Logo Dumbledore retornou, acompanhado de Snape, fez seu discurso de sempre e permitiu que começassemos a comer, então nos despusemos a saborear o banquete, mas a essa altura eu já estava preocupada com Harry e com Rony.
Então alguns comentários começaram a circular pela mesa.
— Ei Rox, disseram que viram seu irmão e o Harry chegando em um carro voador.
— Carro voador? — Eu, Fred, George, Ginny e Percy falamos ao mesmo tempo intrigados com o comentário de Seamus
— Tão dizendo que eles foram expulsos. — Dean retrucou do outro lado
— Impossível. — Soltei uma risada nasal
Depois do banquete, Percy levou os primeiranistas até seus quartos enquanto mostrava um pouco da escola.
Eu e Hermione demoramos um pouco para sair do Salão Principal, o castelo estava silencioso, passamos pelos quadros que resmungavam e as armaduras que rangiam e subimos a estreita escada de pedra, até chegarmos, finalmente, à passagem onde se escondia a entrada secreta para a Gryffindor, atrás do retrato a óleo de uma mulher muito gorda, de vestido de seda rosa.
Mas antes mesmo de nos aproximarmos suficientemente, avistamos os dois garotinhos que até então estavam sumidos.
Estavam de costas para a gente e tentavam adivinhar a senha para entrar no Salão Comunal.
— Aha! — Falei alto e os dois de viraram olhando para mim e Hermione assustados — Finalmente né? Eu já estava ficando preocupada.
— Onde vocês se meteram? Estavam circulando um boatos ridículos... Disseram que vocês tinham sido expulsos por terem batido com um carro voador.
— Bem, não fomos expulsos. — Harry garantiu
— Pera, vocês não pegaram o carro enfeitiçado e vieram voando, né? — Me aproximei deles séria espremendo os olhos
— Ah, fala sério! — Ron revirou os olhos
— Você está se esquecendo de mim, Roniquinho. — Perdi a seriedade e fingi estar triste — Eu queria ter vindo no carro também ué. Mas não, agora você só quer saber do Harry, somos gêmeos, Rony!
— Você fala como se tivéssemos vindo de carro porque quisemos e não me chama de Roniquinho, Roxanne!
— Só podem estar de brincadeira, que realmente chegaram aqui voando?! Querem se meter em encrenca já no começo do ano letivo?! — Falou Hermione, em tom quase tão severo quanto o da Profa McGonagall
— Pode poupar o sermão, por favor? — Ron falou impaciente — E nos dizer qual é a nova senha.
— É “maçarico”. — Respondi
— Mas não é essa a questão...
As palavras de Hermione, porém, foram interrompidas, pois o retrato da mulher gorda se abriu em meio a uma repentina tempestade de aplausos. Parecia que todos os alunos da Gryffindor ainda estavam acordados, espremidos na Sala Comunal redonda, trepados nas mesas fora de esquadro e nas poltronas que afundavam, esperando os dois chegarem. Braços passaram pela abertura do retrato para puxar Harry e Rony para dentro, deixando eu e Hermione para subir depois e sozinha.
— Genial! — Berou Lee Jordan — Um achado! Que entrada! Aterrissar um carro voador no Salgueiro Lutador, vão comentar isso durante anos!
— Parabéns. — Disse um aluno do quinto ano com quem nunca falamos antes
Alguém dava palmadinhas nas costas deles como se tivessem acabado de ganhar uma maratona. Logo entrei perfeitamente irritada no Salão Comunal, Fred e George abriram caminho por entre os colegas aglomerados e perguntaram ao mesmo tempo.
— Por que não viemos no carro, hein?
Rony estava com a cara vermelha e sorria constrangido, mas Harry acabava de ver uma pessoa que não parecia nada feliz. Percy era visível por cima das cabeças de uns alunos de primeira série animados, e parecia estar querendo se aproximar o suficiente para começar a ralhar com eles. Observei Harry cutucar Rony nas costelas e fazer sinal em direção a Percy.
— Temos que subir... Estamos tão cansados. — Ron disse e os dois começaram a abrir caminho em direção à porta do lado oposto da sala, que levava à escada circular e aos dormitórios
— Noite. — Harry falou por cima do ombro para mim e Hermione, que estavamos com uma cara tão feia quanto Percy
Os garotos conseguiram chegar ao outro lado da sala comunal, ainda recebendo palmadinhas nas costas, e assim desapareceram da nossa vista.
— Dá pra acreditar no que eles fizeram!? — Hermione perguntou aparentemente irritada enquanto andávamos até nosso dormitório
— Dá pra acreditar que eles não me chamaram? O Rony está esquecendo totalmente de mim, agora é tudo Harry, Harry, Harry... — Falei emburrada e Mione logo se virou pra mim séria
— Você só pode estar de brincadeira que preferiria vim com eles naquilo...
Antes que eu pudesse responder, somos surpreendidas por Lavender e Parvati que correm em minha direção, mais que depressa, assim que paramos na porta do nosso dormitório, que é o mesmo do ano passado.
— Rox, como foi as férias?
— Sentimos sua falta...
— Porque não veio no carro com o Harry e o Rony?
— Como você tá?
Elas começaram a fazer várias perguntas e logo me abraçaram como se não me vissem a meses, não as entendo, é sério. Hermione logo desejou boa noite e disse que ia se deitar, me deixando com aquelas duas que não pareciam que me deixariam dormir. Amélia Hughes a outra garota que dividia o dormitório com a gente também já tinha ido dormir.
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Mas logo no dia seguinte eu ia me confirmar que a melhor escolha, com certeza foi vim de trem para o colégio. Na hora do café da manhã no Salão Principal. As quatro mesas compridas, estavam cobertas de terrinas de mingau de aveia, travessas de peixe defumado, montanhas de torradas e pratos com ovos e bacon, sob o céu encantado (hoje, toldado por nuvens cinzentas).
Quando Harry e Rony sentaram-se à mesa da Gryffindor, eu e Hermione já estávamos lá, ela tinha um exemplar de Excursões com vampiros, aberto, e apoiado numa jarra de leite. Eles se sentaram bem ao nosso lado e logo notaram a formalidade na maneira como ela deu “Bom-dia”, informando que ela continuava a desaprovar a maneira como os garotos tinham chegado. Eu, ainda estava chateada então nem falei com eles enquanto apenas tomava meu mingau.
Neville Longbottom, por outro lado, cumprimentou-os animado.
— O correio deve chegar a qualquer momento, acho que vovó vai me mandar umas coisas que esqueci. — Ele comentou
Logo ouviu-se um rumorejo de asas, no alto, e uma centena de corujas adentraram o salão, descrevendo círculos pelo local e deixando cair cartas e pacotes entre os alunos que tagarelavam. Um grande embrulho disforme bateu na cabeça de Neville e, um segundo depois, alguma coisa grande e cinzenta caiu na jarra de Hermione, salpicando todo mundo com leite e penas.
— Errol! — Eu e Rony exclamou em coro
Mas logo me calei e ele puxou pelos pés a coruja molhada para fora da jarra. Errol caiu, desmaiado, em cima da mesa, as pernas para cima e um envelope vermelho e úmido no bico.
— Ah, não!... — Ron exclamou me fazendo olhar para ele
— Tudo bem, ele ainda está vivo. — Mione disse cutucando Errol devagarinho com a ponta do dedo
— Não é isso, é isto!
Ron estava apontando para o envelope vermelho e então meus olhos se arregalaram mais que rapidamente, a julgar pelo rosto de Harry ele achava ser um envelope comum, mesmo que eu, Ron e Neville olhassemos para ele como se fosse explodir a qualquer momento.
— O que foi? — Harry perguntou
— Não sabe o que é um “berrador”? — Perguntei baixo para ele, mas então o idiota do Seamus gritou chamando a atenção de toda mesa
— Aê pessoal, os gêmeos Weasley receberam um berrador.
— Não recebemos nada! — Fred e George retrucaram
— Eu tô falando dos outros gêmeos Weasley, Rony e Rox. — Ele explicou
Ron continuava encarando o envelope nas mãos.
— É melhor abrirem. — Sugeriu Neville com um sussurro tímido — Vai ser pior se não abrirem. Minha avó um dia me mandou um e eu não dei atenção. — Ele engoliu em seco — Foi horrível.
— O que é um berrador? — Harry tornou a perguntar
Mas toda a atenção de Ron estava fixa na carta, que começara a fumegar nos cantos.
— Abra. — Insistiu Neville — Termina em poucos minutos...
Ron estendeu a mão trêmula, tirou o envelope do bico de Errol e o encarou.
— Me dá isso. — Tomei-o de suas mãos logo o abrindo — Quanto mais rápido nos livrarmos, melhor.
Neville enfiou os dedos nos ouvidos. Uma fração de segundo depois, Harry logo descobriu o porquê. Por um instante era como se o envelope tivesse explodido, um estrondo encheu o enorme salão, sacudindo a poeira do teto.
“ RONALD WEASLEY! COMO SE ATREVEU A ROUBAR AQUELE CARRO!? EU NÃO TERIA ME SURPREENDIDO SE O TIVESSEM EXPULSADO, ESPERE ATÉ EU PÔR AS MÃOS EM VOCÊ, SUPONHO QUE NEM SEQUER PAROU PARA PENSAR NO QUE SEU PAI E EU PASSAMOS QUANDO VIMOS QUE O CARRO TINHA DESAPARECIDO...”
Os berros de mamãe, cem vezes mais altos do que de costume, fizeram os pratos e talheres se entrechocarem na mesa e produziram um eco ensurdecedor nas paredes de pedra. As pessoas por todo o salão se viravam para ver quem recebera o berrador, e Ron afundou tanto na cadeira que só deixara a testa vermelha visível.
“... RECEBEMOS A CARTA DE DUMBLEDORE À NOITE PASSADA, PENSEI QUE SEU PAI IA MORRER DE VERGONHA, NÃO O EDUCAMOS PARA SE COMPORTAR ASSIM, VOCÊ E HARRY
PODIAM TER MORRIDO...”
Harry se encolheu assim que ouviu que mamãe tinha falado seu nome, nesse instante, eu agradeci por ter pegado o trem.
“... EU ESTOU TOTALMENTE DESGOSTOSA, O SEU PAI ESTÁ ENFRENTANDO UM INQUÉRITO NO TRABALHO, E A É TUDO CULPA SUA! SE VOCÊ SAIR UM DEDINHO DA LINHA, VAMOS TRAZÊ-LO DIRETO PARA CASA...”
Por instantes seguiu-se um silêncio, achávamos que o berrador tinha terminado, mas não demorou a ele se virar pra mim.
“...ROXANNE WEASLEY!...”
Meu corpo se tremeu todinho enquanto meus olhos se arregalaram com a voz de mamãe e eu sussurrei um “senhora” bem assustado, como se ela pudesse me ouvir.
“...FICA DE OLHO NO SEU IRMÃO E NÃO DEIXA ELE SE METER EM CONFUSÃO NOVAMENTE, TÁ ME OUVINDO?...”
Logo o envelope se mexeu de novo, indo para Ginny que comia o seu mingau em paz, sem se importar conosco. Dessa vez mamãe estava com uma voz mais calorosa e não gritava.
“... E Ginny querida, parabéns por ter entrado na Gryffindor, eu e seu pai estamos muito orgulhosos de você.”
Um silêncio se sucedeu e logo o envelope vermelho, que caíra em cima da mesa pegou fogo e encrespou-se em cinzas.
Eu e Rony ficamos aturdidos, como se uma onda gigantesca tivesse acabado de passar por cima da gente, por mais que as reclamações não fosse comigo, eu tinha ficado bem mal com tudo aquilo. Algumas pessoas riram e, aos poucos, a balbúrdia da conversa recomeçou.
Assim que me virei pude ver Draco e seus amigos que rolavam de rir, eu só queria quebrar a cara dele. Mione rapidamente fechou o livro que lia e olhou para o cocuruto da cabeça de Rony.
— Bem, não sei o que é que você esperava, Rony, mas você...
— Não me diga que mereci. — Ele retrucou com rispidez
Empurrou o prato de mingau sem querer continuar a comer e eu fiz o mesmo, papai estava enfrentando um inquérito no trabalho, só espero que consigam resolver isso tudo logo.
Nem tive muito tempo para pensar nisso, pois a Professora McGonagall vinha passando pela mesa da Gryffindor, distribuindo os horários dos cursos. Logo recebi o meu e vi que a primeira aula era uma aula dupla de Herbologia, com os alunos da Slytherin. Sempre os Slytherin, que ótimo.