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Andrew Johnson

Como começar a relembrar a pior noite da minha vida, desde que me lembro? Como explicar-lhe o quanto insisti para que fossemos à festa de Halloween e no desenrolar da mesma, ele acabou numa cama de hospital, em coma?

Justin, esperava que lhe contasse. A sua expressão estava tranquila, embora um pouco desanimada.

Após um longo bafo na ganza, olhei para os meus dedos e relembrei o que aconteceu.

- Era a noite de Halloween, após ter sido suspensa da escola por ter partido o nariz a um rapaz. Estava tão irritada com a situação, visto que ele saiu ileso e se não me tivesse defendido, acabaria eu com o nariz partido.

- Então era disso que eles falavam? O Josh e o JC. – Balancei a cabeça e ele assentiu, continuando a encarar-me.

- O Andrew não queria ir à festa, insistiu para que não fosse também. Obviamente, que não aceitei a sua resposta e continuei a fazer birra para que viesse. – Um sorriso surgiu no meu rosto ao relembrar a sua cara derrotada. – Ele fazia tudo por mim, Justin. Não podia pedir um irmão melhor, diferente.

- Foi nessa festa que aconteceu? – Assenti, sentindo-me um pouco tensa. – Podes continuar, Amyah. Vai fazer com que te sintas melhor.

- Não consigo, não quero relembrar aquela noite. – Lágrimas subiram aos meus olhos novamente.

Senti tudo descontrolar-se dentro de mim. Há imenso tempo que não me sentia tão péssima em relação ao que aconteceu. Estava tudo a voltar agora. O caso aberto, o desaparecimento de Brandon.

A culpa continuava a possuir-me aos poucos e poucos. A matar-me um pouco mais todos os dias. Aquele vazio tão grande dentro de mim, continuava igual. Não havia nada capaz de o preencher, nem uma pequena porção. E, a pessoa mais perto de o fazer, provavelmente iria alargar todo o vazio.

Sentia-me péssima.

Assim que as lágrimas deslizaram pelo meu rosto, levantei-me da cama e apressei-me a ir para o exterior do barco, dando longos bafos na ganza.

Precisava de me acalmar. De controlar tudo o que se misturava dentro de mim. A culpa, a tristeza, o vazio, as saudades... As saudades destruiam-me um pouco mais a cada dia que passava.

Senti uns braços enrolarem-se na minha cintura e as minhas costas a irem de encontro ao peito do Justin. Manteve-me junto a ele, enquanto terminava a ganza e tentava colocar tudo em ordem. O que não estava a ser fácil. Nada, mas nada fácil.

As lágrimas secaram, ao fim de longos minutos.

Sentia o queixo do Justin no meu ombro e a sua respiração perto do meu ouvido. Para além, de sentir os batimentos cardíacos um pouco acelerados contra as minhas costas. Um suspiro abandonou os meus lábios, quando terminei de fumar. Afastei-me dos braços do Justin, apagando a ganza contra o barco, deixando-a num saco com coisas velhas. Provavelmente, lixo.

Ao levantar-me novamente, evitei encará-lo. Sentia-me tão vulnerável, tão fraca e inútil.

- Tenho tantas saudades dele, Justin.

Meras palavras e novamente lágrimas nos meus olhos. Os mesmos ardiam de tanto chorar, algo que não acontecia há bastante tempo. Andrew partiu e levou o melhor de mim com ele.

- Tenho a certeza que está a olhar por ti. – Voltou a aproximar-se de mim, preenchendo as minhas bochechas com as suas mãos geladas. Fechei os olhos ao sentir o contraste entre as nossas peles.

- Se pelo menos, pudesse ouvir a sua gargalhada mais uma vez. - Mordi o interior da minha bochecha e olhei para cima, para que as lágrimas não deslizassem novamente.

- O que importa são as memórias que ambos criaram, Amyah. Não podes simplesmente relembrá-lo como alguém que perdeste, mas sim como alguém com quem passaste os melhores momentos da tua vida.

- É tão fácil falar...

- Achas que está a ser fácil ver-te assim? – Encarei-o, sem saber o que responder. Os nossos olhos perderam-se uns nos outros. – Só quero atenuar aquilo que estás a sentir! E sinceramente, não sei como o fazer.

- Desculpa... Não quero descarregar em ti. – As suas mãos voltaram ás minhas bochechas e sem hesitar, voltei a enrolar-me nos seus braços.

Gostava da sensação de estar nos seus braços, apesar de odiar abraços. Não desejava uma outra pessoa ali comigo, senão ele.

Os seus braços envolveram-me novamente. Um abraço apertado. Várias sensações e emoções a serem transmitadas de um para o outro. Embora, nada concretas. Ele era uma pessoa bastante preocupada. E por mais que isso me tivesse irritado ao início, agradava-me agora.

Continuei embrulhada nos braços dele, até que a brisa se tornou mais forte. O abraço tão reconfortante partiu-se e ambos fomos para o interior do barco.

- Gostava de o ter conhecido. – Murmurou, quando nos sentamos lado a lado, com a manta pela cintura. – E perguntar-lhe como conseguia lidar contigo.

- O Andrew não te ia responder a isso. – Gargalhei, relembrando as vezes em que fui bastante chata para ele e ele continuava a aturar-me. – Acho que era a natureza dele, nasceu para me aturar e eu para o chatear.

- Tu? A chatear a alguém?

- Podes não acreditar, mas já houve alegria dentro de mim. – Murmurei sarcástica e um sorriso esboçou-se nos seus lábios.

- E continua a haver, só tens que a encontrar.

- Acho que ele também se está a perguntar, porque raio insistes tanto numa rapariga sem salvação como eu. – Forcei uma risada, tentando atenuar as minhas palavras, visto que soaram bastante rudes.

- Porque não haveria de o fazer?

- Porque não vale a pena. – Revirei os olhos e ele suspirou. No seu rosto, uma expressão divertida.

- Acho que aquele murro que deste ao Ryan, me atraiu. – Voltei a gargalhar das palavras ditas sem pensar dele e ele sorriu. Depois, as minhas gargalhadas atenuaram e o sorriso que tanto rasgava o seu rosto, desapareceu. – Ouvir-te rir dessa maneira, faz com que valha a pena.

Os nossos olhares conversaram-se durante longos minutos. Sentia-me presa nas palavras dele e, eventualmente, no caramelo dos seus olhos.

- Agora é aquela parte em que me beijas?

- Sim, espera, o quê?

As nossas gargalhadas fizeram-se ouvir pelo interior do barco.

AMYAH  ➛  JUSTIN BIEBER Onde as histórias ganham vida. Descobre agora