah, é, você não vai acreditar Dray, nem eu acredito direito. Ganhei uma Nimbus 2001!
— Puxa, Rô, isso é incrível. — Ele abriu um sorriso e me abraçou, parecia realmente feliz — É uma excelente vassoura, isso eu posso alegar, então você vai entrar no time?
— Sim. Sim. Eu vou fazer os testes da Gryffindor ano que vem. Eu mal consigo acreditar que finalmente eu tenho uma boa vassoura.
— É bom te ver feliz.
— Feliz? Eu estou mais que feliz, eu sempre quis jogar quadribol, esse é o meu sonho desde... desde sempre, tá me entendendo? — Falei para ele eufórica, mas logo me veio a mente algo que me fez se entristecer — E se eu não for boa o suficiente? — Acrescentei abaixando a cabeça
— Hey. — Ele pôs a mão no meu queixo me fazendo olhar para ele — Eu sei que você vai ser incrível e por mais que eu não goste da Gryffindor, vou está torcendo por você, eu sempre vou estar.
Nesse momento pude sentir meu coração palpitar, era incrível o jeito que ele me tratava, fazendo com que eu realmente me sentisse bem.
— Ah, Dray. — Agarrei seu pescoço o abraçando mais uma vez — Obrigada.— Mas então me lembrei de algo que tratei de perguntar assim que nos afastamos do abraço — Ah, sim. O que você queria me contar? Aquilo que você disse na carta que tinha de conversar quando voltasse a Hogwarts.
— Ah... aquilo. — Ele pareceu nervoso — Bom, não é importante, esquece.
— Mas... — Tentei começar a falar, mas fui interrompida quando inexplicavelmente ele foi e me beijou fazendo minhas bochechas esquentarem e meu coração acelerar. Ele separou nossos lábios com um sorriso cínico na cara e me deixando totalmente incrédula, eu realmente não estava esperando
— Você fica tão linda com as bochechas vermelhinhas. — Ele riu cutucando a minha bochecha, me fazendo esconder o rosto nas mãos por causa da vergonha, mas não pude evitar abrir um sorriso
Meu Merlim, que raios esse garoto tá fazendo comigo?
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Como eu bem imaginava, Slytherin ganhou a partida, mas foi uma vitória apertada, porém felizmente eu tinha dois motivos para estar contente. O primeiro era que Draco conseguiu apanhar o pomo de ouro, como eu já esperava. E o segundo era que de acordo com Oliver, isto era uma boa notícia para Gryffindor, que tiraria o segundo lugar se também batesse Ravenclaw. Eles pareciam lotados de treinos e mais treinos, cinco por semana para ser exato, segundo Harry já tinha bem falado, só sobrara a Harry uma noite por semana para fazer todos os deveres de casa. Ainda assim, ele não estava aparentando tanto desgaste quanto Hermione, cuja imensa carga de trabalho parecia estar finalmente cansando-a. Todas as noites, sem falta, Hermione era vista a um canto da sala comunal, várias mesas cheias de livros, tabelas de Aritmancia, dicionários de runas, diagramas de trouxas levantando grandes objetos e ainda fichários e mais fichários de extensas anotações; ela pouco falava com os colegas e respondia mal quando era interrompida.
— Como é que ela está fazendo isso? — Murmurou Rony para nós certa noite, quando nos sentavamos para preparar uma redação difícil sobre venenos indetectáveis pedida por Snape
Eu levantei a cabeça, mal conseguiu ver Hermione por trás da pilha instável de livros.
— Isso o quê? — Perguntou Harry
— Assistindo a todas as aulas! — Respondeu Rony — Ouvi Mione conversando com a Profa. Vector, aquela bruxa da Aritmancia, hoje de manhã. Estavam discutindo a aula de ontem, mas Mione não podia ter estado lá, porque estava conosco na de Trato das Criaturas Mágicas! E Ernesto McMillan me disse que ela nunca faltou a nenhuma aula de Estudos dos Trouxas, mas metade das aulas são no mesmo horário de Adivinhação, e ela também nunca faltou a nenhuma lá!
— Não mesmo. — Arqueei a sobrancelha o olhando — Isso não faz sentido algum.
Enquanto eu e Rony pareciamos intrigados com Hermione, Harry parecia mais preocupado com o trabalho de Snape. Porém dois segundos depois, no entanto, foi novamente interrompido, desta vez por Oliver Wood.
— Más notícias Harry. Acabei de ir falar com a Profa. McGonagall sobre a Firebolt. Ela... hum... foi um pouco grossa comigo. Me disse que as minhas prioridades estavam trocadas. Parece que entendeu que eu estava mais preocupado em ganhar a Taça do que com as suas chances de sobrevivência. Só porque eu disse que não me importava se a vassoura o derrubasse, desde que você apanhasse o pomo primeiro. — Oliver sacudiu a cabeça, incrédulo — Francamente, o jeito como ela gritou comigo... dava até para pensar que eu tinha dito alguma coisa horrível... Então perguntei quanto tempo mais ela ia ficar com a vassoura... — Oliver amarrou a cara e imitou a voz severa da professora: — “O tempo que for preciso, Wood”... Acho que está na hora de você encomendar uma vassoura nova, Harry. Tem um formulário de pedido no final do Qual vassoura... você podia comprar uma Nimbus 2001, como a do Malfoy.
— Não vou comprar nada que Malfoy ache bom. — Disse Harry em tom definitivo.
— Se quiser jogar com a minha, Harry, eu te empresto, a não ser que você realmente não queira só porque o Malfoy tem uma igual. — Recomendei sem os olhar
— Isso é uma excelente ideia. — Oliver concordou — Pera, você tem uma Nimbus 2001? Porque não está no time? Ou você não joga?
— Ah sim, eu jogo, mas ganhei de natal, imagino que não possa entrar no time já no final do ano, não é?
— De fato. Mas Harry, pense na ideia, nós precisamos daquela taça. — Oliver insistiu
— Obrigada Rox, mas eu vou tentar falar com a Professora McGonagall de novo.
E assim Janeiro transitou para fevereiro imperceptivelmente, sem alteração no frio extremo que fazia. A partida contra Ravenclaw estava cada dia mais próxima, mas Harry ainda não encomendara a vassoura nova. Ele agora pedia à Profa McGonagall notícias da Firebolt depois da aula de Transfiguração. Eu e Rony, paravamos, cheios de esperança, ao lado dele, Hermione passava depressa com o rosto virado.
— Não, Potter, eu ainda não posso devolvê-la. — Disse a professora na décima segunda vez que isto aconteceu, antes mesmo que ele abrisse a boca para perguntar — Já a verificamos com relação à maioria dos feitiços comuns, mas o Prof. Flitwick acredita que a vassoura possa estar carregando um Feitiço de Velocidade. Eu o informarei quando tivermos terminado a verificação. Agora, por favor, pare de me pressionar.
Mais algumas semanas depois, felizmente ela acabou cedendo, parecia que realmente não tinha nada na Firebolt de Harry. Eu e Rony o avistamos ainda de longe, ele carregava a Firebolt escada acima para a Torre da Gryffindor, nós corremos ao seu encontro, rindo de orelha a orelha.
— Ela devolveu? Que maravilha! Escuta, posso dar aquela voltinha? Amanhã?
— Claro... qualquer coisa... — Disse Harry com um sorriso — Quer saber de uma coisa... devíamos fazer as pazes com a Mione... Ela só estava querendo ajudar...
— Eu acho que você tem razão. — Concordei com ele — Ela está na Sala Comunal agora, estudando, para variar...
Quando entramos no corredor para a Torre da Gryffindor, vimos Neville Longbottom insistindo com Sir Cadogan, que aparentemente se recusava a deixá-lo entrar.
— Eu anotei! — Dizia Neville com voz de choro — Mas devo ter deixado cair em algum lugar!
— Vou mesmo acreditar! — Bradou Sir Cadogan. Depois, avistou eu, Rony e Harry — Boa-noite, meus valentes soldados! Venham meter este louco a ferros. Ele está tentando entrar à força nas câmaras interiores!
— Ah, cala a boca. — Exclamou Rony quando emparelhamos com Neville
— Perdi a minha senha! — Contou o garoto, infeliz — Fiz Sir Cadogan me dizer quais eram as senhas que ia usar esta semana, porque ele não para de mudar e agora não sei o que fiz com elas!
— Não se culpe, Neville. — Coloquei minha mão em seu ombro o consolando — Essas senhas realmente tão um terror vum, eu mal consigo pronunciar essa última.
— Olha só, a menininha inteligente não sabe nem pronunciar uma senha. — Rony ironizou
— Falou o lerdo! — Devolvi mostrando a língua para ele
— Não discutam vocês dois! — Harry nos repreendeu — Odsbôdiquins. — Acrescentou a Sir Cadogan, que ficou desapontadíssimo e, com relutância, girou o quadro para a frente para nos deixar entrar na sala comunal
— Eu só queria a Mulher Gorda de volta, cansei desse cavaleiro chato e essas senhas impossíveis. — Murmurei quando entramos
Porém houve um súbito murmúrio de excitação em que todas as cabeças se viraram e, no momento seguinte, Harry foi cercado por nossos colegas que exclamavam, assombrados com a Firebolt.
— Onde foi que você arranjou essa vassoura, Harry?
— Deixa eu dar uma voltinha?
— Você já andou nela, Harry?
— Ravenclaw não vai ter a menor chance, o pessoal lá usa Cleansweep Sevens!
— Me deixa só segurá-la um pouquinho, Harry?
Passados uns dez minutos mais ou menos, durante os quais a Firebolt passou de mão em mão, e foi admirada de todos os ângulos, a garotada se dispersou e finalmente podemos ver Hermione direito, a única pessoa que não tinha corrido ao nosso encontro, curvada sobre seu trabalho, evitando encontrar o nosso olhar. Nos aproximamos da mesa e finalmente Hermione ergueu a cabeça.
— Me devolveram a vassoura. — Disse Harry, sorrindo para a amiga e erguendo a Firebolt no ar
— Está vendo, Mione? Não havia nada errado com ela. — Acrescentou Rony
— Bem... mas podia ter havido! Quero dizer, pelo menos agora você sabe que ela é segura!
— É, suponho que sim. — Concordou Harry — É melhor eu ir guardá-la lá em cima...
— Eu levo! — Disse Rony ansioso — Tenho que dar o tônico a Perebas.
Rony apanhou a vassoura e, segurando-a como se fosse de vidro, a levou escada acima para o dormitório dos meninos.
— Podemos nos sentar, então? — Perguntei
— Suponho que sim. — Respondeu ela, tirando uma grande pilha de pergaminhos de duas cadeiras
Passei meu olhar na mesa atravancada, no longo trabalho de Aritmancia em que a tinta ainda estava molhada, no trabalho ainda mais longo de Estudos dos Trouxas (“Explique por que os trouxas precisam de eletricidade”) e na tradução de runas em que Hermione trabalhava agora.
— Meu Merlim, Hermione, você está bem?
— Am? — Ela pareceu não entender
— Como é que você está conseguindo dar conta de tudo isso? — Perguntou Harry
— Ah, bem... vocês sabem, trabalhando à beça.
Pude notar seu rosto cansado e seus olhos pareciam um pouco inchados.
— Por que você não tranca algumas matérias, Mione? — Perguntei, observando-a erguer os livros para procurar o dicionário de runas. — Pode te fazer bem.
— Eu concordo com a Rox, você não acha melhor? — Perguntou Harry
— Eu não poderia fazer isso! — Respondeu Hermione, escandalizada
— Aritmancia parece horrível — Comentou Harry, apanhando uma complicada tabela numérica
— Ah, não, é maravilhosa! — Respondeu Hermione séria — É a minha matéria favorita! É...
Mas exatamente o que era maravilhoso na Aritmancia, eu jamais cheguei a saber. Naquele exato momento, um grito estrangulado ecoou pela escada do dormitório dos meninos. Todos na sala se calaram e olharam petrificados para a subida. Então ouvimos os passos apressados de Rony, cada vez mais fortes... e em seguida ele apareceu, arrastando um lençol.
— OLHA! — Berrou ele, se dirigindo à mesa em que estávamos — OLHA! — Berrou de novo, sacudindo o lençol na cara de Hermione
— Rony, que...?
— Maninho, você tá bem?
— PEREBAS! OLHE! PEREBAS!
Hermione procurava afastar o corpo, com uma expressão de total perplexidade. Eu e Harry então olhamos para o lençol que meu irmão segurava e ficamos ambos perplexos. Havia alguma coisa vermelha nele. Alguma coisa que se parecia horrivelmente com...
— SANGUE! — Bradou Rony no silêncio de atordoamento que invadiu a sala — ELE DESAPARECEU! E SABE O QUE TINHA NO CHÃO?
— N... não — Respondeu Hermione com a voz trêmula
Rony atirou uma coisa em cima da tradução de runas de Hermione. Nós três então nos curvamos para ver. Em cima das estranhas formas pontiagudas havia vários pelos de felino, compridos e amarelo-avermelhados.
— Bichento... — Sussurrei para mim mesma