Como uma boa menina e sempre tão solidária - embora por diversas vezes dissessem que eu era chata e arrogante - preparei biscoitos de gengibre para Harry, já que Madame Pomfrey insistiu em o manter na enfermaria pelo resto do final de semana. Ele parecia bem abalado, não deixou nem que jogassem no lixo os estilhaços de sua Nimbus 2000. E eu o entendia bem, mesmo que a vassoura não tivesse conserto, o sentimento era mais forte que ele; era como se tivesse perdido um dos seus melhores amigos, eu agiria da mesma forma se tivesse uma boa vassoura.
Uma procissão de gente foi o visitar, todos decididos a animá-lo. Hagrid apareceu por lá, até Ginny com seu jeito tímido fez um cartão para ele, o time da Gryffindor também foram, isso além de Rony e Hermione que só deixavam a cabeceira de Harry à noite, obviamente eu como melhor amiga dele deveria estar junto, mas eu tinha algumas coisas pra resolver. Isso além do fato de Lav, Pati e Lia também quererem um pouco de minha atenção, além de Draco, é claro.
— Está calma? — Perguntou brincalhão ao passar por mim no corredor
— Ah fala sério. — Eu apenas ri
Estava sentada no assento perto da janela com um livro em mãos, ele logo se aproximou e sentou do meu lado.
— Você não chegou a me responder porquê saiu antes do jogo terminar.
— Estava congelando, Rony quase me obrigou a entrar para não tomar um resfriado. — Expliquei
— É, uma boa razão. — Concluiu
Só então uma luz se acendeu na minha cabeça e eu lembrei do que tinha escutado na noite anterior e que tinha que contar para Draco.
— Ah sim. Dray. — Puxei sua capa reforçando meu chamado
— Oi, o que foi? Tô bem aqui Rô. — Ele riu
— Então, eu sei algo que possivelmente pode nos ajudar a seguir a Misttigan.
Fiz cara de maléfica e ele sorriu imaginando o que iríamos aprontar. Olhei para os lados para ver se vinha alguém e logo percebi que não tinha ninguém no corredor, mesmo assim não dava pra simplesmente mostrar pra ele ali.
— Vem cá. — Peguei em sua mão e o puxei, andamos apenas alguns passos e o arrastei pra dentro de uma sala vazia
Ele se sentou em cima de uma das mesas me encarando risonho. Fechei a porta atrás de mim e fui até ele, ficando na sua frente, então peguei algo no bolso da minha capa lhe mostrando um pedaço de pergaminho, grande, quadrado e muito gasto, sem nada escrito na superfície.
— O que é isso? — Perguntou ele
— Praticamente nossa salvação. — Peguei minha varinha e toquei no pergaminho com ela — Eu juro solenemente não fazer nada de bom.
E de repente os olhos dele se arregalaram ao ver que na mesma hora, linhas de tinta muito finas começaram a se espalhar como uma teia de aranha a partir do ponto em que a minha varinha tinha tocado. Elas convergiram, se cruzaram, se abriram como um leque para os quatro cantos do pergaminho; em seguida, no alto, começaram a aflorar palavras, palavras grandes, floreadas e verdes.
— Os senhores Aluado, Rabicho, Almofadinha e Pontas, tem o orgulho de apresentar. — Comecei a ler para ele — O mapa do maroto. Incrível, né?
Ele pegou o mapa da minha mão se surpreendendo com o que viu. Ele mostrava cada detalhe dos terrenos do castelo de Hogwarts. O mais notável, contudo, eram os pontinhos mínimos de tinta que se moviam em torno do mapa, cada um com um rótulo em letra minúscula. Pasmo, Draco se curvou para examinar melhor.
— Espera, espera, esse mapa não faz o que eu estou pensando que faz, né?
— Ahaam. — Ri animada — Olha. — Acrescentei apontando para um pontinho, no canto superior esquerdo que mostrava que o Prof. Dumbledore andando para lá e para cá em seu escritório — É onde ele está, no seu escritório andando.
Também podíamos ver outro ponto que mostrava a gata do zelador, Madame Nora, que rondava o segundo andar; e Pirraça, naquele momento saltitava pela sala de troféus. E quando nossos olhos percorreram os corredores que tão bem conhecíamos, notamos mais uma coisa. O mapa mostrava um conjunto de passagens em que nunca havíamos entrado. Passagens secretas, o que me lembrava exatamente do fato de Vega viver sumindo em corredores que deveriam ser fechados, será que ela conhecia essas passagens? Não, não, não é possível.
— Quer dizer que esse mapa mostra todo mundo?
— Todo mundo, onde estão, o que estão fazendo, a cada minuto de cada dia, isso é incrível, vamos saber onde a Misttigan está, mesmo sem vigiar ela incansavelmente.
— Onde conseguiu isso?
— Roubei de Fred e George, os ouvi ontem a noite falando sobre e peguei sem que eles visse.
— Eles vão te matar.
— Duvido muito. Ladrão que rouba ladrão tem cem anos de perdão. Aliás eles roubaram da sala de Filch no primeiro ano.
Dray riu e deu um pulo da mesa ficando em pé bem a minha frente e me encarando com um sorriso, passou suas mãos levemente pelos meus cabelos, enquanto passava uma mecha para trás da minha orelha.
— Você é mesmo incrível ruivinha.
Minhas bochechas ficaram vermelhas e meu coração acelerou, ainda não estava acostumada com isso, nem com a amizade com Draco, nem com os elogios. Ele depositou um beijo leve na minha boca, rápido e depois abriu um sorriso.
— Vamos a investigação, senhorita detetive?
— Am... er... ah é, vamos.
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Mesmo com o mapa não descobrimos grandes coisas, Vega Misttigan não tinha feito nada demais no último dia, além de andar com outra primeiranista ou ficar no Salão Comunal. Na segunda-feira de manhã me animei ao ver que Harry tinha voltado a rotina, ele parecia feliz de estar de volta. Nem se importou com Draco o importunando na aula de poções fazendo imitações dos dementadores, tinha momentos que ele conseguia me irritar um pouco, mas na maioria das horas, eu o achava engraçado, diferente de Rony que finalmente se descontrolou e atirou um enorme e gosmento coração de crocodilo em Malfoy, que o atingiu no rosto, o que fez Snape descontar cinquenta pontos da Gryffindor.
— Se Snape vier dar aula de Defesa Contra as Artes das Trevas de novo, vou logo avisando que vou me mandar. — Anunciou Rony quando seguiamos para a classe de Lupin depois do almoço
— Bonito pra sua cara, mocinho. Mamãe ia amar saber que você está cabulando aulas. — Brinquei
— Fala sério, aquele professor é um idiota. Vê quem está lá na sala Mione.
A garota espiou pela porta da sala e eu fui logo atrás dela.
— Tudo bem!
Felizmente o Professor Lupin retornara ao trabalho. Sem dúvida tinha a aparência de quem estivera doente. Suas vestes velhas estavam mais frouxas e havia olheiras escuras sob seus olhos; ainda assim, ele sorriu para os alunos que ocupavam seus lugares na classe e, em seguida, desatavamos a nos queixar do comportamento de Snape na ausência de Lupin.
— Não é justo, se ele estava apenas substituindo o senhor, por que passou dever de casa?
— Não sabemos nada de lobisomens...
— ... dois rolos de pergaminho!
— Aquele professor tem problemas. — Resmunguei
— Vocês disseram ao Prof. Snape que ainda não estudamos lobisomens? — Perguntou Lupin, franzindo ligeiramente a testa
A balbúrdia tornou a encher a sala, outra vez.
— Dissemos, mas ele respondeu que estávamos muito atrasados...
— ... ele não quis nos ouvir...
— ... dois rolos de pergaminho!
— ... dá pra crer nisso?
O Prof. Lupin sorriu ao ver a expressão indignada nos rostos dos alunos.
— Não se preocupem. Vou falar com o Professor Snape. Não precisam fazer a redação.
— Nossa Professor, o senhor é incrível. — Suspirei aliviada
Por mais que eu gostasse muito de animais e escrever fosse um dos meus pontos fortes, além de feitiços, é claro, tinha um pouco de medo de lobisomens.
— Ah, não! — Exclamou Hermione, muito desapontada — Já tinha terminado a minha.
Tivemos uma aula muito gostosa. O Professor Lupin trouxera uma caixa de vidro contendo um hinkypunk, uma criaturinha de uma perna só, que parecia feita de fiapos de fumaça, a aparência frágil e inofensiva.
— O hinkypunk atrai os viajantes para os brejos... — Informou o professor enquanto fazíamos anotações — Vocês repararam na lanterna que ele traz pendurada na mão? Ele salta para a frente... a pessoa acompanha a luz... então...
A criatura fez um horrível barulho de sucção contra o vidro da caixa. Quando a sineta tocou, todos guardamos o material e nos dirigiamos para a porta, quando o professor chamou Harry e o garoto deu meia volta voltando para sala. Nós por outro lado seguimos em frente.
Aproveitei o tempo antes do jantar pra começar a investigação, me encontrei com Draco na torre de astronomia, ele parecia tenso, mas animado.
— E então chefe, por onde começamos?
— Bobo. Isso não é brincadeira de detetive, você também acha que existe alguma coisa muito estranha com aquela garota, não é?
Ele ficou calado por uns segundos, mas então desviou o seu olhar como se estivesse pensando.
— Draco! — Reforcei
— Eu não sei o que eu acho Rox, mas é legal passar o tempo com você, então chefe diz aí, cadê o mapa?
Suspirei fundo e então peguei o mapa que estava na minhas capa, recitei o feitiço o abrindo e comecei a o analisar, Malfoy logo veio pro meu lado.
— Pff... — Ele riu — Crabbe e Goyle já estão na cozinha, roubando comida certeza.
— Olha, achei ela. — O mostreiapontando para o mapa
— Mas que lugar é esse que ela está?
Apenas observei e fiquei pensando e pensando, ela estava nas escadas da ponte suspensa no terceiro andar. Onde será que ela poderia estar indo?
— Vem, vamos. — Falei animada apanhando o mapa e andando até a porta
— Rox, temos apenas vinte minutos antes do jantar, não vamos nos atrasar né? Eu estou com fome.
Nem me dei ao trabalho de responder, apenas soltando uma risadinha e ele logo já estava do meu lado. Começamos a andar em passos largos, pois ela estava a quatro andares abaixo de nós, descemos uma tonelada de escadas meio apreensivos.
— Estou começando a concordar que essa garota realmente é estranha. — Murmurou Draco quando passamos pela sala de runas antigas, no sexto andar
— E como. — Concordei passando meu olhar mais uma vez pelo mapa, mas dessa vez meus olhos se desviaram do ponto "Vega Misttigan" para outro — Dray, você sabe quem é Peter Pettigrew?
— Peter Pettigrew? — Repetiu ele parando e olhando para o mapa
— Sim, ele está com o Ron no pátio pavimentado, eu conheço todos os amigos do meu irmão e nunca ouvi falar desse Peter... e você?
— Eu não conheço todos do castelo e muito menos os alunos da Gryffindor.
O olhei séria e revirei os olhos, prontamente dando alguns passos para frente e mudando meu humor para irritada.
— Eu apenas perguntei de forma civilizada se você sabia quem é Peter Pettigrew, não precisava de tanta rrogância!
— Am? — Ele pareceu não entender — Mas eu não fui arrogante, ruivinha, desculpa. — Acrescentou dando alguns passos e logo me acompanhando
— Tá. — Apenas revirei os olhos de novo
Ele foi e me abraçou por trás quase me levantando no ar.
— Dray para. — Comecei a rir a medida que ele me balançava fazendo cosquinhas na minha barriga e meus pés não tocavam no chão
— Me desculpa por ter sido ignorante com você?
— Sim. Sim, para. — Prossegui ainda rindo
— Tá bom. — Ele riu me soltando, nos entreolhamos ainda sorridentes
— Bobo. — Falei dando língua para o mesmo, mas logo pegando o mapa para averiguar onde Vega Misttigan poderia estar agora, mas acabei me surpreendendo com o que meus olhos presenciaram — Meu Merlim!
— O que foi? — Dray perguntou pegando o mapa de mim e também se surpreendendo
Nossos olhos nem se importaram com o ponto que indicava que Misttigan seguia para o térreo do colégio, nossa preocupação mesmo foi com o que estava se aproximando de nós naquele momento, a exatos dois metros de distância de nós, justo naquele corredor vazio, considerando que não havia mais ninguém no sexto andar, além de eu, Draco e pelas barbas de Merlim...
Era Sirius Black.